DEVER DE CIDADÃO
Quando você constata que
funcionários públicos (mesmo togados) estão prevaricando, exorbitando de suas
prerrogativas funcionais, é seu dever desmascará-los, denunciá-los a quem de
direito.
Que
a história da humanidade – inclusive a do Brasil – está repleta de episódios
bizarros, próprios da mediocridade, do servilismo e, sobretudo, da vaidade
humana, é indiscutível. Ainda mais nestes nada generosos tempos em que, em
escala planetária, predadores de todas as carreiras devoram seus semelhantes
para cumprir as metas estabelecidas pelo “deus” mercado, que também atende pelo
bizarro nome de “Tio Sam”. Agora, permanecermos inertes – ou, pior, coniventes –
diante de sucessivos atos abusivos que aviltam a inteligência coletiva e
estupram a dignidade humana, isso lá é imperdoável.
Discípulos
de serviçais como Pôncio Pilatos, concurseiros desprovidos de qualquer história
– e, pior, sem vínculo com as legítimas aspirações de uma nação que durante
pelo menos uma década conheceu políticas públicas nunca antes experimentadas em
meio milênio de jugo ocidental, como a (ainda que mísera) distribuição de renda
via Bolsa-Família e outros programas compensatórios no campo assistencial,
ampliação do acesso a cursos universitários de graduação e pós-graduação por
amplas camadas populares, implementação de iniciativas no campo da ciência e
tecnologia e da soberania nacional – vêm posar de semideuses diante dos
holofotes de emissoras sinistras como a Globo e de seus satélites, tomando para
si prerrogativas de outras instâncias ou, mais grave, querendo substituir a
soberania popular, pedra angular de qualquer democracia digna do nome.
Frágeis
em seus argumentos – porque precários em sua formação e aparente erudição, ao
ponto de incorrerem em erros grosseiros, primários, no uso do vernáculo ou ao
discorrer fragmentos da literatura universal com a qual tentam se exibir de modo
escolar (nos meus tempos os chatos CDFs) – esses arremedos de “técnicos de
ciências jurídicas”, promovidos a super-heróis hollywoodianos da noite para o
dia, ousam e cometem desatinos absurdos sem que os reconhecidamente doutos lhes
chamem a atenção. Porque seria o caso de lhes puxar as orelhas, nada menos.
(Quem não conseguiu assistir à desavergonhada sessão inquisitorial do dia 24,
pode recorrer aos lúcidos comentários de Lênio Luiz Streck ou Walter Fanganiello
Maierovitch, que, com sua independência insuspeita, irão didática e
pacientemente esclarecer dúvidas e angústias.)
Travestidos
de funcionários públicos com gozo de privilégios equivocadamente atribuídos durante
a Constituinte – ou em momentos posteriores, ao sabor do casuísmo próprio de um
parlamento apequenado pelo lobby dos poderosos, porque quando sob a legítima
pressão popular, por meio de representantes dos movimentos populares eles não
passam de “membros de quadrilhas organizadas” –, essas verdadeiras sanguessugas
da nação cometem toda sorte de arbitrariedades sem que alguém lhes diga
absoluta e rotundamente nada.
Para
encerrar este texto indignado, trago à lembrança um eloquente desabafo de um dos
corajosos brasileiros que se insurgiram contra a bota da opressão que então
estava a ceifar vidas. Nos tempos nefastos do autoritarismo que infelicitou
toda a América do Sul, na segunda metade do século XX, ninguém menos que Raul
Seixas altivamente ensinou que “o sol da noite está nascendo / alguma coisa
está acontecendo / não dá no rádio e nem está / nas bancas de jornais...” (“Novo
Aeon”).
Ahmad Schabib Hany
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