terça-feira, 30 de janeiro de 2018

LISTA DOS EMPRESÁRIOS E JORNALISTAS PRESENTES AO JANTAR EM QUE CÁRMEN LÚCIA FALOU SOBRE A PRISÃO DE LULA

Presentes ao jantar do Poder 360 no qual a ministra Cármen Lúcia falou sobre a prisão do Lula

Além da presidente do STF, Cármen Lúcia, e da assessora Mariangela Hamu, os executivos André Araújo (presidente da Shell no Brasil), Flávio Ofugi Rodrigues (chefe de Relações Governamentais da Shell), Tiago de Moraes Vicente (Relações Governamentais e Assuntos Regulatórios da Shell), André Clark (presidente da Siemens no Brasil), Camilla Tápias (vice-presidente de Assuntos Corporativos da Telefônica Vivo), Wagner Lotito (vice-presidente de Comunicação e Relações Institucionais da Siemens na América Latina), Victor Bicca (diretor de Relações Governamentais da Coca-Cola Brasil), Camila Amaral (diretora jurídica da Coca-Cola Femsa), Júlia Ivantes e Delcio Sandi (Relações Institucionais da Souza Cruz) e Marcello D’Angelo (representante da Q&A Associados). E mais: os jornalistas do Poder360 e Cláudia Safatle (Valor Econômico) e Denise Rothenburg (Correio Braziliense) e Leandro Colon (Folha de S.Paulo) e Valdo Cruz (GloboNews).

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Muita saúde e longa Vida, querido Presidente Lula!

Confesso que por mais de uma década fui um daqueles que torciam o nariz para o Lula, e como me arrependo!

Quando o conheci, em 1998, ao lado de um bispo católico já falecido (o saudoso Dom José Alves da Costa), depois de uns 40 minutos de conversa antenadíssima (no coração do Pantanal), pude constatar que se tratava de um verdadeiro estadista.

Muita saúde e Vida longa, querido Presidente! O Brasil (com "s" e letra maiúscula) reconhece seu valor e a necessidade de que volte a conduzir os destinos desta Nação...

Fraternalmente,

Schabib Hany

Na mão de Deus falta um dedo.

Na mão de Deus falta um dedo.
Por isso as linhas da sua escrita às vezes são tortas.
*
O setor reacionário de Londrina tinha preparado festa para comemorar a já sabida condenação de Lula. Mas o Gaeco jogou água no chope. Nas primeiras horas desta quarta-feira, antes de o espetáculo ter início lá, buscas, apreensões e aquela coisa de levar gente para depor davam início por aqui. Onze combatentes da corrupção alheia agora com tornozeleira eletrônica. Por 180 dias. A ação do Gaeco/Ministério Público deve respingar no prefeito atual (Belinati, PP): ele votou no impecheament da Dilma. E subiu o IPTU/2018 em mais de 100%, 200% e, alguns casos, 300%. A cidade está em choque tal aumento.
Abaixo, alguns dos envolvidos na ação do Gaeco de hoje (são acusados de alterar  leis de zoneamento de Londrina, de 2013 a 2017). Para beneficiar quem? Quais grupos?
Eis alguns dos paneleiros pés-vermelhos:
vereador Mário Takahashi  (presidente da Câmara. Foi eleito em 2012 com 1.146 votos. Na última eleição, foi reeleito com 4.192 votos).
Rony Alves, do PTB (formado em História, é professor em colégios particulares de Londrina há mais de 20 anos. Eleito vereador pela primeira vez em 2008. Foi presidente da Câmara Municipal entre
2013 e 2014. É vice-presidente da Comissão de Educação e membro da Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente da Câmara. Foi, no ano passado, relator e principal articulador da cassação de um vereador oponente. O vereador cassado era polêmico até no apelido: “Boca Aberta”).
Ossamu Kaminagakura (servidor da Prefeitura de Londrina há 25 anos).
Ignes Dequech (no primeiro ano de Alexandre Kireeff, ex-prefeito de Londrina, Ignes Dequech, foi nomeada presidente do Ippul - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina).
Cleuber Brito (foi secretário municipal do Ambiente de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014/ gestão Kireeff).
Murcha, cabisbaixa, Londrina não bateu panelas hoje, não.

OBS. Só no outro dia, na quinta-feira, a cidade amanheceu com foguetório patrocinado por empresários.

Luiz Taques

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

DEVER DE CIDADÃO



DEVER DE CIDADÃO

Quando você constata que funcionários públicos (mesmo togados) estão prevaricando, exorbitando de suas prerrogativas funcionais, é seu dever desmascará-los, denunciá-los a quem de direito.

Que a história da humanidade – inclusive a do Brasil – está repleta de episódios bizarros, próprios da mediocridade, do servilismo e, sobretudo, da vaidade humana, é indiscutível. Ainda mais nestes nada generosos tempos em que, em escala planetária, predadores de todas as carreiras devoram seus semelhantes para cumprir as metas estabelecidas pelo “deus” mercado, que também atende pelo bizarro nome de “Tio Sam”. Agora, permanecermos inertes – ou, pior, coniventes – diante de sucessivos atos abusivos que aviltam a inteligência coletiva e estupram a dignidade humana, isso lá é imperdoável.

Discípulos de serviçais como Pôncio Pilatos, concurseiros desprovidos de qualquer história – e, pior, sem vínculo com as legítimas aspirações de uma nação que durante pelo menos uma década conheceu políticas públicas nunca antes experimentadas em meio milênio de jugo ocidental, como a (ainda que mísera) distribuição de renda via Bolsa-Família e outros programas compensatórios no campo assistencial, ampliação do acesso a cursos universitários de graduação e pós-graduação por amplas camadas populares, implementação de iniciativas no campo da ciência e tecnologia e da soberania nacional – vêm posar de semideuses diante dos holofotes de emissoras sinistras como a Globo e de seus satélites, tomando para si prerrogativas de outras instâncias ou, mais grave, querendo substituir a soberania popular, pedra angular de qualquer democracia digna do nome.

Frágeis em seus argumentos – porque precários em sua formação e aparente erudição, ao ponto de incorrerem em erros grosseiros, primários, no uso do vernáculo ou ao discorrer fragmentos da literatura universal com a qual tentam se exibir de modo escolar (nos meus tempos os chatos CDFs) – esses arremedos de “técnicos de ciências jurídicas”, promovidos a super-heróis hollywoodianos da noite para o dia, ousam e cometem desatinos absurdos sem que os reconhecidamente doutos lhes chamem a atenção. Porque seria o caso de lhes puxar as orelhas, nada menos. (Quem não conseguiu assistir à desavergonhada sessão inquisitorial do dia 24, pode recorrer aos lúcidos comentários de Lênio Luiz Streck ou Walter Fanganiello Maierovitch, que, com sua independência insuspeita, irão didática e pacientemente esclarecer dúvidas e angústias.)

Travestidos de funcionários públicos com gozo de privilégios equivocadamente atribuídos durante a Constituinte – ou em momentos posteriores, ao sabor do casuísmo próprio de um parlamento apequenado pelo lobby dos poderosos, porque quando sob a legítima pressão popular, por meio de representantes dos movimentos populares eles não passam de “membros de quadrilhas organizadas” –, essas verdadeiras sanguessugas da nação cometem toda sorte de arbitrariedades sem que alguém lhes diga absoluta e rotundamente nada.

Para encerrar este texto indignado, trago à lembrança um eloquente desabafo de um dos corajosos brasileiros que se insurgiram contra a bota da opressão que então estava a ceifar vidas. Nos tempos nefastos do autoritarismo que infelicitou toda a América do Sul, na segunda metade do século XX, ninguém menos que Raul Seixas altivamente ensinou que “o sol da noite está nascendo / alguma coisa está acontecendo / não dá no rádio e nem está / nas bancas de jornais...” (“Novo Aeon”).

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PARA OS DISCÍPULOS DE PÔNCIO PILATOS



PARA OS DISCÍPULOS DE PÔNCIO PILATOS

Se causou alguma surpresa a confirmação da sentença de Sérgio Moro no TRF4, de Porto Alegre, ontem? Talvez para os que ainda nutrem qualquer ilusão pela democracia de fachada ora vigente...

Não foi, aliás, por essa “democracia” que Ulysses Guimarães e anônimos mártires ofereceram generosamente seus melhores dias e projetos de vida. Nem para celebrizar um Moro, Gebran Neto ou Temer – nem para que continuem a comer caviar enquanto a maioria da população brasileira desce a ladeira e retorna à senzala, sem direitos, sem comida, sem dignidade...

Quem conhece a história do Brasil, sobretudo a da triste gênese da República, parida de um golpe em que os desleais “ministros da casa” traíram o imperador bonachão enquanto a corte se divertia na Ilha Fiscal, sabe que desde a mais pérfida perseguição a Rui Barbosa (caluniado de “comunista” por ter redigido a versão final da Lei Áurea e retirado o artigo que previa indenização aos senhores de escravos) democracia só vale enquanto os interesses das oligarquias semimedievais não forem ameaçados...

Pois os discípulos de Pôncio Pilatos fingem não saber que não é Lula o chefe da quadrilha, mas os mesmos senhores (e seus ancestrais) que patrocinaram os golpes de 2016, 1964, 1954, 1945, 1937 e 1932 (cinicamente denominada de Revolução Constitucionalista). Explícita e literalmente: as famílias proprietárias das grandes empresas de comunicação, grande empreiteiras, grande redes atacadistas e varejistas. Afinal, desde quando eles corrompem? Desde antes da proclamação da independência. Não vale? Então, comprovado documentalmente, desde os tempos do Estado Novo, quando Getúlio Vargas virou refém dessa corja de sonegadores e que até hoje vivem do dinheiro público, como se deles fosse...

A bem da verdade, Lula e Dilma também foram ingênuos ao aceitarem um, digamos, “acordo tácito” com os meliantes que dizem representar essa corja integrada por descendentes dos membros da corte, senhores de escravos e agregados. Em vez de desmascará-los por meio de uma rigorosa auditoria e levá-los às barras dos tribunais, ou, se preferirem, ao “paredón” (que teriam feito um bom trabalho, sem dozinha...), preferiram “coabitar” com o “pessoal” do Kassab, Temer, Skaff et carerva (como François Mitterrand na França, quando o até então aguerrido Partido Socialista Francês, capitulou e se deixou cooptar pelos rentistas de lá)...

E isso ontem ficou implícito, nas entrelinhas, quando o juiz relator do TRF4 – mais um descendente de imigrantes libaneses a serviço da casa grande, que não só estropiou o Direito, mas o pobre vernáculo –, ao ler um relatório que nada de novo trouxe ao cenário de horrores desde a sórdida trama protagonizada pelo candidato derrotado que não aceitou a sua derrota, como não assume até hoje seu sobrenome paterno – afinal, ele é Aécio Neves da Cunha, filho do deputado arenista Aécio Ferreira da Cunha, de quem inclusive herdou a sordidez –, nem sua falta de caráter (total falta de hombridade, se ele sabe lá o que isso possa ser...).

Esse é o contexto de toda essa farsa: o “julgamento” de Lula nada mais é que a continuidade do golpe que apeou a primeira mulher eleita e reeleita para a Presidência da República. E não foram os erros os que levaram ao golpe, mas os acertos: elevação (ainda que mísera, em padrões civilizados) da renda da verdadeira casta de excluídos que compõe a base da pirâmide social brasileira (mais de 40 milhões), a afirmação da soberania nacional (consolidação dos BRICS, afirmação da liderança do Brasil no hemisfério Sul, desenvolvimento científico e tecnológico sem ter que pedir penico ao sinistro “irmão do norte”) e, sobretudo, as contínuas derrotas eleitorais aos pretensos “donos” do Brasil, esses meliantes serviçais do empresariado internacional que posam de “socialdemocratas” mas que nunca passaram de reles fantoches provincianos e ignorantes, sempre de cócoras para os gringos...

Ahmad Schabib Hany

sábado, 20 de janeiro de 2018

DR. MÁRCIO BARUKI, UM CIDADÃO A TODA PROVA




Dr. Márcio Baruki, um cidadão a toda prova

A notícia sobre a eternização do querido Amigo Márcio Toufic Baruki durante uma viagem de visita à Dra. Waleska, juíza de Direito em Goiás, sua primogênita, chegou até a mim nesta segunda-feira por meio do Amigo Najeh Mustafa, ex-presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá, ainda chocado com o trágico fato. Cidadão a toda prova, Márcio, como gostava de ser chamado, se destacou por sua cordialidade, erudição e, sobretudo, generosidade, e passa para a história por seus inúmeros atos cidadãos, que discretamente realizava, sem holofotes. Uma lacuna em nosso meio com a dimensão de sua grande personalidade, sobretudo para a sua Companheira de décadas, a estimada Professora Regina, e seus igualmente queridos Filhos, por quem torcemos e reiteramos nossos sinceros sentimentos.

Conheci o Dr. Márcio Baruki algum tempo depois de ter pedido demissão da Secretaria de Finanças de Corumbá, na gestão do Prefeito Aurélio Scaffa – de cujo secretariado era o mais jovem membro, e muito estimado pela modernização empreendida em sua breve titularidade –, por meio de outro querido Amigo que a Vida me presenteou, o ex-estudante de Agronomia na Universidade de São Paulo na década de 1960, Leodevar Rodrigues Jardim, o Leo (esse era seu apelido), então humilde funcionário da Companhia de Dragagens S/A (Codrasa), em meados de 1977, instalado no canteiro de obras do Pôlder de Ladário. Então, preparava-me para fazer Letras e trabalhar em algum jornal, e o Leo se declarara surpreso com um morador de Corumbá de apenas 18 anos com uma visão crítica e leitor de O Pasquim, Movimento e Opinião (nossa Amizade começou ao me ver na hospedaria de meu saudoso Pai lendo esses emblemáticos semanários, então muito visados). Decorrido algum tempo, convidou-me para ir até o escritório de advocacia do Márcio, que havia pouco tempo se instalara na recém-inaugurada Galeria Luiz de Albuquerque, no Edifício Pantanal, pois considerava o então jovem advogado uma das raras exceções de Corumbá, e queria que nos conhecêssemos. Nessa época, o igualmente querido e saudoso Amigo João Massimiano de Oliveira, contador, casado com Dona Maria do Carmo Escobar, era o seu principal assessor no escritório jurídico, bastante moderno (foi lá onde conheci a lendária IBM elétrica que usava esferas, trocava tipos, dispunha de tecla corretora e memorizava textos longos).

Afável e descontraído, Dr. Márcio revelara sentir saudades de seu tempo de aluno da Faculdade de Direito da Universidade Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, de cujo Diretório Acadêmico foi presidente. Não demorou muito para me pedir que não o chamasse de “senhor” e muito menos de “doutor”. Apenas Márcio. Modesto, não gostava de louvores e muito menos de se exibir, mas a sua cultura era impressionante, tanto que tinha um círculo de Amigos para dar vazão à sua sede por conhecimento: ao lado do compulsivo leitor que era o Leo (digo era, porque não nos vemos desde 1987), tive o privilégio de conhecer o querido e saudoso Amigo Tarcísio Nosé e a sua Companheira, Guta, que ao final daquele ano retornariam a Santos (São Paulo), pois a liberação por dois anos da Sabesp (empresa de saneamento de São Paulo) estava chegando ao fim.

O início de nossa Amizade se deu por meio de troca de livros e semanários (como os já citados), um círculo de leitores que faziam de seus encontros periódicos um descontraído momento de reflexão sobre a realidade mundial, até porque alguns, como servidores públicos, não podiam correr o risco de tecer comentários sobre a conjuntura política brasileira, que ainda vivia sob regime de exceção. Não me esqueço de seu nobre gesto de que, quando soube que deixara o curso de Letras no antigo Centro Pedagógico de Corumbá e iria me matricular na Católica de Campo Grande (a FUCMT), se prontificou a traduzir alguns documentos de família, e ele conhecia bem o grau de complicação, pois seu saudoso Pai, o senhor Toufic Baruki, era libanês e como tradutor juramentado havia feito diversos processos similares ao que eu teria que fazer.

Quando, em fins de 1980, fora vítima de violência policial em Ponta Porã, durante uma viagem com sua estimada Esposa, Dona Regina, eu tinha a honra de trabalhar em Campo Grande com o Amigo e Jornalista Edson Moraes, e a assessoria da Oposição na Assembleia Legislativa soltou uma nota de solidariedade ao Márcio, e a Ordem dos Advogados do Brasil, cuja Comissão de Direitos Humanos era presidida pelo querido e saudoso Amigo, Dr. Ricardo Brandão, abraçou a questão. A assessoria do então Deputado Sérgio Cruz, líder da Oposição – acredito que o querido e saudoso Amigo Mário Corrêa Albernaz –, se encontrara com o Márcio e o convidara a integrar o à época único partido de oposição em Corumbá, mas por compromissos familiares ele declinara do convite. O querido e saudoso Amigo Dr. Joilce Viegas de Araújo, seu colega e presidente da Comissão Executiva local, lamentou, pois era considerado um importante nome e disputado por todos os partidos com atuação naquele tempo, dentro e fora de Corumbá.

Depois de nossos encontros periódicos em seu escritório para as rodas de reflexão e leitura, em fins da década de 1970, só viemos nos reencontrar em 1987 – quando da preparação da Primeira Mostra da Cultura Árabe de Corumbá, sediada no Instituto Luiz de Albuquerque entre julho e setembro daquele ano –, e ele, então futuro presidente da Liga Árabe-Brasileira de Corumbá, tendo o também querido Amigo Adnan Haymour como seu vice, colaborou na organização, enviando cartas para os membros da entidade, no intuito de sensibilizá-los para emprestar peças, documentos e fotografias de família, representativas da cultura árabe trazidas pelos imigrantes para Corumbá. Pouco tempo depois, tão logo assumiu seu mandato à frente da entidade representativa dos imigrantes árabes no coração do Pantanal, realizou uma campanha de doação de cestas básicas a professores e demais servidores públicos estaduais, pois o então governador Marcelo Miranda Soares havia atrasado em mais de três meses os salários do funcionalismo de Mato Grosso do Sul.

Solidário, um ano depois, foi nos visitar à casa dos meus saudosos Pais, para, afável e risonho como de hábito, comemorar o final feliz de um episódio lamentável em que um jovem tentara assaltar minha saudosa Mãe e eu saíra em sua defesa, o que o levou a correr para a rua, armado de um facão, quando alguns vizinhos muito queridos (alguns não mais entre nós), solidários conosco e acreditando que o jovem viria a nos desferir alguns golpes com seu facão, se precipitaram sobre ele. Ao chamarmos a polícia para deter o rapaz, a guarnição queria que eu desse os nomes das pessoas que, por tentar me defender, acabaram imobilizando o aprendiz de assaltante e, assim, machucando-o. Como me recusei a dar nomes, pois expliquei que agiram por solidariedade, então decidiram me levar na viatura para a delegacia regional, fazendo uma parada no hospital para periciar o rapaz, quando um funcionário do querido Amigo J. Carneiro (pioneiro do turismo contemplativo em Corumbá, dono do Expresso do Pantanal) me reconheceu e se prontificou a avisar o patrão, citando o nome do Dr. Márcio. Assim que cheguei à delegacia, o escrivão plantonista já havia recebido o telefonema do querido e saudoso advogado, o que me poupou maiores constrangimentos. Modesto, minimizou sua providente intervenção, alegando que, por ser advogado de uma entidade associativa de policiais, conversara com o delegado antes de minha chegada à delegacia.

Com a discrição que lhe era peculiar, participou do processo de criação do Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental (CENPER) e do Clube dos Amigos do Padre Ernesto, em 2001 e 2005, não tendo aceitado qualquer cargo diretivo e nunca se recusando a dar a sua qualificada mão sempre que solicitado. A bem da verdade, só o vi duas vezes em solenidades públicas, apenas para testemunhar alguma homenagem ao querido e saudoso Amigo Padre Ernesto – isso, aliás, deixara claro a certo amigo comum que o abordou na entrada do local do evento. Talvez por essa razão não fora feliz em sua única candidatura a vereador, avesso a salamaleques próprios do cada vez mais bizarro mundo da política.

Tempos depois, muito me honrou, quando de meu casamento, ao desvencilhar-se de obrigações sociais de uma das inúmeras entidades a que estava ligado para chegar, ainda que com algum atraso, e permanecer em nossa mesa até o final da festa, como singular Amigo de décadas. Podia permanecer longo tempo sem se comunicar, mas quando nos reencontrávamos ele demonstrava seu carinho, sua Amizade sincera e altiva, em eloquentes gestos de cordialidade.

Nossos derradeiros contatos foram telefônicos, no início de 2017, quando ele estava engajado na adequação do estatuto de uma entidade filantrópica, a pedido do também querido Amigo Padre Pasquale Forin. Humilde e atencioso, trocava ideias comigo sobre questões da legislação voltadas para as entidades filantrópicas e as organizações da sociedade civil de interesse público, quando ele era um conhecedor erudito, verdadeiro jurisconsulto, com tanta teoria e prática jurídica ao longo de quase cinco décadas de profícua e vitoriosa carreira de advogado. Lamentavelmente, Corumbá não teve oportunidade de tê-lo como candidato a prefeito, pois era um executivo de perfil metropolitano, não desses caricatos provincianos que amesquinham a atividade política e o real significado da democracia, tão em baixa em nossos nada generosos tempos.

Até sempre, querido Amigo Márcio, e obrigado por sua Amizade!

Ahmad Schabib Hany