Universidade Federal do Pantanal, luta de todos
Neste momento de falta de
perspectivas no contexto local, é fundamental que a cidadania saia da letargia
e se some a uma luta de todos: trinta anos depois de o Pacto Pela Cidadania
levantar bandeiras comuns, a UFPantanal se consolida como uma efetiva bandeira
de unificação das legítimas aspirações do povo da região.
Uma semana depois da divulgação da carta aberta
para o Presidente Lula, as boas repercussões se espalham por todo o Brasil e
até em países em que há brasileiros fazendo ciência. Não são poucos os que
entenderam que não se trata de ‘mais do mesmo’, mas que a acalentada
Universidade Federal do Pantanal chega no momento em que urgem ações
preventivas, atitudes proativas, medidas efetivas e, sobretudo, instituições focadas
e comprometidas com as necessárias demandas que a realidade clama.
Quem tiver lido a carta ao Presidente Lula com
bastante atenção notou que não se trata de devaneio e muito menos de ‘bairrismo’.
Ao contrário, uma legítima reivindicação em favor dos jovens que se vêm
obrigados a uma diáspora cíclica, decorrente da eloquente falta de perspectivas
para toda a população, sobretudo as novas gerações. Corumbá, bem como Ladário e
toda a região desta fronteira com a Bolívia, tem sentido profundamente a
necessidade de um efetivo desenvolvimento em consonância com a sua vocação
natural e histórica.
A população não mais acredita em panaceias, em
megaprojetos milagreiros, que só servem para eleger as velhas raposas que,
posando de paladinos do progresso, auferem privilégios e poder sem que a
população consiga melhorar suas condições de vida, sem que o paraíso que é a
região possa oferecer qualidade de vida a uma população que vive a migrar como
retirantes nordestinos no século XX. Assim como a Vida, a História não dá
marcha a ré: é com a ciência, o estudo, o investimento na maior riqueza que
temos -- os seres vivos, em especial os seres humanos -- que o desenvolvimento
que tanto acalentamos por décadas a fio transforme nosso cotidiano hoje
profundamente adverso e até ameaçador.
As novas universidades criadas nos diferentes
governos do Presidente Lula têm trazido as inovações mais contemporâneas, tanto
do ponto de vista institucional como acadêmico. De um lado, abertas e
inclusivas para receber os jovens das mais diferentes classes e condições
sociais, e de outro, interagindo com as populações dos países irmãos, em que a
elevação das condições de vida representa aumento das oportunidades para os
nacionais. No entanto, um item a mais representa um atributo maior: com um
horizonte aberto mais para a contemporaneidade oferecida pelas transformações
científicas e tecnológicas, as novas universidades criadas mais recentemente
voltam-se para os desafios apresentados pelas adversidades naturais e
históricas, como as mudanças climáticas e a redução das desigualdades regionais
e hemisféricas.
Esse é, em poucas palavras, o eixo central da
demanda atual pela Universidade Federal do Pantanal. Uma usina formadora de
novos profissionais em que valores civilizatórios são associados à qualificação
profissional e aos imperativos históricos que ‘afrontam’ aqueles que não gostam
de sair de sua zona de conforto. Dez anos atrás a realidade era outra, em que a
ortodoxia de uma realidade impávida permitia a mesmice sem cobrar ousadias.
Hoje não é mais possível se postular uma universidade pública que não dialogue
com a realidade imediata e as suas demandas latentes. Mais que retórica,
trata-se de um desafio sincero.
Por que Universidade? Porque um campus -- ou
centro, como já foi no passado -- não tem a autonomia necessária e os recursos
devidos para a definição de cursos e prioridades que uma universidade tem,
sobretudo quando conectada à realidade em que estamos inseridos desde sempre, o
Pantanal, que não é problema, é solução. Como universidade, reunirá condições
de oferecer alternativas de desenvolvimento, bem como propostas racionais de
mitigação e até de solução para os problemas que têm causado prejuízo a todos,
desde a incidência de incêndios cada vez maiores até a estagnação econômica que
empobrece as famílias corumbaenses, ladarenses, pantaneiras e bolivianas.
Por que Federal? Além de dispor de um status
qualificado, por conta da legislação nacional e da infraestrutura mínima
oferecida, essa condição permitirá não só aos estudantes e docentes, mas a toda
a população, um conjunto de oportunidades conquistadas pelas regiões como usina
geradora de transformações e formadora de cidadãos de qualificados e conectados
com a sua própria realidade. Nesse sentido, a proposta de Espaço Comum de
Educação, nas regiões de fronteira, serve para integrar e promover as
populações que estão nos limites territoriais dos países vizinhos.
Por que do Pantanal? Em nome do Pantanal, muitas
unidades da federação conseguem granjear recursos das mais diferentes
instituições transnacionais e multilaterais. Quando esses recursos chegam, se é
que chegam, são diminutos e em conta-gotas, sujeitos a todo o mecanismo
institucional que caracteriza a burocracia existente. Com uma Universidade
Federal do Pantanal com sede no maior município pantaneiro e com todas as
prerrogativas proporcionadas pela autonomia universitária, a instalação não só
gerará empregos diretos como inúmeros empregos e oportunidades de trabalho
indiretos, além da qualificação profissional decorrente dessa nova
universidade.
Aos poucos, iremos trazendo, ponto por ponto, as
questões que suscitam as discussões da mais nova demanda não apenas por nova
instituição, mas por desenvolvimento integrado e por novas oportunidades para
os jovens, perspectivas para as populações das regiões de fronteira inseridas
em um Bioma cuja existência se encontra no limiar da exaustão, ou até da
extinção, conforme a perspectiva de quem assiste ao dramático momento da história
em que a polarização não é apenas ideológica, mas irrefutavelmente total, até
climática.
Hoje a cidadania desperta de uma
letargia de uma década, como há trinta anos Corumbá protagonizou a gênese de
uma iniciativa pioneira e vitoriosa, o Pacto Pela Cidadania, sob a condução do
saudoso e querido Dom José Alves da Costa, Bispo Emérito de Corumbá, ao lado de
Cidadãos e Cidadãs com letras maiúsculas, como Padre Pasquale Forin, Padre
Ernesto Saksida, Padre Emílio Mena, Irmã Beatriz de Barros, Pastor Antônio
Ribeiro, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Senhor Jorge Katurchi, Senhor Mahmud
Abdallah, Senhor Zózimo de Paula, Senhor Ariodê Martins Navarro, Senhor José
Batista de Pontes, Doutora Angélica Anache, Professora Maria de Paula e Professora
Heloísa Urt, de saudosa memória.
Como toda causa grande e justa, esta luta não tem ‘donos’.
Sabemos quando ela se inicia e também que ela só se encerra quando tiver
conquistado seu objetivo. Ao trabalho!
Ahmad
Schabib Hany
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