sexta-feira, 30 de agosto de 2024

UFPantanal: desafios e fortalezas

UFPantanal: desafios e fortalezas

O projeto de criação da Universidade Federal do Pantanal na fronteira Brasil-Bolívia traz desafios e fortalezas enormes. Cabe à sociedade civil e à sociedade científica transpor os desafios e consolidar suas fortalezas, isto é, suas melhores características e possibilidades.

Enganam-se os que esperam que entremos na onda das fakenews e outras farsas próprias do chamado pós-modernismo e suas bizarrices, como a mais recente, o tal ‘Diablo Quetal’, uma nova edição remasterizada do inominável, indizível e, sobretudo, imprestável. Isso é fruto do parasitismo em que vivemos, associado, obviamente, a um conjunto de absurdos de uma sociedade decadente em que criminosos endinheirados servem de referência para as novas gerações e os valores éticos foram transformados em algo inútil, descartável, obsoleto. Na verdade, o ‘pragmatismo’ pós-moderno deu lugar ao cinismo fascista.

Vamos, portanto, continuar tratando da necessária formação cidadã e profissional dos seres humanos, das pessoas, das novas gerações, para não virarem reféns da precarização do trabalho, do subemprego, do trabalho semelhante ao escravo, do crime organizado e, inclusive, dos espertalhões que posam de ‘muito inteligentes’ por recorrer a ferramentas que são perigosas armas de destruição em massa, como a inteligência artificial nas mãos erradas.

Uma Universidade Federal no coração do Pantanal e da América do Sul, quase seis décadas depois de concretizado o sonho dos primeiros cursos universitários em Corumbá, por meio da criação, em 1967, do Instituto Superior de Pedagogia (ISP), cuja primeira sede foi o imponente prédio em estilo neoclássico do antigo Grupo Escolar Luiz de Albuquerque, onde desde 1977, ano do bicentenário de fundação do município, funciona o ILA, isto é, a atual Casa de Cultura Luiz de Albuquerque.

Entre as principais fortalezas de uma universidade pública federal nesta fronteira com os dois países -- Bolívia e Paraguai -- que com o Brasil partilham o rico e diverso Bioma Pantanal estão a autonomia e gestão local, além da agilidade na efetivação de respostas às demandas regionais e a interação com outras instituições de pesquisa e universidades nacionais e latino-americanas envolvidas nos diferentes campos de pesquisa nesta área do Planeta. Mais ainda: inovadora e inclusiva em sua concepção, essa universidade terá a seu favor um conjunto de fatores que favorecerão o desenvolvimento regional em consonância com os clamores de amplos setores da população local e parâmetros científicos hodiernos.

Estarão presentes os desafios históricos como autonomia administrativo-financeira, gestão local plena, fluidez de recursos financeiros, participação dos diferentes segmentos da comunidade acadêmica nas decisões relevantes e, sobretudo, constituição de equipes de pesquisa efetivas (não as conhecidas euquipes que ao longo dos últimos anos prevaleceram em detrimento da continuidade e perenidade de projetos interrompidos por causa da contínua transitoriedade, intensa rotatividade, de docentes pesquisadores, aprovados em concursos para trabalhar no Campus do Pantanal mas que migraram para outros campi comprometendo a qualidade e o desempenho dos cursos e atividades de pesquisa do mais antigo campus do interior do estado).

Não é de hoje a justificativa, transformada em mantra, de que a localização e a falta de condições materiais oferecidas em Corumbá contribuem para o compasso de espera em que se encontra o atual CPAN/UFMS. Nas décadas de 1970 e 1980, quando a precariedade e insuficiência de recursos eram muito maiores, o então Centro Pedagógico da UEMT, depois Centro Universitário da UFMS, era de longe um centro de referência na pesquisa e na oferta de cursos que atraíam estudantes tanto da Bolívia como do Paraguai. Porque é o nível do curso oferecido e a qualidade das pesquisas que servem de referência para a procura de uma universidade.

Com autonomia e gestão administrativo-financeira plenas, não haverá risco de vermos as recorrentes ameaças de suspensão da oferta de vagas em cursos como Letras Inglês (cuja volta já foi assegurada para 2025) e Letras Espanhol e ver a avalanche de docentes lotados no campus de Corumbá rumo à capital ou a outros campi em nome de uma suposta ‘otimização de recursos humanos’. Ou termos que assistir à falta de pesquisas urgentes, exequíveis, por pesquisadores locais, da realidade imediata deste riquíssimo Bioma em decorrência das mudanças climáticas, quando, em parceria com as universidades que vêm desenvolvendo pesquisas de interesse imediato, poderiam ser empreendidas ações conjuntas, ainda que pontuais, de modo a preparar futuros grupos de pesquisa com esse foco.

Registrado pela história

Em junho de 1984, quando o então CEUC sediou o emblemático VII Seminário de Pesquisa e Extensão (SEPE) comparado a uma ‘mini-SBPC’ pelo ex-coordenador do CNPq Célio Cunha -- um dos participantes do rico evento científico --, Corumbá foi palco das articulações que asseguraram mais tarde a oferta do curso de Jornalismo em Campo Grande. Acontece que, nos bastidores daquele importante evento, acontecia a transição consensual, depois da primeira gestão da UFMS, em que o saudoso Professor Jair Madureira foi cacifado para ser o segundo reitor da universidade recém-federalizada.

Evento que testemunhei como enviado do jornal em que trabalhava na época, conheci o Professor Cláudio Almeida da Conceição e sua pesquisa de aproveitamento do aguapé como fonte de energia e importante despoluente das águas pantaneiras; a pesquisa ictiológica pioneira do Professor Wilson Uieda, em que propiciava relevantes contribuições para a ciência ao revelar o comportamento peculiar de espécies nativas de peixes do Pantanal; as pioneiras pesquisas sobre jacaré, dos pesquisadores Eliezer José Marques, Francisco Roberto dos Santos Breyer e Masao Uetanabaro, e sobre a capivara, dos pesquisadores Francisco Breyer e Cleber Rodrigues Alho, em que a parceria UFMS-Embrapa contribui sobremaneira para a transformação, em novembro de 1984, da então UEPAE Corumbá em Centro de Pesquisas Agropecuárias do Pantanal, hoje Embrapa Pantanal, tendo como carro-chefe os projetos de aproveitamento econômico do jacaré, de Francisco Breyer, e da capivara, de Cléber Alho, sob a chefia do pesquisador Araê Book e a coordenação técnica do pesquisador Arnildo Pott.

Evidência desse protagonismo em território corumbaense foi, também, a realização, em parceria com a UFMS, do Primeiro Simpósio sobre Recursos Naturais e Socioeconômicos do Pantanal, realizado no fim de outubro e início de novembro de 1984, quando o presidente da Embrapa e o ministro da Agricultura inauguraram o que hoje é Embrapa Pantanal. O coordenador do evento, Pesquisador Eduardo Künze Bastos, ictiólogo que depois se mudou para Brasília, contou com o apoio do Professor Arnaldo Yoso Sakamoto, do CEUC/UFMS, para a organização e realização desse importante conclave científico, de que participaram pesquisadores de diversas instituições de pesquisa do Brasil, inclusive da UFMS.

Anos depois, durante a gestão do Professor Celso Pierezan como reitor da UFMS, Masao Uetanabaro foi, ao lado de Eliezer Marques, dos responsáveis pela implantação da base de pesquisa do Pantanal, que coordenou por quase uma década. Esse importante centro de estudos, na verdade, foi uma velha reivindicação dos pesquisadores pioneiros do Centro Pedagógico, depois Centro Universitário de Corumbá.

Teimosia cidadã

Graças à teimosia cidadã do médico e Professor Salomão Baruki, ex-vereador cujo partido, o PSD de Juscelino Kubitschek de Oliveira, tinha sido proscrito ao lado do PTB de Leonel Brizola e de João Goulart. Amigo do engenheiro Pedro Pedrossian, da coligação PSD-PTB que derrotara em 1965 o candidato da UDN ao governo de Mato Grosso apoiado pelo novo regime instaurado em 1964, pecuarista Lúdio Martins Coelho, Salomão Baruki recorreu ao cenário do emblemático desfile comemorativo de 1967 do centenário da Retomada de Corumbá para fazer com que o governador Pedrossian anunciasse no palanque das autoridades da solenidade da Retomada de Corumbá a criação do Instituto Superior de Pedagogia como marco do início da oferta de ensino universitário em Corumbá.

Então governador recém filiado à ARENA, Pedrossian estava isolado por causa das pressões dos oriundos da UDN, que viam no governador um traidor nas hostes do partido de sustentação do regime. Como sua vitória sobre Lúdio havia sido assegurada no último bastião do trabalhismo getulista, Corumbá, ele, Pedrossian precisava anunciar um conjunto de obras importantes, entre elas o Instituto Superior de Pedagogia. Corumbá, no ano anterior, 1966, tivera seu candidato favorito derrotado por meio de um estratagema questionado no Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, quando o médico Breno Medeiros Guimarães, candidato da ARENA, ganhou por pequena diferença de votos o favorito daquelas eleições -- o advogado e então deputado estadual Rômulo do Amaral, eleito pelo PSP de Adhemar de Barros e que se filiara ao MDB --, graças à urna da área rural, do Leque, região da Nhecolândia, em que não apareceu um voto sequer, nem do representante do MDB, ao candidato oposicionista.

Sob a responsabilidade do líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado José Ferreira de Freitas, foi constituída uma comissão responsável pelos estudos e preparação do projeto de criação e funcionamento do futuro instituto, a qual foi integrada pelos médicos Lécio Gomes de Souza, Cleto Leite de Barros e Salomão Baruki, pela Professora Edy Assis de Barros e pelo engenheiro civil Luiz Pedro Ametlla (titulares), que escolheram o Professor Salomão seu primeiro presidente e mais tarde diretor. Em tempo recorde, a 13 de novembro de 1967, era publicado o decreto que criava o Instituto Superior de Pedagogia, que no ano seguinte começou a funcionar com cinco primeiros cursos: História, Letras, Pedagogia, Psicologia e Ciências (depois Ciências Biológicas e Matemática).

Ahmad Schabib Hany

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

PSICÓLOGOS HOMENAGEIAM TÂNIA NOZIERES DE SANT'ANNA E DOCENTES PIONEIROS

Psicólogos homenageiam Tânia Nozieres de Sant’Anna e docentes pioneiros

Psicólogos homenageiam Tânia de Sant’Anna e docentes pioneiros de Psicologia do CPAN, como os Professores Mathilde Mônaco e Wilson de Melo.

“Tânia, Presente!”

Após a fala embargada pela emoção do Psicólogo Aguinaldo Rodrigues, a Psicóloga Suzete dos Santos entoou como reverência à memória de sua Colega e Amiga, “Tânia, Presente!”, seguido dos aplausos de homenagem à Cidadã à frente de seu tempo que dedicou seus melhores dias à Saúde Pública e aos Direitos da Mulher, da Criança e do Adolescente. Uma brilhante ladarense que entra para a História da Cidadania, da Ciência e das conquistas sociais com a maior dignidade, como viveu intensamente sua existência de luz, humildade e humanidade.

Psicólogo aposentado e ex-secretário de Saúde e de Assistência Social de Ladário, Juvenal Ávila de Oliveira tomou a iniciativa de realizar confraternização com colegas de Ladário e Corumbá que desenvolvem atividades na Pérola do Pantanal para homenagear a querida e agora saudosa Psicóloga Tânia Nozieres de Sant’Anna. Ladarense, Tânia dedicou sua Vida a Ladário, mas desenvolveu suas atividades em Corumbá, como funcionária concursada da Secretaria Municipal de Saúde. Ela foi além em sua preocupação com a saúde: foi pioneira, também, na efetivação das políticas de proteção integral da população infanto-juvenil, tanto que foi a primeira psicóloga a desenvolver uma ação integrada entre o Ministério Público e os novos órgãos criados para dar proteção jurídico-social às crianças e jovens, sobretudo em Ladário.

Em mais de 35 anos de vigência do Título da Ordem Social da Constituição Federal de 1988 (em que, artigo por artigo, foi paulatinamente pondo em efetivação, sempre com a voz meiga, doce e ponderada, mas firme), Tânia de Sant’Anna fez de seu ofício sagrado da Psicologia um instrumento de empoderamento e protagonismo cidadão da população como um todo, sempre invisibilizada, sem voz e sem vez. Emprestou generosa e anonimamente sua inteligência, sua voz e sua capacidade de persuasão para que, fosse corumbaense ou ladarense, paraguaio ou boliviano, criança ou idoso, mulher ou homem, homossexual ou bissexual, tivesse seu direito assegurado, tal como determina a Constituição Federal, de cuja íntegra se tornou porta-voz e operadora de direitos.

O evento, realizado neste sábado chuvoso, 24 de agosto, também homenageou docentes pioneiros do curso de Psicologia oferecido pelo CPAN-UFMS, como a Professora Mathilde Mônaco Ferra e o Professor Wilson Ferreira de Melo, que dedicaram sua Vida à docência e à pesquisa desde a década de 1970. Ambos aposentados, são referência viva na formação de profissionais que atuam no atendimento terapêutico nestes tempos de pandemia na saúde mental de pessoas das mais diferentes condições sociais, escolaridade, gênero, atividade profissional e idade. Muitos profissionais têm se dedicado a efetivar as políticas sociais, como Saúde, Assistência Social, Educação, Cultura, Desportos, Proteção jurídico-social da população infanto-juvenil, Direitos Humanos, Direitos do Idoso, Direitos das Pessoas com Deficiência, enfrentamento à exclusão social e assistência à população em situação de vulnerabilidade social, entre outras.

Mais que uma confraternização pelos 62 anos da profissão de psicólogo por lei federal no Brasil e de 57 anos do curso de Psicologia oferecido pelo CPAN-UFMS, a iniciativa pretende dar início a um processo de atualização profissional, em que as intervenções sociais não percam o foco do exercício profissional. Para se ter uma ideia, todas as políticas públicas assim caracterizadas pela Constituição Federal de 1988 -- seja na concepção do SUS pelo Movimento da Reforma Sanitária ou na adoção da doutrina da proteção integral pelo Movimento Criança Constituinte Prioridade Absoluta e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que revogou o Código de Menores e sua doutrina da situação irregular --, o Conselho Federal de Psicologia e todos os Conselhos Regionais tiveram protagonismo inegável que precisa ser resgatado pelas novas gerações de profissionais.

Primeiro de uma série

Apesar da chuvosa tarde de sábado, que atrasou em pouco mais de uma hora primeiro evento meticulosamente preparado pelo Psicólogo Juvenal Ávila de Oliveira, com o apoio incondicional de colegas de novas gerações, a iniciativa pretende consolidar a organização coletiva de uma das categorias mais atuantes na região de Corumbá e de Ladário. Além das homenagens à saudosa colega Tânia de Sant’Anna e aos docentes pioneiros Professora Mathilde Mônaco e Professor Wilson de Melo, o reconhecimento pelo exercício digno da profissão em suas diferentes especificidades foi contemplado a mais de duas dezenas de colegas de diferentes gerações.

Em tom cordial e bastante descontraído, Juvenal Ávila, como anfitrião e responsável pela iniciativa, de imediato apoiada pela totalidade dos colegas alvo do evento, conduziu as diferentes etapas do importante momento em que, entre a emoção de uma homenagem justa à colega eternizada e a outra colega que se encontra na fila do transplante fora de Ladário, e o entusiástico reencontro de colegas que não se viam desde antes da pandemia, momentos de convívio fecundo e trocas de experiências e ideias para novas iniciativas do gênero foram consignadas.

A categoria já tem uma agenda de atividades para o próximo ano, em que os psicólogos terão oportunidade de realizar atualização em diversas áreas por meio de seminários e ciclos de palestras com pesquisadores de referência nacional. Especialidades voltadas para a saúde mental e as demandas hodiernas, como o enfrentamento ao suicídio e o apoio psicológico na oncologia e na violência contra as mulheres e crianças e adolescentes, estão entre as prioritárias, mas o leque de atividades pretende focar também as questões de interesse laboral, que nos últimos anos ficaram defasados.

Uma categoria de vanguarda e sempre atuante, teve diante de si as lutas desde a implantação do primeiro curso no então estado de Mato Grosso com o saudoso médico e Professor Salomão Baruki, fundador do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá no ano do centenário da Retomada de Corumbá, 1967 (antes, portanto, da criação da Universidade Estadual de Mato Grosso, UEMT, à qual, como Centro Pedagógico de Corumbá, CPC, ficou vinculado até 1979, que com a federalização dessa universidade foi criada como fundação a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, da qual primeiro o Centro Universitário de Corumbá, CEUC, e depois CPAN, no início dos anos 2000, terminou designado).

Hoje o desafio para toda a cidadania corumbaense e ladarense se encontra na criação de uma universidade federal, autônoma, inovadora e inclusiva, com sede nesta fronteira histórica, como pretende ser a Universidade Federal do Pantanal. Nesse sentido, coube a nós inserirmos essa demanda justa e oportuna na agenda dos profissionais universitários de Corumbá e Ladário cuja formação decorre da iniciativa de cidadãos que, em 1967, ousaram pleitear e concretizar junto ao governador mato-grossense Pedro Pedrossian, cuja vitória na última eleição direta realizada no regime de 1964 foi assegurada pelo eleitorado de Corumbá e Ladário.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

UFPANTANAL em ação. Professores Lúcia e Valmir Corrêa lançam livro sobre produção de charque e tanino. Psicólogos homenageiam Tânia de Sant’Anna e docentes pioneiros

UFPANTANAL em ação. Professores Lúcia e Valmir Corrêa lançam livro sobre produção de charque e tanino. Psicólogos homenageiam Tânia de Sant’Anna e docentes pioneiros

A UFPANTANAL nasce à luz dos pioneiros do ISPC, CPC, CEUC e CPAN e do binômio inovação e inclusão. Professores Lúcia e Valmir Corrêa lançam livro sobre produção de charque e tanino no sul de Mato Grosso. Psicólogos homenageiam Tânia de Sant’Anna e docentes pioneiros de Psicologia do CPAN, como os Professores Mathilde Mônaco e Wilson de Melo.

UFPANTANAL à luz dos pioneiros e da inovação

Desde a entrega da carta ao Presidente Lula, em 31 de julho, a campanha pró-criação da UFPANTANAL vem definindo propostas e formas de mobilização, mas com o cuidado de não se envolver na campanha eleitoral, bem como com o processo sucessório do CPAN e da UFMS, em curso.

Embora os integrantes do Grupo Pró-Criação da UFPANTANAL entendam que todo ato que se pratica no contexto da sociedade seja político, esclarecem a população pantaneira e, sobretudo, a comunidade universitária que não há entre os signatários do manifesto inicial qualquer motivação político-eleitoral, tanto no renhido processo de escolha do futuro reitor da UFMS quanto do futuro diretor do CPAN, em decorrência da renúncia ao cargo pelo atual diretor, Professor Aguinaldo Silva, desde 2016 à frente dos destinos do mais antigo campus do interior.

As ações da campanha pela criação da UFPANTANAL seguem em ritmo célere, tendo sido bem aceitas as propostas, cujo binômio inovação e inclusão leva em conta toda a trajetória dos pioneiros do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá (ISPC); do Centro Pedagógico de Corumbá, vinculado à Universidade Estadual de Mato Grosso (CPC/UEMT); do Centro Universitário de Corumbá, vinculado à então recém-criada Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CEUC/UFMS), mais tarde Campus do Pantanal (CPAN/UFMS).

Valorizando e respeitando todo o legado do CPAN/UFMS, cuja trajetória merecerá banco de memória dos pioneiros e dos trabalhos produzidos durante mais de 57 anos, incluindo as instituições anteriores mencionadas, a UFPantanal pretende ser um projeto inovador, como centro de excelência em estudos do Pantanal nas diversas áreas do conhecimento, em consonância com os novos conceitos de universidades criadas no século XXI, em que pesquisas e formações serão oferecidos com flexibilidade, sem perder de vista a formação humanista e científica dos alunos.

Inclusiva, a UFPANTANAL terá plena autonomia, voltada às demandas da população, sem perder de vista a formação de excelência, de modo que seus egressos possam optar onde desenvolver as atividades profissionais. Assim, a população local/regional terá prioridade, em razão da necessidade de promover o desenvolvimento regional de modo inclusivo e sustentável. Até porque a redução das desigualdades regionais voltou a ser prioridade do governo federal, papel a ser exercido também pela UFPANTANAL, como centro gerador de conhecimento e de transformação da realidade de Corumbá, Ladário e o Pantanal.

Professores Lúcia e Valmir Corrêa lançam livro sobre produção de charque e tanino

Nesta sexta-feira, 23 de agosto, o Instituto Cultural Gilberto Luiz Alves e a Editora Maria Petrona, por plataforma digital, lançaram o livro A produção de charque e de tanino no sul de Mato Grosso: cenários e dilemas, coautoria dos Professores Valmir Batista Corrêa e Lúcia Salsa Corrêa. O livro, o segundo da coleção dos bibliófilos do Instituto Cultural Gilberto Luiz Alves, traz o cerne de uma produção histórica elucidativa, sem maniqueísmo, em que o leitor é convidado a compreender uma realidade mistificada pelo senso comum, por isso desafiadora, instigante.

Assim como o patrono do instituto, Professor Gilberto Luiz Alves, o casal de pesquisadores é referência na História Regional, tendo sido, durante décadas, dos primeiros docentes do Centro Pedagógico de Corumbá (CPC), da Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT), depois Centro Universitário de Corumbá (CEUC), vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) -- posteriormente Campus do Pantanal (CPAN/UFMS) --, tendo se aposentado há cerca de quinze anos na capital, para onde se mudaram em fins da década de 1990.

Pioneiros na sistematização da pesquisa da História Regional em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os historiadores Valmir e Lúcia apresentam, neste livro, a essência do estudo a que se dedicaram por mais de meio século, para desvendar, preservar e divulgar, sobretudo, suas fontes documentais e a necessária análise com base em uma perspectiva crítica à luz da História Universal.

Compreender o passado mediante matriz teórica que parte da evolução do capital e da penetração de relações capitalistas em determinado tempo e território para interpretar fontes e fatos permitiu-lhes construir uma síntese explicativa das formas de ocupação do sul mato-grossense e da criação da unidade da federação de cuja gênese testemunharam, Mato Grosso do Sul.

Evento feito por plataforma digital, o lançamento se transformou em celebração tomada de muita emoção e simbolismo, pois o Professor Valmir Corrêa em maio deste ano sofreu um infarto agudo do miocárdio, mas sua recuperação foi rápida e bem sucedida, não tendo quaisquer sequelas dessa intercorrência que assustou os amigos e causou o adiamento do lançamento deste livro. Vida longa e muita saúde aos Amigos pesquisadores, e que venham muitas publicações de obras emblemáticas que permanecem no prelo.

Tânia Nozieres homenageada pelos colegas

Psicólogo aposentado e ex-secretário de Saúde e de Assistência Social de Ladário, Juvenal Ávila de Oliveira tomou a iniciativa de realizar confraternização com colegas de Ladário e Corumbá que desenvolvem atividades na Pérola do Pantanal para homenagear a querida e agora saudosa Psicóloga Tânia Nozieres de Sant’Anna. Ladarense, Tânia dedicou sua Vida a Ladário, mas desenvolveu suas atividades em Corumbá, como funcionária concursada da Secretaria Municipal de Saúde. Ela foi além em sua preocupação com a saúde: foi pioneira, também, na efetivação das políticas de proteção integral da população infanto-juvenil, tanto que foi a primeira psicóloga a desenvolver uma ação integrada entre o Ministério Público e os novos órgãos criados para dar proteção jurídico-social às crianças e jovens, sobretudo em Ladário.

Em mais de 35 anos de vigência do Título da Ordem Social da Constituição Federal de 1988 (em que, artigo por artigo, foi paulatinamente pondo em efetivação, sempre com a voz meiga, doce e ponderada, mas firme), Tânia de Sant’Anna fez de seu ofício sagrado da Psicologia um instrumento de empoderamento e protagonismo cidadão da população como um todo, sempre invisibilizada, sem voz e sem vez. Emprestou generosa e anonimamente sua inteligência, sua voz e sua capacidade de persuasão para que, fosse corumbaense ou ladarense, paraguaio ou boliviano, criança ou idoso, mulher ou homem, homossexual ou bissexual, tivesse seu direito assegurado, tal como determina a Constituição Federal, de cuja íntegra se tornou porta-voz e operadora de direitos.

O evento, realizado neste sábado, 24 de agosto, também reuniu docentes pioneiros do curso de Psicologia oferecido pelo CPAN/UFMS, como a Professora Magali Mônaco Ferra e o Professor Wilson Ferreira de Mello, que dedicaram sua Vida à docência e à pesquisa desde o início da década de 1970. Ambos aposentados, são referência viva na formação de profissionais que atuam no atendimento terapêutico nestes tempos de pandemia na saúde mental de pessoas das mais diferentes condições sociais, escolaridade, gênero, atividade profissional e idade. Muitos profissionais têm se dedicado a efetivar as políticas sociais, como Saúde, Assistência Social, Educação, Cultura, Desportos, Proteção jurídico-social da população infanto-juvenil, Direitos Humanos, Direitos do Idoso, Direitos das Pessoas com Deficiência, enfrentamento à exclusão social e assistência à população em situação de vulnerabilidade social, entre outras.

Mais que mera confraternização pelo transcurso de mais um ano do reconhecimento por lei federal da profissão de psicólogo, a iniciativa pretende dar início a um processo de atualização profissional, em que as intervenções sociais não percam o foco do exercício profissional. Para se ter uma ideia, todas as políticas públicas assim caracterizadas pela Constituição Federal de 1988 -- seja na concepção do SUS pelo Movimento da Reforma Sanitária ou na adoção da doutrina da proteção integral pelo Movimento Criança Constituinte Prioridade Absoluta e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que revogou o Código de Menores e sua doutrina da situação irregular --, o Conselho Federal de Psicologia e todos os Conselhos Regionais tiveram protagonismo inegável que precisa ser resgatado pelas novas gerações de profissionais.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

UFPantanal, Dona Aurélia Gomes Novais e Dr. Alan Pithan

UFPantanal, Dona Aurélia Gomes Novais e Dr. Alan Pithan

Na terceira semana de campanha pela criação da UFPantanal, a aceitação vem surpreendendo o Grupo Pró-Criação. Dona Aurélia Gomes Novais, festeira de Nossa Senhora de Caacupê, se eterniza: quem dará continuidade às festividades de mais de quatro décadas? Primeiro presidente do Sindicato dos Médicos de MS, Doutor Alan Pithan deixa lições e saudades.

UFPantanal: antes sonho, hoje necessidade

Além do manifesto de lançamento da campanha pela criação da Universidade Federal do Pantanal, entregue ao Presidente Lula em sua mais recente estada em Corumbá, o Grupo Pró-Criação da UFPantanal, nesta terceira semana, disponibilizou pequena quantidade de adesivos, cartazes e ‘praguinhas’ para massificar a mobilização. A aceitação pelos mais diferentes segmentos sociais de Corumbá, Ladário e fronteira boliviana surpreendeu os integrantes da coordenação da campanha.

Entre os fatores para a receptividade, sem dúvida, estão a letargia do desenvolvimento local e as mudanças climáticas, refletidas em tragédias como os incêndios que devastam as várias formas de vida no Pantanal, as ameaças que representam para o desenvolvimento regional e, sobretudo, o estímulo a novas estratégias de progresso com base na ciência, tecnologia e inovação de modo interdisciplinar e inclusivo, também do ponto de vista da integração com a população boliviana e paraguaia no contexto do Bioma Pantanal.

Por outro lado, o agendamento de reuniões presenciais e online visa preparar um longo e efetivo processo de participação de pesquisadores e docentes universitários, bem como de professores secundários e do ensino fundamental, profissionais universitários, líderes comunitários dos mais diferentes setores da população do Pantanal e de representantes empresariais, dirigentes sindicais de trabalhadores, populações tradicionais e originárias e autoridades e parlamentares de todas as esferas administrativas.

Como salienta o documento entregue ao chefe do Executivo federal, se antes a criação da Universidade Federal do Pantanal era um sonho, hoje se trata de uma necessidade para o desenvolvimento regional do coração do Pantanal, no contexto das mudanças climáticas e da transição energética. Portanto, a mobilização da população é fundamental para que a UFPantanal se concretize e alavanque nova realidade local, regional e subcontinental num momento crítico da história da humanidade.

Dona Aurélia, na memória e no coração

A partir deste 8 de dezembro não haverá a benfazeja atuação, com generosidade e muito entusiasmo, de Dona Aurélia Gomes Novais, eternizada no último domingo, dia dos pais. Durante mais de quatro décadas, com afinco e devoção, foi a festeira que consolidou em Campo Grande a celebração ao dia da Padroeira do Paraguai, Nossa Senhora de Caacupê, ou Virgen de Caacupé. No Parque dos Ipês, onde ela morou desde sua chegada à Cidade Morena, ela não só construiu uma réplica da gruta, como depois, com o envolvimento dos diferentes sacerdotes que se sucederam, transformou a modesta devoção em emblemática manifestação popular de fé e acalanto religioso.

Aos 84 anos, Dona Aurélia, nascida em Concepción, Paraguai, se tornou saudade, imensa saudade. Foi acompanhar o Filho que, num acidente de trânsito, ainda jovem Pai, deixou o convívio da Família, bastante unida e sob seu bastão de matriarca atenta e generosa. Um pouco mais velha que Dona Carmen Gomes Galeano, a querida Avó de meus Filhos, igualmente generosa e entusiasta, a incansável festeira de Caacupê era uma Irmã presente e afirmativa. Em 2005, quando tive a honra de conhecê-la (portanto, quase há 20 anos), foi protagonista de um documentário da TV UCDB sobre a fé e religiosidade popular, por conta de uma pesquisa das Professoras Maria Augusta de Castilho e Cleonice Alexandre Le Bourlegat, do Mestrado em Desenvolvimento Local.

Que a alegria e generosidade de Dona Aurélia se multiplique entre os seus descendentes e seu legado de caridade e devoção irradie muita luz sobre as novas gerações, privadas da grandeza de alma dos que se proclamam arautos de uma fé bizarra e mesquinha, distantes do milenar ensinamento do Cristo humilde e libertador que tão necessário se faz nestes tempos insólitos e adversos. Obrigado, Dona Aurélia, por ter existido, sempre na memória!

Doutor Alan Pithan, Presente!

Primeiro presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, na primeira metade da década de 1980, Alan da Rosa Pithan honrou o juramento de Hipócrates e fez de seu ofício de médico, à luz dos valores humanistas com que se formou, um exemplar proceder para levar bem-estar e cidadania aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), de cuja implantação é dos protagonistas ao longo da incessante luta, por décadas, do Movimento da Reforma Sanitária.

Desde jovem Alan Pithan foi incansável artífice da democratização da medicina no País, como também ousou, com coragem incomum, participar do enfrentamento ao regime de 1964, ao arbítrio e à falta de liberdades democráticas. Sua sólida formação humanista o credenciou a uma trajetória fecunda e inovadora não só como profissional da medicina, mas, sobretudo, como cidadão gigante e honrado na construção de uma sociedade melhor. Tamanho o seu engajamento em defesa do SUS, ele atuava com desenvoltura singular no Fórum dos Usuários do SUS de Mato Grosso do Sul (FUSUS/MS), ao lado de sua colega Luísa Amélia Corrêa da Costa, em meados da década de 1990 e a primeira década deste século.

Humilde, generoso e bastante espontâneo, o Doutor Alan Pithan abriu as portas de sua casa para acolher defensores do SUS num tempo em que o funcionamento do lócus, isto é, do conselho de saúde, tinha que ser monitorado pelo Ministério Público, pois os gestores municipais não aceitavam o controle social e viviam assediando os membros dos conselhos em todo o País. Tive a honra de conviver bem de perto com ele e sua querida Companheira, Mabel, durante o período em que o FUSUS/MS foi reestruturado com base na experiência pioneira protagonizada pelo Fórum de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD) e, assim, as eleições para a sua composição periódica abriram a participação a todos os representantes de entidades de defesa de direitos de todo o estado, sobretudo do interior. Até sempre, querido Amigo-Irmão-Companheiro-Camarada Alan!

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PANTANAL, LUTA DE TODOS


Universidade Federal do Pantanal, luta de todos

Neste momento de falta de perspectivas no contexto local, é fundamental que a cidadania saia da letargia e se some a uma luta de todos: trinta anos depois de o Pacto Pela Cidadania levantar bandeiras comuns, a UFPantanal se consolida como uma efetiva bandeira de unificação das legítimas aspirações do povo da região.

Uma semana depois da divulgação da carta aberta para o Presidente Lula, as boas repercussões se espalham por todo o Brasil e até em países em que há brasileiros fazendo ciência. Não são poucos os que entenderam que não se trata de ‘mais do mesmo’, mas que a acalentada Universidade Federal do Pantanal chega no momento em que urgem ações preventivas, atitudes proativas, medidas efetivas e, sobretudo, instituições focadas e comprometidas com as necessárias demandas que a realidade clama.

Quem tiver lido a carta ao Presidente Lula com bastante atenção notou que não se trata de devaneio e muito menos de ‘bairrismo’. Ao contrário, uma legítima reivindicação em favor dos jovens que se vêm obrigados a uma diáspora cíclica, decorrente da eloquente falta de perspectivas para toda a população, sobretudo as novas gerações. Corumbá, bem como Ladário e toda a região desta fronteira com a Bolívia, tem sentido profundamente a necessidade de um efetivo desenvolvimento em consonância com a sua vocação natural e histórica.

A população não mais acredita em panaceias, em megaprojetos milagreiros, que só servem para eleger as velhas raposas que, posando de paladinos do progresso, auferem privilégios e poder sem que a população consiga melhorar suas condições de vida, sem que o paraíso que é a região possa oferecer qualidade de vida a uma população que vive a migrar como retirantes nordestinos no século XX. Assim como a Vida, a História não dá marcha a ré: é com a ciência, o estudo, o investimento na maior riqueza que temos -- os seres vivos, em especial os seres humanos -- que o desenvolvimento que tanto acalentamos por décadas a fio transforme nosso cotidiano hoje profundamente adverso e até ameaçador.

As novas universidades criadas nos diferentes governos do Presidente Lula têm trazido as inovações mais contemporâneas, tanto do ponto de vista institucional como acadêmico. De um lado, abertas e inclusivas para receber os jovens das mais diferentes classes e condições sociais, e de outro, interagindo com as populações dos países irmãos, em que a elevação das condições de vida representa aumento das oportunidades para os nacionais. No entanto, um item a mais representa um atributo maior: com um horizonte aberto mais para a contemporaneidade oferecida pelas transformações científicas e tecnológicas, as novas universidades criadas mais recentemente voltam-se para os desafios apresentados pelas adversidades naturais e históricas, como as mudanças climáticas e a redução das desigualdades regionais e hemisféricas.

Esse é, em poucas palavras, o eixo central da demanda atual pela Universidade Federal do Pantanal. Uma usina formadora de novos profissionais em que valores civilizatórios são associados à qualificação profissional e aos imperativos históricos que ‘afrontam’ aqueles que não gostam de sair de sua zona de conforto. Dez anos atrás a realidade era outra, em que a ortodoxia de uma realidade impávida permitia a mesmice sem cobrar ousadias. Hoje não é mais possível se postular uma universidade pública que não dialogue com a realidade imediata e as suas demandas latentes. Mais que retórica, trata-se de um desafio sincero.

Por que Universidade? Porque um campus -- ou centro, como já foi no passado -- não tem a autonomia necessária e os recursos devidos para a definição de cursos e prioridades que uma universidade tem, sobretudo quando conectada à realidade em que estamos inseridos desde sempre, o Pantanal, que não é problema, é solução. Como universidade, reunirá condições de oferecer alternativas de desenvolvimento, bem como propostas racionais de mitigação e até de solução para os problemas que têm causado prejuízo a todos, desde a incidência de incêndios cada vez maiores até a estagnação econômica que empobrece as famílias corumbaenses, ladarenses, pantaneiras e bolivianas.

Por que Federal? Além de dispor de um status qualificado, por conta da legislação nacional e da infraestrutura mínima oferecida, essa condição permitirá não só aos estudantes e docentes, mas a toda a população, um conjunto de oportunidades conquistadas pelas regiões como usina geradora de transformações e formadora de cidadãos de qualificados e conectados com a sua própria realidade. Nesse sentido, a proposta de Espaço Comum de Educação, nas regiões de fronteira, serve para integrar e promover as populações que estão nos limites territoriais dos países vizinhos.

Por que do Pantanal? Em nome do Pantanal, muitas unidades da federação conseguem granjear recursos das mais diferentes instituições transnacionais e multilaterais. Quando esses recursos chegam, se é que chegam, são diminutos e em conta-gotas, sujeitos a todo o mecanismo institucional que caracteriza a burocracia existente. Com uma Universidade Federal do Pantanal com sede no maior município pantaneiro e com todas as prerrogativas proporcionadas pela autonomia universitária, a instalação não só gerará empregos diretos como inúmeros empregos e oportunidades de trabalho indiretos, além da qualificação profissional decorrente dessa nova universidade.

Aos poucos, iremos trazendo, ponto por ponto, as questões que suscitam as discussões da mais nova demanda não apenas por nova instituição, mas por desenvolvimento integrado e por novas oportunidades para os jovens, perspectivas para as populações das regiões de fronteira inseridas em um Bioma cuja existência se encontra no limiar da exaustão, ou até da extinção, conforme a perspectiva de quem assiste ao dramático momento da história em que a polarização não é apenas ideológica, mas irrefutavelmente total, até climática.

Hoje a cidadania desperta de uma letargia de uma década, como há trinta anos Corumbá protagonizou a gênese de uma iniciativa pioneira e vitoriosa, o Pacto Pela Cidadania, sob a condução do saudoso e querido Dom José Alves da Costa, Bispo Emérito de Corumbá, ao lado de Cidadãos e Cidadãs com letras maiúsculas, como Padre Pasquale Forin, Padre Ernesto Saksida, Padre Emílio Mena, Irmã Beatriz de Barros, Pastor Antônio Ribeiro, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Senhor Jorge Katurchi, Senhor Mahmud Abdallah, Senhor Zózimo de Paula, Senhor Ariodê Martins Navarro, Senhor José Batista de Pontes, Doutora Angélica Anache, Professora Maria de Paula e Professora Heloísa Urt, de saudosa memória.

Como toda causa grande e justa, esta luta não tem ‘donos’. Sabemos quando ela se inicia e também que ela só se encerra quando tiver conquistado seu objetivo. Ao trabalho!

Ahmad Schabib Hany