Patriotas
ou especuladores?
A alta do dólar dos últimos
trinta dias é mais uma arapuca que os ‘patriotas’, em conluio com os ‘bonitões’
da Faria Lima de Sampa, estão a colocar ao Presidente Lula como sabotagem ao
projeto de reconstrução do País. Mas, afinal, quem é mesmo quem ganha com a
especulação financeira?
Nos últimos trinta dias o dólar teve uma alta de ‘apenas’
7% -- sete por cento! --, e o tal ‘presidente autônomo’ do Banco Central do
Brasil simplesmente não vendeu dólares para segurar essa alta. Isso, aliás, ele
mesmo fizera ao longo do último semestre do mandato do inominável, que não só o
indicou como criou a lei da ‘autonomia’ do Banco Central, a pedido da ‘mão
invisível’ do mercado e o beneplácito do ‘posto Ipiranga’ -- ministro da Economia
Paulo Guedes, aquele que foi ‘estagiário’ de Augusto Pinochet em sua juventude
--, para felicidade dos ‘patriotas’ que não têm quaisquer escrúpulos para
atingir seus nada patrióticos propósitos: sabotar o processo de reconstrução do
País e alimentar a insaciável ganância dos ‘homens de bem, os ‘bonitões’ da
Avenida Faria Lima, maior concentração por metro quadrado de especuladores e agiotas
do Planeta.
Que o Presidente Lula está cercado por todos os
lados, isso nunca foi novidade desde antes de sua posse. A intentona do
inominável de 8 de janeiro de 2023
é apenas uma das facetas do inverossímil contexto político que revela a
truculência e o acinte das elites ‘nacionais’ -- na verdade, enxerto de abutres
do império do caos com herdeiros dos anhangueras coloniais, criminosos vindos
para o Brasil por crimes infames, considerados irrecuperáveis, e se na colônia
lusitana tivessem a sorte ou a esperteza de sobreviver teriam conquistado a sua
segunda chance (pelo visto, os piores deles, tal a sua capacidade de conseguir
impor a sua nefasta pretensão, de passar
o outro para trás).
Não é demais lembrar o/a leitor/a quem foi o tal ‘Anhanguera’
(Diabo Velho, por ter ameaçado indígenas da região de Goiás usando álcool como
se fosse água para atear fogo nos rios), isto é, Bartolomeu Bueno da Silva, e
seus iguais, entre eles Antônio Raposo Tavares e Domingos Jorge Velho, mostrados
na historiografia como heróis, mas nunca passaram de criminosos que cobiçaram terras,
riquezas e até os corpos dos indígenas para escravizá-los. O caso de Domingos
Jorge Velho, é bom que o leitor saiba, foi escabroso: depois de várias
tentativas frustradas, ele foi responsável pela destruição do Quilombo dos
Palmares, aprisionamento e morte com requintes de crueldade de Zumbi, o líder
dos escravizados emancipados do jugo e que fundaram um território livre para
viverem livres.
Essas são, na ascendência, as ‘famílias
quatrocentonas’ de São Paulo, a nata das elites do País, até hoje desacostumados
à legalidade -- ao império da lei, aos ditames do arcabouço jurídico do País,
enfim, ao Estado de Direito --, mas aos seus caprichos de paus mandados do rei
e de sua corte parasita. Praticamente cinco séculos de contravenção, vandalismo
e cobiça desmedida, os tais ‘homens de bem’, seja da Avenida Faria Lima ou de
qualquer ‘área nobre’ deste país-continente, não conhecem o que seja pensar no
País, em seus conterrâneos e, sobretudo, nos destinos da nação. Para eles, só
há ‘olhos’ -- olho grande, bem entendido -- para as terras, riquezas e a
exploração sem limites de seus empregados, que em seu raso entendimento só tem
obrigações, deveres, jamais direitos.
Uma emblemática crônica da saudosa Jornalista
Irede Cardoso de maio de 1980, intitulada ‘A insólita dama do Pacaembu’,
na Ilustrada, revela com sensibilidade o desprezo dos descendentes dos escravocratas
aos direitos trabalhistas mais elementares, como registro em carteira de
trabalho, sendo a rua o destino de velhos empregados que criaram os filhos das
madames. Mas isso quando o jornalão da Alameda
Barão de Limeira 425 ainda seguia o legado do saudoso Jornalista Claudio Abramo
e de sua equipe constavam nomes dignos como Ricardo Kotscho, Clóvis Rossi, José
Carlos Luppi, Getúlio Bittencourt, J.B. Natali, Perseu Abramo, Osvaldo Peralva,
Newton Carlos, Sérgio Augusto, Nei Duclós, Osvaldo Mendes, Rui Lopes, Luiz
Alberto Bahia, Fortuna, Plínio Marcos, Tarso de Castro, Nelson Merlin, Irede A.
Cardoso, Marta Alencar, Jota, Angeli, Chico Caruso, Paulo Caruso e Ciça, entre
muitos outros, igualmente dignos.
Parodiando as palavras do deputado paranaense Zeca
Dirceu, dirigidas em 2019 ao
então ministro da Economia Paulo Guedes,
esses senhores são ‘tigrões’ perante o povo brasileiro e ‘tchutchucas’ ante
seus amos e senhores, moradores dos ‘bairros nobres’ de Nova York, Londres,
Berlim, Paris, Bruxelas, Roma, Madri, Lisboa, Tóquio, Toronto e Sidney. Se eles
têm motivos para se preocupar com o futuro do Brasil? Não, sua preocupação se
encontra na parte mais sensível de seu corpo, os bolsos -- isso declarado por
eles, sem qualquer constrangimento.
Para eles, o Banco Central do Brasil tem que
continuar servindo aos interesses do pessoal da Faria Lima e de seus ‘amigos’,
de fora. Porque a ‘mão invisível’ do mercado é bastante exigente, e qualquer
coisa que os desagradar, o Presidente Lula e seu governo pagarão muito caro,
como a Presidenta Dilma Rousseff pagou. Simples assim. Nada de ‘atrapalhar’ os ‘negócios’
desses senhores, que têm o aval incondicional do FMI, BM, BIRD, BID etc. As
políticas de reparação social e de geração de renda do governo de reconstrução
nacional são mera maquiagem, um engodo para as camadas populares. O que conta é
a sangria das riquezas do País, que têm um destino certo, as instituições financeiras
transnacionais.
A rigor, as potências que se reuniram na OTAN têm
hoje um nítido comportamento voraz, predador, rasgando a Carta das Nações
Unidas e de todos os tratados pós-1945, em que os valores humanistas protegiam
as camadas populares e a soberania de todos os Estados Nacionais. Mas depois do
chamado Consenso de Washington, quando o neoliberalismo foi tornado hegemônico
e as leis trabalhistas passaram a ser criminalizadas, o neocolonialismo é que
entrou em voga e mais recentemente deu origem ao neofascismo, reforçando velhos
parceiros sionistas, nazistas e congêneres pelo mundo afora. É o que estamos
vendo sob nossos olhares perplexos.
O LÍTIO NA BOLÍVIA
Não muito diferente, a polêmica tentativa de golpe
contra o governo constitucional do Estado Plurinacional da Bolívia, em que o
general Juan José Zúñiga se aventurou com seus colegas de armas, à exceção da
Polícia Boliviana, dia 26 de junho, reflete bem o nível dos serviçais do
império em decadência, hoje rebatizado de império do caos. As reservas de
lítio, gás natural e petróleo na terra que foi o segundo produtor mundial de
estanho no século XX, além de ter sido o maior provedor de ouro e prata para a
metrópole espanhola nos séculos de colonização e saques insaciáveis.
A despeito das versões controvertidas disseminadas
pela mídia corporativa nos dias que se seguiram ao lamentável episódio, a ‘mão
invisível’ do mercado teve participação ativa na preparação, e que desde o
século XIX faz da Bolívia, como o Paraguai e nações do Caribe, uma fonte de sua
insaciável de ganância e saque. Basta irmos aos buscadores da internet e
digitarmos Guerra do Pacífico e Guerra do Chaco para sabermos mais sobre esses
dois conflitos que tiraram da Bolívia territórios expressivos, isso sem
aludirmos à Questão do Acre, época em que a seringa, o cacau e a castanha,
abundantes em território boliviano, eram cobiçados pela Grã-Bretanha e as
demais potências coloniais do início do século XX.
Com todo o respeito pelas opiniões divergentes,
mas chega a ser uma leviandade acusar o Presidente Luis Arce Catacora de ter
tentado um autogolpe. A versão foi maldosamente referendada por seus
ex-companheiros de partido, que deve ser repudiado, como fez o
ex-vice-presidente García Linera, ao propor um processo de pacificação na
esquerda da Bolívia, que gerou inclusão social e cidadã às maiorias excluídas.
Primeiro, porque quem fez a acusação após o malogrado intento foi o próprio
general Zúñiga, quando de sua prisão pela atrapalhada tentativa de golpe, num
desesperado ato de atribuir ao titular do cargo cobiçado o seu desvario.
A propósito, o episódio de La Paz, repudiado
unanimemente em todo o Planeta, mas alvo de saudações e comemorações
maledicentes por seguidores do fascismo, inclusive no País, basta citarmos,
entre outros, o ex-sinistro da destruição do Meio Ambiente Ricardo Sales, hoje
protegido pela imunidade parlamentar, além da sua colega de bancada Bia Kycis.
Há outros que o fizeram de modo mais discreto, mas os mesmos que disseram com
leviandade que o Presidente Lula e seu partido, o PT, teriam forjado um
autogolpe em 8 de janeiro de 2023 são os que saudaram tanto o golpe de 2016 contra Evo Morales e seu governo como no
dia 26 de junho, que entra para a História como um sinal de alerta para os
países da América Latina.
Não sejamos inocentes: a
OTAN não está conseguindo derrotar a Rússia no conflito que ela mesmo estimulou
contra a Ucrânia por meio de seu testa-de-ferro Wolodimir Zelensky, além da
aventura genocida de seu 51º Estado, o sionista, em território da Palestina.
Tanto em Gaza como no Mar Negro, o império está tão agachado, que seu traseiro
sujo já ficou exposto. É questão de acompanhar a mídia independente, e há
muitas opções. Nós, que condenamos sincera e peremptoriamente a opção militar
em qualquer disputa, seja interna ou internacional, temos que reafirmar nossa
nítida e categórica determinação de resistir por La Paz, cujo governo foi o
primeiro a romper as relações com os sionistas que ocupam há 76 anos o
território milenar palestino.
Rechaçamos com
sinceridade e contundência qualquer opção pela via militar na dissuasão de
conflitos dentro da América Latina, no chamado Oriente Médio e, enfim, África e
os países-membro da ONU. A Carta das Nações Unidas é muito clara nessas
questões e um conjunto de resoluções, tratados e acordos específicos
ratificaram o respeito à soberania nacional e à autodeterminação dos povos. Não
por acaso, enquanto membro do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo
Palestino Jadallah Safa, ao lado da comitiva da Sociedade
Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá, tivemos a honra e a satisfação de levar
ao Consulado da Bolívia, na pessoa do Licenciado Simons William Blacut Durán, o
apoio e a solidariedade incondicional em face do tristemente célebre golpe
frustrado do general Zúñiga.
Em respeito à jovem
democracia reinante em todos os países da América Latina, cujos povos padeceram
da violência praticada por regimes militares obscurantistas inspirados no
fascismo de triste memória durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, não podemos nos associar à cantilena do autogolpe, pois basta lembrar
que seis meses antes do sangrento golpe protagonizado pelo narcogeneral Luis
García Meza, em 1980, o oficial
aventureiro Natusch Busch fez um ensaio para conhecer o modus operandi das
forças populares que fizeram a resistência e o derrotaram em seu intento,
revigorado seis meses depois, em que foram assassinados líderes políticos,
populares, sindicais e estudantis com o know-how fornecido pelo sanguinário
Augusto Pinochet.
Ahmad
Schabib Hany
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