quinta-feira, 18 de julho de 2024

EXEMPLOS E ADVERTÊNCIAS

Exemplos e advertências

A América Latina vem dando exemplos e advertências às elites políticas brasileiras: tanto a Bolívia como a Argentina tem enfrentado sem medo os arroubos fascistas, com o povo nas ruas.

Em menos de trinta dias, La Paz, na Bolívia, e Buenos Aires, na Argentina, têm dado, de modo eloquente, exemplos e advertências para que os partidos de esquerda não se inibam e ponham nas ruas as amplas camadas populares. O Brasil, que tem experiente estadista na Presidência da República, não pode se apequenar diante das bravatas dos fascistas, que se assanharam com a vitória de Pirro do desequilibrado e incompetente que assaltou o futuro do povo argentino.

Diferente do que a imprensa corporativa brasileira noticiou, a tentativa de golpe militar foi repelida pela população boliviana, já cansada de golpistas que, por incompetência política e esgotamento do projeto claudicante de matriz neoliberal (aliás, neocolonial), não mais conseguem eleger seus candidatos. É o que aconteceu no dia 26 de junho em La Paz, tanto que os golpistas brasileiros, ligados ao inominável, manifestaram sua simpatia e cínico apoio. Já em Buenos Aires, no último sábado, dia 13 de julho, as organizações populares que haviam programado o Festival Solidário na Praça de Maio, em Buenos Aires, se depararam com diversas companhias de policiais fardados e à paisana para impedir as atividades programadas em solidariedade aos três presos políticos do regime em fase de implantação do delirante seguidor de Nero que quer incendiar a Argentina.

Vitória de Pirro? Por quê? A história ensina, pois o que aparenta ser vitória para obtusos direitistas logo será transformado em derrota histórica, eis que o povo argentino, ousado e determinado, se conflagrará e nenhum gendarme armado conseguirá dissuadir multidão enfurecida alguma! Não esqueçamos que os argentinos depuseram sem qualquer piedade dois presidentes sucessivos no começo deste milênio. Primeiro Fernando De la Rúa com toda a sua trupe ministerial não resistiu à revolta. Em seguida, Eduardo Duhalde, também acuado pela insatisfação popular, que pressionou o Congresso Nacional e centenas, senão milhares de questões jogadas para baixo do tapete foram trazidas à baila.

Nesse mesmo período, a Bolívia se fazia presente com igual fulgor, tendo deposto dois marionetes de corte neoliberal: Gonzalo ‘Gony’ Sánchez de Lozada e o vice engomadinho com ares de intelectual, Carlos Diego Mesa Gisbert, que, na verdade, sequer concluiu seu curso universitário -- cinéfilo e, graças ao grande jornalista argentino-boliviano Lorenzo Carri, de acanhado comentarista de cinema o transformou em comentarista político na Rádio Cristal, onde Carri era o diretor de Jornalismo, e lançou dois nomes para a história do jornalismo da Bolívia, Mesa e Amalia ‘La Cholita’ Pando --, na época sócio majoritário da prestigiada rede de televisão PAT (Periodistas Auntónomos de Televisión) e ela sua principal repórter e depois cronista política.

Não muito diferente do que aconteceu em 2018 no Brasil, vermos um marionete tomado de vontades e trejeitos delirantes como é esse tresloucado inominável argentino que mexe seu rabinho quando está com a familícia do inominável, dizendo que no Brasil há presos políticos e que ele vai pedir seu asilo político na Argentina. Ele, Milei, e um tal de Branko Marinkovic [Ou seria Mariconvip? Estou em dúvida!], que se diz empresário mas não passa de um reles parasita do ‘mercado’ Los Pozos de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O dinheiro do qual é gestor foi obtido pelo irmão dele, médico formado na Universidad Mayor de San Simón, em Cochabamba, onde fez carreira política na esquerda, não por acaso foi ministro de Saúde de Jaime Paz Zamora, no único mandato que o MIR (Movimiento de la Izquierda Revolucionaria) obteve na história, em conchavo com o ditador sanguinário Hugo Banzer Suárez.

Milei sequer tem postura de dignitário, como a liturgia do cargo exige. Sua chanceler precisa o tempo todo entrar em cena para apagar incêndios diplomáticos que costuma causar todo santo dia. Mas não perde por esperar: tentou amedrontar as organizações populares argentinas que fizeram contra a sua vontade o Festival Solidário para mobilizar o país contra prisões políticas, isso sim: aqui, no comício da familícia em Crisciúma, diz ser contra, mas lá ele e seu ministério farsista -- de farsantes e fascistas pró-sionistas -- prenderam inúmeros dirigentes sindicais e ativistas LGBTQIA+, no afã de intimidar as mobilizações contra o arrocho salarial que impôs assim que assumiu, para agradar seus amos e senhores do ‘mercado’ e sua ‘mão invisível’ que desde o tempo do famigerado Carlos Saúl Menem vêm empobrecendo os trabalhadores argentinos.

Tentaram, mas não conseguiram, porque ninguém pode com uma classe trabalhadora bem determinada a defender seus direitos. A história do movimento operário argentino tem a característica da combatividade ativa e altiva: não se intimida e enfrenta os pretensos repressores, que são tão odientos quanto os fascistas que vivem a declarar amores à sua ditadura de triste e vergonhosa existência entre os anos 1964 e 1985, cujos torturadores e informantes continuam impunes e, por tal razão, assanham os seus órfãos e viúvos como o inominável e seus asseclas. É importante prestar atenção à estratégia dos movimentos populares argentinos, pois sua radicalidade não está focada nas paralisações, mas sim nas mobilizações multitudinárias, resultantes de intensa atividade na base, não nas redes sociais.

Ouso insistir: não pelas redes sociais, mas no corpo a corpo. Não com essa tática de paralisações a perder de vista. A paralisação que eles fazem é por um ou dois dias, mas com grande impacto de rua -- diferente daqui, bem apoiados pela população, que também sente o arrocho salarial causado pelas medidas neoliberais adotadas pelo marionete do ‘mercado’, como nestes anos de obscurantismo fascista o inominável fez com o povo brasileiro (e me desculpem certos setores do serviço público, mas contra o inominável não houve as mobilizações do tempo de Dilma Rousseff e agora, de novo, quando Lula tenta negociar pessoalmente). É o ‘fogo amigo’ de setores que ainda não se aperceberam que com isso contribuem gentil e generosamente para o fortalecimento da extrema direita.

Mais um importante detalhe, tanto na Bolívia como na Argentina: esses ‘pastores’ de meia pataca dessas redes ditas cristãs sionistas não exercem tamanha influência, como em toda a América Central e muitos países sul-americanos, sobretudo o Brasil, em que uns tais ‘bispos’ de passado nebuloso e fortunas de origem não revelada se fazem de porta-vozes de Deus, quando sabemos todos que o Criador não precisa de porta-vozes, ainda mais de passado nebuloso. Já passou da hora de tanta condescendência com falastrões metidos a juízes, e cujo passado os condena. Até um tempo atrás, repórteres investigativos tinham a altivez e o profissionalismo de levantar questões instigantes, que hoje, seguidores de pautas ‘doisladistas’, em nome de uma neutralidade que não costumam ter com Lula e os demais dirigentes de esquerda deste país, preferem não se indispor com esses fidalgos.

O que mais espanta aos que têm o senso crítico ainda vigoroso é a desenvoltura desses senhores, que açambarcaram rios de dinheiro durante o desgoverno do inominável e uns deles tiveram papel ativo durante a gestação do 8 de janeiro de 2023, a intimidar juízes e delegados que investigam as inúmeras ilegalidades cometidas cinicamente por todos eles em tempo tão curto. Por tudo isso, jamais voltarão aos cargos por eles cobiçados, podem ter certeza. Ainda que tentem intimidar os pobres desavisados e submissos aos seus mal intencionados propósitos.

O exemplo e a advertência já foram dados eloquentemente pelas organizações populares em La Paz e Buenos Aires, em fins de junho e meados de julho. Basta ter um mínimo de sensatez e compromisso histórico para sair da zona de conforto e ir às ruas, seja para ter o prazeroso papel histórico de fazer o corpo a corpo, bem como mobilizar, organizar e conscientizar. Ou se esqueceram do mais elementar dos papéis dos que pugnam por seus direitos? A história está rica de episódios didáticos e elucidativos, basta ter humildade para aprender e vontade para pôr em prática. Já passou da hora!

Ahmad Schabib Hany

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