quarta-feira, 31 de julho de 2024

GRUPO PRÓ-CRIAÇÃO DA UFPANTANAL ENTREGA DOCUMENTO AO PRESIDENTE LULA

Grupo Pró-Criação da UFPantanal entrega documento ao Presidente Lula


 

Em nome da comissão organizadora, a Professora Rosangela Villa da Silva entregou ao Presidente Lula, em Corumbá, carta em que, mais que sonho de outrora, é frisada a necessidade de hoje se criar a UFPantanal por conta dos incêndios cada vez mais avassaladores causados pelas mudanças climáticas, transição energética, combate à fome, colapso de um modelo de desenvolvimento predador e integração dos países da América Latina a partir das universidades federais de cidades fronteiriças conurbadas.

 

Na quarta-feira, dia 31 de julho, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros, entre eles a titular do Meio Ambiente e do Clima, Ministra Marina Silva, visitaram Corumbá para conhecer de perto o trabalho dos brigadistas que lutam para debelar focos de incêndio que nos últimos anos vêm devastando milhões de hectares do Bioma Pantanal e sancionar o Projeto de Lei 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.

A propósito, está em formação, mediante reuniões e debates presenciais e online, o Grupo Pró-Criação da Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal) com o mote de que outrora a criação da Universidade era um sonho acalentado havia décadas por diversos setores da população local, mas hoje é necessidade premente diante do quadro devastador dos incêndios causados pelas mudanças climáticas, a transição da matriz energética e o combate à fome e à miséria.

Uma comitiva de professores, pesquisadores, jornalistas e artistas plásticos, representada pela Professora Rosangela Villa da Silva, entregou o manifesto constitutivo ao Presidente Lula tão logo a comitiva presidencial chegou ao Parque Marina Gattass, situado perto da linha de fronteira Brasil-Bolívia, à margem do Rio Paraguai. A Professora Rosângela esteve acompanhada pelas também professoras Elisa Pinheiro de Freitas e Dirce Sizuko Soken, que também pesquisam em diferentes áreas da ciência na região.

Com a participação de docentes aposentados e de outras instituições do país, como os pesquisadores Helvio Rech, Gilliard da Silva Prado e Alberto Feiden, o propósito é fazer com que a futura universidade federal sediada nesta fronteira já nasça comprometida com aquilo que o ex-presidente Pepe Mujica propôs em tom de desafio, isto é, sobre os espaços comuns de educação, projeto que vem sendo construído pelo Professor Helvio Rech, da Universidade Federal do Pampa (Bagé, RS). Pelo projeto, universidades federais situadas em fronteiras do país terão a oportunidade de fazer parcerias com as suas congêneres do país vizinho para desenvolver projetos transformadores da realidade local, regional, nacional e continental.

ÍNTEGRA DO DOCUMENTO

Senhor Presidente,

Os signatários abaixo relacionados, integrantes do Grupo Pró-Criação da Universidade Federal do Pantanal, vêm a Vossa Excelência reiterar um antigo e importante pleito da população pantaneira e dos compatriotas da fronteira no coração da América do Sul: a criação da sonhada Universidade Federal do Pantanal.

Se a criação de uma universidade no Pantanal era um sonho acalentado há quase três décadas, hoje torna-se uma necessidade urgente. O modelo de desenvolvimento adotado na região nos últimos anos não tem demonstrado resultados satisfatórios, tanto do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida das pessoas quanto do bem-estar da população. A cada ano, as lentes do mundo se voltam para um Pantanal em chamas. Apenas nos anos de 2023 e 2024, foram destinados R$ 237 milhões para ações de combate a incêndios no Bioma Pantanal em território brasileiro. No entanto, esses recursos não foram suficientes para impedir que milhares de hectares de vegetação nativa fossem destruídos, levando consigo uma parte significativa da fauna e agravando ainda mais as condições ambientais locais e regionais, com consequências ainda desconhecidas.

Os incêndios recorrentes resultam de um modelo de exploração dos recursos da Bacia do Alto Paraguai (BAP) que está em desacordo com suas características ambientais. Persistimos em um modelo de desenvolvimento que tem se revelado insustentável ao longo dos anos, colocando em xeque suas consequências sociais e ambientais. É urgente mudar a trajetória de desenvolvimento da região pantaneira, abandonando os conceitos tradicionais de exploração e exaustão dos recursos naturais e suas políticas públicas associadas, em favor de uma economia centrada no conhecimento. A base principal desse novo modelo deve ser a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação, alinhadas aos debates sobre mudanças climáticas, transição energética e combate à fome e à miséria. Nesse contexto, propomos a criação de uma nova universidade, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas na região pantaneira. A universidade deverá promover a cooperação, o acolhimento e o cuidado com o meio ambiente, gerando conhecimento sobre as espécies e suas interações com o ecossistema, desenvolvendo pesquisas e formando profissionais éticos e comprometidos com o desenvolvimento sustentável da região.

Assim, a Universidade Federal do Pantanal deverá ser pensada a partir do ponto de vista do Bioma Pantanal, em estreita colaboração e intercâmbio com universidades e centros de pesquisas localizados outras regiões de ambientes úmidos em todo o planeta. Também é necessário um amplo diálogo com os países vizinhos, que compartilham o privilégio e a responsabilidade de abrigar uma das maiores e mais ricas extensões úmidas contínuas do planeta. Este bioma, um patrimônio de toda a humanidade, exige cuidado e preservação que não podem depender de ações voluntaristas, impensadas, baseadas em conhecimentos superficiais ou influenciadas por interesses econômicos e políticos de curto prazo, sem qualquer participação popular. Acreditamos que, para assegurar a proteção e o desenvolvimento sustentável do Pantanal, o investimento mais adequado está no conhecimento, na ciência e na tecnologia.

Precisamos pensar em novas abordagens para o desenvolvimento regional, apresentando novas perspectivas de emprego, renda e educação para as populações residentes nos municípios que constituem a conurbação fronteiriça de Corumbá e Ladário, no Brasil, e Puerto Quijarro e Puerto Suárez, na Bolívia. A região tem o potencial de se transformar numa espécie de Zona Franca de Educação, uma ideia defendida por Pepe Mujica, que propõe a criação de arranjos institucionais capazes de promover a integração e a cooperação entre os povos, centradas na educação, ciência e tecnologia.

Imaginamos um território livre, em que a circulação de pessoas ligadas à comunidade científica e educacional seja isenta de burocracia, e os recursos humanos e técnicos (como laboratórios e equipamentos) sejam compartilhados e utilizados de maneira otimizada. As consequências, em termos de produção do conhecimento e formação profissional, técnica e tecnológica, seriam automaticamente incorporadas pelos países que integram este Espaço Comum de Educação.

Nesses espaços, poderíamos implantar Institutos Federais de Educação Técnica e campus universitários multilaterais para oferecer formação binacional ou trinacional de qualidade aos jovens fronteiriços. Além disso, laboratórios poderiam ser desenvolvidos para realizar pesquisas voltadas ao desenvolvimento da região e ao estudo da biodiversidade dos biomas inseridos na área.

A Universidade Federal do Pantanal, localizada no coração da América do Sul, será fundamental para promover essa abordagem, garantindo que as futuras gerações possam desfrutar e preservar este ambiente único e vital.

Assim, solicitamos a constituição de um Grupo de Trabalho composto por representantes do Ministério da Educação, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e Ministério das Relações Exteriores, além de acadêmicos e especialistas, para a missão de, em diálogo com as partes interessadas, estudar e desenvolver um projeto para a criação de uma universidade vocacionada para o desenvolvimento sustentável e a preservação do Pantanal.

Subscrevem o documento: Hélvio Rech, professor; Elisa Pinheiro de Freitas, professora; Dirce Sizuko Soken, professora; Rosangela Villa da Silva, professora; Adilson Schieffer, artista plástico; Egon Krakhecke, engenheiro agrônomo; Marcelo Ubal Camacho, professor; Gerson Jara, jornalista; Waldson Luciano Corrêa Diniz, professor; Lígia Maria Baruki e Mello, professora; Wilson Ferreira de Mello, professor; Janan Bolivia Schabib Hany, professora; Masao Uetanabaro, professor; Moacir Lacerda, professor; Giliard da Silva Prado, professor; Ahmad Schabib Hany, professor; Marlene Therezinha Mourão, artista plástica; Igor Alexandre Schabib Péres, técnico em pesquisa; Alberto Feiden, pesquisador; Débora Fernandes Calheiros, pesquisadora; João dos Santos Villa da Silva, pesquisador.

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