Grupo Pró-Criação da UFPantanal
entrega documento ao Presidente Lula
Em
nome da comissão organizadora, a Professora Rosangela Villa da Silva entregou
ao Presidente Lula, em Corumbá, carta em que, mais que sonho de outrora, é frisada
a necessidade de hoje se criar a UFPantanal por conta dos incêndios cada vez
mais avassaladores causados pelas mudanças climáticas, transição energética,
combate à fome, colapso de um modelo de desenvolvimento predador e integração
dos países da América Latina a partir das universidades federais de cidades
fronteiriças conurbadas.
Na quarta-feira, dia 31 de julho, o Presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros, entre eles a titular do Meio
Ambiente e do Clima, Ministra Marina Silva, visitaram Corumbá para conhecer de
perto o trabalho dos brigadistas que lutam para debelar focos de incêndio que
nos últimos anos vêm devastando milhões de hectares do Bioma Pantanal e sancionar
o Projeto de Lei 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo
Integrado do Fogo.
A propósito, está em formação, mediante reuniões
e debates presenciais e online, o Grupo Pró-Criação da Universidade
Federal do Pantanal (UFPantanal) com o mote de que outrora a criação da
Universidade era um sonho acalentado havia décadas por diversos setores da população
local, mas hoje é necessidade premente diante do quadro devastador dos
incêndios causados pelas mudanças climáticas, a transição da matriz energética
e o combate à fome e à miséria.
Uma comitiva de professores, pesquisadores,
jornalistas e artistas plásticos, representada pela Professora Rosangela Villa
da Silva, entregou o manifesto constitutivo ao Presidente Lula tão logo a
comitiva presidencial chegou ao Parque Marina Gattass, situado perto da linha de
fronteira Brasil-Bolívia, à margem do Rio Paraguai. A Professora Rosângela
esteve acompanhada pelas também professoras Elisa Pinheiro de Freitas e Dirce Sizuko
Soken, que também pesquisam em diferentes áreas da ciência na região.
Com a participação de docentes aposentados e de
outras instituições do país, como os pesquisadores Helvio Rech, Gilliard da
Silva Prado e Alberto Feiden, o propósito é fazer com que a futura universidade
federal sediada nesta fronteira já nasça comprometida com aquilo que o
ex-presidente Pepe Mujica propôs em tom de desafio, isto é, sobre os espaços
comuns de educação, projeto que vem sendo construído pelo Professor Helvio Rech,
da Universidade Federal do Pampa (Bagé, RS). Pelo projeto, universidades
federais situadas em fronteiras do país terão a oportunidade de fazer parcerias
com as suas congêneres do país vizinho para desenvolver projetos transformadores da
realidade local, regional, nacional e continental.
ÍNTEGRA DO DOCUMENTO
Senhor Presidente,
Os signatários abaixo relacionados, integrantes
do Grupo Pró-Criação da Universidade Federal do Pantanal, vêm a Vossa Excelência
reiterar um antigo e importante pleito da população pantaneira e dos
compatriotas da fronteira no coração da América do Sul: a criação da sonhada
Universidade Federal do Pantanal.
Se a criação de uma universidade no Pantanal era
um sonho acalentado há quase três décadas, hoje torna-se uma necessidade
urgente. O modelo de desenvolvimento adotado na região nos últimos anos não tem
demonstrado resultados satisfatórios, tanto do ponto de vista da melhoria da
qualidade de vida das pessoas quanto do bem-estar da população. A cada ano, as
lentes do mundo se voltam para um Pantanal em chamas. Apenas nos anos de 2023 e
2024, foram destinados R$ 237 milhões para ações de combate a incêndios no
Bioma Pantanal em território brasileiro. No entanto, esses recursos não foram
suficientes para impedir que milhares de hectares de vegetação nativa fossem
destruídos, levando consigo uma parte significativa da fauna e agravando ainda
mais as condições ambientais locais e regionais, com consequências ainda
desconhecidas.
Os incêndios recorrentes resultam de um modelo de exploração dos recursos da Bacia do Alto Paraguai (BAP) que está em desacordo com suas características ambientais. Persistimos em um modelo de desenvolvimento que tem se revelado insustentável ao longo dos anos, colocando em xeque suas consequências sociais e ambientais. É urgente mudar a trajetória de desenvolvimento da região pantaneira, abandonando os conceitos tradicionais de exploração e exaustão dos recursos naturais e suas políticas públicas associadas, em favor de uma economia centrada no conhecimento. A base principal desse novo modelo deve ser a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação, alinhadas aos debates sobre mudanças climáticas, transição energética e combate à fome e à miséria. Nesse contexto, propomos a criação de uma nova universidade, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas na região pantaneira. A universidade deverá promover a cooperação, o acolhimento e o cuidado com o meio ambiente, gerando conhecimento sobre as espécies e suas interações com o ecossistema, desenvolvendo pesquisas e formando profissionais éticos e comprometidos com o desenvolvimento sustentável da região.
Assim, a Universidade Federal do Pantanal deverá
ser pensada a partir do ponto de vista do Bioma Pantanal, em estreita
colaboração e intercâmbio com universidades e centros de pesquisas localizados
outras regiões de ambientes úmidos em todo o planeta. Também é necessário um
amplo diálogo com os países vizinhos, que compartilham o privilégio e a
responsabilidade de abrigar uma das maiores e mais ricas extensões úmidas
contínuas do planeta. Este bioma, um patrimônio de toda a humanidade, exige
cuidado e preservação que não podem depender de ações voluntaristas,
impensadas, baseadas em conhecimentos superficiais ou influenciadas por
interesses econômicos e políticos de curto prazo, sem qualquer participação
popular. Acreditamos que, para assegurar a proteção e o desenvolvimento
sustentável do Pantanal, o investimento mais adequado está no conhecimento, na
ciência e na tecnologia.
Precisamos pensar em novas abordagens para o
desenvolvimento regional, apresentando novas perspectivas de emprego, renda e
educação para as populações residentes nos municípios que constituem a
conurbação fronteiriça de Corumbá e Ladário, no Brasil, e Puerto Quijarro e
Puerto Suárez, na Bolívia. A região tem o potencial de se transformar numa
espécie de Zona Franca de Educação, uma ideia defendida por Pepe Mujica, que
propõe a criação de arranjos institucionais capazes de promover a integração e
a cooperação entre os povos, centradas na educação, ciência e tecnologia.
Imaginamos um território livre, em que a
circulação de pessoas ligadas à comunidade científica e educacional seja isenta
de burocracia, e os recursos humanos e técnicos (como laboratórios e
equipamentos) sejam compartilhados e utilizados de maneira otimizada. As
consequências, em termos de produção do conhecimento e formação profissional,
técnica e tecnológica, seriam automaticamente incorporadas pelos países que
integram este Espaço Comum de Educação.
Nesses espaços, poderíamos implantar Institutos
Federais de Educação Técnica e campus universitários multilaterais para
oferecer formação binacional ou trinacional de qualidade aos jovens
fronteiriços. Além disso, laboratórios poderiam ser desenvolvidos para realizar
pesquisas voltadas ao desenvolvimento da região e ao estudo da biodiversidade
dos biomas inseridos na área.
A Universidade Federal do Pantanal, localizada no
coração da América do Sul, será fundamental para promover essa abordagem,
garantindo que as futuras gerações possam desfrutar e preservar este ambiente
único e vital.
Assim, solicitamos a constituição de um Grupo de Trabalho
composto por representantes do Ministério da Educação, Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e
Ministério das Relações Exteriores, além de acadêmicos e especialistas, para a missão
de, em diálogo com as partes interessadas, estudar e desenvolver um projeto
para a criação de uma universidade vocacionada para o desenvolvimento
sustentável e a preservação do Pantanal.
Subscrevem o documento: Hélvio Rech, professor; Elisa
Pinheiro de Freitas, professora; Dirce Sizuko Soken, professora; Rosangela
Villa da Silva, professora; Adilson Schieffer, artista plástico; Egon Krakhecke,
engenheiro agrônomo; Marcelo Ubal Camacho, professor; Gerson Jara, jornalista; Waldson
Luciano Corrêa Diniz, professor; Lígia Maria Baruki e Mello, professora; Wilson
Ferreira de Mello, professor; Janan Bolivia Schabib Hany, professora; Masao
Uetanabaro, professor; Moacir Lacerda, professor; Giliard da Silva Prado,
professor; Ahmad Schabib Hany, professor; Marlene Therezinha Mourão, artista
plástica; Igor Alexandre Schabib Péres, técnico em pesquisa; Alberto Feiden,
pesquisador; Débora Fernandes Calheiros, pesquisadora; João dos Santos Villa da
Silva, pesquisador.
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