Quem, mesmo, é terrorista?
A troco de que os oligopólios
midiáticos se submetem ao descrédito e, sabendo que hoje não dá mais para
enganar, teimam em fazer ‘reportagens especiais’ para deslegitimar o direito do
povo palestino de conquistar a sua liberdade e sua soberania?
Como nefasto mantra, todo domingo a Globo dos
Marinho -- como as concorrentes Record de Edyr Macedo, SBT de Senor Abravanel,
CNN de Rubens Menin, a TV! de Amilcare Dallevo Jr. e, pasme, a Band de Johnny
Saad, durante a semana --, ‘didaticamente’ vai incutindo, como propaganda
subliminar, de modo ardiloso, que o povo palestino e os demais povos árabes são
um bando de fora da lei. Parabéns pelo serviço: nos tornamos terroristas
miseráveis e que não merecemos viver; fanáticos muçulmanos sem compaixão e
tirânicos; seres fora da realidade, atrasados, indignos de estar no concerto
das nações.
Será que somos tudo isso? Fomos nós os que jogaram a bomba atômica sobre a população inocente e indefesa de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, quando o Exército da União Soviética já havia imposto derrota acachapante dentro de Berlim, onde o nefasto Hitler preferiu se dar um fim a ter que responder pelos seus crimes de lesa-humanidade? Fomos nós os que, para pressionar os revolucionários do Vietnã do Norte a fazer uma saída ‘honrosa’ e maquiar a derrota dos Estados Unidos pondo fim à guerra do Vietnã, em 1973, aniquilaram mais de 50 mil civis cambojanos, sob a batuta de Henry Kissinger, vencedor do Nobel da Paz (dos túmulos) naquele ano? Fomos nós os que, em Gaza, massacram (ou apoiam), ao vivo e sem dó, mais de seis mil crianças, quinze mil civis (mulheres e idosos) e bombardeiam com requintes de crueldade hospitais, escolas e templos religiosos onde tentam se refugiar os desabrigados e expulsos de suas casas transformadas em escombros?
Além da Palestina milenar, há outros 23 Estados
árabes e uma quantidade maior de países de maioria muçulmana que
sistematicamente a tal ‘imprensa profissional’ (sic), usando a ‘ética
profissional’ (toc, toc, toc!), impune e sordidamente, vive a difamar, caluniar, ofender, tripudiar.
A troco de quê?
Se a História está repleta de fatos eloquentes da
generosidade e abnegação dos árabes, fossem eles da Ásia Ocidental, África
Magrebina ou Península Arábica. Ou por que templos e bibliotecas das três
religiões monoteístas mais populosas estiveram preservados integralmente por
milênios enquanto palestinos cuidavam desses patrimônios da humanidade na Terra
Santa? Por que os reinos católicos da Península Ibérica (Castela, Aragão e
Portugal) foram pioneiros nas Grandes Navegações pós-tomada de Constantinopla
pelos turcos (fato que marca o fim da Idade Média), quando árabes muçulmanos (‘mouros’) haviam permanecido entre 800 e 300
anos na Península, sem colonizá-la ou impor sua língua, religião e cultura,
diferentemente deles (europeus) que em 300 anos colonizaram, ‘catequizaram’,
escravizaram, saquearam e impuseram a ferro e fogo sua dominação, promovendo
genocídios e etnocídios na América, África, Ásia e Oceania?
Qualquer estudante do ensino fundamental aprende na
História que o Renascimento europeu contou com o generoso legado dos árabes,
que como em bandeja de ouro compartilharam irmãmente a Filosofia, História,
Letras, Ciências, Química (proibida por ser considerada "bruxaria"),
Matemática (Aritmética e Álgebra), Geometria, Física, Engenharias, Arquitetura,
Geografia, Astronomia, Cartografia, Navegação, Geologia, Biologia, Medicina,
Anatomia (também proibida por razões da Doutrina Cristã medieval, que
considerava o corpo sagrado por ser feito à semelhança de Deus), Direito,
Gramática, Semântica etc. Além disso, concepções metodológicas fundantes como o
Humanismo, Heliocentrismo e a Dialética de Heráclito de Éfeso, que sofreu
apagamento total com a "cristianização" da escola de Sócrates.
Enquanto os europeus queimavam bibliotecas e os centros de saber clandestinos,
os árabes resgatavam a rica herança cultural dos diversos povos da Antiguidade
a que tiveram acesso.
Quem eram, senão árabes, a proteger judeus durante
as Cruzadas e, sobretudo, na ‘Santa’ Inquisição, de triste memória? Basta ler e
constatar na História a rota de fuga dos judeus perseguidos na Europa como
hereges ou pagãos. Ao lado dos ‘mouros’, lá estavam sob sua proteção os judeus,
que então faziam questão de resgatar sua origem semita comum. Os sionistas, a
partir de fins do século XIX, mudaram sua maneira de compreender os árabes, que
passaram a ser vistos como ‘selvagens’, na ótica eurocêntrica e supremacista
colonial. Até porque, diferentemente do século XVIII, ‘das luzes’, o século XIX
foi marcado pelo retrocesso nacionalista europeu e, sobretudo, pela manipulação
da ciência para embasar as piores ideologias racistas, supremacistas brancas,
como a eugenia e a ‘ciência’ racista.
No começo do século XX, quando em território
europeu os facínoras europeus Adolf Hitler, Benito Mussolini, António Salazar e
Francisco Franco empreenderam ferrenha perseguição contra judeus pobres,
ciganos, comunistas e pessoas com algum tipo de deficiência ou mutilação,
naquela ótica eugenista de atentar contra a dignidade humana, os árabes (e
particularmente os palestinos) receberam de braços abertos
centenas de judeus em fuga para a Palestina, cuja libertação do jugo colonial
turco havia sido prometida em carta oficial do governo britânico por meio de J.
Lawrence (o ‘Lawrence da Arábia’). Não só não cumpriram os britânicos, como
deixaram uma herança maldita que ameaça a existência do povo palestino desde
1947, vítima de política de extermínio e limpeza étnica realizada pelos
sionistas.
Hoje, com a internet (e apesar das hordas
criminosas de fakenews),
até o mais desatento cidadão da Terra já se deu
conta da nada inteligente estratégia sórdida da imprensa pró-sionista de que as
‘reportagens especiais’ atendem à vontade dos que se pretendem donos do destino
da humanidade. Os mesmos, aliás, que fabricam e vendem armas e tecnologias de
ponta para matar ‘com precisão cirúrgica’, ‘civilizadamente’; que produzem
alimentos envenenados para encher de doenças a imensa população do Planeta; que
são os principais responsáveis pela emissão de gases que causam as mudanças
climáticas e pela fome no Mundo, desde o início da industrialização e nos
imemoráveis tempos do comércio de pessoas escravizadas trazidas à força do
continente africano (em mais de 250 anos, mais de cinco milhões de pessoas,
segundo dados conservadores, que alimentaram o vergonhoso ‘comércio negreiro’ (sic) e a
acumulação do capital pela burguesia pelo mundo).
Sempre em nome da ‘fé’, da ‘civilização’ e do ‘progresso’
(deles, de seus bolsos e bolsas, da cobiça, avarismo e sovinice), esses
senhores de olhos azuis que em suas mochilas carregam os cadáveres de inocentes
indefesos e inofensivos, sobretudo da infância (como compôs Alberto Cortez em
"Sabra y Chatila", de 1983) se apressam a acusar e condenar
sumariamente as vítimas de suas atrocidades da forma mais aviltante e cínica.
Até a sua tese de que a ‘única democracia existente
na região’ é o Estado sionista criado em 1947 sobre o território milenar da
Palestina -- sem autorização dos habitantes e suas autoridades e sem qualquer
consulta prévia à população, como que ela não existisse (o ‘slogan’ sionista
era ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’) -- não se sustenta mais: tem
seus dias contados, como a África do Sul do apartheid, de triste memória.
Aliás, a Resolução 3379/1975 da ONU, que igualava o sionismo ao apartheid como
forma de racismo, foi derrubada pelo ‘lobby’ sionista no início da década de
1990, sob pretexto de abrir as negociações para o famigerado Acordo de Oslo,
que também não contou com a realização de um referendo ao povo palestino.
Como assim? Pode haver ‘democracia’ sobre um povo
oprimido, subjugado, excluído, saqueado, expulso de suas casas, seus campos,
suas plantações, sua pátria, sua cultura, sua culinária, suas danças e sua
história, silenciado e invisibilizado e destituído de sua identidade e
soberania? Condenado a ser apátrida, errante, desterrado aos milhares, aos
milhões, desde 1947, portanto, há 76 anos? Que ‘democracia’ cínica é essa? Não
é a das Escrituras, não, porque, para desespero dos sionistas, os árabes também
são semitas, descendentes de Abrão pelo tronco de Ismael, e os sionistas não
têm como ‘reformar’ o Velho Testamento, ou Pentateuco.
Mas, digam-nos, Marinho, Macedo, Abravanel e Saad
(e também Mesquita, Frias e Civita), por quê? Por que enveredar por uma falácia,
enredo contraditório que depõe contra o bom Jornalismo? Qualquer patrão deveria
sentir-se lisonjeado de ver seus repórteres veteranos, como Renata Capucci e
Álvaro Pereira Júnior, reconhecidos, e não estigmatizados por uma pauta que
seus chefes lhes impuseram, desavergonhada e cínica. Até quando? Vimos isso
entre 2013 e 2018 no Brasil e sabemos como acabou, a História ainda não cobrou
sua conta e os Civita então foram os primeiros a pagar pela imprudência de ter
transformado a revista de credibilidade criada por Mino Carta e equipe pioneira
em desacreditado panfleto semanal que ninguém mais compra, porque é sabidamente
vendido.
A História está repleta de fatos e processos
históricos em que não há império que consiga se perpetuar. O mais poderoso deles,
o romano caiu mesmo depois de quase um milênio, como caíram o britânico e o
francês ainda antes de 1945. O estadunidense, até por essa obsessiva
cumplicidade com o sionismo está prestes a desabar, já não se sustenta, basta
ver a dívida impagável que administra há décadas. Aliás, essa é a verdadeira
razão de se colar ao sionismo, sua face mais perversa e pervertida. Mas cairá,
mais cedo ou mais tarde. Se na primeira metade do século XX a chamada Quinta
Coluna nazista (a SS e tentáculos) estava em
toda parte e não conseguiu evitar a queda do Terceiro Reich, os Estados Unidos
e a União Europeia, com os membros da OTAN e Israel, não conseguirão manter a
farsa por muito tempo.
A humanidade está farta da opressão, exploração,
miséria e agora as tragédias climáticas que agravam a pobreza e a fome.
Enquanto eles mentem desavergonhadamente, o Planeta reage com indignação e protagonismo,
porque passou da hora de parecermos gado rumo ao abatedouro sem nos rebelar. O
Planeta nos pertence a todos por direito, libertá-lo dos opressores e
exploradores é um dever, sobretudo para as futuras gerações. Podem tentar nos
ameaçar, até nos amordaçar, mas somos bilhões, inclusive de famélicos e excluídos,
e saberemos dar o troco no momento certo. Entre outros anos emblemáticos, estão
1789, 1848, 1917, 1949, 1952, 1959, 1975 e, no caso do Brasil, 1988 e 2023, a
nos inspirar.
Ahmad
Schabib Hany
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