quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CONQUISTAS E DESAFIOS

Conquistas e desafios

Mais que modesta e despretensiosa avaliação, pretendo propor sincera reflexão sobre 2023, um ano com imensas adversidades, cujos desafios são sempre possíveis quando se tem paciência histórica e convicção fundamentada.

À medida que 2023 vai fechando o transcurso, são inevitáveis as reflexões (não avaliações) sobre o que foi feito neste interregno. Tomo a liberdade de compartilhar com o generoso leitor que não há qualquer pretensão deliberada de fazer uma ‘retrospectiva’ cronológica e muito menos política nesta modesta iniciativa.

Embora seja indiscutível a sensação de frustração explícita nos semblantes de Amigo(a)s e Companheiro(a)s de labuta em relação a este ano, permito-me divergir da maioria deles: somos todo(a)s vitorioso(a)s, de início, por simplesmente termos chegado até aqui com Vida e lucidez suficientes num tempo de tanta pusilanimidade solta, nas palavras do ator Othon Bastos quando entrevistado por Pedro Bial, ex-repórter de ‘O Pasquim’ (em sua fase decadente, é verdade, mas que, depois de tanto equívoco, parece ter encontrado seu rumo).

E apenas para situar os jovens que ainda conservam o hábito salutar de ler, Othon Bastos, hoje com 90 anos, é um dos mais emblemáticos atores brasileiros vivos. A despeito de ter estreado em 1962 com o premiado ‘O pagador de promessas’, foi com o emblemático filme ‘Deus e o Diabo na terra do sol’, de Glauber Rocha, no papel do inesquecível Corisco, um jagunço com que marcou o cinema brasileiro no mundo inteiro. Aliás, Othon explica que ator não apenas ‘representa’ a personagem, como dá vida à personagem que representa em uma telenovela, filme ou peça teatral, como o Mestre Bertolt Brecht ensinou.

É preciso recorrer à sabedoria dos mais vividos ou daqueles que vieram antes de nós para poder compreender um momento da História da humanidade tão adverso, perverso e, pior, cínico. Em pleno século XXI, além das hordas fascistas que se espalharam pelo Planeta tal como o novo coronavírus na pandemia de covid-19, temos os caquéticos ‘donos do mundo’ que insistem em não reconhecer que não vivemos mais em tempos coloniais e subjugam a espécie humana a rastejar perante eles ou condená-los, por rebeldes, como ‘terroristas’.

Como contraponto, pelo menos, tivemos a constatação de que o Brasil tem o patrimônio político nacional como o maior Estadista (maiúscula, por favor) do primeiro quartel deste século. O Presidente Lula, para desespero e pânico dos e das recalcadas, continua a ser reconhecido como um dos maiores líderes da humanidade. A despeito disso, consoante à inconsistência de caráter e cosmovisão distorcida, nossa embolorada casta tupiniquim (na verdade, colonizada, pois sequer tem ascendência de nossos sábios povos originários) vive a torcer contra o Brasil só para, egoísta e mesquinhamente, se jactar com as eventuais derrotas do líder que o Brasil levou 500 anos para revelá-lo para o concerto das nações.

Só um líder com as dimensões políticas do Estadista do Século é que poderá promover a bom termo a transição pacífica e proativa para os novos paradigmas do desenvolvimento sustentável no contexto das mudanças climáticas. Só Lula tem legitimidade política para assegurar a conservação do Estado Democrático de Direito. É o Estadista maior de nosso tempo o dignitário que oferece condições de conduzir a América Latina, e por extensão o chamado Sul Global (antigo ‘Terceiro Mundo’), para nova ordem internacional, baseada tão-somente em relações multipolares, e não nos caprichos colonialistas de uma Europa embolorada e um império estadunidense carcomido pela sordidez da arrogância, do supremacismo e da cobiça.

Internamente, só um conciliador hábil e progressista como ele poderá fazer o Brasil se reencontrar com a plenitude democrática. Porque, ficou provado nestes anos de governos golpistas -- ou melhor, de desgovernos --, que a direita não tem agenda propositiva nem capacidade política para construir uma agenda com suas bizarras bandeiras. Simplesmente todos -- reitero: TODOS -- os pretensos ‘lideres’ (de si mesmos) são incapazes de promover a necessária superação da inércia que eles mesmos provocaram deliberadamente.

Se no desgoverno do inominável já não tinham qualquer conjunto de propostas para fazer com que houvesse um mínimo de governabilidade, agora na oposição está constatado que são tão incompetentes que sequer sabem fazer oposição. Não sabem o que é estratégia e, muito menos, tática. Qualquer neófito saberia, até por intuição, propor questões básicas para fazer de conta que tem empatia ou que, de fato, se preocupa com o povo brasileiro.

Mais grave: feito biruta de aeroporto, o que resta dos ‘líderes’ do inominável -- inclusive seus descendentes -- são tão desqualificados que agem por impulsos, o que os torna nada representativos de uma direita à deriva, sem eira nem beira. Um fiasco. Isso foram sete anos de golpismo, a bem da verdade com o único intuito de pôr na ilegalidade a esquerda, ou pelo menos o Partido dos Trabalhadores (PT). Não só não tiveram competência nem habilidade, como exatamente por isso fortaleceram suas consignas, suas bandeiras. Hoje o PT volta a ser a principal legenda política e qualquer saída política passa por ele.

Mas, além das importantes conquistas protagonizadas, há desafios abissais. E da solução deles decorrem os próximos passos, tanto na conquista de novos horizontes nacionais e continentais (a esta altura planetários) como de não menos importantes avanços do dia-a-dia, de nosso cotidiano popular: o processo vertiginoso de desmonte do Estado e das políticas públicas sociais, sanitárias, educacionais, ambientais, tecnocientíficas, culturais e, sobretudo, interdisciplinares rumo a um novo paradigma de sustentabilidade climática foram esfaceladas, destruídas sem dó nem piedade.

Isso, aliás, obriga a sociedade civil, com base na participação popular (social ou pública), recomeçar a se mobilizar para retomar todas as pautas de protagonismo cidadão perdidas. Mais que isso: em parceria com o Ministério Público, será preciso reconquistar a autonomia dos lóqui (ou melhor, de cada lócus, conselho, um a um), sem judicialização (ao contrário, com muita habilidade e sem aflorar antagonismos). É a melhor manifestação de respeito pelas novas gerações, pois o Estado Democrático de Direito foi construído, passo a passo, mediante compromisso ético, público e político, focado nas gerações vindouras.

Diante deste contexto muitas vezes desestimulador e adverso a toda empatia e cosmovisão cidadã, cabe a todas as pessoas sinceramente comprometidas com o País e todo o Planeta arregaçar as mangas e com muita prudência, humildade e ponderação ocupar os lugares esvaziados pela cidadania nestes derradeiros sete anos de sortilégios, negacionismo e obscurantismo intolerante. É a hora do reencontro com o porvir, com a esperança cívica, com nossa infância e juventude, até para que ela consiga assegurar as conquistas cidadãs para as próximas gerações.

O caminho se faz ao caminhar. É o que a Vida ensina. É o que a História demonstra.

Ahmad Schabib Hany

2 comentários:

Estela Márcia disse...

Para mim foi um ano de proteger o fígado e alimentar os olhos para mais allá!

O caminho se faz ao caminhar disse...

Se eu tivesse o poder de síntese e a agilidade de raciocínio que Você tem, querida Amiga-Irmã Estela, teria minha existência resolvida, pode acreditar!

Acompanho suas postagens geniais, no entanto não tenho conseguido postar algum comentário desde que o extermínio do corajoso Povo Palestino recrudeceu e Gaza se tornou o epicentro do verdadeiro caráter da embolorada Europa que não consegue superar o ranço colonial e de seus irmãos siameses (ou seriam filhos de sua obsessão pela cobiça e pelo supremacismo branco?) dos Estados Unidos da América e do Estado de Israell.

Obrigado, Estela, por nos esninar cidadania planetária o tempo todo, e grande abraço!