Conquistas
e desafios
Mais que modesta e despretensiosa
avaliação, pretendo propor sincera reflexão sobre 2023, um ano com imensas
adversidades, cujos desafios são sempre possíveis quando se tem paciência
histórica e convicção fundamentada.
À medida que 2023 vai fechando o transcurso, são
inevitáveis as reflexões (não avaliações) sobre o que foi feito neste
interregno. Tomo a liberdade de compartilhar com o generoso leitor que não há
qualquer pretensão deliberada de fazer uma ‘retrospectiva’ cronológica e muito
menos política nesta modesta iniciativa.
Embora seja indiscutível a sensação de frustração
explícita nos semblantes de Amigo(a)s e Companheiro(a)s de labuta em relação a
este ano, permito-me divergir da maioria deles: somos todo(a)s vitorioso(a)s,
de início, por simplesmente termos chegado até aqui com Vida e lucidez suficientes
num tempo de tanta pusilanimidade solta, nas palavras do ator Othon Bastos quando
entrevistado por Pedro Bial, ex-repórter de ‘O Pasquim’ (em sua fase decadente,
é verdade, mas que, depois de tanto equívoco, parece ter encontrado seu rumo).
E apenas para situar os jovens que ainda conservam
o hábito salutar de ler, Othon Bastos, hoje com 90 anos, é um dos mais
emblemáticos atores brasileiros vivos. A despeito de ter estreado em 1962 com o
premiado ‘O pagador de promessas’, foi com o emblemático filme ‘Deus e o Diabo
na terra do sol’, de Glauber Rocha, no papel do inesquecível Corisco, um
jagunço com que marcou o cinema brasileiro no mundo inteiro. Aliás, Othon
explica que ator não apenas ‘representa’ a personagem, como dá vida à
personagem que representa em uma telenovela, filme ou peça teatral, como o
Mestre Bertolt Brecht ensinou.
É preciso recorrer à sabedoria dos mais vividos ou
daqueles que vieram antes de nós para poder compreender um momento da História
da humanidade tão adverso, perverso e, pior, cínico. Em pleno século XXI, além
das hordas fascistas que se espalharam pelo Planeta tal como o novo coronavírus
na pandemia de covid-19, temos os caquéticos ‘donos do mundo’ que insistem em
não reconhecer que não vivemos mais em tempos coloniais e subjugam a espécie
humana a rastejar perante eles ou condená-los, por rebeldes, como ‘terroristas’.
Como contraponto, pelo menos, tivemos a
constatação de que o Brasil tem o patrimônio político nacional como o maior
Estadista (maiúscula, por favor) do primeiro quartel deste século. O Presidente
Lula, para desespero e pânico dos e das recalcadas, continua a ser reconhecido
como um dos maiores líderes da humanidade. A despeito disso, consoante à
inconsistência de caráter e cosmovisão distorcida, nossa embolorada casta
tupiniquim (na verdade, colonizada, pois sequer tem ascendência de nossos
sábios povos originários) vive a torcer contra o Brasil só para, egoísta e
mesquinhamente, se jactar com as eventuais derrotas do líder que o Brasil levou
500 anos para revelá-lo para o concerto das nações.
Só um líder com as dimensões políticas do
Estadista do Século é que poderá promover a bom termo a transição pacífica e
proativa para os novos paradigmas do desenvolvimento sustentável no contexto
das mudanças climáticas. Só Lula tem legitimidade política para assegurar a
conservação do Estado Democrático de Direito. É o Estadista maior de nosso
tempo o dignitário que oferece condições de conduzir a América Latina, e por
extensão o chamado Sul Global (antigo ‘Terceiro Mundo’), para nova ordem
internacional, baseada tão-somente em relações multipolares, e não nos
caprichos colonialistas de uma Europa embolorada e um império estadunidense
carcomido pela sordidez da arrogância, do supremacismo e da cobiça.
Internamente, só um conciliador hábil e
progressista como ele poderá fazer o Brasil se reencontrar com a plenitude
democrática. Porque, ficou provado nestes anos de governos golpistas -- ou melhor,
de desgovernos --, que a direita não tem agenda propositiva nem capacidade
política para construir uma agenda com suas bizarras bandeiras. Simplesmente
todos -- reitero: TODOS -- os pretensos ‘lideres’ (de si mesmos) são incapazes
de promover a necessária superação da inércia que eles mesmos provocaram
deliberadamente.
Se no desgoverno do inominável já não tinham
qualquer conjunto de propostas para fazer com que houvesse um mínimo de
governabilidade, agora na oposição está constatado que são tão incompetentes
que sequer sabem fazer oposição. Não sabem o que é estratégia e, muito menos,
tática. Qualquer neófito saberia, até por intuição, propor questões básicas
para fazer de conta que tem empatia ou que, de fato, se preocupa com o povo
brasileiro.
Mais grave: feito biruta de aeroporto, o que resta
dos ‘líderes’ do inominável -- inclusive seus descendentes -- são tão desqualificados
que agem por impulsos, o que os torna nada representativos de uma direita à
deriva, sem eira nem beira. Um fiasco. Isso foram sete anos de golpismo, a bem
da verdade com o único intuito de pôr na ilegalidade a esquerda, ou pelo menos
o Partido dos Trabalhadores (PT). Não só não tiveram competência nem
habilidade, como exatamente por isso fortaleceram suas consignas, suas
bandeiras. Hoje o PT volta a ser a principal legenda política e qualquer saída
política passa por ele.
Mas, além das importantes conquistas protagonizadas,
há desafios abissais. E da solução deles decorrem os próximos passos, tanto na
conquista de novos horizontes nacionais e continentais (a esta altura
planetários) como de não menos importantes avanços do dia-a-dia, de nosso
cotidiano popular: o processo vertiginoso de desmonte do Estado e das políticas
públicas sociais, sanitárias, educacionais, ambientais, tecnocientíficas,
culturais e, sobretudo, interdisciplinares rumo a um novo paradigma de
sustentabilidade climática foram esfaceladas, destruídas sem dó nem piedade.
Isso, aliás, obriga a sociedade civil, com base na
participação popular (social ou pública), recomeçar a se mobilizar para retomar
todas as pautas de protagonismo cidadão perdidas. Mais que isso: em parceria
com o Ministério Público, será preciso reconquistar a autonomia dos lóqui (ou
melhor, de cada lócus, conselho, um a um), sem judicialização (ao contrário,
com muita habilidade e sem aflorar antagonismos). É a melhor manifestação de
respeito pelas novas gerações, pois o Estado Democrático de Direito foi
construído, passo a passo, mediante compromisso ético, público e político,
focado nas gerações vindouras.
Diante deste contexto muitas vezes desestimulador
e adverso a toda empatia e cosmovisão cidadã, cabe a todas as pessoas
sinceramente comprometidas com o País e todo o Planeta arregaçar as mangas e
com muita prudência, humildade e ponderação ocupar os lugares esvaziados pela
cidadania nestes derradeiros sete anos de sortilégios, negacionismo e
obscurantismo intolerante. É a hora do reencontro com o porvir, com a esperança
cívica, com nossa infância e juventude, até para que ela consiga assegurar as
conquistas cidadãs para as próximas gerações.
O caminho se faz ao caminhar. É o que a Vida
ensina. É o que a História demonstra.
Ahmad
Schabib Hany
2 comentários:
Para mim foi um ano de proteger o fígado e alimentar os olhos para mais allá!
Se eu tivesse o poder de síntese e a agilidade de raciocínio que Você tem, querida Amiga-Irmã Estela, teria minha existência resolvida, pode acreditar!
Acompanho suas postagens geniais, no entanto não tenho conseguido postar algum comentário desde que o extermínio do corajoso Povo Palestino recrudeceu e Gaza se tornou o epicentro do verdadeiro caráter da embolorada Europa que não consegue superar o ranço colonial e de seus irmãos siameses (ou seriam filhos de sua obsessão pela cobiça e pelo supremacismo branco?) dos Estados Unidos da América e do Estado de Israell.
Obrigado, Estela, por nos esninar cidadania planetária o tempo todo, e grande abraço!
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