Outubro
de esperança, luta e regozijo
Outubro é mês de importantes marcos
históricos: instalação do Estado Democrático de Direito em 1988, com a
promulgação da Constituição Cidadã; realização, desde 1994, de eleições
democráticas em todo o Brasil; e divisão, em pleno regime de 1964, de Mato
Grosso e criação de Mato Grosso do Sul, que beneficiou, sobretudo, Campo Grande.
Primeiro mês depois de iniciada a
primavera no hemisfério sul, outubro é portador de novos horizontes, momentos que
marcaram os rumos da História da humanidade nas diferentes regiões da Terra,
sobretudo neste país-continente.
Dia 5 de outubro de 1988, meio da
tarde, o Congresso Nacional estava em festa devido à solenidade de promulgação
da Constituição Federal de 1988: Doutor Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas,
encerrava os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte com seu emblemático
discurso em que louvava a implantação do Estado Democrático de Direito.
Obviamente, a maioria do centrão e grande parte dos canalhas que mamaram nos
anos sombrios estavam desconfortáveis, ávidos de vingança e rancor.
A partir de 1994, o mês de outubro
passou a ser o mês de realização do primeiro turno das eleições no Brasil. Desde
então a soberania popular teve a sua manifestação maior neste mês, que passou a
celebrar os momentos de esperança, luta e regozijo. Pilar da democracia, o voto
livre, direto e secreto é uma conquista consignada pela Assembleia Nacional
Constituinte na década de 1980, que revogou o entulho autoritário de 1964.
A celebração do Dia da Padroeira do
Brasil, Nossa Senhora Aparecida, teve sua data de devoção reconhecida durante o
mandato do presidente José Sarney, e a partir de então as manifestações
populares passaram a ser explicitadas em todos os quadrantes do país, sobretudo
em Aparecida do Norte, pois com o feriado nacional foi possível ir à cidade
paulista como devotos no sagrado direito de manifestar sua fé e devoção.
Pois, com perplexidade e tristeza,
registro nesta data em que escrevo este texto um ato de vandalismo protagonizado
pelas hordas fundamentalistas ligadas ao inominável que tumultuaram o sagrado
ato de devoção dos católicos, além de agredir um rapaz e uma senhora que por acaso
trajavam roupas vermelhas nessas celebrações. Mais uma vez, a propósito, o
inquilino que teima por todos os meios permanecer no Planalto mais um mandato
decidiu ‘assistir’ a uma das missas no Santuário Nacional de Aparecida, mesmo
tendo conhecimento da nota de sua Arquidiocese a respeito da presença de
candidatos em atos litúrgicos da Igreja Católica.
E há exatos 30 anos, num 12 de outubro
de 1992, que o Doutor Ulysses Guimarães, em companhia de Dona Mora Guimarães, o
Senador Severo Gomes e sua Esposa, se eternizou depois de atuar bravamente na
destituição de outro inominável que mentiu para a nação e acabou desmascarado
pela histórica CPI de Collor. Desde o trágico acidente com o helicóptero que
caiu no litoral norte de São Paulo, o Dia da Padroeira tem sentido de saudade,
pois esse grande protagonista da capitulação do regime de 1964 encerrou sua
jornada na terra, para tristeza dos que conhecem a história recente do Brasil.
Por outro lado, a Vida, generosa e
pródiga, propiciou à nossa Família, no primeiro dia do mês, o regozijo de
celebrarmos, durante décadas, o aniversário de nascimento de nosso querido e
saudoso Pai, Mahoma Hossen Schabib, cuja conduta de peregrino incansável,
cidadão do mundo à frente de seu tempo, nos abriu horizontes e forjou o caráter
-- no seu entender, o maior patrimônio de todo ser humano.
Por meio de meu Pai conheci inúmeros
Amigos que ganhei para a Vida. Ainda criança, Dona Amélia Abraham Katurchi, que
falava fluentemente o espanhol e o árabe, era uma das Amigas com quem ele
conversava quando descia para o centro de Corumbá. Saudosa e querida Mãe do
Senhor Jorge José Katurchi, querido Amigo de décadas, Dona Amélia sempre
dedicou sua gratidão ao povo corumbaense com generosidade e afeto.
Seu Jorge Katurchi, do alto de seus
96 anos, celebra seu aniversário neste 11 de outubro com o mesmo entusiasmo de
seus tempos juvenis, de brilhante jogador de futebol e de garboso cidadão
apaixonado por sua querida e saudosa Dona Anna Thereza Rondon Maldonado
Katurchi e pela Corumbá de todos os encantos e culturas. E, sobretudo, um
cidadão honrado e Pai-Avô dedicado, exemplo para gerações e gerações.
Companheiro de primeira hora do Pacto
Pela Cidadania, Seu Jorge é um incansável batalhador das grandes causas de
Corumbá. Em tempos sombrios, soube defender muitos injustiçados, ainda que
fosse mal interpretado: entre eles estava o saudoso Promotor de Justiça Dr.
José Mirha, seu Amigo dos tempos de escola, que até a última semana de Vida o
visitara, depois de ter sido o primeiro candidato a senador do PT de Mato
Grosso do Sul.
E por citar o estado, no mesmo dia em
que Seu Jorge comemora seu aniversário Mato Grosso do Sul celebra a data de sua
criação. Foi em 11 de outubro de 1977 que o então general-presidente Ernesto
Geisel sancionou a Lei Complementar nº 31, que dividiu Mato Grosso. Detalhe: o
vice-governador era o Dr. Cássio Leite de Barros, corumbaense nada identificado
com o movimento divisionista e que por ironia da História foi o governador
derradeiro de Mato Grosso uno. Nunca é demais lembrar que a divisão foi um
casuísmo do regime de 1964, na ânsia de garantir três senadores da Arena e uma
maioria folgada de deputados federais que ampliassem a já diminuta bancada
situacionista na Câmara dos Deputados.
Em 43 anos de existência (o governo
foi instalado a 1º de janeiro de 1979), à exceção de dois governadores -- Dr.
Wilson Barbosa Martins e Zeca do PT --, só Campo Grande foi beneficiada por ser
capital do estado. É flagrante como o interior do estado é vítima dos governos
que se sucederam: como se fosse um carma (até porque o movimento divisionista
nasceu no início do século XX em Corumbá, como ato de protesto de grandes
comerciantes contra a centralização administrativa praticada por Cuiabá), o
Coração do Pantanal e da América do Sul se ressente pela ausência de políticas
de desenvolvimento que promovam a autonomia do mais antigo centro comercial do
Centro-Oeste do país.
Finalmente, a celebração do Dia da
Professora e do Professor e do Dia da Médica e do Médico, mais que um ato de
digno reconhecimento desses honrados ofícios, desperta o valor da Educação e da
Ciência como instrumentos de afirmação da Vida e da cidadania. Ainda que em
tempos cruentos, a dedicação das Professoras e Professores e das Médicas e
Médicos aos respectivos ofícios fez diferença: despertar de uma consciência
crítica e de percepção da realidade, uma postura, aliás, de várias gerações que
não hesitaram em participar do processo de democratização seja na defesa da
Educação Pública ou no Movimento da Reforma Sanitária, berço do Sistema Único
de Saúde (SUS).
Por conta do momento iluminado em que
vivemos, quando a cidadania passa a conhecer as propostas do futuro dirigente
do Brasil e de Mato Grosso do Sul, na certeza de que não seremos novamente
vítimas do apagão eleitoral ocorrido em 2018 (e que milhões de pessoas pagam
caro pelo desgoverno existente), celebremos outubro como o primeiro mês
primaveril a levar esperança, regozijo e consciência de luta em defesa dos
valores democráticos e civilizatórios, para que o fascismo que atenta o Estado
de Direito não se perpetue e destrua tudo que foi construído com muito denodo e
generosidade pelas gerações anteriores.
Ahmad
Schabib Hany
Um comentário:
Oi, Scha, pensando cá comigo... afinal, o Mato Grosso do Sul é um estado ou é uma junção de municípios... que identidade construímos?
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