Romero
Estancar-a-Sangria Jucá
O pacto de sangue feito em 2015
pelos líderes do centrão contra a postura republicana de Dilma Rousseff ante os
riscos aos membros ‘centristas’ pelo avanço da ‘Leva Jeito’ foi determinante
para sua deposição, travestida de impeachment, e a posse de Temer, culminada
com a eleição de um despreparado para o principal cargo da República.
Decorridos quase sete anos do maior atentado ao
Estado Democrático de Direito desde a promulgação da Constituição Cidadã, em
1988, o ardil usado para deslegitimar a gestão honesta, transparente e
republicana de Dilma Rousseff e colocar as ‘raposas para tomar conta do
galinheiro’ agora faz parte da História e passou a ser fonte inesgotável de
todo tipo de estudo, sobretudo da Ciência Política, História, Comunicação e do
Direito.
“Tem que mudar o governo para poder estancar essa
sangria.” Em síntese essa foi, em 2015, a consigna, nas palavras do então
senador Romero Jucá, dos líderes do centrão que deram apoio ao governo golpista
do ‘brimo’ Temer e agora dão rumo ao caótico e despreparado governo
negacionista.
Por outro lado, a ação fraudulenta e ilícita de Moro
que, entre vários abusos cometidos, grampeou sem autorização do Supremo
Tribunal Federal uma ligação de Dilma, então na Presidência, com Lula e a vazou
deliberadamente no momento mais tenso que precedeu ao impeachment, o que
contribuiu, determinantemente, para a deposição da primeira Presidenta da
República da História do Brasil.
Além das iniciativas nada ortodoxas do ex-juiz que
virou ‘moçinho’ [sim, senhor: com ‘c’ cedilhado, ao gosto das madames da Avenida
Paulista ou Nossa Senhora de Copacabana], no âmbito da ‘Leva Jeito’, Moro teve
uma conduta reveladora no escândalo Banestado (já prescrito), em que seu
desprezo pelos fundamentos do Estado Democrático de Direito é explicitado por
meio de atropelos judiciais e violações de direitos inalienáveis, todos
reiterados na ‘Leva Jeito’ -- episódio que haverá de ser desengavetado pelos
adversários do agora candidato ao mais alto salário do País.
Fundada e dirigida pelo Jornalista Mino Carta, a CartaCapital há mais de uma década tem
investigado a atuação dos subitamente célebres membros da ‘Leva Jeito’ e seus
vínculos com setores antipetistas desde os tempos em que outro grupo de juízes
protagonizou atropelos judiciais reiterados, no Mensalão, em 2006. A equipe
jornalística da revista -- repórteres, analistas e brilhantes colaboradores --
tem produzido dossiês históricos, dignos de serem apensados nos anais e bancos
de dados dos centros de estudos históricos Brasil adentro.
É de grande valia visitar o acervo digital da
revista, disponível em seu sítio eletrônico, a fim de conhecer os bastidores do
poder (ou melhor, dos Poderes). No momento em que a mídia comercial, ou melhor,
os jornalões tratam com certa complacência os salvadores do caótico governo
negacionista, reler (ou melhor, ler) análises reveladoras publicadas pela
revista do também fundador e primeiro diretor de redação da Veja (1968-1975) e da Istoé (1976-1993) se constitui numa
terapia, ou ato de autodefesa cidadão.
Não é demasiado lembrar que Mino Carta não é
qualquer um, nessa vala comum em que as hordas negacionistas nivelam por baixo
os dignos profissionais da imprensa. Além de ter sido um dos mais antenados
Jornalistas na resistência à ditadura de 1964, Mino, ao lado de Luis Carta
(Irmão mais velho e ex-diretor da emblemática revista Realidade na Abril -- da qual foi seu primeiro diretor editorial
entre 1962 e 1972 -- e fundador e diretor da Vogue Brasil e Vogue España),
foi o genial criador da revista Quatro
Rodas na Abril em 1962, do Jornal da
Tarde, de O Estado de S. Paulo, em
1965, e do Jornal da República, com
o igualmente ético e memorável Jornalista Claudio Abramo, em 1980.
Em fevereiro de 2017 (portanto, cinco anos atrás),
a CartaCapital publicou um genial
dossiê-reportagem intitulado Os 14 atos
para ‘estancar a sangria’ da Lava Jato [https://www.cartacapital.com.br/politica/os-14-atos-para-estancar-a-sangria-da-lava-jato/].
Trata-se de didática dissecação dos reais motivos que levaram à aglomeração de
toda espécie de ‘despachante’ de interesses inconfessáveis que coabitam no
Plano Piloto do Planalto Central. A bem da verdade, somente os combativos do The Intercept Brasil na atualidade
chegam perto do modesto, mas incansável, time de Mino.
Desde os tempos de Apparicio Torelly, autonomeado ‘Barão
de Itararé’ (para ironizar a vitória em uma batalha que jamais houve), e sua
imortal A Manha, o jornalismo
libertário é o grande responsável pelas milimétricas conquistas neste país de
dimensões continentais. Ao dar voz aos sem vez; ao escancarar as mentiras das
elites anacrônicas; ao mostrar os fatos em vez de boatos, e, enfim, ao informar
e trazer luz ao público desejoso de paz, verdade e liberdade.
Daqui a algum tempo poucos, muito poucos se
lembrarão do ‘pato amarelo’ da avenida Paulista; de Janaína Paschoal e seu PSL;
de Kim Kataguiri e seu MBL; de Moro e Dallagnol e sua Lava Jato; das madames
cheirosinhas e seus chiliques regados a uísque importado; de Bolsonaro e filhos
e seus desatinos; de Alexandre Graxinha e Augusto Nhunhes e sua língua
envenenada, que se a morderem correm risco de morte. Por isso é fundamental ler
e reler sobre as ilicitudes de Romero ‘Estancar-a-Sangria’ Jucá e seus
parceiros, nas páginas da História, escritas no dia a dia do Jornalismo-Coragem
dos incansáveis homens e mulheres que sabem que a História, como a Vida,
acontece nas ruas.
Ahmad
Schabib Hany
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