quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

ROMERO ESTANCAR-A-SANGRIA JUCÁ

Romero Estancar-a-Sangria Jucá

O pacto de sangue feito em 2015 pelos líderes do centrão contra a postura republicana de Dilma Rousseff ante os riscos aos membros ‘centristas’ pelo avanço da ‘Leva Jeito’ foi determinante para sua deposição, travestida de impeachment, e a posse de Temer, culminada com a eleição de um despreparado para o principal cargo da República.

Decorridos quase sete anos do maior atentado ao Estado Democrático de Direito desde a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, o ardil usado para deslegitimar a gestão honesta, transparente e republicana de Dilma Rousseff e colocar as ‘raposas para tomar conta do galinheiro’ agora faz parte da História e passou a ser fonte inesgotável de todo tipo de estudo, sobretudo da Ciência Política, História, Comunicação e do Direito.

“Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria.” Em síntese essa foi, em 2015, a consigna, nas palavras do então senador Romero Jucá, dos líderes do centrão que deram apoio ao governo golpista do ‘brimo’ Temer e agora dão rumo ao caótico e despreparado governo negacionista.

Por outro lado, a ação fraudulenta e ilícita de Moro que, entre vários abusos cometidos, grampeou sem autorização do Supremo Tribunal Federal uma ligação de Dilma, então na Presidência, com Lula e a vazou deliberadamente no momento mais tenso que precedeu ao impeachment, o que contribuiu, determinantemente, para a deposição da primeira Presidenta da República da História do Brasil.

Além das iniciativas nada ortodoxas do ex-juiz que virou ‘moçinho’ [sim, senhor: com ‘c’ cedilhado, ao gosto das madames da Avenida Paulista ou Nossa Senhora de Copacabana], no âmbito da ‘Leva Jeito’, Moro teve uma conduta reveladora no escândalo Banestado (já prescrito), em que seu desprezo pelos fundamentos do Estado Democrático de Direito é explicitado por meio de atropelos judiciais e violações de direitos inalienáveis, todos reiterados na ‘Leva Jeito’ -- episódio que haverá de ser desengavetado pelos adversários do agora candidato ao mais alto salário do País.

Fundada e dirigida pelo Jornalista Mino Carta, a CartaCapital há mais de uma década tem investigado a atuação dos subitamente célebres membros da ‘Leva Jeito’ e seus vínculos com setores antipetistas desde os tempos em que outro grupo de juízes protagonizou atropelos judiciais reiterados, no Mensalão, em 2006. A equipe jornalística da revista -- repórteres, analistas e brilhantes colaboradores -- tem produzido dossiês históricos, dignos de serem apensados nos anais e bancos de dados dos centros de estudos históricos Brasil adentro.

É de grande valia visitar o acervo digital da revista, disponível em seu sítio eletrônico, a fim de conhecer os bastidores do poder (ou melhor, dos Poderes). No momento em que a mídia comercial, ou melhor, os jornalões tratam com certa complacência os salvadores do caótico governo negacionista, reler (ou melhor, ler) análises reveladoras publicadas pela revista do também fundador e primeiro diretor de redação da Veja (1968-1975) e da Istoé (1976-1993) se constitui numa terapia, ou ato de autodefesa cidadão.

Não é demasiado lembrar que Mino Carta não é qualquer um, nessa vala comum em que as hordas negacionistas nivelam por baixo os dignos profissionais da imprensa. Além de ter sido um dos mais antenados Jornalistas na resistência à ditadura de 1964, Mino, ao lado de Luis Carta (Irmão mais velho e ex-diretor da emblemática revista Realidade na Abril -- da qual foi seu primeiro diretor editorial entre 1962 e 1972 -- e fundador e diretor da Vogue Brasil e Vogue España), foi o genial criador da revista Quatro Rodas na Abril em 1962, do Jornal da Tarde, de O Estado de S. Paulo, em 1965, e do Jornal da República, com o igualmente ético e memorável Jornalista Claudio Abramo, em 1980.

Em fevereiro de 2017 (portanto, cinco anos atrás), a CartaCapital publicou um genial dossiê-reportagem intitulado Os 14 atos para ‘estancar a sangria’ da Lava Jato [https://www.cartacapital.com.br/politica/os-14-atos-para-estancar-a-sangria-da-lava-jato/]. Trata-se de didática dissecação dos reais motivos que levaram à aglomeração de toda espécie de ‘despachante’ de interesses inconfessáveis que coabitam no Plano Piloto do Planalto Central. A bem da verdade, somente os combativos do The Intercept Brasil na atualidade chegam perto do modesto, mas incansável, time de Mino.

Desde os tempos de Apparicio Torelly, autonomeado ‘Barão de Itararé’ (para ironizar a vitória em uma batalha que jamais houve), e sua imortal A Manha, o jornalismo libertário é o grande responsável pelas milimétricas conquistas neste país de dimensões continentais. Ao dar voz aos sem vez; ao escancarar as mentiras das elites anacrônicas; ao mostrar os fatos em vez de boatos, e, enfim, ao informar e trazer luz ao público desejoso de paz, verdade e liberdade.

Daqui a algum tempo poucos, muito poucos se lembrarão do ‘pato amarelo’ da avenida Paulista; de Janaína Paschoal e seu PSL; de Kim Kataguiri e seu MBL; de Moro e Dallagnol e sua Lava Jato; das madames cheirosinhas e seus chiliques regados a uísque importado; de Bolsonaro e filhos e seus desatinos; de Alexandre Graxinha e Augusto Nhunhes e sua língua envenenada, que se a morderem correm risco de morte. Por isso é fundamental ler e reler sobre as ilicitudes de Romero ‘Estancar-a-Sangria’ Jucá e seus parceiros, nas páginas da História, escritas no dia a dia do Jornalismo-Coragem dos incansáveis homens e mulheres que sabem que a História, como a Vida, acontece nas ruas.

Ahmad Schabib Hany

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