A face exposta de instituições irresponsáveis:
Um
ano da eternização da Professora Élida Aparecida de Campos sem justiça nem
reparos
Prefeito
reeleito, empresas auferindo lucros e a população ao deus-dará: 365 dias depois
da tragédia da avenida Gaturama, nem homenagem à Professora Élida, que deu
literalmente a Vida para cuidar da educação e dos direitos de crianças
especiais de Corumbá e Ladário.
Dia 4 de dezembro de 2019. A
trágica eternização da Professora Élida Aparecida de Campos, coordenadora
pedagógica da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Corumbá,
ao final de um dia de trabalho. Um ano depois, os seus pais sequer receberam um
gesto de gratidão ou solidariedade das instituições públicas e privadas direta
ou indiretamente envolvidas nesse lamentável episódio.
Com o maior acinte, as partes
fazem o velho jogo de empurra: a atual concessionária privada, com seu
sugestivo nome “Rumos”, não mede esforços para se eximir das responsabilidades,
enquanto a empresa privada chilena concessionária da ferrovia boliviana, dona
dos vagões deixados no terminal privado de onde saíram e causaram o acidente,
também faz o mesmo. E o terminal, a prefeitura local, os órgãos responsáveis
pela gestão do território, não têm, também, sua parcela de responsabilidade? A
Câmara Municipal chegou a discutir a proposta de denominar a avenida Gaturama
(homônima do velho motel das imediações) para Avenida Professora Élida
Aparecida de Campos, como uma singela homenagem póstuma? Ah, sim...
Durante a campanha eleitoral cheguei
a confidenciar a um Jornalista sobre minha certeza de que NENHUM candidato/a a
prefeito de Corumbá lembraria da tragédia da Professora Élida Aparecida de
Campos. Porque desde que o município se emancipou, em meados do século XIX,
pode-se afirmar com todas as letras que durante pouco mais de cem anos de sua
autonomia administrativa (porque temos que subtrair o período de intervenção de
Getúlio Vargas e do regime de 1964, algo perto de 40 anos) nenhum prefeito
governou a totalidade do município Corumbá, cujas dimensões se confundem com o
estado da Paraíba, praticamente três vezes maior que o território do Líbano ou
da Palestina, terra-natal de muitos imigrantes locais.
Uma campanha eleitoral
totalmente dissociada da realidade (pela totalidade dos/as candidatos/as a
prefeito/a de Corumbá, ainda que eu prive da Amizade com alguns deles/as). Ou
alguém falou da gestão territorial? Ou alguém falou da necessidade de atualização
do Plano Diretor Municipal, que nunca saiu da gaveta, a despeito de ter sido
participativo? Inclusive a desativação do Conselho Municipal da Cidade, como os
demais, pela atual gestão (e, a bem da verdade, não estava a atuar plenamente havia
alguns anos, tanto que no imbróglio da Feira Brasbol sequer convocou uma
reunião deliberativa ou uma audiência pública, como a lei lhe faculta).
Está corretíssima a família
enlutada de acionar judicialmente os responsáveis pela tragédia que tirou a
Vida da Professora Élida. Esperamos que, um ano depois de total
empurra-empurra, o Ministério Público possa chamar para si uma ação
correspondente, de modo a cessar de imediato o abandono em que se encontra a
ferrovia no perímetro urbano, tanto em Corumbá como em Ladário, e que novas
tragédias sejam evitadas.
E que um dia não muito
distante, a Avenida Professora Élida Aparecida de Campos dê lugar à erma e
lúgubre avenida Gaturama, assombrada e nada acolhedora, inclusive por onde
chegam as pessoas que visitam nossa região.
Ahmad
Schabib Hany
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