terça-feira, 5 de novembro de 2019

CARLOS DE MESA, A MENTIRA COM NOME E SOBRENOME




CARLOS MESA, A MENTIRA COM NOME E SOBRENOME

Filho de um casal de docentes universitários dos cursos de Arquitetura e História -- José de Mesa e Teresa Gisbert de Mesa --, o jornalista (ou, melhor, jornaleiro, pois virou patrão depois de criar a Rede PAT, uma versão andina da CNN) Carlos Diego de Mesa Gisbert é a expressão mais precisa daqueles seres que vivem da mentira consentida pelas elites. Longe de ter sido privado de prosseguir os estudos universitários naqueles cruentos tempos de sucessivas ditaduras militares, o jovem bem-nascido com ares de intelectual iniciou duas graduações nunca concluídas, a de Letras e depois a de História. Como nunca esteve exilado, não pôde realizar um mestrado ou doutorado em universidades abertas, como as da Suécia, que concederam títulos universitários a diversos perseguidos políticos latino-americanos.

Graças à generosidade do hoje saudoso Jornalista Lorenzo Carri, um argentino-boliviano de talento singular e de um coração igualmente magnânimo, valeu-se de uma oportunidade quando o sisudo cronista esportivo e brilhante analista político dirigia o departamento de jornalismo da solene e respeitada Rádio Cristal, uma FM de altíssimo nível de propriedade do emblemático radialista Mario Castro, outra referência do rádio na América Latina. Ingrato, Mesa foi incapaz de, em seu breve e conturbado mandato presidencial, conferir algum título de reconhecimento a esses dois grandes mestres do Jornalismo e da Radiodifusão responsáveis pelo sucesso profissional imerecido e injustificado. Tanto é verdade, que a Rede PAT (“Periodistas Asociados de Televisión”) não teve estrutura nem estratégia para sobreviver ao seu próprio desgoverno, de privataria e entregas das riquezas nacionais, a despeito da luta dos próprios pais, nacionalistas do extinto Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR).

Medíocre e oportunista, Carlos Mesa valeu-se do convite dos pais para participar da coautoria de um manual de História da Bolívia criado pelo renomado historiador Humberto Vásquez Machicado décadas atrás (quando o pretenso intelectual sequer era púbere), e algumas edições depois, com o maior cinismo, substituíra o titular (falecido em 1958) dessa obra de referência de estudantes e professores no vizinho país, num flagrante caso de apropriação indébita e escandalosa. O episódio causou muito desconforto a seus pais, reconhecidamente competentes e donos de uma biografia impecável, a despeito da falta de caráter do filho Carlos Diego, introduzido à política pelas mãos entreguistas de Gonzalo Sánchez de Losada, “Goni”, que teria deixado um “ajutório” em milhares de dólares para tê-lo de vice em sua chapa em 2002.

Sobre o episódio, de modo sucinto e claro, o coletivo cidadão boliviano “Primera Plana” cita o Professor Ramiro Fernández Quisbert, presidente da Associação Nacional dos Profissionais de História, e observa adiante: “A História esqueceu Humberto Vásquez Machicado e premiou com o rótulo fictício de grande intelectual Carlos de Mesa, sendo toda uma falácia consentida como verdade durante muitos anos e o livro História da Bolívia estudado na formação escolar invisibilizando as grandes revoluções indígenas que propiciaram a independência da Bolívia, as transformações sociais desde a luta popular subalterna e o papel dos movimentos sociais contra o modo liberal e neoliberal da administração pública da Bolívia.”

Eleito vice-presidente da Bolívia na chapa de outro embuste eleitoral, o tristemente célebre “Goni” (outro que ostentava diploma de bacharel em Filosofia sem nunca ter cursado, até ser desmascarado nos Estados Unidos), assumiu a presidência do País por efêmero período para repetir o covarde ato de renunciar e partir para a metrópole dos fantoches serviçais, sob acusação de incompetência, servilismo ao império e corrupção. Depois disso, permaneceu no ostracismo, vítima de seu narcisismo e falta de caráter, até ser convidado para integrar uma comissão de alto nível para tratar das demandas marítimas da Bolívia, que desde 1879 perdeu sua saída ao Oceano Pacífico depois de ter participado de uma conflagração armada, ao lado do Peru, contra o Chile.

Aliás, foi o próprio presidente Evo Morales Aima -- contra quem hoje conspira -- que o reabilitou politicamente quando o chamou para participar da comissão de alto nível para a solução marítima, ao lado de ex-presidentes como eminente Juiz Eduardo Rodríguez (presidente da Suprema Corte de Justiça que exerceu a presidência do país depois da renúncia de Mesa e assegurou um processo eleitoral isento e transparente que permitiu a eleição do atual presidente boliviano), trazendo-o de volta ao cenário político boliviano.

Além da vaidade e do narcisismo, Carlos Mesa padece do mesmo mal das elites dominantes latino-americanas, que, igual escorpião peçonhento, não conseguem deixar de picar quem os ajuda. Mal se encerraram os escrutínios de outubro, sem que a contagem dos votos tivesse sido totalizada, o caricato William Waak andino incitou canhestramente ao não reconhecimento dos resultados, numa prova cabal de sua total falta de convicção democrática. Não só imitou o nefasto Aécio Neves em 2014 quando sofreu uma derrota acachapante de Dilma Rousseff e o levou à conspiração contra o Estado Democrático de Direito de cujas consequências a nação é vítima até a presente data, como atentou contra os mais comezinhos princípios de urbanidade e civilidade por dar o sinal verde para as hordas de mortos-vivos alimentados de ópio (digo, pasta-base) e ódio, intitulados de (sic) “juventude hitlerista” levar a barbárie pela Bolívia afora.

Tal como aqui, em que “órfãos” e “viúvas” da (mal)ditadura saíram dos fétidos e sombrios porões em que se achavam desde 1985, do outro lado da fronteira os filhos bastardos dos narcogenerais (entre os quais o facínora há pouco tempo falecido de sobrenome García Mesa) promovem barricadas para interromper as transformações conquistadas pela maioria do povo boliviano, cansado de entreguismo e servidão ao império decadente. Não é preciso ser expert em economia para saber que a Bolívia até o momento detém os melhores indicadores econômicos precisamente pela adoção de uma política econômica sustentável e soberana, em que as riquezas nacionais são geridas pelos atores sociais bolivianos, e não mais pela volátil e voluptuosa bolsa de valores de Nova York, responsável pela quebradeira que aniquila as depauperadas economias do Chile de Piñera, da Argentina de Macri, do Equador de Moreno e da Colômbia de Duque.

É fundamental que se preste atenção nas apreensões volumosas de cocaína, cujo tráfico até hoje é controlado pelos “órfãos” do maior facínora boliviano, o falecido coronel autopromovido a general em 1971 (quando recém-proclamado ditador por mais de sete anos) Hugo Banzer Suárez. Ao lado dos fantoches e serviçais do império, são os traficantes os mais desesperados por interromper o ciclo econômico superavitário da Bolívia, afinal, a implantação de uma política meritocrática na aduana, nas polícias e nas forças armadas sepultou qualquer possibilidade de manter os feudos oligarcas que abasteciam de corrupção as instituições públicas bolivianas.

Diferentemente de muitos países latino-americanos em que lideranças populares são mortas impunemente, o povo boliviano tem feito a sua história com altivez e coragem, de fazer inveja a qualquer bravateiro metido a patriota, que quando vê um guarda-roupa loiro de olhos azuis começa a ronronear...

Ahmad Schabib Hany

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