CARLOS
MESA, A MENTIRA COM NOME E SOBRENOME
Filho de um casal de docentes
universitários dos cursos de Arquitetura e História -- José de Mesa e Teresa
Gisbert de Mesa --, o jornalista (ou, melhor, jornaleiro, pois virou patrão
depois de criar a Rede PAT, uma versão andina da CNN) Carlos Diego de Mesa Gisbert
é a expressão mais precisa daqueles seres que vivem da mentira consentida pelas
elites. Longe de ter sido privado de prosseguir os estudos universitários
naqueles cruentos tempos de sucessivas ditaduras militares, o jovem bem-nascido
com ares de intelectual iniciou duas graduações nunca concluídas, a de Letras e
depois a de História. Como nunca esteve exilado, não pôde realizar um mestrado
ou doutorado em universidades abertas, como as da Suécia, que concederam
títulos universitários a diversos perseguidos políticos latino-americanos.
Graças à generosidade do hoje saudoso
Jornalista Lorenzo Carri, um argentino-boliviano de talento singular e de um
coração igualmente magnânimo, valeu-se de uma oportunidade quando o sisudo
cronista esportivo e brilhante analista político dirigia o departamento de
jornalismo da solene e respeitada Rádio Cristal, uma FM de altíssimo nível de
propriedade do emblemático radialista Mario Castro, outra referência do rádio
na América Latina. Ingrato, Mesa foi incapaz de, em seu breve e conturbado
mandato presidencial, conferir algum título de reconhecimento a esses dois
grandes mestres do Jornalismo e da Radiodifusão responsáveis pelo sucesso profissional
imerecido e injustificado. Tanto é verdade, que a Rede PAT (“Periodistas
Asociados de Televisión”) não teve estrutura nem estratégia para sobreviver ao
seu próprio desgoverno, de privataria e entregas das riquezas nacionais, a
despeito da luta dos próprios pais, nacionalistas do extinto Movimiento
Nacionalista Revolucionario (MNR).
Medíocre e oportunista, Carlos Mesa
valeu-se do convite dos pais para participar da coautoria de um manual de
História da Bolívia criado pelo renomado historiador Humberto Vásquez Machicado
décadas atrás (quando o pretenso intelectual sequer era púbere), e algumas
edições depois, com o maior cinismo, substituíra o titular (falecido em 1958)
dessa obra de referência de estudantes e professores no vizinho país, num
flagrante caso de apropriação indébita e escandalosa. O episódio causou muito
desconforto a seus pais, reconhecidamente competentes e donos de uma biografia
impecável, a despeito da falta de caráter do filho Carlos Diego, introduzido à
política pelas mãos entreguistas de Gonzalo Sánchez de Losada, “Goni”, que
teria deixado um “ajutório” em milhares de dólares para tê-lo de vice em sua
chapa em 2002.
Sobre o episódio, de modo sucinto e
claro, o coletivo cidadão boliviano “Primera Plana” cita o Professor Ramiro
Fernández Quisbert, presidente da Associação Nacional dos Profissionais de
História, e observa adiante: “A História esqueceu Humberto Vásquez Machicado e
premiou com o rótulo fictício de grande intelectual Carlos de Mesa, sendo toda
uma falácia consentida como verdade durante muitos anos e o livro História da
Bolívia estudado na formação escolar invisibilizando as grandes revoluções
indígenas que propiciaram a independência da Bolívia, as transformações sociais
desde a luta popular subalterna e o papel dos movimentos sociais contra o modo
liberal e neoliberal da administração pública da Bolívia.”
Eleito vice-presidente da Bolívia na
chapa de outro embuste eleitoral, o tristemente célebre “Goni” (outro que
ostentava diploma de bacharel em Filosofia sem nunca ter cursado, até ser
desmascarado nos Estados Unidos), assumiu a presidência do País por efêmero
período para repetir o covarde ato de renunciar e partir para a metrópole dos
fantoches serviçais, sob acusação de incompetência, servilismo ao império e
corrupção. Depois disso, permaneceu no ostracismo, vítima de seu narcisismo e
falta de caráter, até ser convidado para integrar uma comissão de alto nível
para tratar das demandas marítimas da Bolívia, que desde 1879 perdeu sua saída
ao Oceano Pacífico depois de ter participado de uma conflagração armada, ao
lado do Peru, contra o Chile.
Aliás, foi o próprio presidente Evo
Morales Aima -- contra quem hoje conspira -- que o reabilitou politicamente
quando o chamou para participar da comissão de alto nível para a solução
marítima, ao lado de ex-presidentes como eminente Juiz Eduardo Rodríguez
(presidente da Suprema Corte de Justiça que exerceu a presidência do país
depois da renúncia de Mesa e assegurou um processo eleitoral isento e
transparente que permitiu a eleição do atual presidente boliviano), trazendo-o
de volta ao cenário político boliviano.
Além da vaidade e do narcisismo, Carlos
Mesa padece do mesmo mal das elites dominantes latino-americanas, que, igual
escorpião peçonhento, não conseguem deixar de picar quem os ajuda. Mal se
encerraram os escrutínios de outubro, sem que a contagem dos votos tivesse sido
totalizada, o caricato William Waak andino incitou canhestramente ao não
reconhecimento dos resultados, numa prova cabal de sua total falta de convicção
democrática. Não só imitou o nefasto Aécio Neves em 2014 quando sofreu uma
derrota acachapante de Dilma Rousseff e o levou à conspiração contra o Estado
Democrático de Direito de cujas consequências a nação é vítima até a presente
data, como atentou contra os mais comezinhos princípios de urbanidade e
civilidade por dar o sinal verde para as hordas de mortos-vivos alimentados de ópio
(digo, pasta-base) e ódio, intitulados de (sic) “juventude hitlerista” levar a
barbárie pela Bolívia afora.
Tal como aqui, em que “órfãos” e
“viúvas” da (mal)ditadura saíram dos fétidos e sombrios porões em que se
achavam desde 1985, do outro lado da fronteira os filhos bastardos dos
narcogenerais (entre os quais o facínora há pouco tempo falecido de sobrenome
García Mesa) promovem barricadas para interromper as transformações
conquistadas pela maioria do povo boliviano, cansado de entreguismo e servidão
ao império decadente. Não é preciso ser expert em economia para saber que a
Bolívia até o momento detém os melhores indicadores econômicos precisamente
pela adoção de uma política econômica sustentável e soberana, em que as
riquezas nacionais são geridas pelos atores sociais bolivianos, e não mais pela
volátil e voluptuosa bolsa de valores de Nova York, responsável pela
quebradeira que aniquila as depauperadas economias do Chile de Piñera, da
Argentina de Macri, do Equador de Moreno e da Colômbia de Duque.
É fundamental que se preste atenção nas
apreensões volumosas de cocaína, cujo tráfico até hoje é controlado pelos
“órfãos” do maior facínora boliviano, o falecido coronel autopromovido a
general em 1971 (quando recém-proclamado ditador por mais de sete anos) Hugo
Banzer Suárez. Ao lado dos fantoches e serviçais do império, são os traficantes
os mais desesperados por interromper o ciclo econômico superavitário da
Bolívia, afinal, a implantação de uma política meritocrática na aduana, nas
polícias e nas forças armadas sepultou qualquer possibilidade de manter os
feudos oligarcas que abasteciam de corrupção as instituições públicas bolivianas.
Diferentemente de muitos países
latino-americanos em que lideranças populares são mortas impunemente, o povo
boliviano tem feito a sua história com altivez e coragem, de fazer inveja a
qualquer bravateiro metido a patriota, que quando vê um guarda-roupa loiro de
olhos azuis começa a ronronear...
Ahmad
Schabib Hany
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