segunda-feira, 8 de abril de 2019

LAMENTO INFORMAR, MAS IMBECILIDADE MATA...


LAMENTO INFORMAR, MAS IMBECILIDADE MATA...

Desculpem o palavrão, é que não há um termo mais preciso. A imponderabilidade (imprevisibilidade) é o que torna a História fascinante. Tal como a Vida, a História talvez tenha nessa característica sua maior peculiaridade. E sua origem está na conduta da própria espécie humana, essa cujos doutos se atreveram a sentenciá-la como a mais inteligente das espécies do reino animal.

Pois bem. É a humanidade a que torna sedutora sua trajetória, repleta de avanços e recuos, ao longo de milênios, por conta de seu comportamento, pretensamente evolutivo. Só que nem sempre está em evolução. Há os momentos em que a imbecilidade -- talvez mais elegante o termo adotado pela crônica esportiva quando do inimaginável 7 a 1 da seleção alemã de futebol sobre a brasileira, o tal “apagão” -- toma conta, e não há nada que possa evitar ou dar jeito a suas nefastas consequências.

Que seja “apagão”, então, o que tenha tomado conta da (sic) “maioria silenciosa” brasileira em outubro de 2018, em que um autoconfesso “não vocacionado” (ou seria despreparado?) sagrou-se presidente, para que agora toda a população da maior democracia do mundo se encontre na berlinda.

E aí não há qualquer exagero: risco de perda da soberania nacional (vide entrega do patrimônio nacional, “com Supremo, com tudo”, aos Estados Unidos, desde a Base de Alcântara ao Pré-Sal, o Aquífero Guarani, a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga e a Amazônia Azul, inclusive empresas estratégicas como a Petrobrás, a Eletrobrás, Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal, Correios...

E se isso fosse pouco, o que dizer da perda de direitos conquistados com muito sacrifício pelas gerações anteriores, consignados magistralmente na Constituição Cidadã pelos constituintes dirigidos pelo saudoso Doutor Ulysses Guimarães, o terror de canalhas como o nefasto coronel Brilhante Ustra e outros torturadores jamais devidamente punidos, heróis de bizarros seres saídos da caixa de Pandora do golpe de 2016?

O mais triste disso tudo é a sensação de impunidade e leviandade decorrente do (sic) “empoderamento” de milicianos e jagunços de toda sorte, togados ou não, consagrados ou não, fundamentalistas ou não, travestidos de justiceiros ou não, que subverteram a ordem democrática e procrastinaram o Estado de Direito. Levamos décadas para, com muito esforço, consolidar a Democracia por um breve hiato da História, e hoje vemos todos os valores cativos da humanidade serem diluídos sordidamente, impunemente.

A quem recorrer, cara pálida? Nem os povos originários, nem os afrodescendentes foram poupados deste desvario. Os milhões de assalariados e de desempregados que puderam melhorar suas condições de vida por meio de políticas públicas construídas no processo de elaboração da Constituinte de 1988 e efetivadas sobretudo nos mandatos de Itamar Franco, Lula e Dilma Rousseff, foram condenados à indigência por fantoches do (sic) “mercado”, seres desconhecidos que, de repente, aparecem como as grandes eminências pardas de um mandato desastrado, destinado à desintegração da Nação e à entrega de suas riquezas aos abutres de um império decadente.

Enquanto isso, os poucos sobreviventes das gerações que venceram a ditadura de 1964 tentam resistir aos gendarmes do apocalipse, mas têm a sua ira santa desautorizada por alguns ex-companheiros arrependidos que aderiram à “pós-modernidade” e aparecem com um discurso amarelado, acovardado, querendo justificar sua claudicação, recorrendo aos mais cínicos dos argumentos, baseados na suposta discussão da “narrativa”, quando se sabe que a História é um processo constituído de um conjunto de fatores interdisciplinares em que a economia e a luta de classes são determinantes, gostemos ou não.

Imbecilidade mata, sim, porque é mãe de todas as tiranias: dos milicianos, dos funcionários públicos corruptos, das organizações criminosas, dos facínoras nostálgicos do fascismo canalha, dos xenófobos, dos pedófilos, dos misóginos, dos homófobos, dos feminicidas, dos infanticidas, dos agentes do Estado cooptados pelo império decadente e dos hipócritas moralistas que se refugiam numa interpretação fundamentalista das religiões milenares, quaisquer que elas sejam.

Mas, não percamos a esperança, pois, como o poeta sabiamente o disse em tempos igualmente cruentos, “a História é um carro alegre, cheio de povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue...” (Chico Buarque e Pablo Milanés, 1972).

Ahmad Schabib Hany

Nenhum comentário: