LAMENTO INFORMAR, MAS
IMBECILIDADE MATA...
Desculpem
o palavrão, é que não há um termo mais preciso. A imponderabilidade
(imprevisibilidade) é o que torna a História fascinante. Tal como a Vida, a
História talvez tenha nessa característica sua maior peculiaridade. E sua
origem está na conduta da própria espécie humana, essa cujos doutos se
atreveram a sentenciá-la como a mais inteligente das espécies do reino animal.
Pois
bem. É a humanidade a que torna sedutora sua trajetória, repleta de avanços e
recuos, ao longo de milênios, por conta de seu comportamento, pretensamente
evolutivo. Só que nem sempre está em evolução. Há os momentos em que a
imbecilidade -- talvez mais elegante o termo adotado pela crônica esportiva
quando do inimaginável 7 a 1 da seleção alemã de futebol sobre a brasileira, o
tal “apagão” -- toma conta, e não há nada que possa evitar ou dar jeito a suas
nefastas consequências.
Que
seja “apagão”, então, o que tenha tomado conta da (sic) “maioria silenciosa” brasileira em outubro de 2018, em que um
autoconfesso “não vocacionado” (ou seria despreparado?) sagrou-se presidente,
para que agora toda a população da maior democracia do mundo se encontre na
berlinda.
E
aí não há qualquer exagero: risco de perda da soberania nacional (vide entrega do
patrimônio nacional, “com Supremo, com tudo”, aos Estados Unidos, desde a Base
de Alcântara ao Pré-Sal, o Aquífero Guarani, a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado,
a Mata Atlântica, a Caatinga e a Amazônia Azul, inclusive empresas estratégicas
como a Petrobrás, a Eletrobrás, Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica
Federal, Correios...
E
se isso fosse pouco, o que dizer da perda de direitos conquistados com muito
sacrifício pelas gerações anteriores, consignados magistralmente na
Constituição Cidadã pelos constituintes dirigidos pelo saudoso Doutor Ulysses
Guimarães, o terror de canalhas como o nefasto coronel Brilhante Ustra e outros
torturadores jamais devidamente punidos, heróis de bizarros seres saídos da
caixa de Pandora do golpe de 2016?
O
mais triste disso tudo é a sensação de impunidade e leviandade decorrente do (sic) “empoderamento” de milicianos e
jagunços de toda sorte, togados ou não, consagrados ou não, fundamentalistas ou
não, travestidos de justiceiros ou não, que subverteram a ordem democrática e
procrastinaram o Estado de Direito. Levamos décadas para, com muito esforço,
consolidar a Democracia por um breve hiato da História, e hoje vemos todos os
valores cativos da humanidade serem diluídos sordidamente, impunemente.
A
quem recorrer, cara pálida? Nem os povos originários, nem os afrodescendentes
foram poupados deste desvario. Os milhões de assalariados e de desempregados
que puderam melhorar suas condições de vida por meio de políticas públicas
construídas no processo de elaboração da Constituinte de 1988 e efetivadas
sobretudo nos mandatos de Itamar Franco, Lula e Dilma Rousseff, foram condenados
à indigência por fantoches do (sic)
“mercado”, seres desconhecidos que, de repente, aparecem como as grandes
eminências pardas de um mandato desastrado, destinado à desintegração da Nação
e à entrega de suas riquezas aos abutres de um império decadente.
Enquanto
isso, os poucos sobreviventes das gerações que venceram a ditadura de 1964
tentam resistir aos gendarmes do apocalipse, mas têm a sua ira santa
desautorizada por alguns ex-companheiros arrependidos que aderiram à
“pós-modernidade” e aparecem com um discurso amarelado, acovardado, querendo
justificar sua claudicação, recorrendo aos mais cínicos dos argumentos,
baseados na suposta discussão da “narrativa”, quando se sabe que a História é
um processo constituído de um conjunto de fatores interdisciplinares em que a
economia e a luta de classes são determinantes, gostemos ou não.
Imbecilidade
mata, sim, porque é mãe de todas as tiranias: dos milicianos, dos funcionários
públicos corruptos, das organizações criminosas, dos facínoras nostálgicos do
fascismo canalha, dos xenófobos, dos pedófilos, dos misóginos, dos homófobos,
dos feminicidas, dos infanticidas, dos agentes do Estado cooptados pelo império
decadente e dos hipócritas moralistas que se refugiam numa interpretação
fundamentalista das religiões milenares, quaisquer que elas sejam.
Mas,
não percamos a esperança, pois, como o poeta sabiamente o disse em tempos
igualmente cruentos, “a História é um carro alegre, cheio de povo contente, que
atropela indiferente, todo aquele que a negue...” (Chico Buarque e Pablo
Milanés, 1972).
Ahmad Schabib Hany
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