8 DE MARÇO. DIA DE LUTO. E DE
LUTA.
O
primeiro Dia Internacional da Mulher a que pude assistir (e do qual participar)
foi no antigo anfiteatro do então Centro Pedagógico de Corumbá (CPC), em 1978.
Estava no primeiro semestre de Letras, e o evento, pela primeira vez celebrado
em ambiente universitário, fora iniciativa da Associação dos Professore(a)s da
à época Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT). O Dia da Mulher havia sido recentemente instituído por deliberação da Conferência da ONU sobre os Direitos da Mulher, em 1975, no México.
Não
me esquecerei, jamais, a querida Marlene Terezinha Mourão, a incansável
Peninha, Professora e técnica simultaneamente, preparando tudo e um pouco mais.
E a hoje saudosa Heloísa Helena da Costa Urt, a eternamente Helô querida, lendo
uma crônica da inesquecível Jornalista Irede Aparecida Cardoso (que, mais
tarde, viria a ser vereadora de São Paulo, e logo pelo seu Partido dos Trabalhadores).
Irede A. Cardoso (como assinava) tem uma pérola na Ilustrada da “Folha de S.Paulo” (de maio de 1981), intitulada “A
insólita dama do Pacaembu”, que vale a pena ler e reler.
Decorridas quatro décadas, muitas conquistas foram consignadas na Carta Constitucional de 1988, merecidamente batizada de Constituição Cidadã, graças à incansável luta de mulheres guerreiras que nos ensinaram muito, como as saudosas Irede Cardoso e Helô Urt. No entanto, o retrocesso político, o fundamentalismo evangélico, o cinismo empresarial, a cretinice judicial, a falta de caratismo institucional e a cobiça imperial puseram tudo, absolutamente tudo, abaixo, como num castelo de cartas.
Hoje,
8 de março de 2019, ano do início de uma nova e perigosamente mais
obscurantista idade média -- assim, sem maiúsculas, da mesma estatura do(a)s
cúmplices manipulado(a)s que levaram um imbecil destituído de cérebro e de
urbanidade ao Planalto --, não posso fazer a solene saudação pelo Dia
Internacional da Mulher.
Não
há por que comemorar. Só lamentar. É dia de luto, primeiro pela razão de ser
desta data: a imolação de dezenas de tecelãs em Nova York, em 1857, que lutavam
por direitos hoje igualmente sonegados ou simplesmente surrupiados pelo (sic) “mi(n)to” e seus sequazes, em nome
da embolorada (toc, toc, toc!)
“modernidade” (por certo, do século XVI).
Luto,
sobretudo, por Marielle Franco, inesquecível mártir da resistência, e as
milhares de vítimas do feminicídio que recrudesceu no cotidiano brasileiro
depois que esta besta fera e seus nefastos sequazes ganharam popularidade no
rastro de um golpe promovido por serviçais, travestidos de meritocratas, do
império decadente que resiste ao seu fim inevitável, posto que o seu tempo já
se esgotou e o lixo da história é sua melhor serventia.
E
isso o(a)s canalhas da Casa Branca também terão de engolir: seus “historiadores”
chapa-branca, que já andaram transformando o hediondo crime cometido contra as
tecelãs em (sic) “lenda”, também
vivem a investir contra as ciências humanas e a liberdade de pensamento. Mas é
só recorrer às inúmeras hemerotecas e bibliotecas virtuais estadunidenses e
europeias para se deparar com fatos ou notícias, ainda que truncadas, sobre
episódios que envergonham a humanidade, como as cínicas intervenções militares
“em defesa da democracia” na América Latina, as sangrentas carnificinas “em
nome da liberdade” no Oriente Médio, a criminosa Guerra do Vietnã, o covarde
bombardeio com bomba atômica contra a população civil de Hiroshima e Nagasaki
em 1945, depois que a guerra já havia terminado, e o massacre de Chicago de 1º
de maio de 1886, em que dezenas de operários da indústria igualmente foram
criminosamente mortos pelos meganhas da época, sempre a serviço dos poderosos.
Não
é demais recordar que os Estados Unidos não reconhecem oficialmente nenhuma da
data histórica de fatos vergonhosos protagonizados por eles, coisa que, pelo
andar da carruagem, logo o Brasil também passará a não reconhecer. Basta
perguntar ao capetão, ou melhor, tenente quase desertor que se regozija (ou
algo mais!) quando vê um fardado americano diante de si.
E
de luta, muita luta. A resistência não pode ser apenas nas redes sociais, nas
tribunas, nos palanques. Ela terá que ser feita na base, no núcleo, nas
entranhas da sociedade, em seu dia a dia, em seu mais profundo e intrincado
seio. A sociedade só muda quando a mulher conquista a sua mudança. E essa
mudança não é apenas estética, mas íntima. Não é só legal, mas real. Não é,
como bem escreveram o(a)s Companheiro(a)s/Camaradas da Causa Operária, apenas
presente, mas conquista. Pois, conquista só se atinge com muita luta, e a luta
não tem fim, é como a Vida e a própria História, que estão em constante
movimento, em constante evolução.
Hoje
estamos de luto, em luta. Estamos nos guardando para quando a nova alvorada
chegar. Então, a comemoração será real e em homenagem à(ao)s que tombaram na
caminhada...
Ahmad Schabib Hany
Um comentário:
Excelente texto! Compartilharei
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