quinta-feira, 12 de abril de 2018

LULA, UM CAVALHEIRO (Por Luiz Taques)


            Lula, um cavalheiro

Por Luiz Taques

            Corriam os anos 1980 e, por essa época, Lula já percorria o país.

            Mas a caravana, que no futuro aglutinaria milhões de brasileiros, ainda era reduzida a ele e a uns poucos conhecidos.

            No entanto, militantes do recém-criado partido, o PT, já apostavam no seu imenso carisma.

            Uma jornalista mineira e eu bebíamos num bar da avenida Afonso Pena, em Campo Grande (MS). Lula chegou lá.

            Um petista me reconheceu.

            Aproximou-se:

            -- Você não quer entrevistar o Lula?

            Querer, eu não queria.

            Fazia calor: tínhamos bebido muitas cervejas.

            Mesmo assim, propus à minha convidada:

            -- O que você acha?

            Virando-se para o interlocutor petista, ela sugeriu:

            -- Você poderia trazer o Lula aqui?

            Lula foi onde estávamos, embaixo de uma árvore, num banco improvisado.

            A jornalista mineira era moça bonita e vestia só saias curtas.

            Sofria enorme preconceito por ser uma das primeiras jornalistas diplomadas, em busca de trabalho, a migrar para o Mato Grosso do Sul.

            Coleguinhas de profissão já manifestavam o seu ódio e a gente ainda não se dava conta disso.

            (Não havia faculdade de jornalismo em Campo Grande.)    

            Agachados: incômoda posição nossa para um bate papo jornalístico.

            Cedemos o lugar para o entrevistado se sentar.

            Lula falava com desenvoltura.

            E com muita segurança.

            A mesma segurança que, anos depois, demonstraria, em Londres, no passeio de carruagem com a rainha Elizabeth II.

          Com a elegância do povo nordestino, Lula e a rainha foram de carruagem até o palácio de Buckingham, sede da família real britânica. Em outras carruagens, atrás, como recomenda o protocolo, vinham dona Marisa Letícia e o marido da rainha.

            Quem não se lembra da recepção ao Santo Papa no aeroporto de Cumbica (SP)?

            Lula, estadista, não se curvara à Sua Santidade.

            Tampouco beijou a mão do pontífice; deu-lhe, sim, um aperto de mão.

            Empolgada com a entrevista, a jornalista se descuidara.

            Caíra.

            Ajudamos a moça a se recompor.

            Ela fez menção de se agachar, novamente.

            Foi então que Lula se levantou, me pegou pelo braço, olhou nos meus olhos, e disse:

            -- Ô, companheiro: melhor ficarmos em pé.

            Era a primeira vez que um político me olhava nos olhos e me chamava de companheiro.

            Ali, comecei a votar no Lula.

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