Lula, Ciro e o Poeta
Por Luiz Taques
O
poeta Manoel de Barros, um inventor de mundos, votava em Lula para presidente
da República. Foi assim em 1989, 1994 e 1998.
Mas,
naquela eleição de 2002, ele andava simpatizando com Ciro Gomes, do PPS.
Estávamos
em Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia, quando Ciro deu entrevista para o
Jornal Nacional. O poeta somente saiu da casa da irmã dele, a Eudes, e da
frente da televisão, para irmos a um barzinho, só após o fim da fala do
presidenciável cearense.
O
poeta havia ido a Corumbá inaugurar a ampliação da biblioteca da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
Passados
alguns dias, Ciro visitaria Campo Grande (MS), a capital do estado. Uma oportunista
colunista social avisara à então esposa de Ciro Gomes, a atriz Patrícia Pillar,
que Manoel de Barros era eleitor dele. Patrícia Pillar tratou de pedir-lhe que
agendasse um encontro com o poeta.
A
colunista social, por sua vez, apressou-se de passar à imprensa a informação
desse encontro e do apoio do poeta ao candidato do PPS.
Nessa
tarde, antes da chegada de Ciro Gomes –- marcada para o início da noite –- Manoel
de Barros me ligou, pedindo socorro. O poeta, sujeito autêntico e sensível,
estava nervoso. Muito nervoso.
-–
Você poderia me ajudar a acabar com esse boato?
-–
Pô, eu voto no Lula, do PT.
-–
Se ele descobrir isso?
Lula
talvez ainda não saiba que Manoel de Barros era seu eleitor e que ficaria
magoado se o petista descobrisse que ele pretendia votar em outro candidato
para presidente do Brasil.
Conseguimos,
com colegas da imprensa, desfazer esse mal-entendido eleitoreiro.
Dias
depois, em carta ao Poeta, a colunista social pediu desculpas e mandou uma
garrafa de vinho de presente.
Manoel
de Barros me ligou:
-–
Traga um queijo bacana, porque o vinho parece ser muito bom.
Como milhões de brasileiros, acho
que o poeta dos cheiros, das cores e dos seres do Pantanal dormiria mais triste
hoje, ao saber que Luís Inácio Lula da Silva foi preso.
Preso por crime que diz que não
cometeu.
Falecido em 13 de novembro de 2014,
aos 97 anos de idade, o poeta era avesso a injustiças.
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