sábado, 7 de abril de 2018

CARTA ABERTA PARA DONA MARIA LETÍCIA


CARTA ABERTA PARA DONA MARISA LETÍCIA
Dona Marisa,
Permita-me dirigir-lhe estas linhas no dia de seu segundo aniversário natalício fora desta existência. Não sei se posso lhe dar parabéns, que a senhora sempre mereceu, mas -- não por coincidência, mas por pura maldade patológica desse complexado, medíocre e exibicionista juizeco reprovado duas vezes no exame da Ordem dos Advogados do Brasil que se valeu de seu querido Companheiro para virar celebridade, e obviamente sob o pleno conhecimento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, sem a ciência do Itamaraty e a devida autorização do Congresso Nacional -- esta data entra para a História, não mais como Dia Mundial da Saúde ou Dia Nacional do Jornalista (espécie, aliás, em extinção por conta da epidemia de mau-caratismo disseminada pelos discípulos da nefasta “agenda sete”, gerada nas usinas do Hemisfério Norte), mas como o dia em que o estadista que o Brasil revelou para o mundo foi levado preso, por condenação sem prova material, ao belo e funcional prédio construído durante seu primeiro mandato -- e aí nada de mágoa ou ressentimento com meganhas e gendarmes cuja razão de ser é, tal qual cães de guarda, sempre a obedecer ordens superiores.
Tive oportunidade de conhecer o Presidente Lula em agosto de 1998, na residência do querido e saudoso Dom José Alves da Costa, então Bispo Diocesano de Corumbá (MS), onde permanecemos por quase uma hora tratando da agenda do Pacto Pela Cidadania (o pioneiro, construído em 1994). Éramos apenas quatro interlocutores (seu querido Companheiro, Dom José, Zeca do PT e eu, que, tal como Dom José, nunca fui militante petista), o que me permitiu conhecer não apenas sua invejável inteligência, mas, sobretudo, sua sinceridade: de repente, parecia ser ele um membro do velho Pacto Pela Cidadania e foi logo perguntando se havíamos feito algumas cópias do documento que estávamos entregando a ele, para em seguida dizer: “Fernando Henrique será reeleito no primeiro turno, mas o companheiro Zeca tem chances de ir pro segundo turno e ser eleito. Entreguem este documento a ele e aos demais candidatos, que todos precisam conhecer as reivindicações do povo pantaneiro. Eu vou entregar minha cópia às bancadas do PT na Câmara e no Senado e aos companheiros de Mato Grosso, que lá também tem Pantanal.” O gesto impressionou tanto a Dom José quanto a mim, que desde então passei a defendê-lo em meio a tantos amigos antipetistas, alguns dos quais hoje pensam diferente, tendo até votado nele.
Não abusarei de sua sempre gentil atenção dispensada a todos com meu longo relato. Sei que, como Companheira de toda uma Vida, a senhora conhece como ninguém o seu querido Galego. Mas estou preocupado, muito preocupado com a “recepção” em Curitiba: aquelas agressões injustificáveis contra jovens aglomerados na frente da sede da Polícia Federal, com uso de balas (não sei se reais ou de borracha, cujos cartuchos foram exibidos por Jornalistas honrados que não temem cães raivosos), me causou uma preocupação inimaginável. O Paraná, a despeito da memória honrada de democratas como Alencar Furtado e Heitor Furtado, terra também dos incansáveis senadores Roberto Requião e Gleisi Hoffmann, tem sido abrigo de justiceiros togados e de procuradores igualmente narcisos como aquele cujo nome lembra o etanol e seu conhecimento limitado o obriga a recorrer a passagens bíblicas e a devaneios desconexos segundo sua (sic) “convicção”, isso sem dizer de um ministro outrora acusado de defender companheiros do MST e hoje surpreende com a sua postura claudicante, de joelhos para a mídia que sempre o destratou.
Sei que a senhora, do alto da generosidade de seu coração, não guarda mágoas dos autoproclamados “paladinos” da ética (dos outros, e seletivamente), responsáveis perante a História pela infelicidade que lhe causou sua passagem precoce, absurdamente comemorada pelos bizarros adoradores de (sic) “mitos”, ídolos de barro, sem qualquer respeito à dor do próximo, como sói a todo hipócrita que atira a pedra e esconde a mão. Como bem escreveu Frei Betto sobre a senhora -- comovente texto lido pelo grande Gilberto Carvalho na celebração religiosa em sua memória --, sua presença discreta em todo momento crucial na trajetória de seu Galego será fundamental neste momento de clausura que lhe foi imposta, não pela Justiça, mas pela intolerância das elites atrasadas e nada patrióticas que usam a bandeira nacional para se envolver, como aqueles seis supremos togados a usar a capa da graúna como instrumento de submissão, tal qual Pôncio Pilatos, e sempre a agradar uma parcela (minoritária) de ávidos, sedentos, patrícios para ver o holocausto da fera nas arenas lotadas por seres imbecilizados e desalmados que se jactam da desgraça do líder que o Povo Brasileiro precisou esperar mais de quinhentos anos para conhecer...
Para encerrar, Dona Marisa, quero, do fundo do coração, pedir desculpas como filho e neto de libaneses pela falta de caráter desse líder da quadrilha que tomou de assalto os destinos da nação com o único afã de entregar todos os  recursos naturais e estratégicos do Brasil, rasgar as principais conquistas consignadas na Constituição Federal de 1988, acabar com todas as políticas públicas implantadas ao longo dos últimos quase catorze anos dos mandatos de seu Companheiro e da Presidenta Dilma e, sobretudo, eliminar o Presidente Lula da disputa pela Presidência em 2018.
Fraternalmente,
Ahmad Schabib Hany

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