CARTA ABERTA PARA DONA MARISA
LETÍCIA
Dona
Marisa,
Permita-me
dirigir-lhe estas linhas no dia de seu segundo aniversário natalício fora desta
existência. Não sei se posso lhe dar parabéns, que a senhora sempre mereceu,
mas -- não por coincidência, mas por pura maldade patológica desse complexado,
medíocre e exibicionista juizeco reprovado duas vezes no exame da Ordem dos
Advogados do Brasil que se valeu de seu querido Companheiro para virar
celebridade, e obviamente sob o pleno conhecimento do Departamento de Justiça
dos Estados Unidos, sem a ciência do Itamaraty e a devida autorização do Congresso
Nacional -- esta data entra para a História, não mais como Dia Mundial da Saúde
ou Dia Nacional do Jornalista (espécie, aliás, em extinção por conta da
epidemia de mau-caratismo disseminada pelos discípulos da nefasta “agenda
sete”, gerada nas usinas do Hemisfério Norte), mas como o dia em que o
estadista que o Brasil revelou para o mundo foi levado preso, por condenação
sem prova material, ao belo e funcional prédio construído durante seu primeiro
mandato -- e aí nada de mágoa ou ressentimento com meganhas e gendarmes cuja
razão de ser é, tal qual cães de guarda, sempre a obedecer ordens superiores.
Tive
oportunidade de conhecer o Presidente Lula em agosto de 1998, na residência do
querido e saudoso Dom José Alves da Costa, então Bispo Diocesano de Corumbá
(MS), onde permanecemos por quase uma hora tratando da agenda do Pacto Pela
Cidadania (o pioneiro, construído em 1994). Éramos apenas quatro interlocutores
(seu querido Companheiro, Dom José, Zeca do PT e eu, que, tal como Dom José,
nunca fui militante petista), o que me permitiu conhecer não apenas sua invejável
inteligência, mas, sobretudo, sua sinceridade: de repente, parecia ser ele um
membro do velho Pacto Pela Cidadania e foi logo perguntando se havíamos feito
algumas cópias do documento que estávamos entregando a ele, para em seguida
dizer: “Fernando Henrique será reeleito no primeiro turno, mas o companheiro
Zeca tem chances de ir pro segundo turno e ser eleito. Entreguem este documento
a ele e aos demais candidatos, que todos precisam conhecer as reivindicações do
povo pantaneiro. Eu vou entregar minha cópia às bancadas do PT na Câmara e no
Senado e aos companheiros de Mato Grosso, que lá também tem Pantanal.” O gesto
impressionou tanto a Dom José quanto a mim, que desde então passei a defendê-lo
em meio a tantos amigos antipetistas, alguns dos quais hoje pensam diferente,
tendo até votado nele.
Não
abusarei de sua sempre gentil atenção dispensada a todos com meu longo relato.
Sei que, como Companheira de toda uma Vida, a senhora conhece como ninguém o
seu querido Galego. Mas estou preocupado, muito preocupado com a “recepção” em
Curitiba: aquelas agressões injustificáveis contra jovens aglomerados na frente
da sede da Polícia Federal, com uso de balas (não sei se reais ou de borracha,
cujos cartuchos foram exibidos por Jornalistas honrados que não temem cães raivosos),
me causou uma preocupação inimaginável. O Paraná, a despeito da memória honrada
de democratas como Alencar Furtado e Heitor Furtado, terra também dos
incansáveis senadores Roberto Requião e Gleisi Hoffmann, tem sido abrigo de
justiceiros togados e de procuradores igualmente narcisos como aquele cujo nome
lembra o etanol e seu conhecimento limitado o obriga a recorrer a passagens bíblicas
e a devaneios desconexos segundo sua (sic)
“convicção”, isso sem dizer de um ministro outrora acusado de defender
companheiros do MST e hoje surpreende com a sua postura claudicante, de joelhos
para a mídia que sempre o destratou.
Sei que a
senhora, do alto da generosidade de seu coração, não guarda mágoas dos
autoproclamados “paladinos” da ética (dos outros, e seletivamente),
responsáveis perante a História pela infelicidade que lhe causou sua passagem
precoce, absurdamente comemorada pelos bizarros adoradores de (sic) “mitos”, ídolos de barro, sem
qualquer respeito à dor do próximo, como sói a todo hipócrita que atira a pedra
e esconde a mão. Como bem escreveu Frei Betto sobre a senhora -- comovente texto
lido pelo grande Gilberto Carvalho na celebração religiosa em sua memória --, sua
presença discreta em todo momento crucial na trajetória de seu Galego será
fundamental neste momento de clausura que lhe foi imposta, não pela Justiça,
mas pela intolerância das elites atrasadas e nada patrióticas que usam a
bandeira nacional para se envolver, como aqueles seis supremos togados a usar a
capa da graúna como instrumento de submissão, tal qual Pôncio Pilatos, e sempre
a agradar uma parcela (minoritária) de ávidos, sedentos, patrícios para ver o
holocausto da fera nas arenas lotadas por seres imbecilizados e desalmados que
se jactam da desgraça do líder que o Povo Brasileiro precisou esperar mais de
quinhentos anos para conhecer...
Para
encerrar, Dona Marisa, quero, do fundo do coração, pedir desculpas como filho e
neto de libaneses pela falta de caráter desse líder da quadrilha que tomou de
assalto os destinos da nação com o único afã de entregar todos os recursos naturais e estratégicos do Brasil,
rasgar as principais conquistas consignadas na Constituição Federal de 1988,
acabar com todas as políticas públicas implantadas ao longo dos últimos quase
catorze anos dos mandatos de seu Companheiro e da Presidenta Dilma e,
sobretudo, eliminar o Presidente Lula da disputa pela Presidência em 2018.
Fraternalmente,
Ahmad Schabib Hany
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