sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

"DE MÃOS DADAS" (OU POR QUE LUÍZA RIBEIRO MERECE TOTAL SOLIDARIEDADE)

DE MÃOS DADAS

(OU POR QUE LUÍZA RIBEIRO MERECE TOTAL SOLIDARIEDADE)

A ex-vereadora Luíza Ribeiro (PPS), de Campo Grande, foi nomeada, há pouco mais de uma semana, para assessorar Roberto Freire, novo ministro da Cultura no governo golpista e antinacional de Michel Temer. No entanto, nove dias depois, Luíza preferiu pedir demissão a ter que se submeter ao constrangimento de ter que se explicar por suas posições políticas em defesa do Estado Democrático de Direito.

Em vez do maniqueísta deboche e apedrejamento – igual, aliás, ao cometido contra a Presidenta Dilma pelos seus algozes –, Luíza Ribeiro é digna de todo apoio, solidariedade total e irrestrita. Por tudo que fez antes e depois dessa malograda nomeação, sobre a qual tenho minhas considerações mas que não vem ao caso. É só lembrarmos que a ex-vereadora, por sinal coerentemente atuante e corajosa (ao contrário de muito misógino-machista que tremeu de medo quando o Puccinelli e assemelhados falaram grosso por não haver obedecido suas ordens), é agente político, e não Madre Teresa de Calcutá.

Reiterando: Luíza merece todo nosso apoio e solidariedade pelo constrangimento a que foi submetida pela maior decepção da história da esquerda brasileira (que, depois de Mikhail Gorbatchev, a maior fraude da história da esquerda mundial), Roberto Freire – que não está à direita, mas em franca decadência –, este espectro de político que simplesmente foi abduzido nos momentos mais decisivos da história nos últimos anos, e reaparece no colo da direita golpista para ocupar um cargo-recompensa sem nunca ter gerido política cultural em seu estado (Pernambuco), do qual se evadiu para a São Paulo de Alkmin, Goldman, Serra e Nicomedes, digo, Aloysio.

Luíza Ribeiro é das pioneiras na política do estado coronelista de Mato Grosso do Sul. Desde o início de sua militância, ainda adolescente e em plena ditadura, foi e é do mesmo partido, o ex-PCB, hoje PPS. Conheci-a ainda adolescente, membro da gestão “Coração de Estudante” na União Campo-grandense de Estudantes (UCE), e com a mesma contundência e convicção foi assumindo funções (e não cargos) por acatar as decisões de seu partido. Assim como Fausto Matto Grosso, Marcelo Barbosa Martins e Carmelino Rezende, o fato de ela ser “do Partidão” encontrou muito mais dificuldades de empreender uma carreira rápida na política (esse é o custo de ser socialista, ainda que de um partido que nos últimos anos tem perdido a sua identidade socialista).

A despeito dos sucessivos erros do PPS (como o próprio PT, o PDT e o PSB, que na ânsia de ganhar eleições, se deixaram descaracterizar ideologicamente nas últimas décadas), particularmente Luíza Ribeiro se revelou uma hábil e competente gestora de políticas públicas durante a primeira gestão do Governador Zeca do PT, quando ela foi secretária de Justiça e Cidadania, bastante elogiada pelo primeiro governador de esquerda da história de Mato Grosso do Sul. Disciplinada, ela somente deixou o governo, ao lado do Professor Fausto Matto Grosso, então secretário do Planejamento, e da vereadora licenciada Célia Costa, da Cultura, por uma decisão do PPS regional, de se afastar de Zeca do PT, embora em todo o Brasil, em 2002, o PPS apoiasse a eleição de Lula à presidência da República, tanto que Ciro Gomes, na época pelo PPS, foi ministro da Integração Nacional.

Execrar, ou permitir execrar Luíza Ribeiro impunemente, é consolidar o atraso, o golpismo, essa misoginia doentia, que vem crescendo, ganhando espaço (inclusive nas últimas eleições) em todos os cantos do Brasil desde que Dilma Rousseff foi golpeada com o maior acinte, como jamais visto na história. Aliás, como ato de desagravo, é preciso acolher essa aguerrida mulher para o interior da grande frente em defesa do Estado Democrático de Direito, do qual também participam outras grandes mulheres como Kátia Abreu, ex-presidente da Federação Nacional da Agricultura e ex-ministra da Agricultura de Dilma Rousseff.

O sectarismo, irmão-gêmeo da intolerância, não pode dar lugar à política de alianças em favor de um novo tempo para o povo brasileiro, a razão de ser da política, do Estado de Direito, da Democracia e, sobretudo, da inesgotável luta por uma sociedade melhor, mais justa, solidária e libertária, qualquer que seja o nome que quiserem dar a esse estágio civilizatório.

Nos sábios versos de Carlos Drummond de Andrade, em “De mãos dadas”: “Estou preso ao mundo e vejo meus companheiros. Andam taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”


Ahmad Schabib Hany

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