DE MÃOS DADAS
(OU POR QUE LUÍZA RIBEIRO MERECE TOTAL SOLIDARIEDADE)
A ex-vereadora Luíza Ribeiro
(PPS), de Campo Grande, foi nomeada, há pouco mais de uma semana, para
assessorar Roberto Freire, novo ministro da Cultura no governo golpista e
antinacional de Michel Temer. No entanto, nove dias depois, Luíza preferiu
pedir demissão a ter que se submeter ao constrangimento de ter que se explicar
por suas posições políticas em defesa do Estado Democrático de Direito.
Em vez do maniqueísta deboche
e apedrejamento – igual, aliás, ao cometido contra a Presidenta Dilma pelos
seus algozes –, Luíza Ribeiro é digna de todo apoio, solidariedade total e
irrestrita. Por tudo que fez antes e depois dessa malograda nomeação, sobre a
qual tenho minhas considerações mas que não vem ao caso. É só lembrarmos que a
ex-vereadora, por sinal coerentemente atuante e corajosa (ao contrário de muito
misógino-machista que tremeu de medo quando o Puccinelli e assemelhados falaram
grosso por não haver obedecido suas ordens), é agente político, e não Madre
Teresa de Calcutá.
Reiterando: Luíza merece
todo nosso apoio e solidariedade pelo constrangimento a que foi submetida pela
maior decepção da história da esquerda brasileira (que, depois de Mikhail
Gorbatchev, a maior fraude da história da esquerda mundial), Roberto Freire –
que não está à direita, mas em franca decadência –, este espectro de político
que simplesmente foi abduzido nos momentos mais decisivos da história nos
últimos anos, e reaparece no colo da direita golpista para ocupar um
cargo-recompensa sem nunca ter gerido política cultural em seu estado
(Pernambuco), do qual se evadiu para a São Paulo de Alkmin, Goldman, Serra e
Nicomedes, digo, Aloysio.
Luíza Ribeiro é das pioneiras
na política do estado coronelista de Mato Grosso do Sul. Desde o início de sua
militância, ainda adolescente e em plena ditadura, foi e é do mesmo partido, o
ex-PCB, hoje PPS. Conheci-a ainda adolescente, membro da gestão “Coração de
Estudante” na União Campo-grandense de Estudantes (UCE), e com a mesma
contundência e convicção foi assumindo funções (e não cargos) por acatar as
decisões de seu partido. Assim como Fausto Matto Grosso, Marcelo Barbosa
Martins e Carmelino Rezende, o fato de ela ser “do Partidão” encontrou muito
mais dificuldades de empreender uma carreira rápida na política (esse é o custo
de ser socialista, ainda que de um partido que nos últimos anos tem perdido a
sua identidade socialista).
A despeito dos sucessivos
erros do PPS (como o próprio PT, o PDT e o PSB, que na ânsia de ganhar eleições,
se deixaram descaracterizar ideologicamente nas últimas décadas),
particularmente Luíza Ribeiro se revelou uma hábil e competente gestora de
políticas públicas durante a primeira gestão do Governador Zeca do PT, quando
ela foi secretária de Justiça e Cidadania, bastante elogiada pelo primeiro
governador de esquerda da história de Mato Grosso do Sul. Disciplinada, ela
somente deixou o governo, ao lado do Professor Fausto Matto Grosso, então
secretário do Planejamento, e da vereadora licenciada Célia Costa, da Cultura,
por uma decisão do PPS regional, de se afastar de Zeca do PT, embora em todo o
Brasil, em 2002, o PPS apoiasse a eleição de Lula à presidência da República,
tanto que Ciro Gomes, na época pelo PPS, foi ministro da Integração Nacional.
Execrar, ou permitir execrar
Luíza Ribeiro impunemente, é consolidar o atraso, o golpismo, essa misoginia
doentia, que vem crescendo, ganhando espaço (inclusive nas últimas eleições) em
todos os cantos do Brasil desde que Dilma Rousseff foi golpeada com o maior
acinte, como jamais visto na história. Aliás, como ato de desagravo, é preciso
acolher essa aguerrida mulher para o interior da grande frente em defesa do
Estado Democrático de Direito, do qual também participam outras grandes
mulheres como Kátia Abreu, ex-presidente da Federação Nacional da Agricultura e
ex-ministra da Agricultura de Dilma Rousseff.
O sectarismo, irmão-gêmeo da
intolerância, não pode dar lugar à política de alianças em favor de um novo
tempo para o povo brasileiro, a razão de ser da política, do Estado de Direito,
da Democracia e, sobretudo, da inesgotável luta por uma sociedade melhor, mais
justa, solidária e libertária, qualquer que seja o nome que quiserem dar a esse
estágio civilizatório.
Nos sábios versos de Carlos
Drummond de Andrade, em “De mãos dadas”: “Estou preso ao mundo e vejo meus
companheiros. Andam taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles,
considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não
nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
Ahmad Schabib Hany
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