sexta-feira, 29 de julho de 2016

EU E MICHEL. MICHEL E EU... (II)

EU E MICHEL. MICHEL E EU... (II)

Agora, falando sério. Tomei emprestado um verso da telúrica parceria Baby Consuelo (depois Baby Brasil) e Pepeu Gomes, intitulada “Barrados na Disneylândia”: “Eu e Pepeu. Pepeu e eu...”

Obviamente, Me(rd)chel T(r)emer é muito mais que aquelas palavras jocosas, próprias da liberdade de expressão. Afinal, nossa geração deu seus melhores dias na ânsia por tempos melhores para todo(a)s, com democracia dentro de um Estado de Direito (e não de direita).

Goste ele ou não, gostem seus aliados de ocasião ou não, ele nunca foi uma referência ou uma unanimidade. Nem no tempo em que o honrado e coerente André Franco Montoro (pai, brilhante deputado, senador da República e governador durante a luta pelas liberdades democráticas) o escolheu para titular da Procuradoria-Geral do Estado, a fim de demonstrar que não nutria qualquer preconceito pelos descendentes de árabes (então estigmatizados pelas figuras associadas à ditadura de Paulo Maluf, Ibrahim Abi Ackel e Alfredo Buzaid). Nascido de quina para a lua, em seis meses do mandato democrático do governador Montoro, virava titular da Segurança Pública de São Paulo, quando, num lampejo de sensatez, criou a primeira delegacia especializada de atendimento à mulher vítima de violência.

Ainda que até então Montoro não se empolgasse pela figura introspectiva de T(r)emer, aconselhado por Quartim de Moraes (seu conselheiro político mais próximo), lançou-o candidato a deputado, apadrinhando-o publicamente. Não se elegeu, mas foi o primeiro suplente. Beneficiou-se mais uma vez pela sorte: eleito Orestes Quercia, desafeto declarado dentro do PMDB, Montoro impôs condições ao seu sucessor no governo de São Paulo, designando alguns cardeais da Câmara para compor o secretariado quercista. Aí T(r)emer ascende à cobiçada vaga de deputado constituinte.

A despeito da sorte que sempre o perseguiu, seu mandato foi, como imaginável, obscuro, medíocre. Próprio da mente obtusa que o caracteriza. Prova disso é que o brilhante Dante de Oliveira, contemporâneo e correligionário (só naquela época) seu, destacou-se como o autor da emenda das eleições diretas para presidente da República (a Emenda Dante de Oliveira) e célebre paladino das Diretas-Já, e ele nada! Na legislatura seguinte, até Geraldo Alckmin consegue alguns minutos de fama com seu projeto de lei que institui o Código de Defesa do Consumidor, e ele nada!

E foi à sombra do quercismo, dentro do PMDB, depois da saída de Montoro do partido de Ulysses Guimarães, que, num gesto de oportunismo, deu um golpe a Quercia, então presidente longevo da histórica legenda oposicionista, mas que se perdera nos meandros do poder durante o reinado Sarney e no turbilhão Collor-Itamar, quando desaparece literalmente o grande timoneiro Ulysses no mar (ironia do destino, logo para quem entrou para a História citando versos de Fernando Pessoa, com “navegar é preciso, viver não é preciso”).

Pois, é. Antes de dar o bote em Dilma Rousseff, ele já dera em Orestes Quercia, que passou a odiá-lo com todo o vigor de sua bílis de descendente de mediterrâneos. Tanto é verdade, que Quercia morreu pactuando com seus inimigos históricos Serra, FHC e Alckmin, apoiando em seu crepúsculo a candidatura bizarra do hoje senador golpista, líder de T(r)emer no Senado, o comunista arrependido Aloysio Nunes Ferreira (atabalhoado seguidor de Carlos Marighela em sua guerrilha urbana nos idos de 1969).

Nem o PMDB de Ulysses (antes e depois da Constituinte; isto é, antes e depois da debandada tucana), nem o de Quercia via essa temeridade com bons olhos. Só Lula e alguns cardeais do PT é que se permitiram enganar com a personalidade ardilosa e nada ética do “discreto” então vice-presidente da presidente Dilma Rousseff em seus dois mandatos. Mas ex-pemedebistas e ex-pessedebistas históricos, hoje fora dessas duas legendas por coerência e razões éticas (entre os quais Fernando Morais e Luiz Carlos Bresser Pereira) nunca se enganaram.

Nada de novo no front. Apenas Calabar e seus asseclas, como sempre, a serviço dos ávidos corsários de além-mar...

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