terça-feira, 26 de dezembro de 2023

QUE PLANETA QUEREMOS DEIXAR PARA AS FUTURAS GERAÇÕES?

Que planeta queremos deixar para as futuras gerações?

É de causar perplexidade o cinismo dos ‘donos do mundo’ ante as calamidades causadas pelas mudanças climáticas e pela concentração de renda. Ganância e cobiça em crescimento exponencial, os membros do ‘clube de Bilderberg’ são donos de simplesmente mais da metade das riquezas do Planeta e estão se lixando para a fome de dois terços da humanidade, as catástrofes ambientais e as vítimas das guerras que eles promovem com as suas armas cada vez mais poderosas e letais.

Desde 1954, os mais ricos do Planeta se reúnem secretamente uma vez ao ano nos mais luxuosos hotéis da Europa ocidental e dos Estados Unidos. Até pouco tempo atrás, as reuniões eram secretíssimas, impedidas aos mais habilidosos jornalistas do mundo. Hoje, cinicamente, não fazem questão de serem vistos, pelo contrário, a ostentação e a empáfia dos herdeiros dessas fortunas nefastas e os ‘novos ricos’, oligarcas corruptos de países que se desprenderam do antigo bloco soviético, fazem até questão de esnobar a riqueza que se apossaram sem qualquer mérito, como, aliás, todos os seus ‘colegas’ ocidentais.

É o tal Clube de Bilderberg, nome do hotel em que se reuniram pela primeira vez há quase 70 anos, em maio de 1954, numa cidade de nome sugestivo chamada Oosterbeek, Holanda. Além da agenda mantida em segredo, os participantes também têm seus nomes sigilosa e estrategicamente guardados a sete chaves. Mesmo assim, alguns jornalistas ocidentais já revelaram a participação, diversas vezes, do mais novo morador do inferno e contra o qual o inominável de lá dizem ter tomado alguns cuidados, Henry Kissinger, de triste memória.

Antes de se tornar candidato, Bill Clinton também já participou dessa trama anual. Idem o ex-premiê britânico Tony Blair. E muitos outros sionistas mais, com ou sem carteirinha. É o passaporte para o poder num ocidente cada vez mais decadente e menos democrático. É a plutocracia ocupando o lugar da democracia, da qual o ocidente sempre quis se dizer representante, zelador e defensor. Pura mentira. Basta ver que suas agendas ao longo das sete décadas de reuniões secretíssimas jamais transpiraram, porque o que se conversa por lá permanece sob censura.

Banqueiros, bilionários, donos de empresas que produzem armas poderosíssimas de alta tecnologia, as poderosas da cibernética dos últimos 35 anos (Microsoft, Google, Meta, X, Apple etc), altos executivos da CIA e congêneres ocidentais, e por aí afora, o que têm em comum para tratar em reunião a sete chaves? Cobiça, saque, pilhagem, guerras fraticidas e outras coisas que os reles mortais não podem ficar sabendo. Uma coisa é certa: jamais discutiram sobre as causas das mudanças climáticas, da ajuda humanitária às populações vítimas das catástrofes ambientais e dos conflitos bélicos fartamente promovidos por seus produtos nefastos, fonte de sua opulenta riqueza mal havida.

Não sejamos ingênuos. Desde as Grandes Navegações (ou mercantilismo), quando começou a acumulação capitalista na Idade Moderna -- e, portanto, o ‘capetalismo’ se alastrou na face da Terra, esses senhores ‘de bem’ ganham verdadeiras fortunas com as tragédias humanas: escravidão dos povos africanos, saque, destruição das culturas e colonização de mais de dois terços do Planeta (América, Ásia, África e Oceania). A Europa saiu da miséria, da fome e da sujeira (a chamada ‘peste negra’ era uma epidemia causada por ratazanas e pela falta de asseio dos europeus, aliás, nada chegadinhos a banho diário, enquanto seus ‘colonizados’ tomavam banho várias vezes ao dia!) graças às batatas, mandiocas, cacau e milhos roubados dos povos originários da nossa América. E como eles recebem hoje seus descendentes ibero-americanos, africanos e árabes? Da mesma forma que duzentos anos atrás: no chicote, na ponta do sabre! O povo palestino que o diga. Sua coragem e fidalguia têm lhe custado milhares de Vidas, sobretudos de sua infância e juventude.

Em seu último programa da temporada, o Jornalista Caco Barcellos mostrou o esforço dos povos tradicionais e originários amazônicos para desenvolver uma economia sustentável na floresta amazônica, enquanto os ‘amiguinhos’ do inominável promoveram verdadeira e sórdida pilhagem em todo o território da Amazônia, sobretudo com a contaminação por mercúrio dos rios e baías e a derrubada de milhões de hectares de árvores nativas pelos fora de lei protegidos pelos ‘patriotas’, inclusive de fardas farsantes.

O mais triste e curioso é que fantoches, títeres e marionetes nada inteligentes têm servido de ‘alternativa’ para uma população burra, egoísta e deliberadamente desinformada em nossos tempos nada promissores. Como gado marcado, as hordas estúpidas e destituídas de qualquer pingo de humanidade saem como estouro da boiada, sem qualquer raio de lucidez, a fazer qualquer ato desmiolado que depois juram e perjuram não terem tido tal propósito. Com a mesma leviandade com que atentam contra a Vida, fonte de direitos, lá estão elas e eles a pedir clemência, por serem ‘cidadão(ã)s de bem’, afinal, ‘ele(a)s’ têm ‘pedigree’, sim senhor!

“¡Ni Dios, ni ley!” Aliás, “¡ni Dios, Milei!”. É como agora os argentinos andam se referindo ao inominável de lá. Só que, diferentemente que no Brasil, o inominável deles não encerra o mandato dele, porque os argentinos têm essa tradição, que não é de hoje: todos os tiranetes saíram da Casa Rosada por linchamento ou por revoltas populares, não muito diferente que na Bolívia (que em 1947 pendurou no poste mais próximo do palácio presidencial o major ditador Gualberto Villarroel e a multidão enfurecida ateou fogo no palácio, daí o nome “Palacio Quemado”). Só lembraremos dos que antecederam Néstor Kirchner: Fernando De La Rúa e Eduardo Duhalde, que tiveram seus mandatos interrompidos pela multidão enfurecida, e nada a ver com a vergonhosa defecada das hordas fascistas que, em vez de cérebro, têm suas vísceras bastante competentes nestas terras generosas que nos últimos anos foram envenenadas pelos robôs da laia do Donald Trump e de seus fantoches inomináveis.

Agora, cá pra nós, temos que reconhecer e parabenizar infinitas vezes pela parcimônia e candura com que o Estadista Luiz Inácio Lula da Silva governa. Sabe da má-fé explícita das malditas ratazanas do ‘centrão’, verdadeiros fora de lei, canalhas cínicos, serviçais do inominável e prontos para, como hordas de hienas funestas, cair matando a qualquer momento. Não sei de onde consegue reunir uma paciência de Jó e os trata com dignidade, civilidade, como que acreditasse piamente em sua boa-fé, seu ‘patriotismo’.

Tão mefistofélicos quanto as garatujas do tabernáculo do mago Merlin, esses indivíduos cuja gênese está nas motociatas do inominável em seu longo e pernóstico desgoverno. Em nada devem aos mais vis seres da face da Terra. São verdadeiramente medievais, grotões, sórdidos e peçonhentos. Cortar as verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para inflacionar as ‘verbas impositivas’ -- canalhice inventada no absurdo tempo de Eduardo Cunha, de triste memória, responsável pelo golpe contra Dilma Rousseff -- é algo digno de repúdio, como igualmente a redução das verbas de alguns programas sociais como o Farmácia Popular. Os dois tiveram as suas verbas reduzidas para inchar a dinheirama da demagogia parlamentar que se finge de democrática, mas não passa de pilhagem contra o Estado Democrático de Direito.

Mas não é só. O senador que preside a outra casa, ex-aliado do inominável, anda de amores com os órfãos e viúvos do dito cujo e, depois de algumas traquinagens contra os membros do Supremo Tribunal Federal e o Marco Teórico das Terras Indígenas, volta com seu pote de maldades prevendo alguns casuísmos como fixação de mandato aos membros da mais alta corte do Judiciário, fim da reeleição ‘y otras cositas más’. O Presidente Lula é hábil o suficiente para conter essas hordas, mas vai ser preciso que setores organizados da sociedade civil vão às ruas e ponham sua cara: não dá para deixar que vândalos fascistas continuem a atentar, de maneira discreta, as bases do Estado Democrático de Direito. A luta do Doutor Ulysses Guimarães não pode ser vandalizada, seu legado não pode ser achincalhado. Alvíssaras, alvíssaras, habemus Cidadania: feliz e saudável 2024!

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

PARA HUMANOS DE BOA-VONTADE

Para humanos de boa-vontade

Pela tradição cristã ocidental, o 25 de dezembro é o Dia de Natal e a todos os humanos e as humanas de boa-vontade cabe celebrar o nascimento do Menino Jesus. Momento de paz e união sobre toda a Terra, que precisa reencontrar o caminho da concórdia e da esperança para homenagear o Peregrino de Belém, de Nazaré e de todos os recantos deste convulsionado Planeta.

O Natal é mais que uma data festiva: é a celebração da Vida, com plenitude e, sobretudo, a caridade ensinada pelo Peregrino de Belém, de Nazaré e de todos os recantos da Terra, dois milênios atrás. Ao abolir a lei de Talião, Jesus ensinou que sua Mensagem de paz e concórdia representa a base dos ensinamentos em uma nova etapa de Vida e comunhão.

À Luz do legado de caridade, paz e infinita humildade, a Doutrina Cristã, sobretudo em seus primeiros três séculos e, mais recentemente, depois da Rerum Novarum (Encíclica do Papa Leão XIII), em fins do século XIX, se afirmou como mensageira de um novo tempo, em que a proteção aos mais vulneráveis em uma sociedade voraz se torna um reencontro com os cânones do cristianismo. Com a Mater et Magistra, do saudoso Papa João XXIII, quando da opção preferencial pelos pobres, e a importante Teologia da Libertação pela Igreja na América Latina, houve um indiscutível encontro com o povo trabalhador.

Atrevo-me a propor modesta reflexão em tempos de extremo egoísmo e insensibilidade atiçados por seitas pseudocristãs disseminadas pelo chamado ‘sionismo cristão’ (sic) há quase dois séculos. Estas seitas ignoram o generoso ensinamento de Jesus e insistem em resgatar concepções vigentes no tempo da lei de Talião, do ‘olho por olho, dente por dente’. Não pretendo enveredar por esta discussão estéril, mas é importante refletir sobre os descaminhos dessas concepções medievais e extemporâneas.

Por conta disso compartilho com o paciente leitor o que minha memória permite da longa e fecunda Amizade com os queridos e saudosos Padre Antônio Secundino, Padre Emilio Zuza Mena, Dom José Alves da Costa, Padre Ernesto Saksida, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Pastor Antônio Ribeiro, Padre Pasquale Forin e Padre Oswaldo Scotti. Em diversas ocasiões tomei a liberdade de conversar sobre temas doutrinários da Fé Católica e do Legado de Jesus com esses Amigos que me permitiram uma, diria, consistente aula sobre a Doutrina Cristã, além de noções, ainda que rudimentares, de Hermenêutica e Exegese.

Uma das inúmeras dúvidas que guardamos ao longo da vida sobre versículos bíblicos é Lucas, 2:14 (“Glória a Deus nas alturas, paz aos homens de boa vontade.”), que, conforme a tradução, pode ganhar outras versões. Mas na essência, segundo esses queridos Amigos, homens, ou melhor, humanos de boa-vontade corresponde (a locução) aos seres amados, que têm méritos, e portanto dignos de Sua bênção. Dessa compreensão ampla e inclusiva, no contexto do legado de Jesus, sobretudo todas as crianças são merecedoras desse Amor, portanto, dignas de Sua bênção.

Toda vez que me encontrava com o querido e saudoso Pastor Cosmo Gomes, reverendo que celebrava os cultos na Escola Batista de Corumbá em 1969, quando tive o privilégio de ser aluno da Professora Irlene Maria dos Santos, eu o cumprimentava com João, 3:16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito para todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a Vida eterna.”). Daí nasceu a vontade de comentar versículos bíblicos com esses Amigos queridos.

Assim, à medida em que ia amadurecendo e ganhando novos Amigos ao longo da Vida, eu conquistei a liberdade de perguntar-lhes e pedir para que melhor me esclarecem sobre os diversos versículos, entre os quais compartilho com o(a) leitor(a). Aliás, a pedido da Amiga Professora Carmen Chamoun Calazans, do Rio de Janeiro, é que me enveredei neste tema. Ela, católica neta de libaneses, me sugerira escrever uma intervenção de Natal neste duro momento em que a Terra Santa é alvo das agressões do Estado sionista.

Intervenção de Natal

2023 anos depois de o Menino Jesus ter nascido numa manjedoura, em Belém, Palestina, jurado de morte por Herodes, que não queria seu reino ameaçado pelo Messias, a Terra Santa e toda a humanidade testemunham perplexas e indignadas mais um extermínio de crianças inocentes, inofensivas e indefesas: cada 10 minutos uma criança em Gaza tem a sua Vida ceifada impunemente.

Pior: com a conivência das maiores potências econômicas e militares do Planeta, que cinicamente se proclamam “democráticas”. Não é Natal! Não é Noite de Paz!

Não, não são inocentes pombos os que sobrevoam, feito abutres, os casebres e tendas entre escombros e sobre cadáveres insepultos de milhares de crianças, mães e avós. Ou os seus restos, fragmentos dispersos entre os escombros.

São moderníssimos caças da ‘sagrada’ (?!) Força Aérea do Estado sionista criado em 1948 sobre o território da Palestina milenar. É a ‘tecnologia de ponta’ a serviço do jugo, do saque, da opressão e da morte. Bilhões de dólares gastos contra a vida e em favor da fome, da miséria e da injustiça!

“Porque muitos serão chamados, mas poucos escolhidos.” (Mateus, 22:14)

Como nos tempos do império romano, dois milênios depois há o império americano a acobertar os Anás, Caifás e Pilatos da atualidade. Biden, Netanyahu e Cameron são os carniceiros de Gaza -- tais quais Hitler, Mussolini, Salazar e Franco em dezembro de 1944 -- a comemorar sobre o manto de sangue inocente a jorrar incessante e impunemente, mas desta vez sob os holofotes dos cúmplices dos poderosos oligopólios midiáticos, que criminalizam as vítimas em nome de uma nova ordem mundial sanguinária, injusta e genocida.

Por que as crianças impiedosamente mutiladas, feridas e assassinadas têm que pedir desculpas por existir? Sob qual perversa lei ou crença racista elas têm que ser condenadas ao extermínio, em nome de qual nefasta civilização, ignóbil progresso e maldita ideologia supremacista?

Não em nosso nome! Não em nome da ONU! Bem ou mal, ela ainda representa o concerto das Nações depois da tragédia que foi a Segunda Guerra Mundial, em que não só a Alemanha nazista cometeu crimes de lesa-humanidade. Entre outros, os Estados Unidos também cometeram. Ou já nos esquecemos das duas bombas atômicas despejadas sobre a população civil, inofensiva e indefesa, de Hiroshima e Nagasaki?

“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E que quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus, 25:35-40)

Feliz Natal para os justos! Feliz Natal para os que têm os ensinamentos de Jesus em seu coração e praticam o Amor e a Caridade universais!

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CONQUISTAS E DESAFIOS

Conquistas e desafios

Mais que modesta e despretensiosa avaliação, pretendo propor sincera reflexão sobre 2023, um ano com imensas adversidades, cujos desafios são sempre possíveis quando se tem paciência histórica e convicção fundamentada.

À medida que 2023 vai fechando o transcurso, são inevitáveis as reflexões (não avaliações) sobre o que foi feito neste interregno. Tomo a liberdade de compartilhar com o generoso leitor que não há qualquer pretensão deliberada de fazer uma ‘retrospectiva’ cronológica e muito menos política nesta modesta iniciativa.

Embora seja indiscutível a sensação de frustração explícita nos semblantes de Amigo(a)s e Companheiro(a)s de labuta em relação a este ano, permito-me divergir da maioria deles: somos todo(a)s vitorioso(a)s, de início, por simplesmente termos chegado até aqui com Vida e lucidez suficientes num tempo de tanta pusilanimidade solta, nas palavras do ator Othon Bastos quando entrevistado por Pedro Bial, ex-repórter de ‘O Pasquim’ (em sua fase decadente, é verdade, mas que, depois de tanto equívoco, parece ter encontrado seu rumo).

E apenas para situar os jovens que ainda conservam o hábito salutar de ler, Othon Bastos, hoje com 90 anos, é um dos mais emblemáticos atores brasileiros vivos. A despeito de ter estreado em 1962 com o premiado ‘O pagador de promessas’, foi com o emblemático filme ‘Deus e o Diabo na terra do sol’, de Glauber Rocha, no papel do inesquecível Corisco, um jagunço com que marcou o cinema brasileiro no mundo inteiro. Aliás, Othon explica que ator não apenas ‘representa’ a personagem, como dá vida à personagem que representa em uma telenovela, filme ou peça teatral, como o Mestre Bertolt Brecht ensinou.

É preciso recorrer à sabedoria dos mais vividos ou daqueles que vieram antes de nós para poder compreender um momento da História da humanidade tão adverso, perverso e, pior, cínico. Em pleno século XXI, além das hordas fascistas que se espalharam pelo Planeta tal como o novo coronavírus na pandemia de covid-19, temos os caquéticos ‘donos do mundo’ que insistem em não reconhecer que não vivemos mais em tempos coloniais e subjugam a espécie humana a rastejar perante eles ou condená-los, por rebeldes, como ‘terroristas’.

Como contraponto, pelo menos, tivemos a constatação de que o Brasil tem o patrimônio político nacional como o maior Estadista (maiúscula, por favor) do primeiro quartel deste século. O Presidente Lula, para desespero e pânico dos e das recalcadas, continua a ser reconhecido como um dos maiores líderes da humanidade. A despeito disso, consoante à inconsistência de caráter e cosmovisão distorcida, nossa embolorada casta tupiniquim (na verdade, colonizada, pois sequer tem ascendência de nossos sábios povos originários) vive a torcer contra o Brasil só para, egoísta e mesquinhamente, se jactar com as eventuais derrotas do líder que o Brasil levou 500 anos para revelá-lo para o concerto das nações.

Só um líder com as dimensões políticas do Estadista do Século é que poderá promover a bom termo a transição pacífica e proativa para os novos paradigmas do desenvolvimento sustentável no contexto das mudanças climáticas. Só Lula tem legitimidade política para assegurar a conservação do Estado Democrático de Direito. É o Estadista maior de nosso tempo o dignitário que oferece condições de conduzir a América Latina, e por extensão o chamado Sul Global (antigo ‘Terceiro Mundo’), para nova ordem internacional, baseada tão-somente em relações multipolares, e não nos caprichos colonialistas de uma Europa embolorada e um império estadunidense carcomido pela sordidez da arrogância, do supremacismo e da cobiça.

Internamente, só um conciliador hábil e progressista como ele poderá fazer o Brasil se reencontrar com a plenitude democrática. Porque, ficou provado nestes anos de governos golpistas -- ou melhor, de desgovernos --, que a direita não tem agenda propositiva nem capacidade política para construir uma agenda com suas bizarras bandeiras. Simplesmente todos -- reitero: TODOS -- os pretensos ‘lideres’ (de si mesmos) são incapazes de promover a necessária superação da inércia que eles mesmos provocaram deliberadamente.

Se no desgoverno do inominável já não tinham qualquer conjunto de propostas para fazer com que houvesse um mínimo de governabilidade, agora na oposição está constatado que são tão incompetentes que sequer sabem fazer oposição. Não sabem o que é estratégia e, muito menos, tática. Qualquer neófito saberia, até por intuição, propor questões básicas para fazer de conta que tem empatia ou que, de fato, se preocupa com o povo brasileiro.

Mais grave: feito biruta de aeroporto, o que resta dos ‘líderes’ do inominável -- inclusive seus descendentes -- são tão desqualificados que agem por impulsos, o que os torna nada representativos de uma direita à deriva, sem eira nem beira. Um fiasco. Isso foram sete anos de golpismo, a bem da verdade com o único intuito de pôr na ilegalidade a esquerda, ou pelo menos o Partido dos Trabalhadores (PT). Não só não tiveram competência nem habilidade, como exatamente por isso fortaleceram suas consignas, suas bandeiras. Hoje o PT volta a ser a principal legenda política e qualquer saída política passa por ele.

Mas, além das importantes conquistas protagonizadas, há desafios abissais. E da solução deles decorrem os próximos passos, tanto na conquista de novos horizontes nacionais e continentais (a esta altura planetários) como de não menos importantes avanços do dia-a-dia, de nosso cotidiano popular: o processo vertiginoso de desmonte do Estado e das políticas públicas sociais, sanitárias, educacionais, ambientais, tecnocientíficas, culturais e, sobretudo, interdisciplinares rumo a um novo paradigma de sustentabilidade climática foram esfaceladas, destruídas sem dó nem piedade.

Isso, aliás, obriga a sociedade civil, com base na participação popular (social ou pública), recomeçar a se mobilizar para retomar todas as pautas de protagonismo cidadão perdidas. Mais que isso: em parceria com o Ministério Público, será preciso reconquistar a autonomia dos lóqui (ou melhor, de cada lócus, conselho, um a um), sem judicialização (ao contrário, com muita habilidade e sem aflorar antagonismos). É a melhor manifestação de respeito pelas novas gerações, pois o Estado Democrático de Direito foi construído, passo a passo, mediante compromisso ético, público e político, focado nas gerações vindouras.

Diante deste contexto muitas vezes desestimulador e adverso a toda empatia e cosmovisão cidadã, cabe a todas as pessoas sinceramente comprometidas com o País e todo o Planeta arregaçar as mangas e com muita prudência, humildade e ponderação ocupar os lugares esvaziados pela cidadania nestes derradeiros sete anos de sortilégios, negacionismo e obscurantismo intolerante. É a hora do reencontro com o porvir, com a esperança cívica, com nossa infância e juventude, até para que ela consiga assegurar as conquistas cidadãs para as próximas gerações.

O caminho se faz ao caminhar. É o que a Vida ensina. É o que a História demonstra.

Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

QUEM, MESMO, É TERRORISTA?

Quem, mesmo, é terrorista?

A troco de que os oligopólios midiáticos se submetem ao descrédito e, sabendo que hoje não dá mais para enganar, teimam em fazer ‘reportagens especiais’ para deslegitimar o direito do povo palestino de conquistar a sua liberdade e sua soberania?

Como nefasto mantra, todo domingo a Globo dos Marinho -- como as concorrentes Record de Edyr Macedo, SBT de Senor Abravanel, CNN de Rubens Menin, a TV! de Amilcare Dallevo Jr. e, pasme, a Band de Johnny Saad, durante a semana --, ‘didaticamente’ vai incutindo, como propaganda subliminar, de modo ardiloso, que o povo palestino e os demais povos árabes são um bando de fora da lei. Parabéns pelo serviço: nos tornamos terroristas miseráveis e que não merecemos viver; fanáticos muçulmanos sem compaixão e tirânicos; seres fora da realidade, atrasados, indignos de estar no concerto das nações.

Será que somos tudo isso? Fomos nós os que jogaram a bomba atômica sobre a população inocente e indefesa de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, quando o Exército da União Soviética já havia imposto derrota acachapante dentro de Berlim, onde o nefasto Hitler preferiu se dar um fim a ter que responder pelos seus crimes de lesa-humanidade? Fomos nós os que, para pressionar os revolucionários do Vietnã do Norte a fazer uma saída ‘honrosa’ e maquiar a derrota dos Estados Unidos pondo fim à guerra do Vietnã, em 1973, aniquilaram mais de 50 mil civis cambojanos, sob a batuta de Henry Kissinger, vencedor do Nobel da Paz (dos túmulos) naquele ano? Fomos nós os que, em Gaza, massacram (ou apoiam), ao vivo e sem dó, mais de seis mil crianças, quinze mil civis (mulheres e idosos) e bombardeiam com requintes de crueldade hospitais, escolas e templos religiosos onde tentam se refugiar os desabrigados e expulsos de suas casas transformadas em escombros?

Além da Palestina milenar, há outros 23 Estados árabes e uma quantidade maior de países de maioria muçulmana que sistematicamente a tal ‘imprensa profissional’ (sic), usando a ‘ética profissional’ (toc, toc, toc!), impune e sordidamente, vive a difamar, caluniar, ofender, tripudiar.

A troco de quê?

Se a História está repleta de fatos eloquentes da generosidade e abnegação dos árabes, fossem eles da Ásia Ocidental, África Magrebina ou Península Arábica. Ou por que templos e bibliotecas das três religiões monoteístas mais populosas estiveram preservados integralmente por milênios enquanto palestinos cuidavam desses patrimônios da humanidade na Terra Santa? Por que os reinos católicos da Península Ibérica (Castela, Aragão e Portugal) foram pioneiros nas Grandes Navegações pós-tomada de Constantinopla pelos turcos (fato que marca o fim da Idade Média), quando árabes muçulmanos (‘mouros’) haviam permanecido entre 800 e 300 anos na Península, sem colonizá-la ou impor sua língua, religião e cultura, diferentemente deles (europeus) que em 300 anos colonizaram, ‘catequizaram’, escravizaram, saquearam e impuseram a ferro e fogo sua dominação, promovendo genocídios e etnocídios na América, África, Ásia e Oceania?

Qualquer estudante do ensino fundamental aprende na História que o Renascimento europeu contou com o generoso legado dos árabes, que como em bandeja de ouro compartilharam irmãmente a Filosofia, História, Letras, Ciências, Química (proibida por ser considerada "bruxaria"), Matemática (Aritmética e Álgebra), Geometria, Física, Engenharias, Arquitetura, Geografia, Astronomia, Cartografia, Navegação, Geologia, Biologia, Medicina, Anatomia (também proibida por razões da Doutrina Cristã medieval, que considerava o corpo sagrado por ser feito à semelhança de Deus), Direito, Gramática, Semântica etc. Além disso, concepções metodológicas fundantes como o Humanismo, Heliocentrismo e a Dialética de Heráclito de Éfeso, que sofreu apagamento total com a "cristianização" da escola de Sócrates. Enquanto os europeus queimavam bibliotecas e os centros de saber clandestinos, os árabes resgatavam a rica herança cultural dos diversos povos da Antiguidade a que tiveram acesso.

Quem eram, senão árabes, a proteger judeus durante as Cruzadas e, sobretudo, na ‘Santa’ Inquisição, de triste memória? Basta ler e constatar na História a rota de fuga dos judeus perseguidos na Europa como hereges ou pagãos. Ao lado dos ‘mouros’, lá estavam sob sua proteção os judeus, que então faziam questão de resgatar sua origem semita comum. Os sionistas, a partir de fins do século XIX, mudaram sua maneira de compreender os árabes, que passaram a ser vistos como ‘selvagens’, na ótica eurocêntrica e supremacista colonial. Até porque, diferentemente do século XVIII, ‘das luzes’, o século XIX foi marcado pelo retrocesso nacionalista europeu e, sobretudo, pela manipulação da ciência para embasar as piores ideologias racistas, supremacistas brancas, como a eugenia e a ‘ciência’ racista.

No começo do século XX, quando em território europeu os facínoras europeus Adolf Hitler, Benito Mussolini, António Salazar e Francisco Franco empreenderam ferrenha perseguição contra judeus pobres, ciganos, comunistas e pessoas com algum tipo de deficiência ou mutilação, naquela ótica eugenista de atentar contra a dignidade humana, os árabes (e particularmente os palestinos) receberam de braços abertos centenas de judeus em fuga para a Palestina, cuja libertação do jugo colonial turco havia sido prometida em carta oficial do governo britânico por meio de J. Lawrence (o ‘Lawrence da Arábia’). Não só não cumpriram os britânicos, como deixaram uma herança maldita que ameaça a existência do povo palestino desde 1947, vítima de política de extermínio e limpeza étnica realizada pelos sionistas.

Hoje, com a internet (e apesar das hordas criminosas de fakenews), até o mais desatento cidadão da Terra já se deu conta da nada inteligente estratégia sórdida da imprensa pró-sionista de que as ‘reportagens especiais’ atendem à vontade dos que se pretendem donos do destino da humanidade. Os mesmos, aliás, que fabricam e vendem armas e tecnologias de ponta para matar ‘com precisão cirúrgica’, ‘civilizadamente’; que produzem alimentos envenenados para encher de doenças a imensa população do Planeta; que são os principais responsáveis pela emissão de gases que causam as mudanças climáticas e pela fome no Mundo, desde o início da industrialização e nos imemoráveis tempos do comércio de pessoas escravizadas trazidas à força do continente africano (em mais de 250 anos, mais de cinco milhões de pessoas, segundo dados conservadores, que alimentaram o vergonhoso ‘comércio negreiro’ (sic) e a acumulação do capital pela burguesia pelo mundo).

Sempre em nome da ‘fé’, da ‘civilização’ e do ‘progresso’ (deles, de seus bolsos e bolsas, da cobiça, avarismo e sovinice), esses senhores de olhos azuis que em suas mochilas carregam os cadáveres de inocentes indefesos e inofensivos, sobretudo da infância (como compôs Alberto Cortez em "Sabra y Chatila", de 1983) se apressam a acusar e condenar sumariamente as vítimas de suas atrocidades da forma mais aviltante e cínica.

Até a sua tese de que a ‘única democracia existente na região’ é o Estado sionista criado em 1947 sobre o território milenar da Palestina -- sem autorização dos habitantes e suas autoridades e sem qualquer consulta prévia à população, como que ela não existisse (o ‘slogan’ sionista era ‘uma terra sem povo para um povo sem terra’) -- não se sustenta mais: tem seus dias contados, como a África do Sul do apartheid, de triste memória. Aliás, a Resolução 3379/1975 da ONU, que igualava o sionismo ao apartheid como forma de racismo, foi derrubada pelo ‘lobby’ sionista no início da década de 1990, sob pretexto de abrir as negociações para o famigerado Acordo de Oslo, que também não contou com a realização de um referendo ao povo palestino.

Como assim? Pode haver ‘democracia’ sobre um povo oprimido, subjugado, excluído, saqueado, expulso de suas casas, seus campos, suas plantações, sua pátria, sua cultura, sua culinária, suas danças e sua história, silenciado e invisibilizado e destituído de sua identidade e soberania? Condenado a ser apátrida, errante, desterrado aos milhares, aos milhões, desde 1947, portanto, há 76 anos? Que ‘democracia’ cínica é essa? Não é a das Escrituras, não, porque, para desespero dos sionistas, os árabes também são semitas, descendentes de Abrão pelo tronco de Ismael, e os sionistas não têm como ‘reformar’ o Velho Testamento, ou Pentateuco.

Mas, digam-nos, Marinho, Macedo, Abravanel e Saad (e também Mesquita, Frias e Civita), por quê? Por que enveredar por uma falácia, enredo contraditório que depõe contra o bom Jornalismo? Qualquer patrão deveria sentir-se lisonjeado de ver seus repórteres veteranos, como Renata Capucci e Álvaro Pereira Júnior, reconhecidos, e não estigmatizados por uma pauta que seus chefes lhes impuseram, desavergonhada e cínica. Até quando? Vimos isso entre 2013 e 2018 no Brasil e sabemos como acabou, a História ainda não cobrou sua conta e os Civita então foram os primeiros a pagar pela imprudência de ter transformado a revista de credibilidade criada por Mino Carta e equipe pioneira em desacreditado panfleto semanal que ninguém mais compra, porque é sabidamente vendido.

A História está repleta de fatos e processos históricos em que não há império que consiga se perpetuar. O mais poderoso deles, o romano caiu mesmo depois de quase um milênio, como caíram o britânico e o francês ainda antes de 1945. O estadunidense, até por essa obsessiva cumplicidade com o sionismo está prestes a desabar, já não se sustenta, basta ver a dívida impagável que administra há décadas. Aliás, essa é a verdadeira razão de se colar ao sionismo, sua face mais perversa e pervertida. Mas cairá, mais cedo ou mais tarde. Se na primeira metade do século XX a chamada Quinta Coluna nazista (a SS e tentáculos) estava em toda parte e não conseguiu evitar a queda do Terceiro Reich, os Estados Unidos e a União Europeia, com os membros da OTAN e Israel, não conseguirão manter a farsa por muito tempo.

A humanidade está farta da opressão, exploração, miséria e agora as tragédias climáticas que agravam a pobreza e a fome. Enquanto eles mentem desavergonhadamente, o Planeta reage com indignação e protagonismo, porque passou da hora de parecermos gado rumo ao abatedouro sem nos rebelar. O Planeta nos pertence a todos por direito, libertá-lo dos opressores e exploradores é um dever, sobretudo para as futuras gerações. Podem tentar nos ameaçar, até nos amordaçar, mas somos bilhões, inclusive de famélicos e excluídos, e saberemos dar o troco no momento certo. Entre outros anos emblemáticos, estão 1789, 1848, 1917, 1949, 1952, 1959, 1975 e, no caso do Brasil, 1988 e 2023, a nos inspirar.

Ahmad Schabib Hany