segunda-feira, 12 de setembro de 2022

ANTHONY GOMES OU CIRO GAROTINHO?

Anthony Gomes ou Ciro Garotinho?

Ciro Gomes está cada dia mais parecido ao então candidato Anthony Garotinho, que na campanha de 20 anos atrás veio com uma pegadinha ao então candidato Lula, a propósito da CIDE (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico). Nem assim Garotinho conseguiu ganhar as eleições de 2002...

É indisfarçável o esforço sobre-humano de Ciro Gomes (PDT) de aparentar ser um sabe-tudo. Essa estratégia -- por sinal, malsucedida -- já havia sido adotada por Anthony Garotinho (ex-PSB), ex-governador do Rio de Janeiro que renunciara ao cargo para tentar eleger-se presidente da República. A jogada de mestre do então candidato era humilhar o líder das pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último debate entre os presidenciáveis de 2002.

Não é preciso dizer quem foi o vencedor daquelas eleições. Primeiro porque a soberba é de longe antipática. Se Garotinho teve seus segundos de regozijo durante o debate, Lula faturou muito mais ao demonstrar humildade e não se abalar com o constrangimento provocado pelo arrogante ex-aliado, até porque em 1998 ele e a então governadora Benedita da Silva (PT) foram companheiros de chapa e governaram juntos o Rio de Janeiro entre 1999 e 2002.

Obcecado pela Presidência da República, Anthony Gomes -- ou seria Ciro Garotinho? -- não consegue enxergar um palmo à frente de seu nariz. Comporta-se como aquele rapaz que, feito o “cuca-de-ferro” (o popular CDF) das escolas brasileiras de outrora, exibido e chato, que atordoa a todos com seu exibicionismo barato. Em vez de conversar com os seus interlocutores, parece querer convencer a si mesmo com suas ideias mirabolantes e passa o tempo todo esnobando um conhecimento que não coaduna com o momento: um candidato precisa estar conectado à realidade, ao que o povo que está em sua frente quer ouvir.

O ex-ministro da Integração Nacional de Lula em nada lembra o gentil e inovador gestor do processo de enfrentamento do desequilíbrio regional, avalizado por Lula, que tanto marcou o Brasil desde os tempos coloniais. Ciro hoje se comporta como um coronelzinho nordestino na ânsia de conquistar de qualquer jeito um objeto cobiçado. Ora, ele, que troca de partido e de companheira como quem troca de camisa, está cada vez mais parecido ao inominável, e, portanto, mais longe da desejada Presidência da República. Ou muda de postura, ou vê mais uma vez o bonde da história passar...

Enquanto Ciro perde esse precioso tempo, Simone, ao estilo clássico do ‘brimo’ Paulo Salim Maluf, vai ‘comendo’ o mingau pelas bordas e repetindo a fábula do ‘batrício esberto’ (como Michel Temer também): resgatando o estilo de mascate de seus ancestrais árabes, Simone se livrou logo da parceira e conterrânea Soraia para não insistir com a dupla nem tão sertaneja Simone & Soraia, e partiu para sua atuação solo, proativa e de voo alto, bem ao estilo das águias (é verdade, são aves de rapina, mas voam alto e não têm ‘dòzinha’ de ninguém).

A ‘terceira via’, que corria o risco de ver seu sonho não vingar, vê estas poucas semanas de setembro como sua grande chance de ficar, ao menos, em terceiro lugar. É difícil? Sim e não... Mas ela não desiste. Nem os tucanos e ex-comunistas do Cidadania, que projetaram sua candidatura. É que eles, por razões doutrinárias, não querem deixar de lavar a alma depois de verem o desastre que foi a aventura de apostar todas as possibilidades no ‘brimo’ Temer: a turma da caserna levou a sério o golpe e deu uma rasteira aos amigos de Aécio Never, e deu no que deu -- o lobo solitário saiu da caixa de Pandora e detonou qualquer chance da socialdemocracia se afirmar como alternativa.

Tanto é verdade, que o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, um dos fundadores do PSDB em 1988, decidiu agir com o cérebro. Mesmo tendo sido adversário na maioria das eleições de que participou (apenas na do segundo-turno de 1989 apoiou Lula contra Collor, enquanto Lula apoiou Covas e Alckmin contra Maluf em 1998), Alckmin, do alto de sua maturidade política, decidiu ser vice na chapa de Lula, e com desenvoltura vem crescendo no arco de alianças que visa uma governabilidade sustentável.

Agora, nivelar Lula ao inominável é mais um flagrante desserviço à democracia e ao Estado Democrático de Direito. Primeiro, porque Lula não é um caudilho movido pelo messianismo, como é o inominável. Segundo, ao contrário do atabalhoado inquilino do Planalto, ninguém pode duvidar da capacidade de gestão e da sensibilidade social do até agora maior estadista brasileiro do século XXI (gostemos ou não dessa realidade -- como, aliás, não gostavam do fato de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e até Ernesto Geisel terem perfil de estadistas, dos quais Getúlio e Juscelino despontavam de longe).

Mais uma vez, caberá aos verdadeiros democratas a reafirmação do Estado Democrático de Direito, conquista de diversas gerações que deram seus melhores anos (quando não a própria Vida): ou o fascismo e seus espectros embolorados e atabalhoados são de forma acachapante derrotados no primeiro turno, ou esses facínoras teimarão ainda golpear a nossa frágil República, sem dó nem piedade. Não esqueçamos que os fascistas não têm eleitores, mas cúmplices perigosos, como a História prova e reprova. Em vez de vaidade, precisamos, sim, de muita racionalidade. De mãos dadas, sempre, e sem titubeios.

Ahmad Schabib Hany