sábado, 17 de setembro de 2022

A VIDA, COMO A HISTÓRIA, NÃO TEM MARCHA À RÉ

A Vida, como a História, não tem marcha à ré

O inominável, com todas as suas mentiras cabeludas capazes de ruborizar o capiroto, não conseguiu fazer o tempo andar para trás, mas seu séquito de negacionistas ainda teima. E como teima.

Até parece uma obra de ficção este período da história da humanidade em que um ser comprovadamente sociopata tomou de assalto os destinos de milhões de almas...

Nem os geniais Dias Gomes (imortal criador da imaginária Sucupira e o corrupto prefeito Odorico Paraguaçu), García Márquez (inimitável criador de Macondo, a cidade fictícia do patriarca José Arcadio Buendía) e Chico Buarque (iluminado compositor de centenas de verdadeiros hinos à liberdade, sobretudo de ‘Maldita Geni’ e ‘Chama o ladrão!’) teriam sido capazes de criar tanto surrealismo junto como o que um psicopata de competência duvidosa conseguiu impor a toda uma nação em tão poucos anos.

É bem verdade que esse ‘mérito’ não é todo seu, até porque competência nem para isso esse atabalhoado teria: o inegável ajutório do grupo de endiabrados de Steve Bannon, a partir da metrópole sanguessuga, e a viralatice indecorosa dos pretensos senhores de almas e vidas cativas hodiernos estão a protagonizar o grosso dessa bizarrice nefasta. Um bando de recalcados que se recusam a enxergar o óbvio -- a grandeza de alma e a beleza cativante de um povo generoso, acolhedor e laborioso -- e passam o tempo todo a praticar engenhosidades maldosas e a enxergar chifre em cabeça de cavalo.

Sempre a serviço de ‘grandes senhores’, é como os descendentes de Anhanguera, Raposo Tavares, Borba Gato e seus iguais vêm passando seus dias na face da Terra: saqueando o patrimônio público; matando os povos originários e escravizados e seus descendentes; grilando terras indígenas, quilombolas e reservas ambientais; desmatando florestas e contaminando rios e fontes hídricas; sonegando impostos e demais tributos, necessários para a efetivação de políticas de reparação de danos, promoção de direitos justos e tardios e erradicação das seculares desigualdades sociais; descumprindo leis e sentenças judiciais porque creem que o país lhes pertence; aviltando a história e a legitimidade das demais camadas da sociedade brasileira sob pretexto de somente eles serem ‘patriotas’, e, portanto, detentores de direitos (isto é, privilégios); mentindo e negando tudo porque em sua mente rasa só cabem eles, como o ‘povo eleito’ (daí a simpatia pelo fascismo, sionismo e Israel), verdadeiros narcisos.

Quando, em 1967, comecei a estudar História do Brasil no livro de Lourenço Filho, ficava incrédulo com a apologia aos bandeirantes, sobretudo Anhanguera e Borba Gato, e, mais ainda, à forma de descrever os povos originários e os escravizados trazidos da África. Os termos ‘silvícolas’ e ‘peças’ ao se referir aos nativos e africanos escravizados causavam um desconforto. Foi meu saudoso Pai quem conseguiu me ‘traduzir’ essa incredulidade ao dizer que era dessa forma com que os europeus se referiam aos outros povos, desde o tempo do Império Romano.

Tenho a honra de dizer que graças a meu saudoso Pai, primeiro mestre na leitura e escrita, aprendi a observar a arrogância de muitos imigrantes que, em vez de gratidão, demonstram soberba pelos brasileiros, bolivianos e demais latino-americanos, além de debochar da generosa hospitalidade e lhes impor uma inferioridade própria do espírito colonizador que saqueou, caçou, caçoou, abusou, escravizou, explorou, espoliou, matou e dizimou em nome do progresso do bolso deles e de seus reis igualmente saqueadores e canalhas.

Sem declinar nomes, mesmo porque não mais estão entre nós para se defenderem, não foram poucos os imigrantes (europeus, asiáticos e alguns africanos descendentes de europeus) com os quais meu Pai tivera discussões acaloradas por causa dessa atitude. Não por acaso um dos beneficiários da lenda do extermínio dos Guató era um imigrante que tentara matar um conterrâneo que descobrira a grilagem. Da mesma forma como era um imigrante ‘ex-nazista’ (sic) quem explorara durante décadas peões de fazenda iludindo-os com a promessa de que os tornaria guias de turismo. E como se isso fosse pouco, a ousadia de outro que acreditava piamente na superioridade de seus olhos azuis, e por isso trabalhar ‘para ele’ era um privilégio para seus serviçais, isso nas derradeiras décadas do século XX.

Eis a verdadeira razão pela qual o período de conquistas sociais e esplendor econômico do governo de Lula foi deplorado pelos ‘donos’ da nação, aqueles mesmos que iam para a Avenida Paulista ou Avenida Nossa Senhora de Copacabana para declarar o ‘cançei’ (assim mesmo, com ‘c’ cedilhado, maltratando o vernáculo). Estavam, sim, ‘cançados’ com o acesso a oportunidades de uma filha de doméstica cursar Medicina ou Engenharia numa universidade federal ou uma família da chamada ‘classe d’ viajar à Disney num voo internacional. O ranço da sociedade escravagista, do tempo da senzala, lhes subiu à cabeça e estimularam pilantras travestidos de agentes públicos a fazer uma das maiores fraudes processuais da história da humanidade, que nem o regime de 1964 havia cometido, e o resultado conhecemos: os recalcados da caserna deram a rasteira aos ‘amiguinhos’ do Aecinho Never e colocaram um sociopata como fantoche de interesses inconfessáveis.

Como não existe crime perfeito, caberá ao eleitor brasileiro a sublime tarefa de repelir os farsantes embusteiros e colocar o País nos trilhos do trem da História. Porque a Vida não tem marcha à ré. Porque a História não carece de amos e muito menos de serviçais.

Ahmad Schabib Hany

Nenhum comentário: