Roberto Orro, um democrata a toda
prova...
Pela voz
embargada do querido Amigo-Irmão Edson Moraes, fico sabendo da eternização do
advogado Roberto Moaccar Orro, deputado constituinte em 1979, diversas vezes
deputado estadual e uma vez secretário de Estado de Justiça, no mandato
peemedebista do ex-governador Marcelo Miranda Soares.
Conheci o
então Deputado Roberto Orro na recém-inaugurada sede da Seccional
Sul-mato-grossense da Ordem dos Advogados do Brasil (situada então no imponente
prédio da esquina das ruas Pedro Celestino e Cândido Mariano), mesmo evento em
que também conheci o deputado Sérgio Manoel da Cruz, seu chefe de gabinete
Mário Corrêa Albernaz e os advogados Carmelino de Arruda Rezende e Wilson
Barbosa Martins (presidente da entidade) e reencontrei o vereador e
ex-candidato a senador Plínio Barbosa Martins (que conhecera em campanha em
Corumbá, ao lado do incansável Hugo Pereira, seu maior fã e apoiador).
Afetuoso,
o Deputado Orro, assim que ouviu meu nome, como bom “patrício”, fez questão de me
perguntar o nome de meu Pai e de que cidade era oriundo. Bastou uma vez, para
que ele me identificasse em qualquer evento onde nos reencontrássemos, e não
demorou muito para que ele mesmo me apresentasse o também querido Seu Anízio
Salamene, mais que Primo seu um grande fã, falecido há alguns anos. Sua
Companheira, grande guerreira e incansável socialista, é a Professora Yonne
Ribeiro Orro, anos-luz à frente de seu tempo.
Eram
tempos de arbítrio e a cooptação de quadros da oposição era feito cinicamente.
A bancada do então MDB (oposição ao regime) havia perdido um terço dos parlamentares.
O líder era o Deputado Sérgio Cruz, incansável aríete contra os serviçais da
ditadura, e o vice-líder naquele momento era o Deputado Roberto Orro, acusado
inclusive por outros oposicionistas de ter vínculos com “subversivos”, por sua
postura democrática e não discriminar pessoas acusadas de militar em partidos
de esquerda, então proibidos de existir.
As
convicções democráticas de Roberto Orro são conhecidas por todos, sobretudo por
causa das inúmeras perseguições que sofrera durante o regime de 1964. Comedido
e reservado, o então deputado contrastava com aquela imagem parcimoniosa quando
era chamado para a defesa da causa democrática, fosse na tribuna, perante um
batalhão de jornalistas ou ante autoridades ligadas à ditadura: defesa dos
Direitos Humanos, das terras dos povos originários, da Anistia Ampla, Geral e
Irrestrita, da Assembleia Nacional Constituinte, dos direitos dos trabalhadores
ou das liberdades democráticas.
No breve
período em que tive a honra de integrar dois projetos sediados na Assembleia
Legislativa (no tempo em que estava instalada em frente da Praça do Rádio
Clube), primeiro no gabinete da Liderança do PMDB, sob a coordenação do saudoso
Amigo Mário Corrêa Albernaz e do Irmão Edson Moraes, e um tempo depois no
gabinete da Vice-liderança do PMDB, sob a coordenação dos Amigos Mário Sérgio
Lorenzetto e Amarílio Ferreira Júnior, constatei a coerência, coragem e
lealdade de alguns deputados oposicionistas, em especial de Sérgio Cruz e
Roberto Orro, que quando possível desenvolviam atividades conjuntas, para desespero
das forças conservadoras.
No
processo de construção do PMDB, entre 1980 e 1982, Roberto Orro manteve a sua
postura discreta, mas contundente, frente às investidas do então governador
Pedro Pedrossian e seus inúmeros projetos ousados, como o Guatambu, o Panelão e
o Apa-Poré. Ora ao lado de Sérgio Cruz ou em companhia de Plínio Barbosa
Martins, Roberto Orro dividia o mandato de deputado com as obrigações de
dirigente partidário para dar cobertura jurídica ou política aos
correligionários assediados pela força poderosa do regime, personificado na
figura de caudilho predestinado Pedrossian.
Não posso
esquecer da defesa sôfrega e emocionante dos Terena na Aldeia do Bananal, em
Aquidauana. O Cacique Domingos Terena se impunha como liderança legítima de sua
comunidade ante a arrogante postura dos coronéis da FUNAI em Campo Grande e em
Brasília. À época, os parlamentares do PMDB davam lição aos seus sucessores
como atuar em tempos de autoritarismo, e aí há que se reconhecer a coerência do
também Deputado Sultan Rasslan, de Dourados, em sua atuação de parlamentar
oposicionista.
Quando
Roberto Orro era secretário de Justiça, em 1987, atendeu a um chamado nosso,
com a maior generosidade, para o ato de lançamento do Comitê 29 de Novembro de
Solidariedade ao Povo Palestino, em companhia da Professora Yonne Orro, da
saudosa Jornalista Margarida Marques e da igualmente querida Jornalista Maria
Helena Brancher. Muito gentil, fez questão de conhecer pessoalmente meus Pais,
dedicando uma meia hora com minha Família, embora sua agenda em Corumbá fosse
bastante atribulada. Creio que foi meu encontro derradeiro com esse grande
democrata cujo rico legado é motivo de honra para seus contemporâneos.
Até
sempre, querido Companheiro Roberto Orro!
Ahmad Schabib Hany
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