segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ROBERTO ORRO, UM DEMOCRATA A TODA PROVA...

Roberto Orro, um democrata a toda prova...

Pela voz embargada do querido Amigo-Irmão Edson Moraes, fico sabendo da eternização do advogado Roberto Moaccar Orro, deputado constituinte em 1979, diversas vezes deputado estadual e uma vez secretário de Estado de Justiça, no mandato peemedebista do ex-governador Marcelo Miranda Soares.

Conheci o então Deputado Roberto Orro na recém-inaugurada sede da Seccional Sul-mato-grossense da Ordem dos Advogados do Brasil (situada então no imponente prédio da esquina das ruas Pedro Celestino e Cândido Mariano), mesmo evento em que também conheci o deputado Sérgio Manoel da Cruz, seu chefe de gabinete Mário Corrêa Albernaz e os advogados Carmelino de Arruda Rezende e Wilson Barbosa Martins (presidente da entidade) e reencontrei o vereador e ex-candidato a senador Plínio Barbosa Martins (que conhecera em campanha em Corumbá, ao lado do incansável Hugo Pereira, seu maior fã e apoiador).

Afetuoso, o Deputado Orro, assim que ouviu meu nome, como bom “patrício”, fez questão de me perguntar o nome de meu Pai e de que cidade era oriundo. Bastou uma vez, para que ele me identificasse em qualquer evento onde nos reencontrássemos, e não demorou muito para que ele mesmo me apresentasse o também querido Seu Anízio Salamene, mais que Primo seu um grande fã, falecido há alguns anos. Sua Companheira, grande guerreira e incansável socialista, é a Professora Yonne Ribeiro Orro, anos-luz à frente de seu tempo.

Eram tempos de arbítrio e a cooptação de quadros da oposição era feito cinicamente. A bancada do então MDB (oposição ao regime) havia perdido um terço dos parlamentares. O líder era o Deputado Sérgio Cruz, incansável aríete contra os serviçais da ditadura, e o vice-líder naquele momento era o Deputado Roberto Orro, acusado inclusive por outros oposicionistas de ter vínculos com “subversivos”, por sua postura democrática e não discriminar pessoas acusadas de militar em partidos de esquerda, então proibidos de existir.

As convicções democráticas de Roberto Orro são conhecidas por todos, sobretudo por causa das inúmeras perseguições que sofrera durante o regime de 1964. Comedido e reservado, o então deputado contrastava com aquela imagem parcimoniosa quando era chamado para a defesa da causa democrática, fosse na tribuna, perante um batalhão de jornalistas ou ante autoridades ligadas à ditadura: defesa dos Direitos Humanos, das terras dos povos originários, da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, da Assembleia Nacional Constituinte, dos direitos dos trabalhadores ou das liberdades democráticas.

No breve período em que tive a honra de integrar dois projetos sediados na Assembleia Legislativa (no tempo em que estava instalada em frente da Praça do Rádio Clube), primeiro no gabinete da Liderança do PMDB, sob a coordenação do saudoso Amigo Mário Corrêa Albernaz e do Irmão Edson Moraes, e um tempo depois no gabinete da Vice-liderança do PMDB, sob a coordenação dos Amigos Mário Sérgio Lorenzetto e Amarílio Ferreira Júnior, constatei a coerência, coragem e lealdade de alguns deputados oposicionistas, em especial de Sérgio Cruz e Roberto Orro, que quando possível desenvolviam atividades conjuntas, para desespero das forças conservadoras.

No processo de construção do PMDB, entre 1980 e 1982, Roberto Orro manteve a sua postura discreta, mas contundente, frente às investidas do então governador Pedro Pedrossian e seus inúmeros projetos ousados, como o Guatambu, o Panelão e o Apa-Poré. Ora ao lado de Sérgio Cruz ou em companhia de Plínio Barbosa Martins, Roberto Orro dividia o mandato de deputado com as obrigações de dirigente partidário para dar cobertura jurídica ou política aos correligionários assediados pela força poderosa do regime, personificado na figura de caudilho predestinado Pedrossian.

Não posso esquecer da defesa sôfrega e emocionante dos Terena na Aldeia do Bananal, em Aquidauana. O Cacique Domingos Terena se impunha como liderança legítima de sua comunidade ante a arrogante postura dos coronéis da FUNAI em Campo Grande e em Brasília. À época, os parlamentares do PMDB davam lição aos seus sucessores como atuar em tempos de autoritarismo, e aí há que se reconhecer a coerência do também Deputado Sultan Rasslan, de Dourados, em sua atuação de parlamentar oposicionista.

Quando Roberto Orro era secretário de Justiça, em 1987, atendeu a um chamado nosso, com a maior generosidade, para o ato de lançamento do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, em companhia da Professora Yonne Orro, da saudosa Jornalista Margarida Marques e da igualmente querida Jornalista Maria Helena Brancher. Muito gentil, fez questão de conhecer pessoalmente meus Pais, dedicando uma meia hora com minha Família, embora sua agenda em Corumbá fosse bastante atribulada. Creio que foi meu encontro derradeiro com esse grande democrata cujo rico legado é motivo de honra para seus contemporâneos.

Até sempre, querido Companheiro Roberto Orro!

Ahmad Schabib Hany

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