sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Tereza Cristina, mais uma corumbaense fazendo história, ao lado de Wega, Cármen e Graziela

Tereza Cristina, mais uma corumbaense fazendo história, ao lado de Wega, Cármen e Graziela

A procuradora de Justiça Tereza Cristina Maldonado Katurchi Exner, empossada no dia 16 de janeiro, se torna a primeira corregedora-geral da história do Ministério Público de São Paulo, numa sucessão de conquistas e respeito granjeado entre seus pares. É mais uma digna integrante da seleta plêiade de cidadãs que ousaram transformar a sociedade por estarem à frente de seu tempo, ao lado das igualmente corumbaenses -- a artista plástica Wega Nery, a arquiteta e urbanista Cármen Velasco Portinho e a botânica Graziela Maciel Barroso --, que homenageamos em fevereiro de 2018, e a que hoje acrescentamos a historiadora e professora Eunice Ajala Rocha (nascida em Cáceres), a ativista cultural e professora Heloísa Urt (nascida em Ladário), a artista plástica, chargista e poeta Marlene Terezinha Mourão (a querida Peninha de todos os traços, nascida em Coxim) e a querida e saudosa cidadã e ativista do SUS Gabriela Soeiro (nascida em Guajará-Mirim, Rondônia).

Foi indescritível e gratificante haver tido a honra de testemunhar, semanas atrás, a alegria incontida de um digno cidadão de 92 anos, invejavelmente lúcido e protagonista da história e de seu tempo, como o Senhor Jorge José Katurchi, ao acompanhar, ainda que à distância, a solenidade de posse da filha, Procuradora de Justiça Tereza Cristina Maldonado Katurchi Exner, como a primeira mulher na Corregedoria-Geral do Ministério Público de São Paulo.

Não que seus filhos, os queridos Amigos José Eduardo e Mário Márcio, não fossem igualmente amados e admirados por tão generoso Pai (desses com letra maiúscula), mas por meio da vitória retumbante da única filha mulher que, além da retidão e do gosto pelo trabalho comum a toda a sua família, muito bem amalgamou o vigor e a determinação da saudosa Senhora Anna Thereza de Co­pacabana Rondon Maldonado Katurchi e a cordura e cosmopolitismo do Senhor Jorge Katurchi.
 
Aliás, não por acaso, a então ainda adolescente corumbaense -- em cuja ascendência traz a têmpera de Cândido Mariano da Silva Rondon e de imigrantes sírios, boliviano e argentino -- adentrara às árcades da augusta Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, quebrando tabus e inaugurando nova era. Com orgulho, o Amigo e Companheiro do Pacto Pela Cidadania carinhosamente chamado por nós por Seu Jorge Katurchi conta a saga de sua querida filha ao ser aprovada no concorrido Vestibular da USP na década de 1980, tendo sido a terceira corumbaense a cursar Direito naquela emblemática instituição, depois dos saudosos advogados Ubirajara Sebastião de Castro e Herbert Figueiredo.
 
Tendo sido da última geração de promotores de Justiça a ingressar no Ministério Público de São Paulo antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, a Procuradora Tereza Cristina desde logo se posicionou pela efetivação das conquistas recém consignadas na Carta Constitucional fruto da sagrada pugna pelas liberdades democráticas. Toda a sua trajetória tem sido marcada por um posicionamento democrático e em favor da emancipação cidadã, no mais amplo sentido. Obviamente, seu prestígio entre seus pares é fruto de um comportamento inclusivo, transformador e de reafirmação do Estado Democrático de Direito, como se constata na reportagem da “Folha de S.Paulo” na edição que repercute sua eleição triunfal para a Corregedoria-Geral do Ministério Público de São Paulo, em novembro de 2018.

Longe de qualquer excesso, a Procuradora Tereza Cristina Katurchi Exner se sagrou integrante com merecimento da plêiade de mulheres corumbaenses à frente de seu tempo ao protagonizar uma tra­jetória não só profissional, mas cidadã. Ao lado das grandes corumbaenses que escreveram uma nova história da sociedade brasileira e, sem exagero, da humanidade. Entre elas, a talentosa artista plástica Wega Nery, que enveredou por escolas de arte inovadoras e compartilhou com expoentes das artes pelo mundo todo, além de ser a mãe do grande Jornalista Tão Gomes Pinto, companheiro de ofício e aventuras do genial Jornalista Mino Carta desde os bons tempos da “Veja”, “IstoÉ”, “Jornal da República”, “Senhor”, “IstoÉ/Senhor” e “CartaCapital”; a revolucionária arquiteta e ur­banista Carmen Velasco Portinho, que não se limitou a lutar pela emancipação da mulher como ci­dadã plena e a promover a formação de suas irmãs, mas foi a primeira arquiteta e urbanista brasi­leira, responsável pelo primeiro programa de habitação popular do Brasil, quando o Rio de Janeiro era o Distrito Federal; e a incansável botânica de grandes horizontes Graziela Maciel Barroso, não só primeira bióloga brasileira, mas protagonista de um pioneirismo ímpar como cientista à frente de seu tempo, como quando identificou 25 variedades de grandes árvores que levam seu nome ou ori­entou 50 mestrandos e 15 doutorandos ao longo de uma vigorosa vida acadêmica, tardiamente inici­ada pela época em que viveu e pelas responsabilidades de mãe e esposa a partir dos 16 anos de Vida.

A Procuradora Tereza Cristina tem ainda a companhia de outras mulheres extraordinárias, com as mesmas características de sua saudosa progenitora, a querida Dona Anna Thereza, inclusive nascida em Cáceres e corumbaense por opção como ela, que foi a saudosa Professora Eunice Ajala Rocha -- mais que viúva de um aguerrido vereador que entrou para a história, Edu Rocha, pesquisadora res­ponsável pela perenização de importantes ícones do patrimônio cultural e histórico do Pantanal, a viola de cocho, o siriri, o cururu e a festa de São João --, pioneira também no resgate do legado dos afrodescendentes em Corumbá. A Professora Heloísa Helena da Costa Urt, querida e saudosa Helô, é outra grande mulher que, nascida em Ladário, fez com que Corumbá e a mulher pantaneira aqui­nhoassem respeitáveis conquistas no campo da cultura e da cidadania, sobretudo no contexto do patrimônio cultural imaterial, tendo tomado a iniciativa de registrar a festa do banho de São João, o cururu, o siriri e a viola de cocho como importantes características da cultura popular pantaneira.

A ativista social Gabriela Soeiro, a querida e saudosa Dona Gaby, nascida em Guajará-Mirim (Ron­dônia), chegada ainda jovem à Corumbá da década de 1950, é outra das grandes mulheres que fa­zem de Corumbá um verdadeiro celeiro de cidadania, pois, além de ter sido protagonista de uma história fantástica como provedora e matriarca de uma família de vencedores, já em idade madura, depois de sobreviver a uma doença mutiladora, foi a responsável pela efetivação de direitos das pes­soas ostomizadas, ao percorrer o estado por mais de uma década assegurando qualidade de vida e direitos a pessoas que, como ela, precisaram conviver com alguma forma de ostomia. Finalmente, a artista plástica e professora Marlene Terezinha Mourão, a querida Peninha, nascida em Coxim e que felizmente continua entre nós, além de imortal criadora de Maria Dadô, a melhor expressão da mu­lher pantaneira, é poeta, escritora, artista plástica e professora de cidadania de diversas gerações.

Dessa forma, em minha modesta opinião, a Procuradora Tereza Cristina Katurchi Exner, discreta mas efetiva protagonista de uma história emancipadora não apenas da mulher, como de toda uma cidadania que clama por efetivação de direitos, constitui-se na realização dos anseios de uma popu­lação sedenta de justiça, de direitos e sobretudo de conquistas. Sua conquista é, por todas essas e tantas outras razões, para ser celebrada pelos que, como o querido Seu Jorge Katurchi, acreditam e generosamente amam a Corumbá de todos os povos e todos os sonhos, porque a História, essa com letra maiúscula, não é escrita com atas e cerimoniais, mas construída cotidianamente por protago­nistas que ousam transformar a realidade para que as gerações futuras possam usufruir o fruto desse pioneirismo.

Ahmad Schabib Hany

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