ATÉ SEMPRE, PASCOAL GALEANO!
Pascoal
Sotero Galeano. Alma grande. Mais, gigante. Generoso e bem-humorado, o tempo
todo. Incansável, lutador, não desistia da lide dura e intensa, sempre de bem
com a Vida. Conseguia ser pai e mãe. Sem nunca ter reclamado. Quem teve a honra
de conhecê-lo, sabe que até nos momentos mais difíceis, lá estava ele
espirituoso, impassível e tranquilo.
Grato,
sempre solícito, despediu-se da Vida em pleno sono, privilégio de poucos... Seu
semblante tranquilo nos dá essa certeza. Enquanto viveu -- uma existência
própria para quem traz essa marca de trabalhador incansável, porque não tinha
feriado, final de semana, férias: era trabalho em tempo integral --, estava a
postos, desafiando, bem-humorado, uma jornada que parecia não ter fim.
Viveu
intensamente. Bom Filho, desses com letra maiúscula. Pai igualmente
superlativo. Paizão, na verdade: as pouquíssimas vezes que o vi chorar o motivo
era sempre o mesmo -- não gostava de se despedir das filhas, dos filhos, como
pai-coruja que sempre foi. Nem quando o time dele, o Vasco, perdia, ele sofria
como quando tinha que despedir de um de seus filhos.
Cuidadoso,
deixou todos os filhos e filhas encaminhados. Cada um, cada uma, em sua
profissão, em sua realização. Até porque todos eles trazem a marca indelével da
garra, da luta e da alegria infindável com a qual ele soube enfrentar as
maiores adversidades desta Vida. Ele sabia que filho e filha dele têm tudo para
vencer na Vida e dar bom exemplo aos netinhos e netinha que teve o prazer e a
alegria de conhecer e curtir...
Quando
o conheci, nos idos de 1980, ele trabalhava no setor de vendas daquela famosa marca
de refrigerantes. Jovem, ainda com vinte e poucos anos, lá vinha ele em seu
imponente caminhão vermelho, com seu sorriso estampado no rosto. Nessa época eu
trabalhava com meus saudosos Pais, na hospedaria com a qual nos formaram, e a
jovem que lá trabalhava, assim que o via chegar, já vinha com seu café para
servi-lo, num tratamento exclusivo ao “rapaz da... (marca de refrigerante)”.
Aliás, por conta desse charme, viveu intensamente três casamentos, três
companheiras com as quais soube construir responsavelmente uma única família,
sólida e amada.
Seu
bom-humor, beirando a irreverência, marcava sua passagem por tudo que
empreendeu. Mais que uma característica de personalidade, era a sua essência.
Quando o reencontrei, duas décadas depois, ele era mototaxista. Quatro da
manhã, já estava pegando sua moto e iniciando sua jornada, sob chuva ou frio
intenso. Não me lembro de tê-lo visto reclamar... Deixou a profissão, não sem
abrir mão de protestar, por causa da burocracia, tendo-se recusado a se submeter
a novo processo de concessão de licença, como tantos colegas pioneiros na
atividade.
Antes
de se dedicar ao turismo de pesca em Porto da Manga, onde se eternizou,
trabalhou duro, intensamente, na produção de chipa, arte que aprendeu com Dona
Carmen, sua Mãe e companheira de chimarrão todas as manhãs em que estava em
Corumbá. Com Seu Mário, o Pai e comandante aposentado da Bacia do Prata, a
parceria era no preparo da peixada, arte em que também era mestre. Aliás, sua
generosidade iniciava e se estendia exatamente na arte de alimentar e bem
acolher todos, sem distinção.
Mais
que Irmão mais velho de minha Companheira, um Amigo que a Vida se encarregou de
dar – e subitamente tirar. Na manhã de domingo, dia 3 de janeiro, quando chegou
a fatídica notícia de seu encantamento, essa marca do agora saudoso Pascoal foi
espontaneamente testemunhada numa prosa de meus dois pequenos. “Que pena que
Tio Pascoal não vai fazer aquela carne gostosa (churrasco)”, dizia Sofia ao
Omar (outro vascaíno), que respondeu: “Agora nós não vamos poder ir ao Porto da
Manga...” Não só era um Paizão, mas um Tio inesquecível, um Avô daqueles que
ficam gravados para a Vida toda...
Só não valeu, Pascoal, ter furado a fila... Pessoas como Você tinham que ficar no mínimo 100 anos, para tornar a Terra um planeta melhor! Até sempre, e obrigado por ter existido.
Ahmad Schabib Hany
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