segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Estimado(a)s Amigo(a)s,
Ao agradecer, em nome de toda a Família, pelos votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo, retribuo a todo(a)s o(a)s Amigo(a)s com esta mensagem da Peregrina Sarah Nawajah, uma beduína palestina de 70 anos que passou a Vida praticando a esperança por um mundo menos desigual e mais justo, a despeito da opressão e constantes ataques em que se encontra desde 1948 no lugar em que nasceu e cujos ancestrais estabeleceram sua cultura milenar.
No ano em que perdemos um dos maiores líderes da espécie humana, o imortal Nelson Mandela, e desassossegados como Hugo Chávez saíram de cena (mas deixaram seu legado de luta incansável por uma vida mais digna para a humanidade), não é demais trazer à lembrança dois africanos imortais que há mais de quatro décadas eram silenciados por atos assassinos (comprovados ou não) -- Martin Luther King e Gamal Abdel Nasser -- e dois brasileiros igualmente imortais -- Marçal de Souza e Chico Mendes --, que tombaram pelas coisas boas pelas quais lutavam, sempre a favor da Vida e da Liberdade verdadeira (aquela que não se encontra no mercado e está cada vez mais rara, embora desvalorizada, como tudo que é original e inimitável).
Que as pegadas deixadas pelas pessoas anônimas como a Peregrina Sarah Nawajah, com a mesma dignidade de Mahatma Gandhi, Oscar Niemeyer, Yasser Arafat, George Habash e Túpac Katari, sejam as sendas libertárias para um novo tempo que desde há muito clama por raiar, a despeito das ações repressivas dos que se creem "donos da história" e há séculos saqueiam, humilham e oprimem a humanidade toda.
Fraternalmente,
Schabib
PS: A matéria abaixo foi indicada pelo Companheiro Cláudio Daniel e socializada pela Companheira Caia Fittipaldi, Amigo(a)s do Grupo "Palestina Já", feita pelo Jornalista Diogo Bercito, enviado especial de um jornal paulistano que num passado recente nos fazia acreditar que era confiável, do ponto de vista do leitor, mas que o inexorável devir dos dias nos provou que nunca deixou de merecer seu passado de serviçal dos piores grupos paramilitares que infestaram a ditadura em ações criminosas como a Operação Bandeirantes (OBAN).


Mulher das cavernas
Muçulmana que mora há 45 anos como beduína relata ataques de autoridades israelenses contra sua família
RESUMO Sarah Nawajah é conhecida no acampamento de Susya, na Cisjordânia, como "a peregrina", por ter ido a Meca, cidade sagrada para o islamismo, na Arábia Saudita. "Mas esta terra também é sagrada", diz, sobre a caverna em que vive --apesar da animosidade dos vizinhos, colonos israelenses de Qyriat Arba.
(...) Depoimento a
DIOGO BERCITOENVIADO ESPECIAL A SUSYA (CISJORDÂNIA)
Venho de um vilarejo ocupado, perto de Beer Sheva, tomado em 1948. Meus filhos nasceram aqui, na caverna. É um modo de vida beduíno. Nós vivemos com as ovelhas.
Mudei para cá com meu marido em 1968. Os colonos israelenses tentam nos expulsar. Sofremos muito. Um dia, há cinco anos, eles vieram com seus jipes e destruíram tudo o que nós temos. Eu perdi meu azeite, eles levaram a comida das ovelhas.
No ano passado, estávamos plantando quando nos atacaram. Queimaram nossas videiras, mataram 50 de nossas ovelhas com seus rifles. Eu corria e gritava todo o tempo quando vi aquilo.
Fui reclamar no vilarejo vizinho de Qyriat Arba. Quiseram que eu assinasse um papel dizendo que sou uma causadora de distúrbios. Meus filhos foram presos. Tive de pagar [o equivalente a] R$ 3.500 para tirá-los da prisão.
Há uma torre de vigia aqui perto. Só posso ficar no vale. Se os colonos veem que eu saí, vêm tomar minha casa.
Toda vez que eles me veem, dizem que sou uma puta. Querem tomar a terra.
Tudo o que você vê aqui tem uma ordem de demolição. Não querem que a gente fique aqui. Mas eles, sim, podem ficar. Podem sair. Podem construir. Eu não. Pedi várias vezes ao governo para ter permissão, nunca me deram nada. Querem demolir até o nosso poço de água.
PECADO
Temos dificuldade para trazer ambulâncias. Um dia, meu marido, que já morreu, teve ataque de asma, e o Exército não deixou a ambulância vir. Nós o pusemos em um burro para ir ao hospital.
Dois anos atrás, os israelenses vieram e atiraram um... como se diz? Coquetel molotov. Eles não sabem o que é "haram" [pecado].
Esta é a minha terra. Não quero que tomem de mim. Posso fazer azeite dessas oliveiras e viver disso. Tenho 70 anos. Por quanto tempo consigo lidar com essa situação?
Antes de eles destruírem a caverna, era muito bonito aqui. Nos sentávamos aqui no verão, era lindo. É muito fresco no verão e quente no inverno. Mas eles não querem que a gente viva aqui.
Eu moro na tenda, agora, durante o verão. No inverno, fica frio, então arrumo um canto e venho à caverna.
O governo palestino não pode fazer nada. Nem podem vir até aqui.
SAGRADO
Eu acordo de manhã, rezo, sirvo o café da manhã para as ovelhas e começo o meu dia com os animais. Depois, levo eles para os campos, limpo minha casa e cozinho.
Na temporada, faço manteiga e iogurte do leite das ovelhas. Também planto trigo. Então temos as colheitas.
Na primavera, às vezes a colheita não é boa, então tenho de alimentar os burros com as azeitonas colhidas.
Nossa terra é valiosa. Não vamos entregar aos judeus. Só saio daqui quando morrer. Estou feliz, e só consigo dormir quando estou aqui.
Vou ficar feliz, também, quando todos os colonos forem embora. São monstros.
Uma vez, bati em um soldado. Ele veio nos dizer para sair. Eu atirei um sapato de plástico na cabeça dele. Eles estavam me empurrando!
Fui para a cidade sagrada de Meca duas vezes, por isso me chamam de "hajja [peregrina] Sarah". Mas aqui, esta terra, também é sagrada.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino



Dia de Solidariedade ao Povo Palestino
“Dizemo-lhes:
Cantem pela terra que permanece!
Rebelem-se!
Ensinem nossa história sombria aos filhos
A fim de que nosso sangue
Permaneça na bandeira dos criminosos
Como sinal de catástrofe.”
Mahmoud Darwish (renomado poeta palestino, falecido no exílio em 2008)
Hoje, 29 de novembro, é observado em todo o mundo o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Foi instituído pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1977. A data foi escolhida para relembrar o dia da partilha do território da Palestina milenar, ocorrida em 1947 por decisão da própria ONU, sem ter sido consultado o maior interessado – o Povo Palestino, que desde então vive a peregrinar por todos os cantos mundo, sem direito a voltar, sequer para visitar seus familiares e rever seu berço querido, sob pena de ser aprisionado pelos invasores de suas casas, suas plantações e de seu torrão natal.
Como se vê, não é dia festivo. É dia de reflexão e de celebração pelas vidas ceifadas, trabalho espoliado. Aos milhares? Não, aos milhões, pois nestas mais de seis décadas, milhões de palestinos se espalharam pelo mundo. Eles não têm direito a ter direitos. São tratados pior que os judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e a imprensa mundial finge que nada vê.
E para que a humanidade não se esqueça de que os Palestinos existem faz milhares de anos, e que 65 anos atrás perderam o direito inalienável à sua Pátria milenar, é que reuniões como a de hoje são feitas em todo o mundo. Porque, desde antes de o Ocidente vencer a Guerra Fria, as potências se acham as donas do mundo. Quiseram reparar os danos do nazismo contra os judeus na Europa à custa da tragédia palestina, invadindo, saqueando, difamando, prendendo, torturando e matando com requintes de crueldade os palestinos e demais árabes, como vemos todos os dias pelo noticiário, que insiste em chamar os palestinos, iraquianos, líbios, sírios, libaneses, egípcios, argelinos, iemenitas, tunisianos e tantos outros árabes de “terroristas”, como se patriotismo e coragem de lutar pelo que é seu direito fosse uma heresia, um crime, uma aberração.
Poucos sabem (porque isto não se ensina na maioria das escolas), mas o Renascimento do Ocidente só foi possível graças à verdadeira tolerância e generosidade árabe (“mouros”, na história ocidental), pois, enquanto os senhores feudais e seus aliados queimavam livros e pessoas sob acusação de heresia, os sábios da Arábia conservaram todas as bibliotecas da Antiguidade clássica grega e a traduziram ao árabe.
Aliás, os árabes, que haviam conquistado por mais de oitocentos anos a Península Ibérica, e nem por isso proibiram a fala dos idiomas nativos – no caso o castelhano e o galego, entre outros – ou o culto cristão, tanto que os reinos castelhano e lusitano foram as duas potências ocidentais depois do Renascimento. Já os descendentes lusos, castelhanos, além dos ingleses, franceses e holandeses, quando senhores de outros povos, submeterem com intolerância e humilhação os seus colonizados, a ponto de promover o comércio de pessoas escravas da África e o saque às suas riquezas.
Portanto, a manifestação de solidariedade que os cidadãos libertários do mundo promovem de modo sincero ao Povo Palestino é um ato político em favor da emancipação da humanidade. Não é possível um mundo melhor, se o berço da humanidade estiver convulsionado. E está desde o final da Primeira Guerra Mundial, quando os governos da Inglaterra e da França fizeram um acordo para entregar o território da Palestina aos sionistas do mundo inteiro – da Polônia, Alemanha, Estados Unidos, Rússia, Inglaterra etc.
Mas enquanto existir um árabe no mundo – e enquanto existirem brasileiros, bolivianos, cubanos e demais latino-americanos solidários e altivos, que não se curvem diante da opressão e humilhação –, será possível continuar a lutar por um mundo melhor para os nossos filhos e demais descendentes.
Corumbá e Ladário, aliás, vêm fazendo com pioneirismo desde a década de 1970, quando foram realizadas as primeiras manifestações de solidariedade ao Povo Palestino. Isso fez surgir, na década de 1980, o Comitê de Solidariedade 29 de Novembro (o mais antigo do Centro-Oeste) e a primeira lei municipal em Mato Grosso do Sul, por iniciativa do então vereador do PT Valmir Corrêa, instituindo o Dia de Solidariedade ao Povo Palestino, sancionada pelo saudoso Prefeito Fadah Gattass.
Antes de rotular o Povo Palestino, como a todo o Povo Árabe, de terrorista e intolerante, é preciso ler a verdadeira História da Humanidade e conhecer a contribuição daqueles que não se curvaram e não se curvarão diante da prepotência e da ganância dos senhores da guerra, que levam a morte e a injustiça aos demais povos, e ainda lhes imputam o ódio injustificável, promovendo a pior de todas as mortes – a perda de sua história milenar, sua cultura universal, sua vida cosmopolita.
Como o grande poeta alemão Berthold Brecht disse: “Do rio que tudo arrasta, dizem que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem.”
A Paz Mundial começa na Palestina!
Ahmad Schabib Hany
Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino

domingo, 6 de outubro de 2013

Professor Otaviano, garimpador de talentos

Professor Otaviano, garimpador de talentos
Otaviano Gonçalves da Silveira Júnior. Era esse seu nome completo. Professor de Língua Portuguesa e Literatura. Em plena maturidade (aos 42 anos), procedente da capital de São Paulo, chegara a Corumbá, então estado de Mato Grosso, em 1974. No auge do período mais crítico da ditadura que se abatera sobre o Brasil e toda a América do Sul. Com sua jovem esposa, de aproximadamente 25 anos de idade, o Professor Otaviano chamava a atenção por sua desenvoltura, erudição e cordialidade. Eu o conheci aos 15 anos, no então Centro Educacional Júlia Gonçalves Passarinho (mais tarde Escola Estadual Júlia Gonçalves Passarinho, ou JGP), que distava apenas meia quadra de sua modesta casa, localizada na mesma rua da escola, defronte à sede provisória de assistência médica do então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Dizem que era filho de um influente oficial da Polícia Militar de São Paulo (criada pelo regime militar, em substituição à Polícia do Exército, e executora do serviço repressivo institucional), coronel Otaviano Gonçalves da Silveira. Dizem também que fora diretor do Colégio Judaico de São Paulo no período anterior à sua saída da capital paulista. O fato é que se tratava de um profundo conhecedor das disciplinas que ministrava (Língua Portuguesa e Literatura), aliás, com bastante desenvoltura, a ponto de dispensar a adoção de livros didáticos, muito comum naquele período em que havia controle absoluto daquilo que era ensinado. O máximo que se permitia, para facilitar a vida dos alunos, preocupados com o vestibular, era a reprodução de um material que se assemelhava a uma apostila, de sua própria autoria, com um resumo esquemático dos temas que estava abordando em sala de aula.
Se ele era colaborador do regime ou simpatizante do sionismo, nunca deixou explícito e muito menos insinuou, nem agia como tal. O Professor Otaviano era, isso sim, generoso em seu ofício de professor. Além de árabe sem qualquer dissimulo, eu era declaradamente simpatizante do socialismo, posições que nunca me questionou nas diversas dissertações (redações escolares em que podíamos expressar nosso ponto de vista), muitas vezes elogiadas e lidas por ele para os colegas. Nos dois anos em que atuou em Corumbá e nos anos seguintes, que antecederam à instalação do novo estado (1979), em que troquei intensa correspondência com ele (ao ponto de enviar e receber três cartas por semana), era extremamente meticuloso nas questões idiomáticas, jamais tendo emitido qualquer juízo de valor sobre os temas que eu abordava, a despeito de minha despreocupada manifestação de pensamento (fosse sobre a questão do Oriente Médio, a Guerra Fria ou a situação da América Latina e do Brasil).
Além de ter proposto interpretação de poemas de Chico Buarque (“Roda Viva”) e Vinícius de Moraes (“Rosa de Hiroshima”), exaustivamente discutidos em sala de aula com total liberdade, o Professor Otaviano incentivou a organização de um jornal estudantil (o qual acabou ganhando a dimensão de meio interescolar), apesar da posição contrária do então diretor da escola, um medíocre vereador da Arena (partido de sustentação do regime) que mais tarde se afastara para tentar sua reeleição. A um reduzido grupo de alunos, com os quais tratava do jornal e de outras atividades extracurriculares, revelara que quando estudante fora revisor e repórter da Folha de S.Paulo, onde também trabalhava sua tia, a crítica de televisão Helena Silveira (titular da coluna “Helena Silveira vê TV”, na Folha Ilustrada).
Depois de ter lecionado na famosa escola campo-grandense MACE (Moderna Associação Campo-grandense de Ensino), ele foi chamado pelo então reitor da UEMT (Universidade Estadual de Mato Grosso), João Pereira da Rosa, para ser seu chefe de gabinete. Quando, em 1979, me mudei para Campo Grande, tendo trocado Letras por História, ele havia sido transferido para Dourados, onde assumira a direção do CEUD (Centro Universitário de Dourados). Nesse período eu perdi o contato com ele, pois enquanto eu dava vazão à ânsia juvenil de entrar para o movimento estudantil, ficara sabendo que ele, como diretor do CEUD, havia chamado a polícia para os estudantes do curso de Agronomia que, em greve, reivindicavam a contratação de professores para o curso. Isso, para mim, foi uma ducha de água fria.
Mas, acredito que em 1984, como repórter de um diário de Campo Grande, eu o procurara para que me desse informações relativas ao CCHS (Centro de Ciências Humanas e Sociais da agora UFMS, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), de cuja direção era titular, e aproveitamos de conversar rapidamente. Era fim do mandato do reitor Edgar Zardo e havia uma intensa articulação que culminou com a eleição do reitor Jair Madureira, que havia conseguido um amplo arco de alianças na Universidade Federal, reunindo professores da esquerda à direita, refletindo o momento que antecedeu à Nova República em nível nacional.
Algum tempo depois, acredito que em 1985, quando eu retornara a Corumbá como correspondente de outro diário de Campo Grande, encontrei-o na rua Frei Mariano, perto da avenida General Rondon. Então responsável pela Comunicação Social da UFMS, o Professor Otaviano estava em serviço e aproveitava as horas que antecediam o horário de partida do trem noturno para matar saudades de Corumbá e do imponente rio Paraguai. Eu estava em companhia da querida Amiga Sílvia Maria Costa Nicola, agrônoma, a primeira pesquisadora e primeira mestra da Embrapa Pantanal (à época CPAP, ou Centro de Pesquisas Agropecuárias do Pantanal), e conversáramos por alguns minutos. Ele estava cheio de planos para a Comunicação Social da UFMS, e eu lhe falara rapidamente dos projetos que me motivavam então. Foi o nosso diálogo derradeiro.
Uma década depois, soube por amigos que ele se aposentara por ter sofrido sérias lesões causadas por dois AVC (acidentes vasculares cerebrais), havendo ficado preso a uma cadeira de rodas. Havia sido visto por ex-colegas circulando solitário pelas ruas centrais da capital, motivo pelo qual fora socorrido, em fins de 1997, por sua Mãe e levado para morar com ela em São Paulo. Em 1999 permaneci alguns meses naquela cidade e tentei por todos os meios entrar em contato com o Professor Otaviano, mas não tive sucesso. Algum tempo depois, quando estava trabalhando em Campo Grande, tive a sorte de falar com o também querido Professor Altevir Alberton, compadre seu, e foi ele e a esposa que me deram a triste notícia de seu falecimento um ano antes (em 5 de junho de 1998), em São Paulo, aliás, meses antes de sua Mãe, que o cuidou até os últimos momentos de vida.
A única homenagem existente em Mato Grosso do Sul ao brilhante Professor Otaviano é a Escola Estadual Professor Otaviano Gonçalves da Silveira Júnior, no Lar do Trabalhador, em Campo Grande. Na Universidade Federal, nada: nem na capital e muito menos em Corumbá, por onde chegou ao estado. Já passa da hora de resgatar a sua memória pelo seu generoso legado, independentemente de quaisquer divergências políticas ou ideológicas que possam ter ocorrido ao longo daquele período de embates intensos. O fato é que, mais que Professor (desses com letra maiúscula), foi um garimpador de talentos, que com muita generosidade soube lapidar sem exercer qualquer influência, em termos ideológicos, sobre os inúmeros alunos de orientou quase paternalmente.
Há pouco mais de três anos, construímos um blog, o “Alunos do Professor Otaviano Gonçalves da Silveira Júnior” (http://alunosdoprofotaviano.blogspot.com.br/) para iniciar um movimento de resgate de sua memória. Decorrido todo esse tempo, retomo esta temática para “cutucar” a consciência adormecida de seus ex-alunos e amigos que deixou nesta terra de tanta ingratidão para que se faça algo em sua memória, pois quem esquece seus mestres não merece conhecer nem aquilo que recebeu daqueles cujos nomes sequer guardou em seu cérebro.
Ahmad Schabib Hany
(Mensagem de 6 de outubro de 2013) 

terça-feira, 25 de junho de 2013

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA - MT: SOMOS TODOS BOLIVIANOS

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA - MT: SOMOS TODOS BOLIVIANOS: ---------- Mensagem encaminhada ---------- De:  Schabib Hany   < schabib2015@gmail.com > Data: 25 de junho de 2013 15:34 Assunto: SO...
SOMOS TODOS BOLIVIANOS
MANIFESTO DE DESAGRAVO ÀS TRABALHADORAS AGREDIDAS
Este dia 22 de junho de 2013 entra tristemente para a história da cidadania do coração do Pantanal e da América do Sul pela truculência dos gendarmes que agiram, não como servidores públicos, mas verdugos da irmandade de dois povos que vêm construindo uma nova página na história latinoamericana.
Por meio deste manifesto público, fazemos nosso incondicional e irrestrito ato de desagravo às trabalhadoras da Feira Brasbol agredidas acintosa e covardemente, em plena luz do dia e diante de diversas câmeras, sábado, 22 de junho, por gendarmes despreparados, eivados do ranço xenófobo que vem sendo alimentado irresponsavelmente por algumas autoridades de Corumbá, de modo obtuso e na contramão da história.
Fruto dessa empáfia bizarra, tais agentes do Estado parecem desconhecer que o outrora polo cosmopolita que abrigou quase todos os povos no coração do Pantanal e da América do Sul só pôde permanecer por mais cinco décadas como importante centro comercial intracontinental graças ao mercado andino, predominantemente boliviano, que permitiu um movimento pela fronteira de Corumbá de mais de um milhão e meio de dólares por dia, segundo dados da CACEX (Carteira de Comércio Exterior) do Banco do Brasil.
Graças ao Pacto Pela Cidadania (em que deram o melhor de si cidadãos como Dom José Alves da Costa, Padre Pascoal Forin, Padre Ernesto Sassida, Irmã Antônia Brioschi, Jorge Katurchi, Armando Lacerda, Balbino de Oliveira, Arturo Ardaya, Alexandre Gonçalves, Elemar Ebeling, Lamartine Costa, Maçu Sabatel, Heloísa Urt, Angélica Anache, Luz Marina Silva, Cristiane Santana, Ednir de Paulo e Delari Botega), dois parlamentares defenderam em Brasília a implantação da Área de Livre-Comércio de Corumbá e Ladário, de modo a equalizar as condições de comercialização entre as duas fronteiras irmãs.
De modo fraternal e sincero, estabeleceram-se canais de interlocução entre os atores sociais dos dois lados desta fronteira, tendo servido de instrumento balizador das políticas públicas pioneiras, introduzidas na sequência. Aliás, os motivos que levaram ao engavetamento dos referidos projetos de lei no Congresso Nacional não estão relacionados ao sacrifício feito pela coordenação do Pacto Pela Cidadania, cujos membros foram muitas vezes alvo do escárnio dos que desde sempre se alimentaram da exclusão social pantaneira.
Em pleno século XX, quando as fronteiras nacionais são abolidas pelo inexorável processo histórico de integração dos blocos continentais, é inadmissível que funcionários públicos de formação no mínimo questionável coloquem em xeque uma relação fraternal e profícua desenvolvida nos últimos 60 anos, quando da celebração do Tratado de Roboré pelas autoridades do Brasil e da Bolívia, e que a partir de então culminaram com a construção da Ferrovia Corumbá – Santa Cruz de la Sierra, do Gasoduto Bolívia – Brasil.
Não é demais recordar os desavisados que, desde o início do funcionamento do gasoduto (a partir de 2000), Corumbá tem sido beneficiada pela elevação da parcela que lhe cabe no bolo do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), e por conta disso sua receita não despencou no ranking estadual.
Relembramos ainda aos abutres que se alimentam da discórdia, que vêm acirrando uma hedionda intolerância com bolivianos e árabes (“turcos”) por meio de opiniões racistas, destituídas de qualquer fundamentação lógica, que xenofobia é racismo, crime inafiançável. Antes de passar pelo constrangimento de estar por trás das grades, prudência e civilidade não são demais.
Como a ignorância é torpe e atrevida, cabe aqui recalcar que, a exemplo das Mães da Coronilla (as heroínas que protagonizaram a primeira gesta libertária contra o jugo colonial na chamada América Espanhola, em solo boliviano), a grande Juana Azurduy, cantada pela voz imortal de Mercedes Sosa, também era conterrânea de muitas senhoras humilhadas e agredidas neste nefasto sábado, 22 de junho. A chibata, portanto, feriu de morte a dignidade e a honra da nação latinoamericana, vítima desde sempre dos feitores e jagunços que protegem saqueadores e seus sabujos, não seu povo explorado e humilhado.
Está enlutada a mãe-terra em cujo útero foram gestados cérebros generosos e iluminados como Pedro de Medeiros, Luiz e Mário Feitosa Rodrigues, Lobivar de Mattos, Apolônio de Carvalho, Wega Nery, Admar Amaral (Ramda Larama), Clio Proença, Carlos de Castro Brasil, Alceste de Castro, Ângela Maria Pérez, Magali de Souza Baruki, Renato Báez, Márcio Nunes Pereira, Jorapimo, Heloísa Urt, Augusto Malah dos Santos, Manoel de Barros, Augusto César Proença, Edson Moraes, Dary Júnior, Luiz Taques, Nelson Urt, Bolivar Porto, Edson Castro, Marcelo Fernandes e Felipe Porto.
É por isso que os signatários deste manifesto, à luz da ética universal, da irrestrita solidariedade e da indignação cidadã, declaram-se também em uma só voz: SOMOS TODOS BOLIVIANOS!

Corumbá (MS), 24 de junho de 2013.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA - MT: SOMOS TODOS BOLIVIANOS

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA - MT: SOMOS TODOS BOLIVIANOS: ---------- Mensagem encaminhada ---------- De:  Schabib Hany   < schabibhany@gmail.com > Data: 25 de junho de 2013 15:34 Assunto: SO...

SOMOS TODOS BOLIVIANOS

SOMOS TODOS BOLIVIANOS


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Schabib Hany <schabibhany@gmail.com>
Data: 25 de junho de 2013 15:34
Assunto: SOMOS TODOS BOLIVIANOS
Para: "Amigo(a)s Estimado(a)s" <amigos.estimados@gmail.com>


Estimado(a)s Amigo(a)s,
 
Estou encaminhando o texto preliminar do manifesto de desagravo às senhoras vítimas da covarde agressão feita por alguns policiais militares e guardas municipais em Corumbá (MS), acompanhados de outros funcionários públicos (municipais), numa sucessão de equívocos protagonizados pela nova administração municipal, cuja obtusidade começa a dar combustível ao já crescente sentimento antipetista em todo o País.

O texto é preliminar (porque será lido por um coletivo para ser assinado por várias pessoas e instituições), mas pode ser divulgado à vontade. E para quem quiser saber de quem é a redação, eu adianto que é de minha exclusiva iniciativa e autoria (mas aberta a contribuições), e desafio os parasitas do poder a qualquer tentativa de intimidação.
 
Sou da geração que desafiou a ditadura, e não me amedrontam quaisquer feitores travestidos de "esquerdalha", caricaturas, aliás, que me faz cócegas.
 
Fraternalmente,
 
Schabib
 
SOMOS TODOS BOLIVIANOS
MANIFESTO DE DESAGRAVO ÀS TRABALHADORAS AGREDIDAS
Este dia 22 de junho de 2013 entra tristemente para a história da cidadania do coração do Pantanal e da América do Sul pela truculência dos gendarmes que agiram, não como servidores públicos, mas verdugos da irmandade de dois povos que vêm construindo uma nova página na história latinoamericana.
Por meio deste manifesto público, fazemos nosso incondicional e irrestrito ato de desagravo às trabalhadoras da Feira Brasbol agredidas acintosa e covardemente, em plena luz do dia e diante de diversas câmeras, sábado, 22 de junho, por gendarmes despreparados, eivados do ranço xenófobo que vem sendo alimentado irresponsavelmente por algumas autoridades de Corumbá, de modo obtuso e na contramão da história.
Fruto dessa empáfia bizarra, tais agentes do Estado parecem desconhecer que o outrora polo cosmopolita que abrigou quase todos os povos no coração do Pantanal e da América do Sul só pôde permanecer por mais cinco décadas como importante centro comercial intracontinental graças ao mercado andino, predominantemente boliviano, que permitiu um movimento pela fronteira de Corumbá de mais de um milhão e meio de dólares por dia, segundo dados da CACEX (Carteira de Comércio Exterior) do Banco do Brasil.
Graças ao Pacto Pela Cidadania (em que deram o melhor de si cidadãos como Dom José Alves da Costa, Padre Pascoal Forin, Padre Ernesto Sassida, Irmã Antônia Brioschi, Jorge Katurchi, Armando Lacerda, Balbino de Oliveira, Arturo Ardaya, Alexandre Gonçalves, Elemar Ebeling, Lamartine Costa, Maçu Sabatel, Heloísa Urt, Angélica Anache, Luz Marina Silva, Cristiane Santana, Ednir de Paulo e Delari Botega), dois parlamentares defenderam em Brasília a implantação da Área de Livre-Comércio de Corumbá e Ladário, de modo a equalizar as condições de comercialização entre as duas fronteiras irmãs.
De modo fraternal e sincero, estabeleceram-se canais de interlocução entre os atores sociais dos dois lados desta fronteira, tendo servido de instrumento balizador das políticas públicas pioneiras, introduzidas na sequência. Aliás, os motivos que levaram ao engavetamento dos referidos projetos de lei no Congresso Nacional não estão relacionados ao sacrifício feito pela coordenação do Pacto Pela Cidadania, cujos membros foram muitas vezes alvo do escárnio dos que desde sempre se alimentaram da exclusão social pantaneira.
Em pleno século XX, quando as fronteiras nacionais são abolidas pelo inexorável processo histórico de integração dos blocos continentais, é inadmissível que funcionários públicos de formação no mínimo questionável coloquem em xeque uma relação fraternal e profícua desenvolvida nos últimos 60 anos, quando da celebração do Tratado de Roboré pelas autoridades do Brasil e da Bolívia, e que a partir de então culminaram com a construção da Ferrovia Corumbá – Santa Cruz de la Sierra, do Gasoduto Bolívia – Brasil.
Não é demais recordar os desavisados que, desde o início do funcionamento do gasoduto (a partir de 2000), Corumbá tem sido beneficiada pela elevação da parcela que lhe cabe no bolo do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), e por conta disso sua receita não despencou no ranking estadual.
Relembramos ainda aos abutres que se alimentam da discórdia, que vêm acirrando uma hedionda intolerância com bolivianos e árabes (“turcos”) por meio de opiniões racistas, destituídas de qualquer fundamentação lógica, que xenofobia é racismo, crime inafiançável. Antes de passar pelo constrangimento de estar por trás das grades, prudência e civilidade não são demais.
Como a ignorância é torpe e atrevida, cabe aqui recalcar que, a exemplo das Mães da Coronilla (as heroínas que protagonizaram a primeira gesta libertária contra o jugo colonial na chamada América Espanhola, em solo boliviano), a grande Juana Azurduy, cantada pela voz imortal de Mercedes Sosa, também era conterrânea de muitas senhoras humilhadas e agredidas neste nefasto sábado, 22 de junho. A chibata, portanto, feriu de morte a dignidade e a honra da nação latinoamericana, vítima desde sempre dos feitores e jagunços que protegem saqueadores e seus sabujos, não seu povo explorado e humilhado.
Está enlutada a mãe-terra em cujo útero foram gestados cérebros generosos e iluminados como Pedro de Medeiros, Luiz e Mário Feitosa Rodrigues, Lobivar de Mattos, Apolônio de Carvalho, Wega Nery, Admar Amaral (Ramda Larama), Clio Proença, Carlos de Castro Brasil, Alceste de Castro, Ângela Maria Pérez, Magali de Souza Baruki, Renato Báez, Márcio Nunes Pereira, Jorapimo, Heloísa Urt, Augusto Malah dos Santos, Manoel de Barros, Augusto César Proença, Edson Moraes, Dary Júnior, Luiz Taques, Nelson Urt, Bolivar Porto, Edson Castro, Marcelo Fernandes e Felipe Porto.
É por isso que os signatários deste manifesto, à luz da ética universal, da irrestrita solidariedade e da indignação cidadã, declaram-se também em uma só voz: SOMOS TODOS BOLIVIANOS!
Corumbá (MS), 24 de junho de 2013.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Cuba, a dignidade de um povo do tamanho de sua altivez

CUBA, A DIGNIDADE DE UM POVO DO TAMANHO DE SUA ALTIVEZ
“Lo que brilla con luz propia, nadie lo puede acabar.
Su brilho puede alcanzar la oscuridad de otras cosas.”
Pablo Milanés (Canción por la Unidad Latinoamericana)
Desde que a trágica colonização se abateu sobre o continente batizado de americano, o povo do território que foi chamado de Cuba, ainda no século XVI, nunca mais conheceu a paz e a concórdia, mas o saque e a exploração até que a Revolução Cubana de 1959 lhe assegurou soberania, dignidade, respeito e autoestima.
Piratas, corsários e todas as corjas oriundas da Europa usavam o arquipélago cubano, no Caribe, como base de apoio às suas aventuras.
No genocida processo de colonização, os povos originários praticamente foram extintos pelos espanhóis, e para explorar a mão de obra escrava e alimentar o comércio negreiro, trouxeram aprisionados centenas de milhares de africanos, que hoje constituem a maioria da população cubana.
Na dura luta pela independência da Espanha, o povo cubano teve como líder o pensador, jornalista e poeta José Martí, também chamado de “O Apóstolo”, mutilado em pleno combate pelas tropas coloniais antes do fim da guerra pela independência, em fins do século XIX.
É dele este emblemático pensamento:
“A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignar a vivermos sem ela ou de nos decidir a pagarmos o seu preço.” (José Martí)
Mas seu exemplo, resgatado pela Revolução Cubana, sequer foi honrado pelos sucessivos ditadores, verdadeiros marionetes do “Grande Irmão do Norte” e demais representantes dos interesses das empresas açucareiras e de orgias para a elite estadunidense, na primeira metade do século XX.
Durante praticamente duas décadas de luta contra o ditador Fulgencio Batista, mais um fantoche dos interesses americanos em solo cubano, três jovens líderes de um levante popular sem precedentes deram outro rumo à história do Povo Cubano: Fidel Castro, Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara.
A ira da elite entreguista cubana e os interesses do poder capitalista americano tentaram de todos os meios silenciar a Revolução. Mas o Povo Cubano deu o apoio necessário ao novo líder, Fidel Castro, e aos poucos foi se aproximando do socialismo, em plena Guerra Fria.
No início da década de 1960, com a participação de Che Guevara no governo revolucionário cubano, os Estados Unidos tentaram uma invasão, mal sucedida e que custou caro ao governo norte-americano, humilhado dentro de sua área de influência. O ponto alto dessa tensão foi a crise do mísseis, quando a União Soviética enviou mísseis para a defesa da ilha e os Estados Unidos tentaram repelir – segundo alguns historiadores o episódio por pouco não foi o estopim de uma possível terceira Guerra Mundial.
Desde então, Cuba vive um terrível bloqueio econômico (um verdadeiro boicote econômico que impede que as demais nações do continente negociem com o governo da ilha), além de parte de seu território, a região de Guantánamo, ter estado sob permanente ocupação militar estadunidense. Aliás, é lá onde atualmente se encontra a abominável prisão que o governo dos Estados Unidos mantém desde 2001 aprisionadas as vítimas de sua propaganda terrorista contra os árabes: sem qualquer processo formal, violando as mais elementares prerrogativas dos Direitos Humanos e das convenções internacionais, os autoproclamados “paladinos da democracia e dos direitos humanos” cometem toda forma de desumanidade, em nome de uma ficção que eles mesmos criaram – a luta contra o “terrorismo” (quando eles são os maiores terroristas).
Mesmo acuada, Cuba não deixou de manter viva a chama da solidariedade socialista, e, além de ter recebido jovens de todas as partes do mundo para frequentar suas universidade, escolas profissionais e centros de excelência em diversas atividades humanas, enviou suas missões humanitárias para vários continentes, sobretudo África (Angola e Moçambique) e América Latina (Peru, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Venezuela e mais recentemente Brasil).
Não por acaso, Fidel Castro, ao lado de Jawaharlal Nehru (Índia), Gamal Abdel Nasser (República Árabe Unida) e Josip Broz Tito (Iugoslávia) foram os protagonistas do Movimento de Países Não Alinhados, que representou uma alavanca à luta dos povos por sua libertação nacional, seja América, África, Ásia, Oceania e Europa.
Até para os conservadores, Cuba tem um sentido emblemático, ou, como os camaradas baianos declararam na convenção de solidariedade anterior, “uma terrível pedra no sapato, uma vez que é a demonstração real da superioridade moral do socialismo”. E são eles que disseram que soube superar “as maiores adversidades após o fim da União Soviética sem fechar um único hospital ou escola e sem abrir mão da solidariedade internacional: menor taxa de mortalidade infantil da América Latina, menor taxa de violência urbana, analfabetismo zero, todas as crianças na escola, primeiro país do continente americano a cumprir as metas do milênio segundo a ONU, melhor país da América Latina e 30º do mundo para ser mãe, segundo a fundação inglesa Save the Children”.
Depois da extinção da União Soviética, os trabalhadores do mundo e alguns governos socialistas e anti-imperialistas passaram a colaborar com o Povo Cubano, mas o mérito de sua heroica superação é deles, exclusivamente. Ao contrário da insaciável propaganda enganosa do “grande irmão do norte” e de todas as iniciativas terroristas estadunidenses de sabotar, cooptar e denegrir o Povo Cubano de todas as formas, Cuba dá inequívocas provas de sua decisiva opção pelo socialismo como real alternativa para a sociedade decadente e cada vez mais fratricida do hediondo capitalismo, agora travestido de sociedade global, mas sempre igualmente perverso, tirânico, excludente e mais que nunca intolerante e explorador.
Por isso, a solidariedade a Cuba e à dignidade de seu bravo e heroico Povo é incondicional, fraternal, militante e, sobretudo, literalmente dialética: proativo, criativo, palpitante, alegre, futurista e permanente – como a Vida –, com a mesma convicção dos jovens que transformaram e transformam o mundo para as novas gerações, e dos sábios anciões como Oscar Niemeyer que, do alto de seus mais de cem anos, calou a boca dos milhões de cínicos “ex-socialistas” arrependidos: “Enquanto houver uma só criança no mundo a morrer de fome, tenho orgulho de ser socialista.”
Foi assim como Chico Buarque verteu para o português o citado poema de Pablo Milanés:
A história é um carro alegre cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue.
É um trem riscando trilhos, abrindo novos espaços, acenando muitos braços, balançando nossos filhos.
Quem vai impedir que a chama saia iluminando o cenário, saia incendiando o plenário, saia inventando outra trama?”

(Pablo Milanés e Chico Buarque, Canção para a Unidade da América Latina)

sábado, 1 de junho de 2013

"OZIEL FALAVA EM PÁSSARO" (Por Professor Fábio Nogueira)


Oziel falava em pássaro

Oziel, liderança terena, falava em pássaro.
OZIEL, LIDERANÇA TERENA, FALAVA EM PÁSSARO.
“Conversava em Guató, em Português, e em 
Pássaro.”
(Manoel de Barros sobre Sombra-Boa)
- E foi assim, disse desolado Adamastor.
Era uma narrativa breve e melancólica.
As crianças escutavam tudo imóveis como as sombras ao meio dia.
Adamastor, com sua fala arrastada, descrevia como as terras dos sem fim se converteram em enormes propriedades rurais, produtivas e modernas.
Os confins se tornaram concentrações de coisas.
Desfez-se o reino da imensidão, da natureza, dos rios, das plantas e dos animais. Tudo se transformou em papel moeda.
As pessoas desaprenderam a falar em guató e em pássaro.
Só o português bastava.
Português é idioma bom para dar ordens.
Ninguém dá ordem em pássaro.
Em guató, as águas se erguem para ouvir. E isso é coisa imprestável na língua dos fazendais orgulhosos de sua estupidez endinheirada!
E o povo foi desaprendendo a falar. Disseram que pássaro e guató eram “línguas mortas” e condenadas ao exílio.
Retiraram os índios de suas terras e os despejaram às margens dos palavrórios de números e estatísticas.
Esta é a verdadeira “língua morta”: a língua surda do poder.
Adamastor era triste destas palavras.
Conhecera um terena que falava em pássaro.
Na Atlântida guató, pantaneira, uma gramática de águas e bichos conspirou contra as cercas do poder. Disseram isso pela canoa.
Oziel escutava tudo em silêncio. Aproximou-se de Adamastor e disse:
- Só fala em pássaro quem é livre!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

PROFESSORA EUNICE AJALA ROCHA, A HISTÓRIA COM NOME E SOBRENOME

Professora Eunice Ajala Rocha, a história com nome e sobrenome

A Professora Eunice Ajala Rocha se eterniza sem ter visto a reparação moral de Edu Rocha, assassinado a queima-roupa por um denunciado impune, e sem ter podido ver a publicação da pesquisa pioneira sobre o cururu, o siriri, o banho de São João e a viola de cocho, sua dissertação de Mestrado, em 1982.

Com o falecimento da Professora Eunice Ajala Rocha, ocorrido na primeira semana de 2013 -- a apenas dois meses do sepultamento de seu segundo esposo, Nineve Franco de Arruda --, encerra-se um rico período da história recente de Corumbá, ainda não suficientemente conhecido pelas novas gerações de corumbaenses e sul-mato-grossenses.

Docente aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, lotada no então Centro Universitário de Corumbá, ela é muito mais que uma proba ex-secretária de Educação e Cultura do município da primeira gestão do prefeito Fadah Scaff Gattass, por indicação do então vereador peemedebista Valmir Batista Corrêa: como pesquisadora resgatou o siriri e o cururu para a cultura regional e revelou para a posteridade talentos até então anônimos, como o cururueiro Agripino Magalhães Soares, o da viola de cocho (celebrizado pela saudosa Helô Urt quando gestora da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque), e como cidadã foi protagonista de uma fase épica (mas nem por isso menos tumultuada) da política corumbaense, em que o célebre vereador Edu Rocha, seu primeiro esposo, resultou metralhado na saída da Câmara Municipal, depois de denunciar autoridades federais baseadas em Corumbá envolvidas com o tráfico de carros contrabandeados -- os famosos “rabos-de-peixe” --, cujo mandante permaneceu impune, apesar de todas as evidências e reportagens publicadas em uma das maiores revistas semanais de então, a O Cruzeiro, que dedicara a capa ao famigerado fato.

Há um episódio ilustrativo da urbanidade – ou, melhor, da magnanimidade – do casal Eunice – Edu Rocha, conhecido por pouquíssimas pessoas, que foi narrado pelo falecido protagonista e confirmado pela professora, duas décadas atrás: a poucos meses do assassinato do vereador Edu Rocha, em fins da década de 1950, um imigrante palestino, então recém-chegado, aportara no início da manhã à casa do renomado político para, como mascate, oferecer suas mercadorias na típica mala de fibra, tendo sido recebido pela esposa. Como o mascate ainda não falava o português, algum conterrâneo lhe fizera um texto grafado em árabe com o que deveria ser um preâmbulo de abordagem em português para expor os seus produtos. Contudo, por brincadeira de mau gosto ou pura má-fé, o conterrâneo do mascate, depois do cumprimento inicial, escrevera algo como “você quer dormir comigo?”, em vez de solicitar permissão para iniciar a demonstração de seus artigos à cliente. Tomada pelo susto (imagine-se o impacto daquelas palavras na metade do século passado), a professora Eunice pediu ao mascate que repetisse o que lera, e ele, com a inocência de quem não sabia o que estava lendo, insistira na proposta indecorosa. Ato contínuo, ela pediu licença para chamar o esposo, que se preparava para sair, que, depois da leitura do cumprimento com a dificuldade característica de um recém-chegado ao país, ouviu atônito a repetição do bizarro “você quer dormir comigo?”. Mal refeito da inusitada proposta, pediu à esposa que servisse um café ao mascate e depois de telefonar para alguém convidou o imigrante que o acompanhasse para poder compreender seu propósito. Algumas quadras depois, chegam a um tradicional estabelecimento de um imigrante libanês em pleno centro da cidade e Edu Rocha pede ao mascate que voltasse a ler sua “cola” diante do comerciante, que ruborizado lhe traduziu os termos de sua proposta. Envergonhado, o mascate pediu, de joelhos, perdão pelo ocorrido e se despediu deles, apressadamente, à procura do conterrâneo irresponsável, que por sua brincadeira poderia ter lhe causado a própria morte se não tivesse a sorte de ter sido recebido por esse casal afável. Meses depois, ao saber da morte daquele polido senhor que praticamente lhe salvara a vida, ele fez questão de ir ao seu funeral em sinal de gratidão. Por coincidência da vida, a Professora Eunice, antes de ser docente do Centro Universitário de Corumbá, trabalhou num órgão do Ministério do Trabalho ligado à atividade marítima, sediado no extinto Serviço de Navegação da Bacia do Prata, cujo prédio era próximo da loja do já próspero comerciante palestino, situada também na rua Quinze de Novembro, o que possibilitou que ele retribuísse aquele gesto magnânimo com a amizade e o respeito de toda a sua família, tendo transformado um constrangedor episódio em uma anedota sem maiores consequências, algumas vezes contadas aos amigos mais próximos. Hoje, à exceção do comerciante libanês procurado por Edu Rocha para esclarecer o imbróglio, esses protagonistas não mais estão entre nós, mas deixaram uma lição de urbanidade e cosmopolitismo para a posteridade, a despeito do indolente descaso com a memória pública em nossa região.

A amnésia coletiva reinante no coração do Pantanal, aliás, é pródiga: personagens medíocres sem qualquer atributo meritório são alvo de repetidas homenagens em vida. Já personalidades com a biografia de uma cidadã digna e proba, porém discreta e humilde, como a Professora Eunice Ajala Rocha, passam despercebidas, quase anônimas, por nosso cotidiano de bajulações entediantes. Em 2002, o escritor Augusto César Proença e eu fizemos uma tentativa, lamentavelmente frustrada, de publicar uma versão em formato não acadêmico da dissertação de mestrado da Professora Eunice, em que faz generosos aportes à cultura popular e à identidade cultural da região. Decorridos dez anos, sequer a versão acadêmica de sua dissertação foi publicada. Talvez agora, com seu falecimento, os doutos do saber acadêmico tomem a -- ainda que extemporânea -- iniciativa de publicar seu trabalho, até para que não seja alvo de plágio pelos colecionadores de títulos acadêmicos que vivem a garimpar méritos a qualquer custo.

Ahmad Schabib Hany

Feitas duas correções posteriores à publicação: adequação ortográfica do termo "siriri" e substituição do nome da revista semanal Manchete pelo da O Cruzeiro, em cujas edições foram publicadas denúncias antes e depois do assassinato do Vereador Edu Rocha, em 1959.