sábado, 1 de junho de 2013

"OZIEL FALAVA EM PÁSSARO" (Por Professor Fábio Nogueira)


Oziel falava em pássaro

Oziel, liderança terena, falava em pássaro.
OZIEL, LIDERANÇA TERENA, FALAVA EM PÁSSARO.
“Conversava em Guató, em Português, e em 
Pássaro.”
(Manoel de Barros sobre Sombra-Boa)
- E foi assim, disse desolado Adamastor.
Era uma narrativa breve e melancólica.
As crianças escutavam tudo imóveis como as sombras ao meio dia.
Adamastor, com sua fala arrastada, descrevia como as terras dos sem fim se converteram em enormes propriedades rurais, produtivas e modernas.
Os confins se tornaram concentrações de coisas.
Desfez-se o reino da imensidão, da natureza, dos rios, das plantas e dos animais. Tudo se transformou em papel moeda.
As pessoas desaprenderam a falar em guató e em pássaro.
Só o português bastava.
Português é idioma bom para dar ordens.
Ninguém dá ordem em pássaro.
Em guató, as águas se erguem para ouvir. E isso é coisa imprestável na língua dos fazendais orgulhosos de sua estupidez endinheirada!
E o povo foi desaprendendo a falar. Disseram que pássaro e guató eram “línguas mortas” e condenadas ao exílio.
Retiraram os índios de suas terras e os despejaram às margens dos palavrórios de números e estatísticas.
Esta é a verdadeira “língua morta”: a língua surda do poder.
Adamastor era triste destas palavras.
Conhecera um terena que falava em pássaro.
Na Atlântida guató, pantaneira, uma gramática de águas e bichos conspirou contra as cercas do poder. Disseram isso pela canoa.
Oziel escutava tudo em silêncio. Aproximou-se de Adamastor e disse:
- Só fala em pássaro quem é livre!

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