Antes
que seja tarde
Não se trata de ‘panaceia’,
remédio para todos os males. A Universidade Federal do Pantanal é solução
imediata para assegurar oportunidades dignas à nossa juventude e suas famílias.
Só a educação é capaz de preparar, mediante um presente digno, um futuro alvissareiro
para as novas gerações e para o Pantanal.
Reza a lenda que, quando o Criador fez do Pantanal
um verdadeiro Paraíso na Terra, não estabeleceu nenhum empecilho no tocante aos
‘chegantes’ de todos os recônditos deste mundão velho, ‘sem Deus nem lei’. Tanto
que os generosos originários celebraram a vinda dos invasores europeus como
heróis, e foram estes os responsáveis por oprimi-los, saqueá-los, escravizá-los
e submetê-los ao seu jugo nada cristão...
Não vou me ater à lenda do ‘encontro/descobrimento’
-- porque, a rigor, foi ‘encontrão’, violência pura -- dos autoproclamados ‘civilizados’,
como Hernán Cortés, Francisco Pizarro, Vicente Pinzón, Álvar Núñez Cabeza de
Vaca e Pedro Álvares Cabral (isso sem falar de sua tripulação de condenados que
não tinham outra que agarrar uma ‘segunda chance’ nas distantes terras
recém-colonizadas). Sem recorrer ao mito
da ‘Inteligência Artificial’, o ‘mestre’ Google pode dar algumas pistas ao
buscar Montezuma, Atahualpa, Cortés, Pizarro, Pinzón, Cabeza de Vaca e Cabral.
Os mesmos originários que receberam de braços
abertos os invasores hoje vivem à míngua, sob o jugo canalha e cínico dos ‘civilizados’.
No Pantanal não foi diferente: castelhanos e lusitanos o disputaram num
primeiro momento, seguidos dos ‘bandeirantes’ e, em menor escala, das ‘entradas’.
O que importa é que a rica miscigenação decorrente desse processo histórico está
no limiar de novo tempo a todos. Que pode ser alvissareiro como pode ser
trágico, a depender de nossa capacidade e atitude sincera e coerente, fazendo
com que o Pantanal, cobiçado desde os tempos coloniais de triste memória, seja
reconhecido por sua vocação generosa: solução para os principais dilemas da
humanidade hoje. Agora.
SAÍDA PELA BR-262?
Dias atrás, quando estávamos na adesivagem na Frei
Mariano com a Treze de Junho, um Amigo muito querido que não conseguiu se
reeleger vereador me fez uma provocação, ao que respondi que mais que brigar
com a capital, é preciso fortalecer a representatividade local, seja por meio
de parlamentares ou por meio de secretários -- assessores executivos no
primeiro escalão do governo estadual ou dos ministérios do governo federal --,
pois, após o golpe travestido de impeachment e prisão dos dois dignitários caluniados,
só nos restaram promessas, promessas e promessas para o Pantanal, em especial
para Corumbá e Ladário. Por isso a solução para o Pantanal tem nome e
sobrenome: Universidade Federal do Pantanal -- UFPantanal, sem abreviações,
porque Pantanal é nome forte, é marca. Ou alguém tem dúvida?
Não adianta ficar brigando com Campo Grande, que
por ter mais expressão na Assembleia Legislativa, Câmara Federal e Senado da
República, vai ficar com maior fatia nas emendas parlamentares. É verdade que
em 2023 e 2024 a Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS) granjeou para seus campi de Campo Grande todos os valores obtidos
com as emendas parlamentares para aquela instituição. Ou nossos dirigentes
locais são tão fracos e incompetentes para reivindicar um quinhão daquilo que
foi destinado para a instituição (que acabou concentrado em Campo Grande), ou é
hora de aprendermos que todos os segmentos da população do Pantanal perdem se
não tivermos a grandeza de superar diferenças e nos unirmos, pois continuar a
sabotar o trabalho do outro não leva a lugar nenhum, enquanto nossa juventude
só vê saída na BR-262.
No contexto da campanha pela criação da UFPantanal,
só temos um caminho: nos unirmos, independentemente da religião, da origem ou
etnia, da classe social, do time de futebol, da simpatia partidária, da opção
sexual e do ofício ou profissão que temos. Ou nos unimos efetivamente pela
UFPantanal ou nossos jovens -- e as suas famílias -- não terão outra saída que
a BR-262, repito. Está dando um tiro no pé quem estiver apostando no fracasso
de mais uma causa em defesa do Pantanal e de sua população -- de todos os
segmentos, classes e camadas da população, sobretudo dos segmentos que vivem de
seu trabalho, de seu dia-a-dia (quem vive das tetas do Estado não sente) --, em que todos, absolutamente
todos, ganham: não há nada mais democrático que a Educação, a Ciência e a
Tecnologia, fontes de oportunidades. Como os sábios ancestrais diziam, não
demos chance ao azar.
JUSTA HOMENAGEM
A eternização em Campo Grande da agora saudosa
Professora Teresa Cristina Varella Brasil de Almeida, dia 17, comoveu todas as
pessoas que tiveram a sorte e felicidade de conhecê-la e compartilhar momentos
inesquecíveis ao seu lado. Filha do saudoso Professor Djalma Sampaio Brasil,
lendário docente de línguas estrangeiras, um verdadeiro poliglota, a Professora
Kitty, como era carinhosamente chamada, trabalhou de 1996 a 2024 na UFMS, desde os tempos em que o campus
local era chamado de Centro Universitário de Corumbá (CEUC), ministrando aulas
e fazendo pesquisas no curso de Letras, suspenso em 2019.
A Professora Denise
Campos Diniz Mônaco, ex-aluna da Professora Kitty, fez uma sensível e
emblemática homenagem nas redes sociais. Uma belíssima crônica que foi gravada
pelo Amigo Joel de Carvalho Moreira, também ex-aluno da Professora Kitty e
servidor do Poder Judiciário em Campo Grande, para ser nossa forma de ampliar
essa homenagem em todos os espaços possíveis, como na adesivagem da UFPantanal,
sábado passado, no centro de Corumbá. À Família da saudosa Professora Kitty
nossos sinceros e profundos sentimentos. À Professora Denise Diniz e ao Joel
Moreira nossa gratidão por ter compartilhado carinhosa e generosamente esta
homenagem à Professora Kitty, presente, hoje e sempre!
“KITTY...
“Era uma vez uma adolescente, de corpo pequeno, de
menina, porém bem talhado pelas mãos divinas. E, como toda adolescente, gostava
de vestir-se à moda compartilhada, naquele momento áureo entre os adolescentes:
camiseta, calça jeans e melissa... Ela adentrava à sala de aula com um jeitinho
que era só dela... Ficávamos encantados quando ela perguntava: How are you? Nós respondiamos: Fine, thanks! Fazíamos a
5°série, Dalas e eu, aprendemos o verbo To Be, e nunca mais esquecemos.
Depois de alguns anos, minha irmã e eu a encontramos na UFMS/CEUC. Ela teve um
filho que, depois de formadas, foi nosso aluno. Um menino muito especial
blindado por um manancial de amor genuíno vindo dela... Antes de sairmos da
Universidade, fizemos um concurso. Fomos muito bem classificadas. Claro! Éramos
alunas da mais obstinada professora na missão de ensinar.
“Tinha mais uma coisa: Ninguém que ousasse mexer
com seus alunos ficaria sem esclarecer os fatos. Não gostava de injustiças...
Era íntegra, leal, fiel, honesta. Eu e Dalas (professora de Inglês, assim como
ela) tivemos a sorte de pertencemos ao conjunto de seus afetos. Mas, voltando
ao assunto da Universidade, Kitty levou a prova do concurso para que todos a fizessem.
Corrigiu cada uma das questões. Parabenizou-nos diante de nossos colegas de
classe pela conquista. Saiu alegre, mas com toda a humildade e simplicidade que
lhe eram peculiares.
“Professora, está doendo muito a sua partida...
Porém, ficaremos com as gargalhadas que você se permitia dar quando estávamos
juntas, né, Ângela? Adeus não, Kitty. Adeus dói demais... demais... No máximo,
um tchau, ou um até logo!
Denise Campos Diniz Mônaco”
MARIO CASTRO, “LA VOZ DE ORO”
A Bolívia, a radiofonia e a humanidade perderam
mais que “La Voz de Oro”, o querido e agora saudoso Jornalista e Radialista
Mario Castro Monterrey. Perdemos todos um Ser Humano com letras maiúsculas e de
uma generosidade do tamanho de seu talento. Mario Castro se eternizou na manhã
de 19 de dezembro, aos 90 anos, 73
deles dedicados à radiofonia, em que privilegiou os seus ouvintes não apenas
com sua voz inesquecível, mas seu talento e sua generosidade ímpar.
Iniciou-se, em 1951, aos 17 anos, na Radio Libertad e pouco depois já
era diretor da Radio Altiplano, onde permaneceu até 1965. Em 1976,
durante os anos de chumbo na Bolívia, fundava a Radio Cristal, emissora
em que revelou talentos que tiveram um protagonismo no Jornalismo boliviano,
com destaque para o igualmente gigante Jornalista Lorenzo Carri, editor de
esportes do emblemático diário Presencia. Em 1993 teve coragem de fazer novo
tipo de radiofonia, na Radio Cumbre, emissora exclusiva de músicas
clássicas, focada na formação de público.
Conheci-o por meio de minha Irmã Wadia em 1984,
quando ainda produzia, apresentava e dirigia seu programa dominical, Revista
Cultural, em que entrevistou grandes personagens da literatura, das artes e
da ciência, entre eles Eduardo Galeano. Em um dos dois volumes de Lo que el
viento no se llevó, obra-prima com primorosas memórias, há depoimentos
extraordinários. A seu lado, conheci o Jornalista Lorenzo Carri, versão
boliviana do Joelmir Betting, e a Jornalista Amalia Pando, uma incansável
repórter que há pouco tempo parou definitivamente seu ofício depois de perder o
unigênito. Até recentemente mantínhamos
correspondência longeva, interrompida por causa do AVC que o silenciou. Uma das
pessoas mais honradas que conheci e com quem tive a honra de me corresponder a
partir de minha última estada na Bolívia, e por seu intermédio com os
intelectuais, escritores e Jornalistas Néstor Taboada Terán, Hernán Melgar
Justiniano, Roberto Arnez Villarroel, Andrés Soliz Rada, Alejandro Almaraz Ossío,
Juan Cano, Pedro Suzs e Lorenzo Carri. Mais que “La Voz de
Oro”, “La Conciencia de Oro”. ¡Hasta siempre, Mario Castro!
Ahmad Schabib Hany
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