Um ano sem Bruno Pereira e Dom Phillips
No Dia Mundial do Meio Ambiente, fez um ano o covarde assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Apesar do esforço do atual governo federal, a região continua tomada por quadrilhas de grileiros, garimpeiros, madeireiros e mineradores ilegais, estimulados pela ação/omissão do palerma que tomou de assalto os destinos da nação em 2018.
Neste 5 de junho, no coração da Amazônia, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Brasília, e em diversas metrópoles do planeta, como Londres e Nova York, o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram homenageados em seu primeiro ano de eternização, causada por um covarde atentado com requintes de crueldade.
As homenagens ocorreram no cinquentenário do Dia Mundial do Meio Ambiente, criado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, 1972. Biomas como Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Chaco têm sido foco de atenção no planeta. Diferentemente de reacionários negacionistas, que vivem a enxergar chifre em cabeça de cavalo, a causa ambiental e a defesa da igualdade racial não têm donos nem ideologia: todo ser humano consciente tem esse compromisso de vida e, portanto, uma ação sincera, espontânea.
As respectivas viúvas, Beatriz Matos e Alessandra Sampaio, deixaram depoimentos muito emocionados, pois seus companheiros eram muito amados por suas famílias e amigos -- e, no caso de Bruno, pai muito presente, mesmo trabalhando a milhares de quilômetros de seus filhos. O mandante e seus matadores, membros de quadrilhas poderosas (ligadas a políticos delinquentes, da base de apoio ao inominável), foram incapazes de um gesto de racionalidade e de empatia.
O covarde assassinato, com requintes de crueldade, de Bruno e Dom, no Vale do Javari, coração da Amazônia, fez um ano, mas o terror continua. Apesar do esforço do governo federal, a região permanece tomada por quadrilhas do crime organizado (traficantes, grileiros, garimpeiros, madeireiros e mineradores ilegais) incentivados pela ação-omissão do palerma que tomou de assalto os destinos da nação em 2018.
A sucessão de crimes, em sua maioria impune (como, aliás, a execução da Vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes), tem sido estimulada pela conivência (na verdade, prevaricação criminosa, passível de sanção) de diversos agentes do Estado, cooptados pela ideologia miliciana daquele quase desertor cujo futuro político já está traçado, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em questão de dias, semana talvez, ele e seus asseclas encontrarão o que merecem, não perdem por esperar.
É fundamental registrar a atuação de repórteres investigativos de portais independentes e, inclusive, Sônia Bridi e Paulo Zero, que, além de fazer uma reconstituição da barbárie cometida com o afã de silenciar os que deram voz e vez a povos originários isolados (não só no Vale do Javari, como em outras regiões da Amazônia), resgataram pertences de Bruno e de Dom, entre eles o celular do indigenista, com provas irrefutáveis da sanha perversa da poderosa quadrilha mandante (e seus vínculos com organizações criminosas bem próximas de milícias acochadas do inominável e hordas, igualmente mefistofélicas).
Óbvio que precisamos estar atentos à ação sub-reptícia das ratazanas que vivem nos putrefatos esgotos do submundo do crime. Essas ratazanas foram superdimensionadas na representação parlamentar, em níveis estadual e federal, nos pleitos que se sucederam ao golpe em série de 2016-2018, base de apoio ao desgoverno genocida. Não por acaso, a aprovação açodada, a toque de caixa, pelo plenário da Câmara do Marco Temporal, da flexibilização da fiscalização e repressão ao desmatamento criminoso do cerrado e do esvaziamento dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários, dias atrás.
Não é mantra (mas bem que poderia ser, de modo a iluminar as mentes obscuras desses perversos que vivem, como abutres, da tragédia humana), mas devemos reiterar sempre que possível a fala profética do líder originário andino Julián Apaza, o célebre Túpac Katari, quando condenado a esquartejamento pelos algozes colonizadores: “Somente a mim matareis, mas amanhã voltarei e serei milhões.” A Bolívia é testemunha da profecia (basta ver o destino de golpistas genocidas bolivianos, como Jeanine Áñez, Hugo Banzer, além de seu ‘padrinho’, o inominável). E toda vez que um ou mais aventureiros atentam contra os povos originários, a condenação é inevitável, vem a galope.
Assim como no martírio da Irmã Dorothy Stang, de Chico Mendes, de Marçal de Souza e, obviamente, de Marielle Franco e Anderson Gomes, não há sentença capaz de trazer as vítimas dos pistoleiros de aluguel de volta para seus lares, para o convívio com os seus e, sobretudo, para dar continuidade à sua sagrada labuta, covarde e traiçoeiramente interrompida. Que no Corpus Christi a infinita Luz se faça Presença e Amor incondicional para dar alento, afago, alívio aos corações esquartejados dos Túpac Katari hodiernos e seus desolados e inconsoláveis enlutados (em espanhol, deudos, ainda mais eloquente).
Ao concluir, gostaria de fazer chegar meus profundos sentimentos à Família e Amigo(a)s do Professor Carlos Augusto Espíndola, cuja súbita eternização tomou de perplexidade a todos, que pudemos vê-lo (e nos cumprimentar fraternalmente) no sábado anterior à sua partida em reunião pedagógica na escola de nossos Filhos. Desde que o conheci, há exatos 40 anos, quando cursava História no à época CEUC/UFMS, sua conduta discreta e constante o credenciou aos diferentes cargos que conquistou em sua vitoriosa carreira profissional, sobretudo como discreto e leal assessor da saudosa Professora Terezinha Baruki há três décadas, e desde então um incondicional e fraternal Amigo seu de todas as horas.
Ahmad Schabib Hany
Crédito da foto de Marçal de Souza: Jornalista Maria Helena Brancher (reproduzida em matéria do CIMI/MS), uma das fundadoras do GAIN-MS (Grupo de Apoio ao Índio), em 1980.
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