DO LADO ESQUERDO DO PEITO
Edson Moraes
Sexta-feira, 14, na sede da
Federação dos Trabalhadores da Educação Publica (Fetems), concorridíssimo
lançamento de “Zé Dirceu: Memórias”, em seu Volume I.
Apesar do cansaço, da tosse
incômoda e dos reflexos dolorosos de um tombo, ele esteve como sempre o vi:
altivo, sereno, universal. Não parecia ter sobre seus ombros a dor de um
perverso linchamento midiático e político, muito mais impactante que a angústia
eventual da privação de liberdade.
O encarceramento que o incomoda
ainda é o do mundo que o contempla, sobretudo pelos que escarnecem sobre seu
sofrimento e fazem o butim de suas lágrimas.
José Dirceu em nenhum momento
posou de vítima. Faz isso desde que voltou do exílio. Deixa o coitadismo para
que os pobres de espírito se fartem à mesa dos torquemadas de ocasião no lauto
banquete da hipocrisia.
Mas... que é isso, companheiro?
Nada desse ranço saiu de sua boca e de sua cabeça.
Eu ouvi de você a palavra serena,
da reflexão, do equilíbrio. A recomendação para reconhecer que erramos, sim, e
não erramos pouco. Precisamos ser rigorosos, mais do que temos sido, em nossa
autocrítica. Nós – esquerda, PT, campo progressista – contribuímos para que o
ventre do bolsonarismo o lançasse à luz, embora seja esta uma prole amante do
breu e da obscuridade.
Grato, companheiro, por remeter
minha cabeça ao vão fundo e cinzento da coragem pequena que não deixa ver o
quanto é forte e capilarizada a ascensão do governo que a maioria dos eleitores
de outubro elegeu.
Grato, companheiro, por me
reforçar a consciência de não culpar nem maldizer os evangélicos que
malafaiaram e macedaram para garantir a vitória do capitão.
É verdade, muito bem lembrado Zé:
nós fomos também malafaias e macedos na catolicagem das Comunidades Eclesiais
de Base (Cebs) e pastorais. Ainda que tivéssemos outro enredo para os temas da
exclusão fundiária, do genocídio indígena, da segregação racial, da misoginia,
éramos precursores de Silas e Edir na versão apostólica romana. O que não
soubemos foi construir essa caitituagem social para torná-la consistente, densa
e, sobretudo, duradoura.
Grato, enfim, companheiro, por
submeter-se à lei dos homens sem acocorar-se diante da injustiça!
Sei que a legalidade não é ciência exata.
Sei que a legalidade não é ciência exata.
Grato, por último, pela poesia
que o ambiente democrático escreve e desenha, garrancheia e borra, limpa-suja
as nuvens e o chão da história que estamos fazendo, da história que estamos
contando, da história que vai nos contar.
Grato, companheiro! Você veio
aqui para nos mostrar que perdemos!
É assim que se ganha!
(Edson Moraes)
***** Zé Dirceu recebe o livro
“Bugre Rima com Estrelas”, do autor Edson Moraes, seu amigo e correligionário,
na sede da Fetems em 14/12/2018 (Foto Andréia Cercariolli)
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