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Corrupção
Formação do governo Temer visava proteger organização criminosa, diz Janot
por Redação — publicado 07/02/2017 10h46, última modificação 07/02/2017 10h47
Para PGR, nomeações de Jucá, Sarney Filho e Fabiano Silveira tinham objetivo de criar "ampla base de apoio" para conter a Lava Jato
Jucá, Temer e Renan: governo foi formado para barrar a Lava Jato
A formação
do governo de Michel Temer teve, ao menos em parte, o intuito de proteger a
organização criminosa que vem sendo investigada na Operação Lava-Jato. Essa é a
conclusão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em petição
apresentada na noite de segunda-feira 6 ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No documento, Janot pede a abertura de um inquérito criminal
contra o ex-presidente José Sarney (PMDB), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e
Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado por
possível crime de embaraço às investigações da Lava Jato.
A base do pedido de Janot são as gravações feitas por Machado com
os caciques do PMDB e que foram vazadas à imprensa em maio de 2016. Nos áudios,
o grupo trata do impeachment de Dilma Rousseff, discute a "solução
Michel" e Jucá afirma, em meio a um diálogo sobre a preocupação com as
delações premiadas de executivos de empreiteiras, que a forma de "escancar
a sangria" é "mudar o governo".
No pedido entregue ao STF, Janot aborda tangencialmente o
impeachment, mas afirma que indicados de Temer para o ministério tinham o
intuito de aprovar "medidas de alteração do ordenamento jurídico em favor
da organização criminosa".
Na página 28 da petição, Janot afirma que Jucá "explicita em
uma das suas conversas com Sérgio Machado que na solução via Michel Temer
haveria espaço para uma ampla negociação prévia em torno do novo governo".
Na conversa, Jucá afirma que a "solução Michel" pode ser negociada
"antes de resolver" colocá-la em prática.
Na sequência, Janot afirma que "pode-se inferir destes áudios
que certamente fez parte dessa negociação" a nomeação de Jucá para o
Ministério do Planejamento, além da nomeação do deputado Sarney Filho para o
Ministério do Meio Ambiente e de Fabiano Silveira para o Ministério da Transparência,
Fiscalização e Controle, que substituiu a Controladoria-Geral da União.
Jucá também cita na lista "cargos já mencionados para o
PSDB", mas não diz quais são. Antes, na petição, Janot cita diálogos de
Romero Jucá com Sergio Machado nos quais o senador afirma que "caiu a
ficha" do PSDB sobre a necessidade de embarcar no plano, e cita
especificamente os senadores tucanos Aloysio Nunes Ferreira (SP), José Serra
(SP) e Aécio Neves (MG).
O intento dos nominados de Temer, afirma Janot, "é conseguir
construir uma ampla base de apoio político para conseguir, pelo menos, aprovar
três medidas de alteração do ordenamento jurídico em favor da organização
criminosa".
Essas medidas, diz Janot na petição, "seriam implementadas no
bojo de um amplo acordo político — tratar-se-ia do propalado e temido 'acordão'
— que envolveria o próprio Supremo Tribunal Federal, como fica explícito em
intervenções tanto do senador Renan Calheiros, como do senador Romero
Jucá".
Ainda de acordo com o PGR, o "acordão" tinha o objetivo
de conter "os avanços da Operação Lava Jato em relação a políticos,
especialmente do PMDB, do PSDB e do próprio PT, por meio de acordo com o
Supremo Tribunal Federal e da aprovação de mudanças legislativas".
Jucá foi ministro de Temer por apenas 11 dias. Deixou o cargo em
23 de maio de 2016 em meio ao escândalo provocado pelo vazamento justamente dos
áudios que, agora, ensejam a ação criminal de Rodrigo Janot. Hoje ele é o líder
do governo Michel Temer no senado.
Fabiano Silveira durou mais tempo no cargo. Ficou até 30 de maio e
caiu após a divulgação de áudios também feitos por Sérgio Machado. Na gravação,
Silveira orientava investigados da Lava-Jato sobre como proceder diante das
investigações do Ministério Público enquanto tinha um cargo de conselheiro do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o poder Judiciário.
Sarney Filho ainda é ministro de Temer.
A petição da PGR segue agora para o ministro Edson Fachin, que
herdou a relatoria da Lava Jato após a morte de Teori Zavascki.
Leia a íntegra da petição:
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