Seu Jorge Katurchi e a retomada da luta pelo trem da história
Saudoso e querido Amigo, Seu Jorge José Katurchi, Corumbaense com letra maiúscula que lutou até o último dia de sua existência pelo povo que acolheu sua Família em tenra infância, celebra seu natalício neste 11 de outubro, quando a retomada da luta pela reativação do Trem do Pantanal volta às páginas de nossa história política, com fortes condições de o Governo Federal retomar a gestão sobre todo o trecho da antiga Noroeste do Brasil, criminosamente abandonado pelo Noel Group, primeira concessionária regional da SR-10 da extinta RFFSA.
Quem diria, na semana em que o querido e saudoso Amigo, Seu Jorge Katurchi, faria 99 anos, a Câmara Municipal de Corumbá, por meio do Vereador Roberto Façanha e apoio da Vereadora Luíza Ribeiro, de Campo Grande, faz uma Audiência Pública sobre a reativação / revitalização da ferrovia Bauru - Corumbá, em que o Trem do Pantanal desempenhou um papel estratégico no desenvolvimento de Mato Grosso do Sul.
Na verdade, o Trem da História, pois, graças à Noroeste do Brasil, entre 1953 e 1996, por esta fronteira vocacionada para o comércio exterior desde fins do século XIX, absolutamente tudo o que o Brasil exportava para os países andinos saía por Corumbá, gostem ou não os que fazem de tudo para obstar o Coração do Pantanal e da América do Sul e ficam a querer reinventar a roda -- a rota, explicitamente --, com RILA e assemelhadas, uma imponente ponte sobre as cabeças da população murtinhense, que ficará a ver carretas e mais treminhões a passar a trinta metros da superfície da pacata Macondo sul-mato-grossense.
E como o sábio e irreverente Chico Buarque disse há 50 anos, "a História é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue. É um trem riscando trilhos, abrindo novos espaços, acenando muitos braços, balançando nossos filhos, oh, oh!" ["Canção pela Unidade da América Latina", 1973, com base em composição original de Pablo Milanés]. A despeito de outras tentativas anteriores não terem atingido o objetivo, desta vez, depois da experiência desastrada de entregar os destinos da nação a um verdadeiro desatinado, a população sul-mato-grossense se empolgará e aderirá.
Se o Seu Jorge Katurchi estivesse ainda entre nós, não duvido que o veríamos a ligar a todas as forças vivas do estado (e do país e da Bolívia) para conclamar a todos para esta nova mobilização. Não tenho dúvida, que, como aniversariante célebre, tudo conjuminou para que, como presente dele para a população de Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro e Puerto Suárez, retomássemos esta pauta cidadã, que a bem da verdade nunca foi abandonada pelo pessoal da ferrovia, em especial os queridos Anísio Guilherme da Fonseca e Waldemir Vieira. Com toda sinceridade, minhas diferenças com o Manoel do Carmo Vitório, depois do atabalhoado meio mandato de deputado federal, eu as zerei por conta dos três grandes e leais Amigos que me apresentou: Anísio, Adyr (Companheiro de Vida da Professora Judith Pedreira) e Humphrey Bogart (da Silva), o primeiro da NOB e os dois seguintes funcionários civis da Marinha.
LEGÍTIMA DEMANDA
O Vereador Roberto Façanha, do alto de seus oito mandatos edilícios, acolhe a legítima demanda da sociedade civil trazida pela colega campo-grandense Luíza Ribeiro, com a sensibilidade que lhe é peculiar. Não se trata de saudosismo, mas de urgente saída para Corumbá e Ladário, cuja juventude, por falta de perspectivas, só tem a perigosa BR-262 como única saída para o seu porvir. A ferrovia, ao lado do Rio Paraguai, das linhas aéreas domésticas e internacionais e da rodovia (a irmã caçula que chegou em 1986 e treze anos depois teve a sua ponte no Porto Morrinho construída), fizeram do mais antigo centro urbano sul-mato-grossense um polo intermodal de caráter internacional.
Os números e a história são eloquentes: na década derradeira, entre 1986 e 1996, a chamada SR-10 da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB, ou NOB, que habita o imaginário coletivo em todas as cidades sul-mato-grossenses, de ponta a ponta, incluindo Ponta Porã e Três Lagoas), escoava, segundo dados da insuspeita Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (CACEX), em produtos industrializados e commodities um valor diário de US$ 1,500,000 (um milhão e meio de dólares por dia), além do intenso e vultoso comércio fronteiriço, em valores igualmente superlativos.
Em 1994 foi o Pacto pela Cidadania, com a fundamental atuação das Amigas Edenir de Paulo, Cristiane Sant'Anna de Oliveira e Luz Marina Cavalcanti da Silva e do Amigo Alexandre Gonçalves dos Santos, que empolgou e organizou mais de 20 segmentos da sociedade civil em Corumbá e Ladário, sob a sábia coordenação do querido e saudoso Dom José Alves da Costa e o habilidoso apoio dos igualmente queridos/saudosos Padre Pasquale Forin, Padre Ernesto Saksida, Padre Emílio Zuza Mena, Padre Antônio Cipriano Müller, Pastor Antônio Ribeiro de Souza e Pastor Cosmo Gomes de Souza.
Uma caravana cidadã foi mobilizada, sob a coordenação de Seu Jorge Katurchi, para uma série de audiências na Governadoria, na Assembleia Legislativa e nos principais veículos de comunicação de Campo Grande. Era primeiro ano do segundo mandato governamental do saudoso Doutor Wilson Barbosa Martins, que revelou ao seu dileto Amigo, Seu Jorge Katurchi, a alegria de ver Corumbá e Ladário lutando com altivez e cidadania por suas legítimas demandas. Hoje todos eles estão em outra dimensão, mas deixaram seu exemplo na História.
NO "JGP"
A primeira Audiência Pública sobre a ferrovia, também emblemática e bastante representativa, foi realizada por iniciativa do saudoso Vereador Carlos Alberto Machado no auditório da Escola Estadual Júlia Gonçalves Passarinho, em fins de 2004, com a presença do saudoso prefeito eleito Ruiter Cunha de Oliveira, representante do Governador José Orcírio Miranda dos Santos, representante do Governo Federal, representante do Governo da Bolívia, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresa Ferroviára de Bauru e MS, o saudoso Jornalista Roque José Ferreira, e, obviamente, Seu Jorge José Katurchi a representar o Pacto Pela Cidadania e o conjunto de organizações da sociedade civil, entre elas FORUMCORLAD, Organização de Cidadania Cultura e Ambiente, Comitê de Corumbá e Ladário da Ação da Cidadania Contra a Fome e pela Vida, Grupo Curso Argos de Teatro, Associação dos Poetas e Escritores de Corumbá, Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental, Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, Liga Árabe-Brasileira, Centro Brasileiro-Boliviano Trinta de Março, Associação Cultural Paraguaia, Sindicato de Empregados em Empresas Privadas de Saúde, Sindicato dos Trabalhadores em Educação, Sindicato de Empregados em Empresas de Pesquisa e Extensão, Sindicato dos Servidores do Município, Sindicato Estadual dos Psicólogos, Associação Corumbaense e Ladarense dos Psicólogos e a coordenação diocesana da Pastoral Social.
Indiscutivelmente, Corumbá e Ladário têm dado provas de pioneirismo e altivez desde o início da segunda metade do século passado. Não têm sido poucas as tentativas de "invertidas", sobretudo durante o regime de 1964 e no pós-divisão de Mato Grosso, que ironicamente ocorreu no aniversário de Seu Jorge de 1977. Costumava dizer que a irmã-gêmea de Corumbá era Cáceres, cidade-natal da Companheira de Vida, a saudosa e querida Dona Anna Thereza de Copacabana Rondon Maldonado Katurchi, eternizada seis anos antes dele, em 2017. Sincero, Seu Jorge Katurchi, cuja atuação tem feito falta cada vez mais, nunca deixou de dizer que Mato Grosso do Sul é a principal razão do compasso de espera em que Corumbá passou a viver depois da criação do "estado modelo".
Alvissareira e oportuna, portanto, a iniciativa da Vereadora Luíza Ribeiro, ao lado do Vereador Roberto Façanha, de fazer com que a população de Corumbá e de Ladário se reencontre com o Trem da História, em todos os sentidos. Hora de somar, e não de sumir, caras e caros cidadãos pantaneiros, como diria nosso querido e saudoso Seu Jorge Katurchi. E em 2026, quando Seu Jorge celebrará o esperado centenário de nascimento, façam, por favor, a festa por ele e todas e todos os incansáveis Katurchi e Maldonado a fecundar a terra e os corações.
Ahmad Schabib Hany
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