sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

PARA NÃO ESQUECER A SÍRIA

Para não esquecer a Síria

A República Árabe da Síria foi tomada por mercenários terroristas chamados pela mídia ocidental de ‘insurgentes’. Embora muitos analistas comemorassem a saída honrosa dos sionistas no sul do Líbano e a vitória da Resistência Libanesa na frente meridional pelos valentes resistentes do Hezbollah, turcos e russos de novo traíram os árabes e rifaram ao Estado sionista e à OTAN a Síria e, por tabela, todo o Eixo da Resistência [Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Líbano e Resistência Palestina].

Para não esquecer a Síria, cuja gênese republicana se confunde com o pan-arabismo de Gamal Abdel Nasser, líder árabe laico e nacionalista, entre 1954 e 1970. A República Árabe Unida (RAU), fundada por ele, foi aos poucos se dissolvendo, tendo restado apenas e tão-somente a República Árabe da Síria. Não há dúvida que o partido que dava sustentação ao governo sírio desde os tempos de Hafez El-Assad, o BAAS, não tinha qualquer similaridade com o partido de Nasser ou com o seu homônimo iraquiano, do ex-líder iraquiano Saddam Hussein, ‘julgado’ por uma horda de mercenários terroristas sob a maldita batuta do exército americano.

Mas desde a eternização de Nasser, em setembro de 1970, era a Síria, com o seu Exército de Dissuasão Árabe, que intervinha nos conflitos que ameaçassem a unidade territorial de qualquer Estado árabe pelos tentáculos do ente sionista. O fim da República Árabe da Síria era uma obsessão das potências ocidentais -- e sobretudo do Estado sionista que se apossou da Palestina -- desde o fim da União Soviética, pois era este Estado forte e com ogivas nucleares a lhe assegurar a existência, bem como ao Iraque de Saddam Hussein e à Líbia de Muammar Gaddafi.

Ou por que a ‘primavera árabe’ [que nada tinha de ‘primavera’ e muito menos de ‘árabe’], em 2011, mirou a Síria e a submeteu a uma guerra de invasão por mercenários ocidentais trazidos do Afeganistão, Paquistão e Turquia? Além da destruição de um bastião árabe nas imediações da Palestina Ocupada e do Líbano ultrajado, a ‘balcanização’ dessa porção do chamado Oriente Médio pelo ocidente saqueador é um propósito alardeado por ninguém menos que Benjamin Netanyahu, que desde sua primeira eleição defende ‘novo Oriente Médio’ para saciar sua cobiça, compartilhada por seus malditos cúmplices.

Até conseguirem. Primeiro, subornando quase todos os generais e altos oficiais sírios [para que despesas com canalhas, se agem como parasitas?], cujo moral estava baixo depois de tantos bombardeios aos arsenais já deteriorados não apenas pelas bombas do Estado sionista, como pelas invasões aéreas da OTAN e do Reino Unido. Tudo combinado. Não satisfeitos, valeram-se da disseminação da intriga: puseram russos contra iranianos e sírios para causar uma cisma, imperdoável a esta altura da História. Mas o pior papel coube à Turquia, ex-metrópole por mais de 500 anos, cuja intolerância e opressão causam até nossos dias ojeriza pelo obscurantismo similar a todo o colonialismo europeu, de triste memória.

Perdoem-me a sinceridade, mas ainda bem que nosso saudoso Amigo Ali El-Seher não viu e não foi humilhado por estes tristes episódios. Também o saudoso Avô do estimado Alle Yunes Solominy Neto foi poupado desta vergonha. Não teriam resistido ante um vexame estonteante como este. Meu saudoso Pai também teria sucumbido, pois, embora nascido em território libanês pré-1943, portanto, na Síria, cursou seu fundamental e médio como interno em colégio sírio de Damasco entre 1927 e 1934, e sempre que fora ao Líbano fizera questão de ir a Damasco e Cairo, onde começara Filosofia na Universidade Al-Azhar, mas não colara grau por causa da eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939.

TRAIÇÃO, PURA TRAIÇÃO

Quando, dias atrás, os sionistas e aliados ocidentais pediram cessar-fogo, numa clara demonstração de que haviam reconhecido sua derrota em sete décadas de perversidades sob a proteção cínica das potências ocidentais, não foram poucos os analistas a comemorar a vitória dos combatentes.

Apesar de se tratar de heroico combate da Resistência Libanesa e Palestina ante a absurda desproporção do poderio militar sionista -- aliás, o mais bem armado exército do planeta e, obviamente, o mais corrupto, diga-se de passagem --, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), os Estados Unidos (EUA), União Europeia (UE), Reino Unido e Turquia armaram uma cilada para os combatentes do Eixo da Resistência, sob a omissão conivente da Rússia e da China: o tiro de misericórdia à República Árabe da Síria foi dado sob sanguinário combate promovido por mercenários terroristas disfarçados de fiéis do ‘islã’ domesticados pelo império ocidental por meio da sanha traidora da Turquia. Acuadas as forças armadas sírias, já combalidas pelos intensos bombardeios ao longo da última década e, sobretudo, no último ano com o genocídio em Gaza e depois no Líbano, não conseguiram deter mercenários e armamentos de última geração, provavelmente desviados da Ucrânia.

Em menos de duas semanas, a República Árabe da Síria foi assaltada e acabou tomada por uma horda de mercenários financiados pela Turquia, Estados Unidos e o Estado sionista, numa estratégia traçada pela OTAN, até como tática para negociar a derrota na Ucrânia. Além de não enfrentar à altura, com o devido profissionalismo que se espera de quem é pago para defender o país (os oficiais do Exército Árabe da Síria), as mais altas patentes foram ‘neutralizadas’ [subornadas?] pelo império e seus sócios no afã fraturar e pôr abaixo o Eixo da Resistência.

Não foram ‘vistas grossas’ da imprensa ocidental, que há muito deixou de ser imprensa para se transformar em ‘puxadinho’ do Pentágono. Foi estratagema preparado pela OTAN para negociar um cessar-fogo mais favorável para o ocidente na Ucrânia, sendo o Eixo da Resistência moeda de troca, simples assim. E isso serve de alerta para o Brasil, os BRICS, a América Latina toda (em particular Cuba, Nicarágua e Venezuela), cujos governos ‘rebeldes’, ou insubmissos aos seus interesses, não deram demonstração de ‘docilidade’ ante as ameaças propaladas a estes países.

O Presidente Lula, bem assessorado pelo grande diplomata e ex-chanceler Celso Amorim, não errou quando, habilidosamente, migrou sua estratégia de relações internacionais de modo racional e objetivo. Não dá para contar com as chamadas potências ‘multipolares’, pois, levadas por um pragmatismo -- aliás, o mesmo que levou ao fim da União Soviética com o canalha Mikhail Gorbatchev, que o capeta o tenha levado --, mas se esquecem que ao rifar a Síria, e por tabela a República Islâmica do Irã, as duas potências ficam com a ‘quina’ exposta: quem irá afrontar o maldito império decadente depois deste teatro de horrores, em que os falsos aliados não hesitam em rifar seus aliados históricos, como a Síria?

MALDIÇÃO TURCA

Os mesmos turcos que oprimiram árabes cristãos e muçulmanos durante 500 anos, durante o nefasto império turco-otomano (entre meados do século XV e início do século XX), nas duas últimas semanas protagonizaram, sob os auspícios nefastos do ocidente e asseclas da Arábia (caso particular dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Jordânia), operações militares de uma intolerância extrema, a ponto de serem registradas execuções à luz do dia pelo agora ‘ocidentalizado’ mercenário Al-Julani, cuja cabeça esteve a prêmio pela ‘bagatela’ de 10 milhões de dólares, vivo ou morto, até o início deste mês.

Tudo não passou de teatro de horrores. Uma vergonha para os árabes patriotas -- diferentes dos terraplanistas daqui, aqueles são declaradamente anti-imperialistas --, que viram o maior exército árabe se dissolver como um comprimido de antiácido em um copo de água. Sim, como árabe sinto vergonha dos falsos reinos, sultanatos e emirados árabes, bem como dos demais governos árabes traidores. Os últimos a resistirem são Argélia, até por aí, e o Iêmen, mas apenas com os hutis, pois os palacianos são outros vendilhões.

Sim, para não esquecer a Síria. Esses malditos seres já estupraram o Líbano, Iraque, Líbia, Egito e tantos outros países árabes. Agora, cínica e acintosamente, destroem à luz do dia tudo que resta da Síria, sobretudo a sua História, sua Cultura e sua Dignidade, encarnada em seus cidadãos altivos e combativos. Benjamin Maldito Netanyahu, esse calhorda com o DNA de Hitler, comemora o sangue derramado em toda a Arábia. Mas, tenham certeza, os árabes, feito fênix a renascer das cinzas, saberão retomar seu histórico destino, sem ódio ou recalque, como tantas vezes já se demonstrou na História. E que fique claro para os desavisados do rebanho de bajuladores do império decadente: enquanto houver um só árabe na face da terra seu império está com os dias contados, leve o tempo que levar.

A paz mundial começará na Palestina, trilhará por toda a Arábia histórica e se consolidará na América Latina dos grandes Estadistas, como o nosso Presidente Lula, que haverá de superar com vigor seu problema de saúde, como retirante que venceu as adversidades mais diversas pelos seus Irmãos, pelos que clamam por vez e voz, dentro e fora do Brasil. Alvíssaras, alvíssaras, temos História!

Ahmad Schabib Hany

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