Como
lidar com tantas perdas nestes tempos de pandemia?
Em
menos de uma semana, Dona Sebastiana da Silva e Mário Márcio Maldonado Katurchi
se eternizaram em meio à pandemia. As famílias queridas de Anísio Guató e de
Seu Jorge Katurchi perdem referências que, cada qual ao seu modo, marcaram seu
tempo com sua identidade, comportamento e trajetória de Vida. E deixaram um vazio
que não será preenchido ao longo de nossas existências...
Tempos adversos estes em que
vivemos. Na mesma semana em que fomos impactados pela eternização de Dona
Sebastiana da Silva, Mãe do Amigo Anísio Guilherme da Fonseca, depois de
resistir a uma série de problemas de saúde ao longo dos últimos dois anos,
chega-nos a notícia de que o Amigo Mário Márcio Maldonado Katurchi, Filho do
igualmente querido Amigo Seu Jorge José Katurchi, depois de sobreviver à
covid-19, foi ao encontro das saudosas Dona Anna Thereza, Dona Rosa Maria e
Dona Amélia, por causa de sequelas irreversíveis da parada cardíaca que o
mantiveram em coma por várias semanas.
As duas famílias Amigas vivem o
luto em meio a esta pandemia. Anísio está inconsolável. Dona Sebastiana, uma
verdadeira Matriarca Guató, nascida, como ele mesmo costuma dizer, à beira do
Rio Taquari, e de cujo sagrado ventre trouxe ao mundo uma geração de valorosos
pantaneiros, incansáveis resistentes às agressões aos povos originários, à
cultura ancestral e ao bioma do Pantanal, como nunca submetido a labaredas
criminosas que impunemente incendeiam a diversidade de seres vivos e de
culturas tradicionais e contaminam com o veneno das queimadas o ar que
respiramos. Com a firmeza da aroeira e a delicadeza das pétalas dos ipês, Dona
Sebastiana viverá nos corações valentes dos descendentes dos povos canoeiros do
Pantanal, a semear o lindo porvir pelo qual a Matriarca-mor, Dona Josefina
Guató, deu a própria Vida.
Da mesma forma, Seu Jorge
Katurchi, do alto de seus quase 94 anos, está desolado. Sua inabalável devoção
por Nossa Senhora e Santa Terezinha foi posta à prova, tamanha a dor da
inimaginável separação de Mário Márcio. Nesses mais de dois meses de agonia por
notícias do Filho mais novo, sua fé se fortaleceu, trazendo para junto de si
Santo Tomás de Aquino e São Francisco Xavier, além de resgatar de sua longeva
memória cantigas de ninar que Dona Amélia cantava aos Filhos e Netos, algumas
em espanhol, em árabe e em português, e sem esquecer-se do Hino a Corumbá, uma
de suas maiores paixões, depois da Família, obviamente. Sábio, Seu Jorge sabe
que Mário Márcio agora se tornou saudade e seu dever de verdadeiro Patriarca o
chama para o compromisso com José Eduardo, Tereza Cristina, Zequinha, Camila e
Marina.
Como lidar com tantas perdas
nestes tempos de pandemia? O grande mestre Paulo Freire já o disse, que a vida
não carece de ensaio. Afinal, não é espetáculo, e não tem marcha à ré. Corações
valentes têm direito de chorar, viver o luto, para depois retomar a luta
sagrada, em que o amor, e somente o amor, vence, supera adversidades e
transforma horizontes nebulosos em manhãs radiantes, em promissão. Que as
queridas Famílias hoje enlutadas, de Anísio Guató e de Seu Jorge Katurchi, por
meio da imorredoura saudade e da inesgotável fonte do amor ao próximo, possam
encontrar a resignação necessária e a esperança nas próximas gerações para,
como fênix pantaneira, renascer das cinzas e da dor para celebrar a Vida.
Ahmad
Schabib Hany
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