sábado, 26 de dezembro de 2015

O POETA SE FOI, SUA UTOPIA FECUNDOU

O poeta se foi, sua utopia fecundou

Para Geraldo Roca

Em pleno dia de Natal deste longo e duríssimo 2015, no início da tarde, pela voz consternada de meu querido Amigo Luiz Taques, chega-me a fatídica notícia da partida derradeira de um dos criadores do Chalana de Prata, em meados da década de 1990. Mal tentava me refazer de outra triste notícia, sobre a prematura partida de um querido sobrinho do pesquisador e Professor Masao Uetanabaro, próximo de sua bucólica Fernandópolis, interior de São Paulo.

Geraldo Roca, um dos autores do célebre “Trem do Pantanal”, o maior compositor sul-mato-grossense de sua geração, se fora, em silêncio e solitariamente. E nisso tenho a concordância avalizada do criterioso Jornalista Luiz Taques, que o considera “nosso Chico Buarque” (e ao lado do outro Geraldo, Espíndola, o “nosso Caetano”). Num tempo em que mediocridades ganham status de celebridades de uma sociedade de consumo, nossos verdadeiros talentos se vão, anonimamente.

Tive o privilégio de conhecê-lo por meio de outro Amigo comum, o incansável e querido Armando Lacerda, então dirigente da Urucum Mineração (estatal), o mesmo que me presenteou conhecer pessoalmente o saudoso ex-ministro da Saúde Wilson Fadul, de João Goulart, um mato-grossense de mãos limpas, sem qualquer risco de, inclusive nos tenebrosos tempos do regime de 1964, ter sido preso por peculato ou qualquer ato que pudesse desabonar sua conduta como homem público.

Geraldo Roca, então, estava empenhado na realização do emblemático projeto Chalana de Prata, cujo ponto de partida era seu torrão-natal, a cosmopolita Corumbá da década de 1950. Ainda que os necrólogos de plantão insistam que ele era carioca de nascimento, ele bebeu da fonte fecunda do coração do Pantanal. O seu pai, de origem hispânica, era dono de uma concorrida panificadora situada em pleno centro do baluarte cultural representado pela terra de Lobivar de Matos e de Pedro de Medeiros (e então frequentada pelo imortal Poeta, o eterno e terno Manoel de Barros).

O mesmo compositor que profetizou com o Trem do Pantanal tinha outra convicção inarredável: a unificação do Pantanal, desde Cáceres (MT) até Porto Murtinho (MS). Isso ele deixara claro em sua estada, nos idos da década de 1990, a despeito da opinião quase unânime de que se tratava de utopia (hoje, diria, utopia cidadã). Ainda que poucos conheçam o sonho acalentado – quase inconfessável, por conta de seu convívio na capital sul-mato-grossense –, cada dia que passa essa utopia cidadã se torna mais presente, mais plausível, mais realizável.

Se o provincianismo que usurpou o sonho libertário de um Mato Grosso do Sul de vanguarda, tendo reduzido a mero saudosismo ufanista os versos condoreiros do Trem do Pantanal (de vocação latino-americanista, integracionista e até internacionalista), o verdadeiro ideário, pelo menos para Geraldo Roca, do projeto Chalana de Prata era a reunificação cultural do Pantanal, vitimado pelo oportunismo do regime de 1964 e de seus apaniguados sedentos de mais cabides de emprego e maior longevidade para o arbítrio, já cambaleante em 1977.

Mais que necessária homenagem, pois, este modesto desabafo de um fã desolado pretende clamar pelo resgate das motivações históricas de nosso agora saudoso menestrel pantaneiro. Que o talento libertário e vanguardista celebre a renascença do Pantanal, no rastro de nosso compositor maior, precocemente silenciado. O poeta se foi, mas a sua utopia fecundou. Para a redenção do Pantanal.

(Ahmad Schabib Hany)

domingo, 9 de agosto de 2015

ABRIL, A FACE OCULTA DOS OLIGOPÓLIOS MIDIÁTICOS


ABRIL, A FACE OCULTA DOS OLIGOPÓLIOS MIDIÁTICOS
Parodiando Chacrinha, nessa editora quase nada se cria, quase tudo se copia...
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Dias atrás, a revista Veja, da Editora Abril, teve que reconhecer, depois de algumas semanas de reiteradas manifestações de repúdio do público, que o documento de uma conta de banco suíço usado como base de uma “denúncia” contra o senador Romário (PSB-RJ) era falso e os, digamos, jornalistas envolvidos na produção e edição da matéria caluniosa sequer tinham feito o mais elementar procedimento, desde os tempos de Gutemberg: checar a fonte e a procedência da “denúncia”. Carro-chefe da Abril, a Veja tem se valido de uma prática recorrente de antijornalismo a toda prova, pondo a perder a sua gênese de projeto editorial bem-sucedido, com um time de Jornalistas renomados, como Mino Carta (fundador e primeiro diretor,  depois de ter criado a Quatro Rodas para a mesma editora e o Jornal da Tarde para a empresa da família Mesquita, a S.A. O Estado de S. Paulo), Fernando Morais, Audálio Dantas, Hugo Estenssoro, Hélio Campos Mello, Walter Firmo, Antônio Carlos Fon, Sílvio Lancelotti, Tárik de Souza e Jairo Arco e Flecha.
Quase todo(a) brasileiro(a) – ou estrangeiro(a) residente no Brasil –, nos últimos 65 anos, tem desenvolvido alguma empatia pela Abril, seja por conta das revistas infantis, fascículos, publicações dirigidas, revistas para o público jovem ou adulto, feminino ou masculino, e obras clássicas do saudoso Círculo do LivroGuia do Estudante e Almanaque Abril. Se revisitarmos o Brasil dos primeiros 50 anos dessa que outrora foi a vanguarda das editoras brasileiras, quando a internet sequer era algo na ficção, veremos a dimensão de suas contribuições para o desenvolvimento cultural e editorial do País.
E não é preciso ser um aficionado colecionador de revistas ou “enciclopédias” e obras clássicas adquiridas por fascículos ou correio para lembrar ou reconhecer nomes que ficaram na memória coletiva, como Jeronymo Monteiro, Luis Carta, Domingo Alzugaray, Mino Carta, Odylo Costa (vírgula) Filho, Mylton Severiano, Audálio Dantas, Fernando Morais, José Hamilton Ribeiro, Amilton Almeida Filho, Tárik de Souza, Sílvio Lancelotti, Hugo Estenssoro, Antonio Carlos Fon, Walter Firmo, Elifas Andreatto, Hélio Campos Mello, Alberto Dines, Hugo Estenssoro, Waldir Igayara de Souza, Claudio de Souza, Sílvio Fukumoto, Maria Christina Pinheiro, Ziraldo Alves Pinto, Mauricio de Sousa, Eli Barbosa, entre outros não menos importantes.
No entanto, a despeito do período de inovações introduzidas ao mercado editorial brasileiro, a Editora Abril, desde a sua fundação, em 1950 – sob o nome de Editora Primavera Ltda. –, é uma pródiga usina de clonagens que não respeitou os mais elementares princípios éticos e, pior, nem reconheceu direitos autorais de terceiros. O fundador, Victor Civita, indiscutivelmente um ousado e competente empreendedor, recebeu graciosamente de seu irmão mais velho, Cesar Civita (este, sim, fundador e inovador da Abril, em 1941 na Argentina e em 1966 no México), a ideia de se estabelecer no Brasil com cópia do projeto editorial por ele realizado no país platino – a estratégia, o nome, a logomarca, os títulos e até parte de sua produção editorial, por sinal, pioneira e inovadora, de fazer inveja aos demais concorrentes latino-americanos.
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Mas como “desde a sua fundação”? É que, como Victor Civita e seus sócios eram todos estrangeiros – e, portanto, não podiam, por razões legais, ser titulares numa empresa do ramo editorial –, precisaram de um brasileiro de nome ilibado para assumir a titularidade. Assim, ainda com o nome de “Editora Primavera Ltda.”, o Jornalista, radialista e escritor de ficção científica Jeronymo Monteiro aparecia como diretor (isto é, editor) para que pudesse se instalar em uma modesta sala à rua Líbero Badaró, 158, no centro de São Paulo, aquela que mais tarde se transformaria na poderosa Abril dos Civita, como se vê nos expedientes acima deste parágrafo, copiados de duas edições diferentes da revista Raio Vermelho, disponível no site Guia dos Quadrinhos, bem como em alguns trabalhos acadêmicos do Brasil, Argentina, México e Itália.
Jeronymo Barbosa Monteiro, que nada deve aos Civita por sua brilhante biografia, é o “Pai da Ficção Científica Brasileira”, e como primeiro diretor da mais antiga revista de histórias em quadrinhos em circulação no Brasil batizara alguns dos personagens Disney com os nomes de Tio Patinhas, Huguinho, Zezinho e Luizinho, por exemplo. Autor de verdadeiros clássicos da ficção científica – entre eles “Três meses no século 81”, “A cidade perdida” e “Tangentes da realidade” –, em nosso país de pouca leitura, tornou-se célebre desde que fez roteiro para uma série de radiodramaturgia para as rádios Nacional e Tupi. Mas precisou usar o pseudônimo anglo-saxão Ronnie Wells para ganhar reconhecimento no gênero.
Como muito(a)s brasileiro(a)s digno(a)s, Jeronymo Monteiro foi preso em 1964, experiência que relatou em um dos contos de sua obra derradeira, com o sugestivo título de “O copo de cristal”. Foi diretor do suplemento Gazeta Juvenil de A Gazeta de São Paulo, e editor na Editora La Selva e na versão brasileira de Isaac Asimov Magazine, renomada revista internacional de ficção científica, além de ter criado, em 1957, a memorável seção Panorama, na Folha Ilustrada da Folha da Manhã (a partir de 1960, Folha de S. Paulo), tendo sido substituído por sua filha, Theresa Monteiro, a partir de 1971. Curiosa e acintosamente passou a ser ignorado pelos ex-patrões depois de ter deixado a Abril, em 1951, para dar continuidade ao seu projeto literário-editorial até morrer, em 1970, mesmo tendo apresentado o seu sucessor a Victor Civita, o então jovem Jornalista Cláudio de Souza, um amigo seu e autor de reconhecidos relatos sobre a generosidade e o talento deste brasileiro que ajudou a abrir as portas do País à família de imigrantes que construiu um império midiático, mas padece do mal da ingratidão.
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Portanto, ao contrário da lenda de que “tudo começou com um pato” (paródia à afirmação de Walt Disney, de que “tudo começou com um rato”), a primeira publicação da ex-“Editora Primavera Ltda.” foi Rayo Rojo, isto é,Raio Vermelho. Por quê? É que a Editora Brasil-América Ltda. (EBAL), de Adolfo Aizen (também chamado de “Pai das Histórias em Quadrinhos do Brasil”), publicava, em sociedade com Victor Civita, entre 1946 e 1948,Seleções Coloridas com as primeiras histórias dos personagens Disney, negócio avalizado pelo representante de Walt Disney para a América Latina, César Civita, que além de editor da Abril argentina era ex-funcionário da Editora Mondadori, de Roma, representante da Disney na Itália, na década de 1930, até fugir, por ser judeu, da perseguição nazifascista. Acima deste parágrafo vemos algumas edições da revista Seleções Coloridas, de 1946 e 1947, cujo primeiro episódio principal, “O ‘crack’ Pato Donald”, foi publicado originalmente na edição nº. 45 de El Pato Donald, da Editorial Abril (Argentina) com o título “Donald, el gran goleador”, além de primeiras edições de Raio Vermelho e Rayo Rojo.
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Faremos, agora, um parêntese para adentrar nos bastidores das logomarcas. O Folhetim, de saudosa memória – versão paulistana do também saudoso semanário irreverente Pasquim –, era um suplemento dominical da então vanguardista Folha de S. Paulo (sob a direção do genial Jornalista Claudio Abramo), fundado por Tarso de Castro, Nelson Merlin e Fortuna, que circulou entre 1976 e 1988. Pois bem, ele trazia uma insinuante seção do chargista e ilustrador Fortuna chamada Diz, Logotipo!, na qual os leitores participavam, ora enviando logotipos recortados ou fotocopiados da mídia impressa, ora criando legendas, sempre com a irreverência que caracterizava esses hoje saudosos jornalistas. Nem a logomarca da Abril escapou ao escárnio do(a)s leitore(a)s. Até porque as diferentes logomarcas podem, sim, dizer muito, tal como o saudoso Fortuna ensinava nos idos da década de 1980.
Há quem diga que as logomarcas “chupadas” sob as ordens de Roberto Civita, o primeiro-filho do fundador da Abril brasileira, causaram diversas vezes desconforto e até constrangimento entre os diretores mais profissionais, como Jeronymo Monteiro, Mino Carta, Luis Carta, Domingo Alzugaray e Claudio de Souza. Detentores de uma competência a toda prova, os ex-diretores da Abril contribuíram para o desenvolvimento editorial brasileiro dentro e fora da casa dos Civita: Jeronymo Monteiro dirigiu a Editora La Selva e a bem-sucedida edição brasileira Isaac Asimov Magazine; Mino Carta fundou a Encontro Editorial e mais tarde a Editora Confiança, da CartaCapital; Luis Carta, com Fabrizio Fazano, a Carta Editorial, da Vogue Brasil; Domingo Alzugaray, a Editora Três, da StatusPlanetaRepórter TrêsIstoé Gente etc, e, com Mino Carta, a Encontro Editorial, da Istoé e do memorável embora meteórico Jornal da República; Claudio de Souza, com Domingo Alzugaray, a Ideia Editorial, de Mister MagooDon PilotoCapitão BigbomTico e TecaPuff-PuffZartanPlaycolt etc.
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Ao usar, com pródiga maestria, o nome Abril, a ainda modesta congênere brasileira usou também, com sutil inversão (como se estivesse ao espelho), a arvorezinha símbolo da Editorial Abril (argentina), como se pode constatar nas figuras logo acima. Mas há uma explicação para a inversão original, dada por Cesar Civita a uma pesquisadora italiana cuja tese de doutorado na Universidade de Bolonha tratou de sua façanha: muitas edições tipográficas de sua editora, compostas em oficinas de terceiros, trouxeram a logomarca acidentalmente invertida – isso nos idos de 1940, como a imagem acima à esquerda.
Em 1968, quando a Abril brasileira já se impunha como potência editorial (então estava constituída a Abril Cultural, dos fascículos, discos e livros; a Sociedade Anônima Impressora Brasileira – SAIB –, futura Gráfica Abril; Abril Educação, ainda que incipiente, com tímidos livros paradidáticos e didáticos, e até a Distribuidora Abril – depois Distribuidora Nacional de Publicações, DINAP –, para se libertar do monopólio exercido então pela Distribuidora Fernando Chinaglia, do Rio de Janeiro), a arvorezinha símbolo da Editorial Mex-Abril (criada em 1966 na Argentina expressamente para a Mex-Abril, do México, por uma agência de publicidade que prestava serviços para a Editorial Abril, em Buenos Aires) foi estilizada, sem perder a concepção original publicada em todos os produtos editoriais da Mex-Abril entre 1966 e 1969, como se pode constatar nas imagens abaixo deste parágrafo, retiradas da revista Nocturno mexicana de 1967 (23 de junho de 1967).
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Os dois primeiros títulos – Raio Vermelho (Rayo Rojo, em espanhol) e O Pato Donald (El Pato Donald, em espanhol) – também foram, digamos, “emprestados” da Abril argentina para o pai de Roberto Civita, aquele que levou o fundador da Abril brasileira a dividir em vida o patrimônio para não deixar o irmão Richard Civita partilhar da direção do até então exitoso grupo editorial. Foi, aliás, o primeiro-filho, com uma sugestiva “ajuda” da Caixa Econômica Federal (CEF) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos tempos da ditadura, que “trocou” com Armando “nada a declarar” Falcão (o mesmo sinistro da Lei Facão) os seus melhores diretores (Mino Carta, Luis Carta, Domingo Alzugaray, Claudio de Souza etc) por empréstimos para quitar as contas contraídas com a construção do majestoso prédio da Avenida Otaviano Alves de Lima (Freguesia do Ó), São Paulo, os equipamentos gráficos de última geração para a ex-SAIB e os hotéis Quatro Rodas Nordeste nas paradisíacas praias brasileiras – estes, aliás, objeto de uma CPI no Congresso Nacional, em 1982, em que um dos filhos de Civita e um dos então diretores da Abril brasileira foram convocados para depor, além de alguns serviçais da ditadura, acostumados à impunidade – ou, na linguagem atual, “blindagem” – que até 2005 era assegurada aos membros da elite brasileira (fac-símile do Diário do Congresso Nacional, de 6 de dezembro de 1982, mais abaixo).
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E por falar em títulos “emprestados”, a Abril brasileira “adotou” – muitas vezes com logomarca e conteúdo, a exemplo de Raio Vermelho e O Pato Donald –, revistas de sucesso da congênere platina, como Noturno - Capricho (Nocturno, fotonovelas), Contigo (Contigo, idem), Ilusão (Idilio, idem), Claudia (Claudia, revista feminina; em homenagem a uma filha de César Civita precocemente falecida), Casa Claudia (Claudia Casa, decoração e interiores), Manequim (Maniquí, moda e corte-costura), Intervalo (TV, revista sobre a TV e seus artistas), Homem (Adam, revista masculina, antes de ser 100% Playboy), Quatro Rodas (de automobilismo, que, na Argentina, teve duas fases, a segunda com o nome Parabrisas, que circula até hoje, pela Editora Perfil, da família do dono da Editora Caras, associada à Abril brasileira), Realidade (Panorama, revista de reportagens) etc. Graças ao talento de Jornalistas como Mino Carta e Luis Carta (e às equipes que eles formaram), revistas como Quatro Rodas e, depois, Realidade passaram a ser referência na América Latina. Foi, aliás, o caso de Veja (e Leia) sob a direção de Mino (entre 1968 e 1975), mas, pouco depois, assim como Realidade, ficaram descaracterizadas quando passaram para o comando (literalmente “comando”) de profissionais submissos aos caprichos do primeiro-filho, Roberto Civita, indubitavelmente responsável pela decadência editorial, econômica e ética da editora que contribuiu, ainda que com evidentes contradições, para afirmar a identidade brasileira.
Expressão literal dessa decadência, o agora panfleto semanal denominado Veja teve a sua gênese forjada na história profissional de Jornalistas com letra maiúscula – tal qual a saudosa Realidade, retirada irresponsavelmente de circulação, em pleno auge, por iniciativa de Roberto Civita – como Mino Carta, tirado da direção da revista (e da editora) em 1975 para atender aos apelos bizarros do regime ditatorial e obter vantagens, como um milionário empréstimo do governo federal e a promessa de um canal de televisão que nunca lhes foi concedido, a ponto de a Abril Vídeo (e depois a TVA) não ter passado de caro devaneio do primeiro-filho. O nome Veja (e Leia) foi usurpado da célebre revista semanal argentina Vea y Lea, que circulou entre as décadas de 1940 e 1960. Esse título, a bem da verdade, não pertencia a César Civita (a Abril argentina possuiu duas semanais, Siete Días Ilustrados e Panorama Semanal, além de uma experiência frustrada anterior, dirigida por Carlos Civita, filho de Cesar, chamada Semana Gráfica), mas foi do país que ele escolhera o “empréstimo” feito, como podemos ver nas capas abaixo, publicação da Editorial Emilio Ramírez, respeitada concorrente dos Civita da Argentina.
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Em síntese, usando a linguagem maniqueísta da decadente Veja de hoje, a farsa tem nome e endereço: Editora Abril, Avenida Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, São Paulo. A editora que se rendeu a interesses menores depois que o patriarca Victor Civita faleceu, em 1990, e que a partir de 2003, quando foi empossado o primeiro presidente operário do Brasil, passou a praticar a panfletagem e o antijornalismo, a serviço de propósitos inconfessáveis, ainda que tendo pago um elevado preço pela soberba. Desde então, uma sucessão de fracassos empresariais vem se acumulando, colocando todo o seu patrimônio financeiro e editorial numa iminente avalanche falimentar. Mas é em 1996, auge do neoliberalismo tucano, que a Abril brasileira começou a abrir mão de negócios de elevado significado estratégico por inépcia administrativa dos que herdaram de Victor Civita a outrora dinâmica editora.
Não bastasse a “adoção” nada ética de títulos, logomarcas, logotipos, produtos editoriais e conteúdos e a inescrupulosa permuta de diretores por empréstimos, absurdamente vergonhoso foi ter aceitado como sócio o grupo empresarial ligado à funesta política de apartheid da África do Sul e, pior ainda, ter-se submetido aos anacrônicos interesses da bizarra Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), com sede em Washington (submissão anteriormente recusada por Cesar Civita, na Argentina, e Victor Civita, no Brasil, durante toda a guerra fria, período em que as editoras eram mais frágeis). Uma flagrante negação do legado dos patriarcas Civita e dos grandes Jornalistas que emprestaram seu talento, caráter, nome e dignidade àquela que aparentara ser um projeto editorial autêntico e de empoderamento da cidadania brasileira.
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Mas a deslealdade com os membros de sua própria família, como o ocorrido com César Civita (foto acima) – ao não querer submeter-se às absurdas exigências da (mal)ditadura de Rafael Videla, de demitir os “comunistas” (isto é, os profissionais competentes) que ele empregava em sua editora e, por isso, ter sido alvo de um atentado da famigerada AAA (Ação Anticomunista Argentina), em 1976, contra a sua residência, fato que o levou a se autoexilar nos Estados Unidos e depois no México –, o primeiro-filho Roberto Civita negara ao tio o apoio para não fechar e ter que se desfazer da Editorial Abril. Quando lhe conveio, é verdade, o então todo-poderoso primeiro-filho chamou seu primo Carlos Civita, então um bem-sucedido empresário do ramo de produtos esportivos (de tênis) na região norte do Brasil, para representar os interesses da Abril brasileira na Colômbia (Editora Abril-Cinco), um projeto frustrado, como também não vingara anteriormente em Portugal (com o nome Editora Morumbi) e Espanha (com o nome Editorial Primavera).
Preferiu, décadas depois, fazer parcerias com concorrentes, como a Editorial Perfil da Argentina e a Rede Globo dos descendentes de Roberto Marinho. Talvez o primeiro-filho tivesse esquecido que o patriarca dos Marinho usara seu, digamos, “prestígio” junto aos generais de plantão para cassar a concessão da extinta TV Tupi, sua concorrente, e impedir que os Civita, concorrentes ainda maiores no mercado editorial, pudessem ficar com essa concessão, deixando a um apresentador de televisão, já sócio em outra rede de televisão, a “gentileza” de acumular durante mais de uma década dois grupos de televisão.
Prova disso, é a inusitada parceria entre as fundações Victor Civita e Roberto Marinho no evento anual “Prêmio Educador Nota 10”, logo no ano em que os netos do fundador da Abril brasileira se desfizeram de expressiva fatia do Grupo Abril, sobretudo do segmento Educação (outrora Abril Educação), formado por editoras como a Ática e Scipione e cursos como o Anglo, extremamente caro para o patriarca Civita, que pessoalmente o constituiu ao final da década de 1960. De resto, já é de domínio público a encalacrada financeira em que atualmente seus herdeiros se encontram, a ponto de passar títulos emblemáticos da Abril, como Recreio (criada por um grupo de educadores e jornalistas em 1969) e Placar (outro importante projeto editorial do início da década de 1970), para a editora que tem crescido à sombra dos erros e da soberba do hoje falecido primeiro-filho, Roberto Civita.
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Ainda que sem ilusões, torcemos sinceramente para que, ao contrário da Editorial Abril, de Buenos Aires, a Editora Abril, de São Paulo, pelas relevantes contribuições feitas durante o (breve) período de vanguarda editorial, com todos os seus equívocos do período pós-1973, consiga sobreviver e se reencontrar com o legado dos dois velhos fundadores e das equipes profissionais que constituíram, para resgatar seu papel histórico, abandonando executivos incompetentes, sócios intolerantes e sobretudo posições maniqueístas que ameaçam a jovem democracia brasileira, ainda em construção. Afinal, tanto Cesar como Victor Civita tiveram de abandonar a Itália de sua juventude por causa da intolerância dos partidários do ditador Benito Mussolini e de seu aliado Adolf Hitler, para vir a se refugiar e realizar o sonho de suas vidas em dois países latino-americanos cuja população generosa os acolheu fraternalmente, tornando-os referência, ainda que com as contradições inerentes à economia de mercado praticada ao sul do Equador, onde, no dizer do grande compositor Chico Buarque, “não existe pecado”, desde os tempos coloniais, de triste memória.
Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 21 de julho de 2015

LUIS ESPINAL PRESENTE!

LUIS ESPINAL PRESENTE!
Ao contrário da desinformação mal-intencionada da mí(r)dia mercenária, houve um simbolismo na entrega do (sic) "polêmico" crucifixo pelo Presidente Evo Morales, da Bolívia, ao Papa Francisco dias atrás, durante a estada do pontífice católico na terra dos devotos de Nossa Senhora de Copacabana, sobretudo para aqueles que lutaram contra os narcogenerais e suas quadrilhas entre as décadas de 1970 e 1980.
Ocorre que o seu autor, o saudoso Frei Luis Espinal Camps, jesuíta adepto da Teologia da Libertação e conterrâneo do incansável Dom Pedro Casaldáliga (Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso), o criara no intuito de fazer uma relação entre a luta de Jesus Cristo e a dos milhões de lavradores e operários bolivianos, vítimas da repressão, exploração e opressão nos anos de chumbo.
Portanto, entre o dignitário boliviano e o pontífice católico havia pelo menos um espírito de luz que se encontrava exultante, depois de 35 anos de seu covarde assassinato, ao sair de uma sessão cinematográfica no centro da capital boliviana. Pouco antes de morrer, havia deixado um livro, intitulado Religião, em que profetizava: “Quem não tem a coragem de falar pelos homens, tampouco tem o direito de falar de Deus.”
E como a ignorância é arrogante! Caso os boçais editores do telejornalismo, radiojornalismo e dos jornalões tivessem lido ao menos os livros célebres de dois de seus colegas das décadas de 1970 e 1980 – Se me deixam falar, de Moema Viezer, e Com a pólvora na boca, de Júlio José Chiavenato –, teriam feito a diferença nestes pobres e burros tempos de apagão global, em que o ofício de editor se resume ao me(r)díocre ato de mandar requentar textos vomitados pela corja camuflada por trás da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), com sede em Washington.
Esses pobres diabos, os penas de aluguel contemporâneos, mal sabem que Lucho Espinal, além de sacerdote de rara erudição, era Jornalista formado nas melhores escolas da Europa e que entre 1960 e 1968, no calor das transformações do Concílio Vaticano II, se destacou no Jornalismo televisivo espanhol ao afrontar o franquismo opressor em sua terra, a Catalunha, e por isso acabou sendo levado a um exílio contra a sua vontade para a Bolívia, como professor na Universidade Católica de La Paz.
Chegara no ano seguinte ao assassinato covarde de Ernesto Che Guevara, em plena ditadura de René Barrientos, mesmo assim logo de início se destacou pela ousadia de produzir e comandar um programa na emissora de televisão estatal, e que não demorou muito para ser censurado. Seu texto indignado era de uma presença de espírito descomunal, tal qual a escultura que, décadas depois, foi entregue por um Presidente índio, das camadas populares, eleito e reeleito pelo voto democrático, ao Sumo Pontífice católico nascido na Argentina de Ernesto Che Guevara: “Se a Igreja e os opressores se identificam de tal modo, a gente se pergunta o que foi feito do Evangelho, que foi pregado aos pobres e levou a Jesus Cristo para a Cruz.”
Com rara capacidade de conciliar com brilhantismo desconcertante as atividades docentes na Universidade Católica, conduzir uma paróquia populosa na periferia de La Paz e dedicar-se ao Jornalismo investigativo na mídia eletrônica, logo estava numa das melhores redações da Bolívia: a do extinto diário Presencia (jornal católico fundado no ano da Revolução de 1952 pelo emblemático Jornalista Huáscar Cajías Kauffman, maior opositor dos regimes de exceção entre 1964 e 1982, e curiosamente fechado por ordem da cúpula da Igreja conservadora em 1999, auge das reformas neoliberais empreendidas na Bolívia e demais países latino-americanos).
Além de ter sido fundador e primeiro diretor do emblemático e combativo semanário Aquí (cuja consigna era “semanário do povo”), que fez escola, ele também foi o artífice da criação, ao lado do Padre Pedro Tumiri (outro grande lutador das causas maiores do povo boliviano), da Assembleia Permanente de Direitos Humanos, uma das mais influentes entidades da sociedade civil latino-americana na luta pelas liberdades democráticas, ainda forte e atuante.
E se tudo isso fosse pouco, dedicou-se ao cinema com dois memoráveis documentários, premiados em grandes festivais pela temática social e linguagem vanguardista, até porque ele entendia que, num continente com tanto analfabetismo, nada melhor como o audiovisual para levar mensagens de esperança e luta. Aliás, como missionário católico dera voz e vez aos milhões de excluídos que constituem o milenar povo do país localizado no coração da América Latina, e acabou torturado e morto por paramilitares em março de 1980.
Parece que sua eliminação física foi um (mau) presságio para os tempos de uma segunda ditadura sanguinária que viria a se abater sobre a Bolívia: os filhotes de Hugo Banzer dois meses depois tomaram literalmente de assalto o frágil governo da Presidente constitucional Lidia Gueiler Tejada e promoviam uma carnificina igual ou pior que a do seu nefasto mestre, sob a batuta de dois narcogenerais, Luis García Meza e Luis Arce Gómez, medíocres de cérebro mas ousados na peçonhenta arte da tortura.
Sob esse regime corrupto e sanguinário foram torturados e mortos com requintes de crueldade nada menos que o combativo senador e professor universitário Marcelo Quiroga Santa Cruz (quarto colocado nas duas eleições presidenciais de 1979 e 1980) e o lendário líder operário comunista Simón Reyes, além dos jovens dirigentes políticos no massacre tristemente célebre da Calle Harrington, em La Paz. Junto com Lucho Espinal, morria a nata da esquerda ética da Bolívia, para deixar os sabujos ruborizados travestidos de esquerda entreguista, tal qual a que conhecemos por estas plagas.
Ahmad Schabib Hany
Este "texto indignado" foi generosamente publicado no Pravda, de Moscou (Rússia), com o título O significado do presente que o Papa Francisco recebeu na Bolívia (http://port.pravda.ru/busines/13-07-2015/39055-papa_bolivia-0/), graças à querida Amiga-Irmã Amyra El-Khalili (http://amyra.lachatre.org.br/), colaboradora do emblemático diário russo, a quem agradeço com penhor, além de fazê-lo também à igualmente querida Amiga-Irmã Natalia Forcat (http://natcartoons.daportfolio.com/), que com sua capacidade persuasiva me instigou a tomar essa iniciativa, depois de ter estado algum tempo "fora do ar".

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Bonde dos Historiadores: Sociologia - Trabalho Infantil

EXEMPLO A SER SEGUIDO!



SEIS JOVENS DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL DR. JOÃO LEITE DE BARROS, DE CORUMBÁ (MS), TIVERAM A SENSACIONAL IDEIA DE FAZER UM BLOG INTITULADO "BONDE DOS HISTORIADORES", ENQUANTO A GENTE TENTA, TENTA, TENTA PÔR O "HISTÓRIA EM MOVIMENTO" E O "PRÓ-HISTÓRIA" HÁ MESES...



PELO MENOS TENHO O ORGULHO DE TER FEITO MEU ANTIGO "GINÁSIO" NAQUELA ESCOLA, ONDE NOS IDOS DE 1972, GRAÇAS À PROFESSORA LOURDES, DESPERTEI PARA ESSA DISCIPLINA. HOJE, 42 ANOS DEPOIS, SEIS JOVENS FAZEM A DIFERENÇA!



PARABÉNS, THATIANE DINIZ, THAÍS CANDIDO, ANNIELLI VAZ, VANESSA ELLEN, DANIELLA e ROBERT PELA INICIATIVA, ORIGINALIDADE E DETERMINAÇÃO!


Bonde dos Historiadores: Sociologia - Trabalho Infantil: Primeiramente nos perguntamos. O que é Trabalho Infantil ? É todo o trabalho realizado por pessoas que tenham menos da idade mínim...

domingo, 31 de maio de 2015

POR QUE O FBI PÔDE PRENDER NA SUÍÇA OS CORRUPTOS DA FIFA?

Como a imensa maioria dos mortais da face da Terra, todo(a)s nós nos regozijamos, num primeiro momento, com a "Operação Lava-Saco" do FBI americano na Suíça, na semana passada, em que, entre outros cartolas corruptos da FIFA, o dedo-duro do Jornalista Wladimir Herzog e vice do Maluf entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, José Maria Marin (ex-ARENA, ex-PDS, ex-PFL e DEM), foi preso e desmascarado (e os "éticos" do DEM e demais aliados sequer se pronunciaram...).

Até um tal Ynah Bibahcs, coitado, se atreveu a "sair do armário" e esboçar uma agressão à poesia com um desvario que segue abaixo:


POEMINHA PARA A FIFA:
FÁ, FÉ, FI, FÓ e FU...!

Muito tempo atrás
(E dinheirama, também!)
Havia um povo audaz
Que só dizia amém...

Aqueles da dita mole
(ou seria mal dita dura?)
Que estupraram, torturaram,
Prenderam e arrebentaram,
Também roubaram,
Mentiram e achacaram...

Mas tinham um Pelé,
Um Garrincha, um Rivelino,
Um Carlos Alberto, um Zico,
Um Sócrates, um Tostão:
“Onde a ARENA vai mal,
Um jogo do nacional;
Onde a ARENA vai bem,
Um jogo também...”

Hoje esse gigante,
Que diziam adormecido,
Acordou, de repente,
E viu impaciente
O que faziam com sua
Seleção Canarinho.

Até o “sete-a-um”
(Ôa, ôa, ôa!)
Pode ter sido “um-sete-um”:
Nem mar, nem rio, nem lagoa,
Tudo, pois, ficou numa boa...

“Cracolândia” demais,
Craques (atletas) de menos...
Quadrilhas demais,
Talentos de menos:
“Verdes” (dólares) demais,
Sangue, suor e lágrimas de menos...

Xô, Marin! Xô, Teixeira!
Xô, cartolas! Xô, parasitas!
Paguem o que devem,
Devolvam o roubado,
Pois não há vergonha maior
Que a de ser desmascarado!!!

(Ynah Bibahcs)



No entanto (sempre há algum "porém" nesta vida...), depois de a poeira começar a baixar, já deu pra ver que aquela operação foi "pra inglês ver":

1º) Por que não foi protelada a quarta "reeleição" do capo-mor Joseph Blatter, poupado de toda e qualquer "suspeita" e tendo como adversário eleitoral um obscuro xeque-lacaio jordaniano que perderia até do Aécio?

2º) Por que o FBI americano se incumbiu da "Operação Lava-saco" em território suíço, quando a Suíça tem uma das polícias mais eficientes do mundo (ver artigo no portal Terra, pelo link <http://esportes.terra.com.br/futebol/por-que-os-eua-puderam-prender-cartolas-da-fifa-na-suica,a89cd013cad2c1125a84476d6043821a61ozRCRD.html>)? 

3º) E, finalmente,por que jogaram para baixo do tapete o processo em que, a exemplo da África do Sul (no tempo do "apartheid"), Israel estava na iminência de ser suspenso dos certames da FIFA pelas atrocidades cometidas contra o povo palestino dentro e fora de seu território milenar, como revela o artigo originalmente em inglês do Moon of Alabama (disponível em português pelo link <http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/05/dias-antes-da-votacao-para-expulsar.html>)?

Isso tudo, além de não ter sido noticiado o fato de José Hawilla (José Ávila), da Traffic (até o nome é sugestivo!), é, nada mais, nada menos, sócio de um dos filhos de Roberto Marinho, fundador da TV Globo. Será por quê? Como dizem, "qualquer semelhança com fatos reais terá sido mera coincidência"...

quinta-feira, 23 de abril de 2015

PEPE ESCOBAR / ¡Arriba la guerra civil, abajo el humanismo!


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“…la mirada hacia atrás furtiva. Hacia el terror primitivo” (T.S.Eliot, The Dry Salvages [Traducción de José Emilio Pacheco])

 Publicado en CONTRAINJERENCIA el 4/21/15 • en el tema EL MUNDO EN CRISIS

PEPE ESCOBAR / ASIAN TIMES – Vivimos tiempos afligidos y peligrosos. Somos impotentes ante las perennes agonías de Medio Oriente o el desarrollo hacia la Guerra Fría 2.0. La miríada de ramificaciones de la Larga Guerra del Pentágono o el empobrecimiento de las clases medias del mundo occidental. El sentimiento de una guerra civil global es inconfundible. Por lo menos, en ciertos rincones oscuros de “OTANstán” algunos de los mejores y más brillantes, en silencio, están pensando.
En un breve volumen, Stasis. La Guerra Civile come Paradigma Politico, basado en dos seminarios en Princeton y disponible en italiano y francés, pero no todavía en inglés, el filósofo maestro Giorgio Agamben identifica la guerra civil como el signo fundamental de politización de Occidente. La cuestión clave es si esta proposición ha sido alterada por el desplome de la civilización hacia la dimensión de la guerra civil global.
Stasis es la guerra civil que provocó problemas dentro de la antigua polis griega. Hannah Arendt ya conceptualizó la guerra civil global en 1963. Agamben argumenta que en términos históricos globales la guerra civil global está representada ahora por el terrorismo.
Por lo tanto Foucault tenía razón cuando calificó la política moderna de “biopolítica”, dice Agamben, “terrorismo es la forma adoptada por la guerra civil cuando la vida se convierte en un juego político”.
Todo tiene que ver con el equilibrio entre oikos (la familia) y polis (la ciudad) como la identificaban –siempre ellos– los griegos. Por lo tanto, cuando la polis se presenta bajo la cara tranquilizadora de un oikos, como en la tan reconfortante imagen de la “casa de Europa” vendida por Bruselas o en “el mundo como el espacio absoluto de la administración económica global”, argumenta Agamben, “la stasis, que no puede ser colocada entre oikos y polis se convierte en el paradigma de todo conflicto y asume la cara del terror”.
Por lo tanto terrorismo igual a guerra civil global. El próximo paso que no da Agamben –después de todo es un breve ensayo– sería calificar la miríada de declinaciones de terrorismo; no solo del tipo EI/ISIS/Daesh, sino el terrorismo de Estado, como el asesinato indiscriminado de civiles en todo el mundo por nuestros usuales sospechosos imperiales y subimperiales.
La barbarie comienza en casa
Como el terrorismo es una forma de barbarie, otro breve ensayo –LEurope a Deux Visages– del maestro sociólogo Edgar Morin, va un paso más lejos al conducirnos a una breve pero muy ambiciosa antropología de la barbarie humana.
Morin argumenta que las ideas de Homo sapiens, Homo faber y Homo economicus son insuficientes. Después de todo Homo sapiens puede convertirse en Homo demens (vea el interminable archivo de delirio y dementia, de Nerón a Dick Cheney. Homo faber también puede producir una colección interminable de mitos. Y Homo economicus puede convertirse en Homo ludens, un alborozado jugador (excluyendo al ministro alemán de finanzas Schäuble.)
La barbarie humana pertenece desde luego a Homos demens; un ávido productor de delirio (el califa de Daesh Ibrahim), odio (saudíes contra chiíes), desdén (los ricos contra los oprimidos) y –los griegos, de nuevo– hibris (los juicios y tribulaciones del Imperio del Caos). Para no mencionar, como Morin nos recuerda, que la tecnología introduce su propia forma de barbarie, la barbarie del puro, glacial cálculo.
Morin nos muestra que es posible que Europa no haya tenido el monopolio de la barbarie, pero ciertamente ha manifestado todas las formas de barbarie registradas en la historia en una forma mucho más permanente, masiva e innovadora. Y vincula toda esta innovación a la formación de la nación europea moderna, en España, Francia, Portugal, Inglaterra.
El caso más incriminatorio es España. En las áreas islámicas –Al Andalus– hubo mucha tolerancia hacia cristianos y judíos y en la zona cristiana tolerancia hacia musulmanes y judíos, hasta 1492.
¿Qué pasó en 1492? “No solo el descubrimiento de América y el inicio de la conquista del Nuevo Mundo. Fue también el año de la conquista de Granada, el último bastión musulmán en España, y poco después el decreto imponiendo a judíos y musulmanes la elección entre conversión o expulsión. Esta invención europea, la nación, se basó desde el principio en un fundamento de purificación religiosa”.
Bueno, por lo menos Occidente fue bendecido por el Renacimiento que gestó el humanismo europeo. Morin identifica dos explicaciones divergentes para la esencia del humanismo. Una alaba la tradición judeocristiana. La otra es sobre Grecia Antigua, porque en el pensamiento griego el espíritu humano y la racionalidad afirman su autonomía. La mejor justificación puede ser que el humanismo desarrolló un mensaje griego, revitalizado en la Italia del Renacimiento. Unos minutos contemplando la Primavera de Botticelli en la Galleria degli Uffizzi pueden bastar para zanjar el caso.
Auschwitz = Hiroshima
Morin también nos recuerda que “en la ciudad democrática de Atenas la diosa Atenea no gobierna, protege”. El verdadero significado de democracia es que los “ciudadanos responsables tienen el gobierno de la ciudad en sus manos”. Cuesta ajustar a Merkel, Cameron, Hollande o al nuevo capo de la Casa de Saud en esta descripción.
Paralelamente, mientras se desarrollaba la barbarie europea, Morin nos recuerda que siempre ha tratado a El Otro –pensad en el Sur Global– como bárbaro, en lugar de celebrar una diferencia y ver la oportunidad del enriquecimiento mutuo a través del conocimiento y de las relaciones humanas.
Hay excepciones, por cierto. Por lo tanto en nuestra actual lamentable condición lo menos que podemos hacer es escuchar las lecciones de Spinoza para quien la razón era soberana, no “una razón fría, glacial, sino una razón profundamente compasiva”. Spinoza era un espíritu tan independiente como Montaigne, otro de nuestros inspiradores modelo.
Morin es implacable: si Auschwitz fue la barbarie suprema, lo mismo fue Hiroshima. Califica a Bruselas, correctamente, como una “tecnoburocracia europea”, insiste en que Turquía es “una potencia europea”, especialmente después de la caída de Bizancio y señala afectuosamente que “la cultura rusa llevó sensibilidad y una profundidad humana a la cultura europea”, ya que “Rusia es también europea”. Anda a contárselo a los abastecedores de la Guerra Fría 2.0.
Por lo tanto, no se ha perdido todo, aunque tenemos que admitir que la barbarie también somos nosotros. Morin nos dice que pensar seriamente en la barbarie es contribuir a regenerar el humanismo. Por lo tanto, incluso en estado de sitio y bajo la égida de una guerra civil global, resistiremos con nuestros corazones y nuestras mentes. No pasarán.

Pepe Escobar es autor de Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War (Nimble Books, 2007), Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge (Nimble Books, 2007) y Obama does Globalistan (Nimble Books, 2009). Contacto: pepeasia@yahoo.com

REBELION (http://www.rebelion.org/) CONTRAINJERENCIA (http://www.contrainjerencia.com/?p=103903)

PEPE ESCOBAR: CRESCE A GUERRA CIVIL, DECAI O HUMANISMO

10/4/2015, [*] Pepe EscobarAsia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Publicado originalmente em português no blog redecastorphoto

    
“…a olhadela
Por cima dos ombros, ao terror primitivo lançada.”
(trad. Ivan Junqueira [1])

Guerra Fria 2.0

São tempos tristes – e perigosos. Somos impotentes ante as perenes agonias no Oriente Médio ou o passo a passo rumo à Guerra Fria 2.0; ante as incontáveis ramificações da Guerra Longa do Pentágono ou a pauperização das classes médias no mundo ocidental. Impossível não sentir que está em curso uma guerra civil global. Mas pelo menos, em algumas quebradas obscuras do OTANstão, há uns poucos, dos melhores e mais brilhantes, que, em silêncio, pensam.
Num pequeno livro Stasis. La Guerra Civile come Paradigma Politico – baseado em dois seminários em Princeton e disponível em italiano e  francês,   mas ainda não em inglês, o mestre filósofo Giorgio Agamben identifica a guerra civil como o sinal fundamental de politização no Ocidente. A questão chave é se essa proposição foi modificada pelo mergulho de nossa civilização na dimensão da guerra civil global.
Stasis é o nome que tinha a guerra civil que provocou dificuldades dentro da antiga polisgrega. Hannah Arendt, em 1963, já estava conceitualizando a guerra civil global. Agamben argumenta que em termos históricos globais, a guerra civil está hoje representada pelo terrorismo.
Assim, se Foucault acertava ao qualificar a política moderna como “biopolítica”, diz Agamben:
(...) o terrorismo é a forma que a guerra civil assume, quando a vida se torna um jogo político.
Trata-se sempre do equilíbrio entre oikos (a família [a casa]) e polis (a cidade) como os gregos – sempre eles – o identificavam. Assim, quando a polis se autoapresenta sob a face reconfortante e segura de um(a) oikos, como na tão reconfortante imagem da “casa da Europa” que Bruxelas nos vende, ou no “mundo como espaço absoluto da administração econômica global”, diz Agamben:
(...) stasis, que não pode ser posta entre oikos e polis, torna-se o paradigma de qualquer conflito e assume a figura do terror.
Assim, terrorismo = guerra civil global. O passo seguinte, que Agamben não dá, nesse ensaio, afinal, curto – seria qualificar as tantas declinações de terrorismo; não só do tipo ISISISIL/Daesh, mas também o terrorismo de Estado, e a matança indiscriminada de civis pelo mundo, pelos nossos suspeitos imperiais e subimperiais de sempre.
O barbarismo começa em casa
Como o terrorismo é uma forma de barbarismo, outro ensaio curto – L’Europe a Deux Visages [A Europa tem duas caras] – do mestre sociólogo Edgar Morin, dá um passo adiante, ao nos conduzir por uma rápida mas muito ambiciosa antropologia do barbarismo humano.
O Barbarismo do Complexo Industrial-Militar
Para Morin, as ideias de Homo sapiensHomo faber e Homo economicus são insuficientes. Afinal, o Homo sapiens pode rapidamente se converter em Homo demens (basta ver o infinito arquivo político de delírio e demência, de Nero a Dick Cheney). O Homo faber pode também produzir coleção infindável de mitos. E o Homo economicus pode converter-se emHomo ludens, uma espécie de jogador que se diverte (exceto o Ministro Schauble, das Finanças da Alemanha).
A barbárie humana pertence, é claro, ao Homo demens; ávido produtor de delírios (o Califa Ibrahim do Daesh), de ódios (sauditas contra xiitas), de desprezo (dos ricos pelos despossuídos) e – os gregos, outra vez – de húbris (os tribunais e tribulações do Império do Caos). Para nem falar, como Morin nos faz lembrar, que a tecnologia introduz sua modalidade própria de barbarismo: o barbarismo do plano mais frio, glacial, do puro cálculo.
Morin nos mostra que a Europa pode não ter o monopólio do barbarismo, mas com certeza manifestou de modo mais duradouro, massivo e inovador todas as formas de barbarismo que a história conheceu. E Morin associa toda essa inovação à formação do moderno estado-nação europeu, na Espanha, França, Portugal, Inglaterra.
O caso mais danoso aconteceu na Espanha. Nas áreas islâmicas – Al Andalus – havia muita tolerância com cristãos e judeus; e na zona cristã, tolerância com muçulmanos e judeus, até 1492.
E o que aconteceu em 1492?
Não apenas o descobrimento da América e o início da conquista do Novo Mundo. Esse ano marca também a conquista de Granada, último bastião muçulmano na Espanha; e pouco depois veio o decreto que ordenava que judeus e muçulmanos escolhessem entre conversão e expulsão. Essa invenção europeia – a nação – foi construída desde o primeiro momento sobre um alicerce de purificação religiosa.
Sim, mas, pelo menos, o Ocidente foi também abençoado pelo Renascimento – que gestou o humanismo europeu. Para Morin há duas explicações divergentes para a essência do humanismo. Uma exalta a tradição judaico-cristã. A outra trata da Grécia Antiga – porque é no pensamento grego que o espírito e a racionalidade humanos afirmam a própria autonomia. Pode-se argumentar que aquele humanismo desenvolveu uma mensagem grega, revitalizada na Itália do Renascimento. Alguns minutos de contemplação frente à Primavera de Botticelli no [museu] Uffizzi devem bastar, como comprovação da teoria.
Primavera de Botticelli
Auschwitz = Hiroshima
Morin também nos lembra que:
(...) na cidade democrática de Atenas, a deusa Atenas não governa: ela protege.
 O verdadeiro significado de democracia é que:
(...) cidadãos responsáveis têm nas mãos o governo da cidade.
Difícil encaixar Merkel, Cameron, Hollande ou o novo capo da Casa de Saud nessa definição.
Morin também nos lembra de que, paralelamente enquanto se desenvolvia, o barbarismo europeu sempre tratou O Outro – pensem no Sul Global – como bárbaro, em vez de celebrar alguma diferença e de ver nele uma oportunidade de mútuo enriquecimento pelo conhecimento e pelas relações humanas.
Há exceções, claro. E nós, na nossa miserável condição atual, ainda podemos promover as lições de Spinoza – para quem a razão é soberana; não “uma razão fria, glacial, mas uma profunda razão compassiva”. Spinoza foi espírito independente, como Montaigne – outro de nossos modelos inspiradores.
Hiroshima e Auschwitz - Memorial em Hiroshima
Morin é implacável; se Auschwitz foi um supremo barbarismo, Hiroshima também foi . Para ele, corretamente, Bruxelas é uma “tecnoburocracia europeia”; insiste que:
(...) a Turquia é “potência europeia”, especialmente depois da queda de Bizâncio; e carinhosamente observa que “a cultura russa trouxe sensibilidade e profundidade humana à cultura europeia”, dado que “a Rússia também é europeia”.
Tente explicar isso aos promotores da Guerra Fria 2.0.
Quer dizer que nem tudo está perdido, embora tenhamos de admitir que há barbarismo também nosso. Morin nos diz que pensar seriamente sobre o barbarismo é contribuir para regenerar o humanismo. Mesmo sob sítio, mesmo sob o aegis de uma guerra civil global, temos de resistir com nossos corações e mentes.
No pasarán.
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Nota dos tradutores
[1] ELIOT T. S. Poesia. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981 (Coleção Poiesis).
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: SputinikTom Dispatch, Information Clearing HouseRed Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia TodayThe Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Adquira seu novo livro  Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.