sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

POR QUE TEMER JAMAIS CHEGARÁ AOS PÉS DE LULA

POR QUE TEMER JAMAIS CHEGARÁ AOS PÉS DE LULA

Nos derradeiros dias de 2016, igual a um ridículo jagunço de meados do século passado que não tinha noção de seu abjeto papel reservado pela sociedade a que servia mas não podia expô-lo nem como serviçal, quanto mais como agregado, Temer vem se exibindo a seus assemelhados com pinta de “estadista”. Penso cá com meus escassos botões, há estadista sem respaldo popular, sem votos, sem popularidade, sem “ibope”, sem, em última instância, propósito?

Pobre diabo! Ele não tem noção de sua insignificância, sua mediocridade, seu ignóbil papel diante da história. Aceitaram-no apenas e tão-somente para executar o “serviço sujo”, como de aparentar ter sido o articulador do golpe parlamentar, de impor à sociedade brasileira uma agenda nunca apresentada ao eleitorado, até por ser antinacional e antipopular, e, pior de tudo, sua vaidade e pouca inteligência o ilude, lhe dá ares de saber para onde está levando a maior economia da América Latina – quando sequer faz a mínima ideia da tragédia de que participa!

Não se trata de feitor, nem de jagunço. Poderia ser comparado aos homens-bomba, mas aqueles, apesar do fanatismo que os motivam, têm alguma convicção, ainda que equivocada. O inquilino indesejado do Planalto não tem convicção alguma. Seu pérfido papel de canastrão (ou seria fantoche?) de uma ópera bufa o denuncia aos olhos mais inocentes. Nem as crianças que posaram com ele e a cônjuge se deram ao trabalho de esboçar um sorriso tímido depois de receberem presentes de Natal, ao lado do igualmente acabrunhado “Papai Noel” palaciano.

Seus amos e senhores, na verdade, o estão usando como quem usa um papel higiênico, cujo descarte é imediato, previsível, automático – com a óbvia e digna diferença do objeto usado para a higiene, que este é necessário e seu uso é democraticamente assumido até pelas mais belas divas de Hollywood. Mas que amos e senhores?! Ilude-se quem pensa que seus endereços constam da avenida Paulista ou Atlântica. Eles sequer se dão ao trabalho de conversar com os “coordenadores” do Vem-pra-rua e do MBL (o “Tchau Querida” já fechou, por falta de repasse) ou as “divas” do “Cançei” (com “ç”!), porque já acertaram tudo com a meia-dúzia de banqueiros sediados no Brasil, seus únicos interlocutores em igualdade de condições.

Mas, e Skaff, S(f)erra, Aéreo, Santo Alkmin-sta, Nicomedes (perdão, Aloysio), ACM Nato, Anímal, Fortes Boca-Mole, Cunha e Cai(g)ado, são o que na ordem do dia? Absolutamente nada, n-a-d-a! Se fossem algo não teriam tomado de quatro – de quatro: 2002, 2006, 2010 e 2014 –, com toda a dinheirama distribuída por todas as empreiteiras: além da Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa etc, há as privativas dos estados e metrópoles há décadas (des)governados pelo PSDB, DEM, PMDB e PTB (ou acham que nos esquecemos da Siemens e suas “concorrentes” do Metrô de São Paulo, e casos assemelhados Brasil afora?).

Como não há golpe meia-sola, a chamada “base do governo” (praticamente com o mesmo perfil desde os tempos nefastos do regime de 1964, independentemente de quem esteja no Planalto) se encarregará de dar ares de legalidade (que não significa legitimidade) para tentar “eleger” algum “bonitinho” ou “bonitinha” que se afine com os amos e senhores de Temer et caterva. Tentarão até a restauração do espúrio “colégio eleitoral” – poderão até mudar o nome para “universidade eleitoral” para que o Professor Doutor Fernando Henrique Cardoso “açeite” (com “ç”!), depois de muitos (sic) “apelos”, “para fazer esse sacrifício pelo Brazil” (com “z”!)...

Do mesmo modo que não vingou a candidatura togada de Rui(m) Barbosa em 2010 e 2014, dificilmente se sustentaria uma candidatura provinciana nascida na República de Curitiba, ainda que viesse atender aos clamores de “expressivos setores indignados da sociedade”. Acontece que o voto censitário há décadas foi abolido no Brasil. Essa “sociedade” consegue eleger algumas dezenas de governadores, algumas centenas de prefeitos, mas eleger um presidente ou presidenta da República, só com a estatura de Lula, gostemos ou não dele. Nem Aéreo, nem S(f)erra, nem Santo, nem Temer chega aos pés peregrinos de Lula.

Aliás, depois que o povo brasileiro conheceu Lula e seu programa de governo, só alguém apoiado por ele para subir a rampa do Planalto sem vaias ou tropa de choque para sufocar as vaias...


Ahmad Schabib Hany

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

2017, ANO DE DESAFIOS


Estranha unanimidade essa em que opostos têm a mesma convicção, de que nada foi pior que 2016 e que 2017 será um ano melhor, pois está a clamar por desafios. Tanto Amigo(a)s que lutaram contra o golpe (isto é, o impeachment) como o(a)s que o apoiaram, ao enviar-nos seus comentários, aliás, sinceros, estavam tacitamente de acordo, pelo menos na expectativa de que o ano que chega seja cenário de bons augúrios para o Brasil e toda a humanidade.
Vamos por partes. De um lado, a artista plástica Marlene Terezinha Mourão, querida Amiga de longa data, a Peninha de minha juventude rebelde que, ao lado da hoje saudosa Heloísa Urt – a queridíssima Helô –, fez parte da histórica fundação do maior partido de esquerda do continente americano, o Partido dos Trabalhadores (PT). Ela fez questão de deixar claro que o ano que se prenuncia “será melhor, muito melhor, com fé e com amor”. Igualmente Amigo querido de três décadas e mais alguns anos, Camarada da maior formação, o professor Fausto Matto Grosso, um dos bastiões da luta pelas liberdades democráticas – fundador do MDB, PMDB, PCB e PPS, ex-vereador da capital e pró-reitor da UFMS em cuja gestão criou o Festival de Corumbá (1994-1996), precursor do Festival América do Sul, e ex-secretário de Estado de Planejamento de Mato Grosso do Sul –, em sua lacônica mensagem de votos de ano novo, externou uma explícita torcida por um feliz e próspero ano, que vindo dele representa mais que uma mensagem formal, mas uma efetiva (e afetiva) expectativa redentorista (bem entendido, não da congregação católica).
Extremamente ética e altruísta, a poeta, cartunista, escritora e artista plástica, Peninha, como ninguém, representa o de melhor no PT. Mas nem por isso pôde se eleger, em suas várias tentativas, representante da população excluída que clama por voz e vez. Nos melhores tempos do PT, o(a)s eleito(a)s foram neófito(a)s, recém-chegado(a)s, que no momento de defender o partido dos ataques virulentos a exalar ódio, estavam abrigado(a)s em novas legendas. Mas lá estava a Peninha, com o(a)s pouco(a)s aguerrido(a)s militantes – é que aquele(a)s que aproveitaram a “onda petista” nunca foram do PT. Com Helô e Peninha, estivemos na criação do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino, em 1987; no primeiro movimento pela restauração do ILA, em 1991; na Segunda Semana Social Brasileira e na Ação da Cidadania contra a Fome e pela Vida, de 1993; no Pacto Pela Cidadania, no Fórum de Entidades Não Governamentais e no Comitê de Defesa da Urucum, de 1994; na Campanha contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, de 1996; Encontros da Cidadania, de 1998; no Comitê de Defesa do Rio Paraguai, de 1999; na Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente, de 2000; no Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental, de 2001; na Rede Pantanal de ONGs e Movimentos Sociais, de 2002; no Observatório da Cidadania, de 2014.
Apesar de tudo isso, dois são os momentos inesquecíveis com a Peninha: a impactante (primeira!) passeata pela implantação de filtros na fábrica de cimento, em 1980, ao lado da Helô, Zé de Oliveira, Dona Eva Granha, Valmir Corrêa, José Dilson Carvalho, Roma Román e Romeo Román, ao som de “ação, ação, ação: abaixo a poluição!”, e a gloriosa e solitária passeata em defesa do Estado Democrático de Direito e do mandato da presidente Dilma, em fevereiro de 2016, ao lado de Edmir Abelha, Jocimar Campos, Erisvaldo Ajala, Miro Temelcovitch, Daniela Peño, Monder Safa, Masao Uetanabaro, Janán Hany e outras pessoas de minha família. Na passeata de 1980, éramos quase 50 pessoas; em 2016, apenas 13 pessoas.
Diferentemente de Roberto Freire, que conduziu o PCB para o social-liberalismo, via PPS, quando da dissolução da União Soviética, Fausto Matto Grosso é um quadro histórico, disciplinado e estoico militante do extinto Partidão, cuja postura ética rigorosamente alinhada ao chamado centralismo democrático o tornou referência na Câmara Municipal de Campo Grande entre os anos 1983 e 1989, pois, eleito em 1982, excepcionalmente seu mandato foi de seis anos. Fausto e Marcelo Barbosa Martins, outro Camarada que marcou sua passagem pelo Legislativo campo-grandense por sua conduta ilibada e compromisso com as liberdades democráticas, foram eleitos pelo PMDB representando o extinto PCB, em razão da proscrição a que os marxistas leninistas (PCB e PCdoB) estavam impelidos por causa da guerra fria e depois pelo regime de 1964. Sem risco de ser desmentido, Fausto e Marcelo trocaram uma carreira bem-sucedida – mais que isso, brilhantemente longeva – pelo compromisso ideológico com o socialismo. Enquanto Marcelo optara por não ser candidato à reeleição, Fausto não obtivera legenda, a despeito da excelente votação – e assim foi em suas diversas tentativas para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Tive a honra de acompanhar memoráveis campanhas de que Fausto Matto Grosso participou, como a histórica eleição de 1982 para vereador; de 1985, como candidato a vice-prefeito do também engenheiro Euclides de Oliveira, saudoso quadro do PCB, cujo programa eleitoral foi uma lição de gestão democrática da cidade, com a adoção de conselhos de políticas públicas antes mesmo da Constituinte de 1987; de 1986, quando saiu coligado à Aliança Democrática, mas acabou suplente por problemas com a legenda; de 1992, quando, coligado com o PT, ficou suplente, numa renhida disputa com dois fundadores do PT, Alcides Faria e Zeca do PT, que, duas legislaturas depois, foi eleito governador de Mato Grosso do Sul numa coligação com o PDT, PPS e PCdoB, em que outro Camarada histórico, o igualmente querido Amigo Carmelino Rezende saiu candidato ao Senado numa campanha memorável em que a querida Amiga e Jornalista Ana Cláudia Salomão, Camarada do PCdoB, teve uma extraordinária participação na estratégia de comunicação. Mas é também inesquecível a emblemática campanha de Fausto Matto Grosso para reitor da UFMS, quando apresentou uma carta-programa ousada e inovadora, parte dela aplicada em sua gestão como pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, no período seguinte.
A participação, portanto, de Fausto Matto Grosso no primeiro governo de esquerda, como secretário de Planejamento do governador Zeca do PT, entre 1999 e 2002, e do primeiro governo de esquerda do Brasil, como assessor do ministro Ciro Gomes (pelo PPS), da Integração Nacional, primeira gestão do presidente Lula, entre 2003 e 2006, deu relevantes contribuições para a tardia consolidação do Estado Democrático de Direito, consignado pela Constituição Federal de 1988: destacaremos, em nível estadual, a política de Ciência e Tecnologia, implementada com a participação da professora Sonia Jim, superintendente da área; a estruturação da FUNDECT, em que a escolha por meio de lista tríplice revelou o professor Paulo Boggiani por sua excepcional capacidade de gestão para o desenvolvimento efetivo da Ciência e Tecnologia; e a construção democrática do Plano de Desenvolvimento Estratégico MS-2020, entre outras conquistas memoráveis. Já em nível nacional, talvez a mais emblemática contribuição tenha sido, também pela via democrática, a construção de uma agenda regional de políticas públicas efetivas para o Pantanal Mato-grossense, além da implantação do necessário, mas inconcluso, Observatório do Pantanal, abandonado, sobretudo, pelas instituições públicas e privadas de pesquisa (entre as quais as Universidades com atuação regional).
Assim, a artista plástica cidadã que participou da fundação do maior partido de esquerda da América e o incansável militante do mais antigo partido de esquerda do Brasil estão juntos na esperança de um País e um Planeta melhor em 2017, o ano do centenário da Revolução Bolchevique, em que pela primeira vez na história da humanidade trabalhadores do campo e da cidade assumiam o poder numa potência imperial e iniciavam a construção de um Estado eminentemente socialista até o dia em que os burocratas tomaram o poder pela via insana da corrupção, da sordidez e da opressão.
Feliz 2017! Que a esperança vença o ódio!
Ahmad Schabib Hany

PS: Acaba de chegar-nos a notícia da nomeação, por Temer, da vereadora não reeleita Luíza Ribeiro, do PPS, para assessorar Roberto Freire, recém-empossado ministro da Cultura. Sem comentários...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

2017 e a esperança necessária

2017 e a esperança necessária
Ano do Centenário da Revolução Bolchevique, 2017 irrompe a realidade em meio a um contexto de angústias e incertezas, até por conta das condutas bizarras cometidas em 2016. Em todos os quadrantes do Planeta, setores irremediavelmente atrasados tomaram de assalto o porvir da humanidade: o egoísmo, o ódio, a mesquinhez e a sórdida ganância suplantaram de modo avassalador, e até irresponsavelmente suicida, a inteligência e o altruísmo consolidados pelas sociedades humanas ao longo do século XX.
Assistir aos noticiários televisivos, sobretudo nas últimas décadas, passou a ser um ato tresloucado, porque masoquista. Conseguem ser piores que a produção mais burra e despudorada da filmografia underground dos medíocres pretensos (per)seguidores de Alfred Hitchcock da década de 1980 e seu atabalhoado suspense de gosto e originalidade duvidosos. Joseph Goebbels, e não Ben Bradlee, está em alta nas centrais de “jornalismo” nos bisonhos tempos da “pós-verdade” incubada pelos (sic) “serviços de inteligência”. Tanto assim, que passou quase despercebida a morte, dois anos atrás, do ousado editor do Washington Post que apoiou incondicionalmente seus repórteres Bob Woodward e Carl Berstein nas investigações do “Caso Watergate”, ocorrida um dia depois da do fotojornalista René Burri (que em 1959 cobriu a Revolução Cubana e eternizou o semblante de Che Guevara com seu charuto), sem que qualquer jornalão ou revistona dedicasse uma página sequer a esses dois ícones da imprensa da segunda metade do século XX e da história do jornalismo verdadeiro.
Quem, afinal, são os corresponsáveis pela ascensão ao topo do poder de personagens sobrenaturais, porque saídos do mundo dos vampiros, como Trump, Temer, Macri, Le Pen e assemelhado(a)s? Esses verdadeiros mercenários da imprensa, porque conscientes (ou inconscientes) de seu papel, transformaram seus locais de trabalho em meios de conspiração! É claro que com o imprescindível “ajutório” de políticos em decadência, fieis serviçais do império do caos. No caso do Brasil, não perderemos nosso valioso tempo com espectros como Zé S(f)erra ou Santo Alkmin-sta, Aéreo Never ou Aloysio Se-Marighela-pudesse-falar, Zé Animal ou Heráclito Fortes, Romero (seu nome já o condena) Jucá, Eliseu Pa(n)dilha ou Gediel Alfa Ville, Antônio Embaixaí ou ACM Nato. A lista da Odebrecht já se encarregou disso. Ficaremos apenas no registro do blefe que foi a carreira do ex-“camarada” Roberto Freire na esquerda (isto é, no PCB): enganou-nos, sim, porque usou o discurso e a história do velho Partidão para depois entregar-se aos piores quadros da política brasileira e ao final prestar vergonhosos desserviços aos inimigos do Estado Democrático de Direito do (des)governo Temer-Cunha, como coveiro das políticas culturais.
Atribui-se ao genial Gabriel García Márquez a constatação de que “pior que um conservador convicto é um esquerdista arrependido”. Óbvio, porque, como todo “convertido”, a necessidade de se afirmar perante os outros e, sobretudo, para si mesmo, o torna excessivo, redundante, “fanático” – tanto é verdade, que os “cristãos novos” eram vistos pelos demais cristãos com certa precaução nos séculos posteriores aos igualmente tenebrosos tempos inquisitoriais, que parecem estar voltando, desta feita, pela via dos reformistas convertidos, sejam eles dos mais diferentes matizes religiosos, políticos ou ideológicos.
Dizem, finalmente, que de tudo se tira algo bom. Com sinceridade, temos dúvidas, apesar de insistirmos na dialética. Mas fica o consolo de que 2016, em que pesem as perdas irreparáveis de toda ordem – humana, física, material, espiritual, ética, política, civilizatória, social, econômica etc –, serviu para acabar com muitos mitos. No Brasil, por certo, foi oportuno para tirar a máscara de muito “Joãozinho do passo-certo” e “Mariazinha do passo-certo”, em todos os contextos da vida nacional. E porque é dialético apostar no eterno devir transformador, do fundo do âmago, da essência do ser, tenhamos todos juízo suficiente para conquistarmos um 2017 da estatura da humanidade, à altura da inocência infinita da população infantil de hoje e sempre, que, ao lado dos despossuídos porque explorados, é vítima da avareza, da sordidez, da cobiça e da desfaçatez de uma minoria caquética que teima levar o planeta para o caos, com o único afã de conservar a ferro e fogo seus privilégios anacrônicos e insanos.
Nas palavras de um operário aposentado entrevistado por um sagaz repórter da Band, outrora emissora de vanguarda, numa rua da periferia de São Paulo: “Crise é pretexto para covarde, preguiçoso e bandido. É só ignorar, e seguir em frente.” Feliz e próspero 2017, ano do centenário dos “Dez dias que abalaram o mundo”, no célebre dizer de John Reed em sua cobertura jornalística que entrou para a história.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

UMA DAMA CHAMADA ANNA THEREZA

UMA DAMA CHAMADA ANNA THEREZA

Dona Anna Thereza de Copacabana Maldonado Katurchi se despediu da Corumbá que a acolheu desde tenra juventude no mesmo dia em que a primavera de 2016 se despedia de todos. Precisamente ao meio-dia da fatídica penúltima quarta-feira deste ano de tantas perdas e decepções, seu corpo era sepultado no jazigo familiar em que Dona Amélia e Dona Rosa Maria, além do patriarca, Seu José Katurchi, descansam em paz –- a paz dos justos, dos honrados, dos leais, dos sinceros.

Altiva, discreta, afirmativa, elegante, honrada e, sobretudo, verdadeira –- profundamente verdadeira -–, Dona Anna Thereza, com a devida reserva que guardava, sempre foi o esteio, o alicerce, do Esposo e eterno Companheiro desde a juventude escolar. Sim, foi como aluna do Colégio das Irmãs (como era o então Ginásio e Escola Normal Imaculada Conceição, GENIC, conhecido em todo Mato Grosso uno) que a mais corumbaense dos cacerenses conheceu e encantou o à época jovem contabilista Jorge José Katurchi, já egresso da Escola Técnica de Comércio, outra instituição que causava inveja às demais cidades mato-grossenses.

Detentora de uma personalidade marcante e um nome imponente –- Anna Thereza de Copacabana Rondon Maldonado -–, Dona Anna Thereza era a emblemática síntese de uma miscigenação cosmopolita entre descendentes do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon e a família Maldonado radicada em Cáceres, onde seu venerável progenitor foi Cônsul da Bolívia por décadas. Aliás, os moradores da cidade coirmã de Corumbá são testemunhas convictas do valor, honradez e talento ético da Família Maldonado, tanto que o falecimento precoce de seu querido sobrinho, Professor Doutor Carlos Alberto Maldonado, ex-reitor da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), ex-secretário de Estado de Educação do também saudoso governador mato-grossense Dante de Oliveira (quando no PDT) e consultor da UNESCO no Brasil, enlutou a população cacerense ainda neste ano.

Dama de uma rara elegância e beleza, Dona Anna Thereza detinha um domínio único sobre aquilo a que se propunha. Não posso deixar de relatar sobre seu discretíssimo mas fundamental papel no Pacto Pela Cidadania –- a articulação cidadã coordenada, entre 1994 e 2008, pelo saudoso Dom José Alves da Costa, então Bispo Diocesano de Corumbá, e pelo Padre Pascoal Forin, à época titular da Paróquia São João Bosco -–, cujo Esposo foi imprimindo-lhe (ao lado de outros membros igualmente generosos) uma legitimidade popular, ainda que sem ser agente político “profissional”, tendo feito relevantes contribuições para a população corumbaense e ladarense, como o financiamento dos custos da construção do Cristo Rei do Pantanal e de importante infraestrutura para o Corpo de Bombeiros Militar da região, durante os sucessivos mandatos do governador Zeca.

Altruísta, Dona Anna Thereza jamais admitiu que pudesse haver trocas de favor em torno de reivindicações que acreditava vitais para a cidadania. Seu Jorge, que sempre concordou com essa postura ética, foi percebendo o processo de exaustão do Pacto Pela Cidadania, não por seus integrantes, mas pela cultura política dominante. O amor e a gratidão por Corumbá, entretanto, os fizeram insistir o máximo possível numa agenda cada vez mais tênue, como foi ficando tênue aquele movimento inédito na historia de Mato Grosso do Sul.

O lamentável acidente ocorrido com Dona Anna Thereza num evento do Clube da Bela Idade no mesmo dia em que eram comemorados os 60 anos da proclamação da Carta das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos, em dezembro de 2008, foi o divisor de águas na vigorosa atuação de Seu Jorge nas atividades de cidadania e o início do longo calvário de Dona Anna. Oito anos de sucessivas intervenções cirúrgicas e clínicas, cuja interrupção se deu nesta terça-feira, dia 20, emblematicamente um dia depois do centenário de nascimento do Poeta Manoel de Barros, cujo universo é a mais exata expressão de uma natureza dadivosa ainda não compreendida pela mesquinhez humana manifesta por agentes políticos surreais porque anacrônicos e míopes, contra os quais a eterna Dama de Seu Jorge, da Cidadania, se insurgiu elegantemente.

Como toda historia de amor, a eterna caminhada de Dona Anna Thereza nas terras de Frei Mariano, sempre ao lado de Seu Jorge Katurchi, não cessará, não findará, como nas repetitivas produções cinematográficas não mais exibidas na grande tela das outrora imponentes salas da cosmopolita Corumbá que atraiu o jovem casal de apaixonados não narcisamente por si apenas, mas por toda uma coletividade, de cujo apogeu são e sempre serão seus porta-vozes.

Que as futuras gerações tenham argúcia e generosidade anímica para compreender e se inspirar nesta história verdadeira, até como homenagem a estes queridos e reais personagens que tornam Corumbá e o Pantanal únicos, como a genial criação de Manoel de Barros.


Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

CORUMBÁ DE LUTO: DONA ANNA THEREZA KATURCHI SE ETERNIZOU

CORUMBÁ DE LUTO: DONA ANNA THEREZA KATURCHI SE ETERNIZOU

Com profundo pesar, comunicamos o falecimento da querida Amiga, a Senhora Anna Thereza de Copacabana Maldonado Katurchi, Esposa e incansável Companheira de toda uma Vida do querido e leal Amigo, Senhor Jorge José Katurchi, ocorrido na tarde desta terça-feira, dia 20, em Corumbá, depois de ter resistido bravamente a uma enfermidade que a acometera por vários anos.

O corpo está sendo velado desde as 22 horas na Capela Cristo-Rei, em Corumbá, de onde sairá o cortejo para o Cemitério Santa Cruz, às 11 horas desta quarta-feira, dia 21.

Casados há mais de 65 anos, Seu Jorge e Dona Anna Thereza têm três filhos -- os empresários José Eduardo e Mário Márcio e a Procuradora do Ministério Público do Estado de São Paulo Dra. Thereza Cristina -- e, além do genro Dr. Walter e de um neto e duas netas, um grande legado: são exemplo vivo de amor, bravura, solidariedade e, sobretudo, honestidade e ética, num tempo em que estas duas últimas palavras parecem ter-se tornado vãs para os que procuram o sucesso a qualquer custo.

Sem sombra de dúvida, ouso dizer que Seu Jorge e Dona Anna representam uma geração de cidadãos desprendidos e solidários na pugna por uma sociedade melhor. Tanto assim, desde sempre abraçaram causas maiores sem ter absolutamente algo em troca: a luta de Seu Jorge por uma Corumbá progressista sempre teve em Dona Anna Thereza sua tenaz escudeira, um verdadeiro esteio, bastião. Que ela, elegantemente, fustigava: trazia em seu âmago a ousadia de Rondon e a resistência de Maldonado.

Quem teve o privilégio de privar da Amizade de Dona Anna Thereza e Seu Jorge Katurchi, sabe que ela foi uma Companheira incansável e aguerrida, um esteio para toda a sua Família. Seu exemplo de resiliência e, ao mesmo tempo, de bravura marcaram os corações de quem compartilhou com ela momentos memoráveis e únicos.

Até sempre, Dona Anna Thereza! A senhora estará sempre em nossa memória e em nosso coração, e obrigado por seu imenso carinho!

Muita força, fé, amor e, sobretudo, conformação ao querido Seu Jorge e toda a querida Família Maldonado Katurchi, pois a saudade é a eterna companheira de quem ama e traz consigo a presença viva no caminho trilhado sempre juntos.

Ahmad Schabib Hany

VILLAS-BÔAS CORRÊA, O JORNALISTA QUE DESMASCAROU O REGIME DE 1964

VILLAS-BÔAS CORRÊA, O JORNALISTA QUE DESMASCAROU O REGIME DE 1964

Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa. Por esse nome quase alexandrino pouquíssimos talvez o relacionem às mais de seis décadas de cobertura altiva, nada servil, da bizarra cena política daquela que já foi, por duas vezes, a maior democracia do planeta – não por acaso, durante a vigência, plena e sem mutilações, das Constituições de 1946 e de 1988.

Sua estreia no Jornalismo se deu por pura necessidade, quase por acaso. Bacharel em Direito, funcionário público federal, casado e pai recente, Villas-Bôas Corrêa contou com a ajuda do sogro, jornalista aposentado, que o apresentou ao diretor do diário carioca A Noticia. Logo no primeiro dia, mal aprendera a datilografar (em seu tempo, estudante de Direito não usava máquina de escrever na prática jurídica, ainda que tivesse sido, como ele, destacado dirigente de seu centro acadêmico), foi para a rua, pois é onde a historia, a vida, acontece, e lá flagrou um ato de extorsão pra cima de um camelô: depois de tomar nota de detalhes do flagrante, levou a vítima a um alto funcionário, que acolheu a denuncia, e logo o caso ganhou as manchetes da capital federal, e ele o emprego de repórter político – tendo sido pioneiro na especialidade e o mais longevo de todos.

O Jornalista Villas-Bôas Corrêa, ao lado de Carlos Castello Branco e Carlos Chagas, desvelou com apurado tirocínio e rara elegância os intramuros palacianos para o(a)s ávido(a)s leitore(a)s das paginas políticas do Jornal do Brasil e de O Estado de S. Paulo, e a partir de 1976 da Istoé, enquanto Mino Carta esteve à frente daquela revista. Não por alguma troca de favores (até porque tanto Villas-Bôas quanto Mino nunca foram adeptos do toma-lá-dá-cá), mas como Pai reconhecido de Marcos Sá Correa, grande revelação da Veja sob a direção de Mino (1968 – 1976), esse que foi um dos maiores analistas políticos de todos os tempos sempre fez questão de respeitar o maior criador de meios jornalísticos inovadores que o Brasil conheceu.

Poucos, também, se recordam, mas foi Villas-Bôas, nas paginas da Istoé de Mino, que tornou pública a fraude acobertada por uma década pelo triunvirato que golpeou o marechal Arthur da Costa e Silva, de que o Ato Institucional nº 5 (o nefasto AI-5) não era de autoria do marechal: outro Luiz Antônio, da Gama e Silva, professor de Direito Constitucional e poderosíssimo ministro da Justiça da linha dura, valeu-se do discurso inflamado do Deputado Marcio Moreira Alves em setembro de 1968, e com a não autorização do plenário da Câmara Federal para processá-lo, na noite de 13 de dezembro de 1968, quando era proclamada a fase obscurantista e sanguinária do regime, o último marechal na presidência da República não passava de reles figurante, um verdadeiro refém do grupo que o guindou ao mais alto cargo, e que menos de um ano o destituiria, inconsciente, no mais acintoso ardil.

Pai denodado, Villas-Bôas decidiu encerrar abruptamente sua talentosa carreira depois que seu dileto filho e colega Marcos Sá Corrêa não conseguiu se restabelecer de um acidente doméstico que o fez interromper uma também brilhante carreira jornalística. Apesar da dor, Villas-Bôas escreveu com a peculiar elegância a mensagem de agradecimento (e despedida), publicada originalmente em 2011, que postamos / colamos como homenagem póstuma.

Num tempo em que mediocridades servis a interesses inconfessáveis se revezam nos grandes meios de conspiração (e não de comunicação), com a cínica finalidade de desinformar e justificar o injustificável, analistas e repórteres com o caráter e o talento de Villas-Bôas Corrêa fazem muita falta. Que ele, ao lado do também saudoso Carlos Castello Branco, inspire as novas gerações nessa incansável missão: de olho no poder, mas com a distância necessária para não servir a ele, nem se servir dele.


Ahmad Schabib Hany


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

DOM PAULO EVARISTO, O PEREGRINO DOS DIREITOS HUMANOS

Dom Paulo Evaristo, o Peregrino dos Direitos Humanos
No mesmo mês de dezembro em que se eternizou Dom José Alves da Costa, Bispo Emérito de Corumbá, o igualmente Cardeal Cidadão, Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo, quatro anos depois foi fazer o bom combate em outra dimensão, silenciosa e humildemente.
Jamais me esquecerei que, no meu início de juventude, precisamente nos intermináveis anos de chumbo e sangue impune, Dom Paulo, aquela pessoa cordial, gentil, afável, generosa e, sobretudo, corajosa, reta e com a clareza de causar medo a todo amante da tirania, com a sábia prudência e humildade que lhe eram peculiares, começou a ganhar os holofotes da imprensa, que começava a ganhar galhardia sob a bênção do incansável Peregrino – dos tempos modernos e dos então proscritos Direitos Humanos, irmão bastardo de Dona Democracia...
Anunciado em 1966, de maneira enigmática e sugestiva pelo também Cardeal Peregrino Dom Hélder Câmara, então Cardeal Arcebispo de Recife e Olinda, ao então repórter do “Correio da Manhã” (do Rio de Janeiro, fechado mais tarde pelo regime de 1964) Plínio Marcos – quando, ao final de uma entrevista, Dom Hélder, já sob censura, havia anunciado o surgimento de um Cardeal muito mais corajoso que ele, e logo na Arquidiocese mais populosa da América do Sul (São Paulo só perdia, na época, para a Arquidiocese do México).
Não é que a profecia do Cardeal nordestino se consumara? Dom Paulo Evaristo, a promessa de Hélder, veio reparar os danos causados pelo ímpio escárnio que a opressão silenciou, mas sem mágoas, sem rancores, sem ranços, mas risonho, cordial, afável, inclusivo, verdadeiro, solidário, pacífico, alentador, fraternal...
Com a necessária contundência e desenvoltura, somente revelou sua ascendência germânica durante a insidiosa pressão (e repressão) pós-assassinato do Jornalista Wladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho, ocorridos simultaneamente como em afronta à autoridade do general Ernesto Geisel, cujo governo deu início à “abertura lenta, gradual e segura”, milimetricamente planejada pelo também general Golbery do Couto e Silva, ex-conspirador de 1964 e depois articulador do fim do regime.
Foi ao lado do pastor Jaime Whrite, da Igreja Metodista, e do então rebelde rabino Henry Sobel, da Sociedade Israelita de São Paulo, Dom Paulo transformou a Praça da Sé e sua imponente Catedral em centro irradiador das liberdades democráticas, ao acolher alguns milhares de opositores e descontentes com o regime para celebrar um culto ecumênico em defesa da Vida e dos Direitos Humanos.
Não demorou muito e criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz no âmbito de sua Arquidiocese e iniciou o corajoso monitoramento do(a)s preso(a)s político(a)s, do(a)s desaparecido(a)s, do(a)s torturado(a)s – enfim, do(a)s perseguido(a)s, do(a) mais anônimo(a) ao(à) mais renomado(a) perseguido(a) do regime. Dom Paulo, o Cardeal Peregrino, deu o primeiro passo para o resgate da memória do(a)s morto(a)s pelo arbítrio, até então impunes – foi ele a ousar criar o grupo de juristas notáveis, sob aquela Comissão, para o registro e elaboração do então inimaginável documento “Brasil: Tortura Nunca Mais”.
Em 1978, durante o conclave do Vaticano para escolher o sucessor do Papa Paulo VI, o igualmente afável e solícito Cardeal Luciano, que viria se transformar em Papa João Paulo I, declarou à imprensa brasileira que seu candidato a Papa, pelos relevantes serviços prestados ao legado de Cristo, era ninguém menos que Dom Paulo.
O mesmo querido Cardeal Arns fora um dos mobilizadores da cidadania brasileira para o primeiro comício das Diretas-Já na metrópole paulistana, no raiar de 1984, levantando em definitivo a célebre campanha das Diretas-Já e depois a candidatura democrática via Colégio Eleitoral de Tancredo Neves à Presidência da República.
Esteve com o também saudoso Sociólogo Herbert de Souza (o célebre “Irmão do Henfil” eternizado na canção-poema “O bêbado e o equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc na voz da imortal Elis Regina) que na gênese do Movimento Pela Ética na Política, que há mais de 25 anos denunciava a corrupção e protegia o Estado Democrático de Direito, representado pela então recém-promulgada Constituição Cidadã. Dom Paulo, Dom Hélder, Dom Mauro Morelli, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Luciano Mendes de Almeida e Dom Avelar Brandão Villela (Cardeal-Primaz do Brasil) deram início ao maior movimento contra a fome e pela Vida, a Ação da Cidadania. E para reforçar, Dom Paulo deu apoio à Dra. Zilda Arns, por acaso sua Irmã, para fortalecer a Pastoral da Criança e produzir o extraordinário “maná” do século XX, a multimistura vitamínica para combater a desnutrição pelo mundo afora.
Nem mesmo depois de ter sido aposentado compulsoriamente em 1998, Dom Paulo deixou de promover os valores democráticos universais, por meio da defesa dos Direitos Humanos. Tão logo o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, enviou um emissário para fortalecer o Programa Fome Zero e, no âmbito da Constituição Federal, introduzir o direito à alimentação como mais um direito fundamental constante de seu Artigo 5º (que trata de uma das cláusulas pétreas do Estado Democrático de Direito).
Em todo momento crítico da história recente, aliás, sempre esteve a postos, solícito, firme, seguro, meigo, pacífico e afável, na defesa inarredável dos Direitos Humanos dentro e fora do Brasil. Com todo o respeito pela tradição católica de revelação de Beatos e Santos, mas ouso dizer que desde já Dom Paulo Evaristo está reunido com seus pares, em sua nova trajetória, para fortalecer os valores humanos universais, sempre em defesa da Vida e dos Direitos Humanos.

Obrigado, Dom Paulo, por ter existido! Até sempre, Peregrino dos Direitos Humanos! Que sua pugna incansável em defesa da dignidade humana encontre eco nas novas gerações de sacerdotes e missionários de todos as denominações religiosas, sobretudo nestes tempos de fundamentalismo de todos os matizes, em que o “deus-mercado” reina absoluto nas consciências nada ortodoxas das elites dominantes no mundo inteiro...
Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

CONTROLE SOCIAL NA PERSPECTIVA DE GÊNERO E DA IGUALDADE RACIAL


PUBLICADO ORIGINALMENTE NO "PRAVDA" EM PORTUGUÊS, EM 9 DE MARÇO DE 2014, POR INICIATIVA GENEROSA DA QUERIDA AMIGA AMYRA EL KHALILI ("MULHERES PELA PAZ")


Controle social na perspectiva de gênero e da igualdade racial

09.03.2014
Controle social na perspectiva de gênero e da igualdade racial. 19940.jpeg
Em nome do Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa (espaço público em que se transformou nosso histórico FORUMCORLAD, na assembleia de homenagem póstuma ao Padre Ernesto Sassida, em abril de 2013), queremos agradecer à Professora Cristiane Sant'Anna de Oliveira, titular da Gerência de Políticas de Políticas da Mulher de Corumbá, pelo honroso convite de participarmos da Mesa de Diálogo desta atividade de atualização dos membros do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher.

Contexto histórico, conquistas sociais e políticas públicas
Por Ahmad Schabib Hany

"Trata-se de lutar por uma sociedade em que liberdade não seja uma palavra vã." (Ricardo Brandão)

Longe de pretendermos trazer verdades prontas e acabadas, nosso propósito maior é provocar (no sentido dialético) as militantes da luta pela igualdade de gênero e racial - isto é, trazer para a reflexão coletiva alguns mitos e, obviamente, alguns fatos, muitas vezes camuflados por interesses inconfessáveis, para a manutenção do status quo (ou seja, manter tudo como está). E acreditamos fundamental esclarecer que nossa proposta de análise se fundamenta no processo econômico da sociedade, causa histórica da exclusão, ou exploração, nas relações sociais a partir do momento em que os modos de produção que se sucederam propiciaram a existência de um excedente, de um acúmulo, que foi, digamos, "privatizado" pelos que então detinham o poder, o controle da sociedade.

Por razões didáticas, dividimos esta intervenção em três partes: a) estigmas de uma sociedade excludente; b) conquistas sociais, e c) políticas públicas.

Ao final desta apresentação exporemos alguns autores e obras que embasaram esta modesta contribuição, para que, até por meio da Internet, os interessados possam checar as fontes.

Antes, porém, pedimos licença para dedicar este momento à memória de nosso patrono, o humilde sacerdote que conhecemos como Bispo Diocesano de Corumbá, o saudoso Dom José Alves da Costa, em cujo breve, mas memorável, episcopado (1991-1999), o cidadão anônimo ganhou voz e vez a partir da realização da etapa local da Segunda Semana Social Brasileira (1993), tendo como desdobramento a criação do Comitê de Corumbá e Ladário da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida (Campanha do Betinho), do Pacto pela Cidadania Dom José Alves da Costa (Movimento Viva Corumbá) e do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário Padre Ernesto Sassida (FORUMCORLAD), responsáveis pela emancipação da cidadania desta região nestas duas décadas. Bispo Emérito de Corumbá, Dom José dedicou-se humildemente à sua vocação sacerdotal em São Paulo e no Vaticano, tendo retornado para sua cidade-natal, Catanduva (SP), onde se eternizou na manhã de terça-feira, 4 de dezembro de 2012.

"Narciso acha feio o que não é espelho." (Caetano Veloso, "Sampa")

a) Estigmas de uma sociedade excludente

Desde os mais remotos tempos da história da humanidade, é recorrente a exclusão do "outro", do "alheio", do "estrangeiro", do "diferente", do "fraco", do "fracassado", do "sexo frágil", do "aleijado", do "doente", do "louco", do "retardado" etc. Heródoto, o chamado "Pai da História", é uma das melhores fontes para exemplos como esses. Há vários registros de escravidão de súditos de outros reinos, ou Estados, vencidos em guerras de conquista, inclusive.

Até mesmo na Bíblia cristã, na Torá judaica e no Alcorão muçulmano há várias passagens que bem expressam a exclusão racial, social, cultural, econômica e de gênero vigente nas sociedades estamentais em diferentes épocas, narradas por diversos personagens bíblicos. E é emblemática a mensagem de Jesus quando se refere ao estrangeiro e ao compromisso cristão de acolhê-lo - até porque a prática reinante então (e quem sabe ainda hoje) era simplesmente a da segregação, tal qual o (sic) "leproso".

Mas, no caso particular da América Latina - sobretudo do processo colonial desenvolvido no Brasil e dos povos irmãos de nosso entorno -, a questão racial se inicia com a exploração das riquezas naturais dos povos originários e da mão-de-obra escrava de pessoas nativas e das oriundas da África, além do etnocídio e da truculenta extinção a ferro e fogo das avançadas civilizações pré-colombianas, ocorridas em nome do progresso (dos invasores e saqueadores, certamente).

Como o que vigora é a versão dos vencedores, a História está repleta de episódios como o de Anhanguera, que dominou os índios sob a ameaça de pôr fogo nas águas dos rios usando um pouco de álcool. Ou que o tráfico de seres humanos oriundos da África (o comércio negreiro) era provido pelos próprios africanos ou árabes daquela região.

No entanto, teremos verdadeiros absurdos ao recorrermos a autores independentes, como Abdias Nascimento, Adam Schaff, Amyra El Khalili, Antonio Gramsci, Bernardino De Nino, Caio Prado Jr., Carlos Nelson Coutinho, Celso Furtado, Claude Lévi-Strauss, Cristóvão Buarque, Darcy Ribeiro, Domingo Laino, Edgar Carone, Eduardo Galeano, Edward Said, Emir Sader, Enrique Dussel, Eric Wolf, Fatmato Ezzahrá Schabib Hany, Florestan Fernandes, Georg Luckás, Gilberto Luiz Alves, Herbert S. Klein, Hugo Allan Matos, Ignacy Sachs, Isabel Lúcia Loureiro, John Murra, José Paulo Netto, Josué de Castro, Júlio José Chiavenato, León Pomer, Leslie Bethel, Louis Althusser, Louis Boudin, Luiz Werneck Vianna, Marco Aurélio Nogueira, Mariluce Bittar, Michel Chossudovsky, Milton Santos, Moema Viezzer, Natan Wachtel, Nelson Werneck Sodré, Paulo Freire, Paul Singer, Raúl Prada Alcoreza, René Bascopé Aspiazu, René Zavaleta Mercado, Sergio Almaraz Paz, Sérgio Buarque de Holanda, Tariq Ali, Theotônio dos Santos, Valmir Batista Corrêa e Wadia Schabib Hanny (uma de suas obras se encontra ao final do texto).

Não é demais colocarmos em destaque o chamado "eurocentrismo". Trata-se do ângulo pelo qual a quase totalidade dos autores e cientistas mais divulgados estuda o nosso planeta e as diferentes etnias ao longo da história da humanidade. É por conta dessa compreensão de mundo, vesga e desfocada, que absorvemos uma série de preconceitos relacionados com nossos povos originários e os demais povos explorados, seja na América, África, Ásia, Oceania e na própria Europa.

Por seu turno, a segregação (apartheid) construída ao longo de séculos de colonização incutiu no cidadão comum preconceitos impregnados no senso comum, até para justificar o injustificável, o tratamento desumano e degradante de nossos semelhantes: "negros e índios não têm alma"; "índio preguiçoso"; "preto, quando não suja na entrada, suja na saída"; "taí um negro de alma branca", "nada como uma pretinha virgem para curar a virilidade", "cabelos longos, ideias curtas", "mulher no volante, perigo constante", "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" etc.

Ou ainda: "ah, se tivéssemos sido colonizados pelos ingleses!..."; "português burro"; "amigo paraguaio"; "mulher paraguaia", "boliviano, chiquitano, come pano"; "boliviano traficante"; "japonês garantido, garantido: come repolho e ... fedido"; "alemão batata"; "italiano cosa nostra"; "turco não compra banana para não jogar a casca"; "árabe traficante"; "palestino terrorista"; "judeu vende a mãe mas não a entrega", "cigano ladrão", "presente de grego", "amante argentina", "mulher brasileira", "brasileiro vigarista", "carioca malandro", "amigo peruano", "indústria paraguaia", "matuto otário" etc.

Como vemos, é um grande desafio superar este abismo aparentemente intransponível, ainda mais nestes tempos mesquinhos de globalização ou, no dizer de Chossudovsky, de pensamento globalitário (de totalitarismo global), em que o diferente, na ótica dos "senhores" do mundo, é condenável.

"Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia. Tudo passa. Tudo sempre passará." (Lulu Santos, "Como uma onda")

b) Conquistas sociais

Pois o governo e a sociedade brasileira tiveram a coragem de fazê-lo, ao ousar transformar as velhas bandeiras de luta em políticas públicas, de modo propositivo, proativo, negociado. Enquanto a União Europeia - de Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi e José María Aznar - se fechava em si mesma, criando leis nazifascistas para perseguir imigrantes oriundos do Leste europeu, da África, da América Latina e da Ásia, o generoso povo brasileiro escrevia um novo capítulo da História (com letra maiúscula) da humanidade.

Aliás, é a mesma nação que escreveu a Constituição Cidadã (sobre cujo teor alguns desinformados ainda teimam em falar besteiras) e inseriu nela a prerrogativa do Controle Social em seu título da Ordem Social - que torna nossa democracia efetivamente participativa -, abrindo alas para o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica da Assistência Social, a Lei Orgânica da Saúde, a Lei do SUS, a Lei da Vida (sobre meio ambiente), o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Cidade, o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha, a Lei da Acessibilidade, a Lei de Cotas, a Lei da Igualdade Racial e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, entre outras não menos importantes.

Mas nada foi obra do acaso. Para que cada uma dessas conquistas sociais tivesse vingado, ou melhor, tivesse virado lei, durante décadas (senão séculos) foram empreendidas lutas, muitas vezes com derramamento de sangue, perda de vidas humanas e prisões arbitrárias, com tortura e execução sumária. Até porque, até bem recentemente, movimento social era "coisa de comunista", "de subversivo", "de agitador", "de criminoso" - assunto de polícia, que resolvia ao sabor dos interesses dos coronéis de cada região ou do ditador de plantão.

Foi o caso do líder imortal Zumbi dos Palmares; de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (da Inconfidência Mineira); Manuel Faustino dos Santos Lira, João de Deus do Nascimento, Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas (da Conjuração Baiana / Revolta dos Alfaiates); Frei Caneca (da Revolução Pernambucana), e o Sargento Aquino Pompeu de Barros (da Revolta de Corumbá, década de 1920). Não nos esqueçamos de Túpac Katari, Túpac Amaru, Juana Azurduy de Padilla e "Las Heroínas de La Coronilla", na luta de nossos irmãos alto-peruanos e platinos contra o jugo espanhol, tão sanguinário quanto a tirania da coroa lusitana. E nos lembremos sempre das Mártires de Nova Iorque de 8 de Março de 1857, dos Mártires de Chicago de 1º de Maio de 1886, de Rosa Luxemburgo, de Olga Benario Prestes, Leocádia Prestes, de Chiquinha Gonzaga, de Bertha Lutz, de Wega Nery, de Domitila Barrios de Chungara, de Josefina Ferreira Guató, de Jamila Bouhired, de Lina Palestina, de Hassiba Ben Bouali, de Warwa Sherbini, de Mahatma Gandhi, de Malcolm X, de Martin Luther King, de Nelson Mandela, de Ernesto Che Guevara, de Rubens Paiva, de Carlos Marighela, de Apolônio de Carvalho, de Luiz Carlos Prestes, de Néstor Paz Zamora, de Victor Jara, de Jorge Cafrune, de Pablo Neruda, de Salvador Allende, de Juscelino Kubitschek, de João Goulart, de Marcelo Quiroga Santa Cruz, de Luis Espinal, de Juan José Tórrez, de Ahmad Ben Bela, de Gamal Abdel Nasser, de Yasser Arafat, de George Habashe, de Chico Mendes, de Marçal de Souza, etc.

Ao longo da História, graças a pensadores que ousaram até com a vida quebrar velhos preconceitos, ainda que aos poucos, a partir do Renascimento (movimento cultural posterior à Idade Média das fogueiras inquisitoriais), começou a ser difundida nova concepção de sociedade, com base na solidariedade, igualdade, liberdade e cidadania. Primeiro foi a separação da igreja do Estado, instituindo o poder laico. Depois, a divisão do poder central em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Em seguida, a estruturação da democracia como valor universal, quando caíram quase todos os reinos da Europa e uma nova classe social (a burguesia) chegou ao poder. Mais tarde, as concepções sociais e a instauração dos valores socialistas, com a ascensão da classe trabalhadora ao poder, por processo eleitoral ou por revolução. E tempos depois, já no final do século XX, os novos conceitos de sociedade sustentável, econômica, ambiental, social, cultural e politicamente. Nesse contexto é que a diversidade ganhou o seu espaço e deu legitimidade à democracia nos países do Terceiro Mundo.

"Mudar é difícil, mas possível." (Paulo Freire)

c) Políticas públicas

Em todas as áreas (saúde, educação, assistência social, meio ambiente, inclusão social, direitos individuais, sociais, coletivos e difusos), tudo foi fruto dos movimentos sociais: o Movimento da Reforma Sanitária lutou pela implantação do Sistema Único de Saúde (SUS); o Movimento Criança Constituinte Prioridade Absoluta, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente; o Movimento do Serviço Social, pela Lei Orgânica da Assistência Social (que com o presidente Lula avançou para o Sistema Único de Assistência Social), pela Lei da Acessibilidade, pelo Estatuto do Idoso; o Movimento Ambiental, pela Lei da Vida, pela Lei dos Recursos Hídricos; o Movimento Estudantil, pelo passe-livre dos transportes coletivos, pela meia-entrada em eventos culturais e esportivos, pelo ensino público e gratuito em todos os níveis; o Movimento Sindical, pelos direitos laborais, sindicais e coletivos, etc.

Obviamente, para as conquistas cidadãs de gênero, o Movimento das Mulheres foi decisivo, e para a promoção da igualdade racial o Movimento Negro e o Movimento Indígena, particularmente, foram estratégicos. Mas, sem dúvida, a vontade política de um governo de perfil popular e progressista como o de Lula, que teve a coragem de romper tabus e ir contra interesses gigantescos, foi determinante para que essas conquistas saíssem do papel e fossem sendo construídas, democraticamente, como políticas públicas, políticas de Estado, sobretudo em nível local.

Parece, para muitos, que a Lei Maria da Penha e a Lei das Cotas são "pura demagogia" - tal qual, no início da década de 1990, o Sistema Único de Saúde (SUS) ou o Estatuto da Criança e do Adolescente, que, aliás, até hoje têm poderosos inimigos declarados, por conta de interesses inconfessáveis contrariados. Pois, tanto os avanços consignados na punição da violência contra a mulher quanto a adoção das cotas para garantir o acesso à universidade, por exemplo, representam um salto qualitativo que muitos membros do Movimento das Mulheres bem como do Movimento Negro e do Movimento Indígena não conseguiram compreender. Não se trata de demagogia e muito menos de esmola: é política pública - deixou de ser um "ato magnânimo do político X" para virar política de Estado, independentemente de quem estiver nos cargos executivos nas três esferas administrativas da Federação: na União, nos estados ou no Distrito Federal e nos municípios brasileiros, onde toda a população brasileira mora, onde a efetividade das políticas acontece ou não, dependendo do nível de organização e resolutividade da cidadania e de seus gestores públicos.

É indispensável que se deixe claro por que há muitos setores contrariados com políticas públicas voltadas para a afirmação dos direitos da mulher e da promoção da igualdade racial, tal como as cotas raciais e os programas de distribuição de renda corajosamente implantados nos últimos dez anos: além dos políticos atrasados que sempre tiraram alguma vantagem em cima das disparidades sociais e raciais (com posturas quixotescas, muitas vezes barganhando vantagens para os seus grupelhos), há muitas organizações sociais que não se ativeram à evolução dos tempos e, de forma equivocada (ou até por má-fé, muitas vezes), temem que a existência de programas e políticas governamentais possam tirar-lhes a hegemonia em seu contexto social. É o tipo de pensamento mesquinho que de nada serve para a emancipação da mulher e das camadas populares quanto para o devido reparo da dívida social feita ao longo de mais de três séculos de exploração e segregação racial, promovidas em nome do alardeado "desenvolvimento" - de alguns em detrimento de toda a humanidade.

Pois, em nível local, temos desafios inadiáveis, como: a) consolidarmos a afirmação da mulher como timoneira dos destinos da cultura fronteiriça e pantaneira, cuja tradição avoenga fez da generosidade matriarcal a sobrevivência dos usos e costumes tradicionais e originários; b) efetivarmos a adoção do espanhol como segundo idioma nesta fronteira com a Bolívia e o Paraguai; c) construirmos um calendário multicultural de festejos, cultos e datas emblemáticas (não apenas as cívicas, mas a de forte sentimento sociocultural) capaz de contemplar todas as culturas das comunidades existentes em Corumbá; d) incluirmos, no âmbito da educação, temas pertinentes ao cosmopolitismo local (a diversidade cultural guató, kadiwéu, chiquitana, africana, boliviana, paraguaia, árabe-palestina, árabe-síria, árabe-libanesa, italiana, espanhola etc); e) instalarmos, no âmbito do município, um centro de referência das línguas faladas na região (português, espanhol, guarani, guató, kadiwéu, chiquitano, quéchua, aymara, árabe, italiano etc), e f) implantarmos, em pareceria com o Governo Federal, um centro de defesa de Direitos Humanos, na perspectiva da(o) cidadã(o) comum, anônima(o), de modo a não permitir que o tradicional burocratismo tome conta da instituição.

Portanto, diante desta oportunidade histórica, queremos saudar a todas as participantes desta Mesa de Diálogo promovida corajosamente pela Gerência de Políticas da Mulher de Corumbá, bem como do Fórum de Promoção da Igualdade Racial de Corumbá, convocando-os a construir plenárias permanentes como fruto deste conclave - fóruns permanentes para a implementação das propostas locais e a articulação de todos os segmentos envolvidos neste desafio histórico.

Avante na luta, sempre!

"Um mais um é sempre mais que dois." (Beto Guedes, "O sal da Terra")

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