terça-feira, 29 de novembro de 2016

CENTENÁRIO DO POETA MANOEL DE BARROS

MANOEL DE BARROS, O GARIMPADOR DE SIGNIFICADOS
“Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.” (Manoel de Barros, “Livro de Pré-Coisas”)
Manoel de Barros, o garimpador de significados, tratou da alma pantaneira como sua razão de ser, muito mais que mera matéria-prima.
Essa alma pantaneira, igual a ele mesmo, é discreta em seu comportamento; generosa em suas atitudes, e cativante em seu proceder.
Cosmopolita e à frente de seu tempo, o Poeta praticamente cresceu com o século XX, em sua mais ampla acepção. Viveu a dinâmica Cuiabá, a apoteótica Corumbá cosmopolita e a vanguardista Capital Federal (Rio de Janeiro).
Viajou por diversos países, enveredou por “ideologia exótica” (o socialismo), mas só encontrou sua identidade quando se voltou infinitamente para o universo pantaneiro.
Por isso, cosmopolita e “enraizado” – dialética e coerentemente.
Um dos mais originais poetas da língua portuguesa, tratava das palavras – ou, melhor, de seus significados – com a mesma dignidade que um peão pantaneiro ou um operário urbano encara sua lida: com humildade e disciplina – mas sem perder a irreverente inocência jamais!
Na verdade, essa inocência era, mesmo, pura sabedoria. Porque era – aliás, é e será – impressionantemente desconcertante: mais que pela originalidade do trato com as palavras, pela profundidade de seus significados, de sua cosmovisão.
Inesgotável na linguagem, genial na descrição e no trato das palavras e profundo na reflexão, Manoel de Barros é único, como o Pantanal.
Eis que, por sua grandeza, dispensou o narcisismo que toma conta desta sociedade “globalizada”, a do cacoete do “selfie” ou do “consuma-e-descarte”. Feito antídoto natural, a obra do Poeta nos resgata da futilidade e tantas outras taras recorrentes desta rasa, amorfa, despersonalizada e nada original “pós-modernidade”.
E o caráter universal de sua obra se sustenta pelo movimento vivo – pela vida – de sua criação, que interage com o leitor, pela eternidade afora.
Atrevo-me, por isso, a cometer uma leviandade imperdoável – reconheço – ao compará-lo a um igualmente genial (mas pouco conhecido) pensador grego de dois milênios e meio atrás: o grande Heráclito de Éfeso, acintosamente apequena por seus contemporâneos pela originalidade de sua obra, mordacidade de sua visão, mas sobretudo pela complexidade de seu pensamento.
Heráclito, igualmente twiteriano em sua linguagem, foi tardiamente reconhecido no Ocidente como Pai da dialética, sobretudo pelo filósofo alemão Friedrich Hegel.
Justifico minha leviandade por conta do movimento permanente com que suas obras ganham a eternidade. Cada qual ao seu tempo e ao seu modo, permitem uma inesgotável leitura viva (ou, se quiserem, interpretação viva), em constante movimento – por isso, dialética, interativa, transformadora.
Senão, o que pode ser mais dialético que “Penso que os homens deste lugar são a continuação destas águas.” (Manoel de Barros, “Águas”)?!
Dito isso, agradeço infinitamente ao meu querido Amigo, um Irmão que a Vida me presenteou, o brilhante Jornalista Luiz Taques (autor, entre outros, de “Vaso de colher chuvas”, com contos-reportagem com Manoel de Barros), que por pura generosidade, primeiro em 2004, me desafiou a traduzir para o espanhol o poema “Águas” – lançado na primeira edição do Festival América do Sul –, e depois, em 2012, me permitiu conhecer pessoalmente, em seu lar, o eterno e terno Poeta e sua querida Companheira, Dona Estela, e partilhar com eles eternos minutos (não sei quanto tempo estive, pois me encontrava sob o encanto indescritível de uma pessoa doce e gentil, além de irreverente e sincera – aliás, bem pantaneira).
Duas experiências que a generosidade infinita da Vida me propiciou, sem que eu tivesse qualquer mérito, com sinceridade. No caso da tradução, só posso dizer que me exigiu profundo respeito, cuidado e, obviamente, uma deliciosa e irresponsável imersão ao universo manuelino, de modo a me impregnar, a me amalgamar, como em um processo de reprodução celular que não sei descrever por minha profunda ignorância sobre as ciências naturais.
E faço questão de registrar que, se essa tradução foi aprovada (inclusive pelo Poeta), foi graças à generosidade de minha querida e leal Irmã Wadia Hanny e dos hoje saudosos Amigos o brilhante Jornalista argentino-boliviano Lorenzo Carri e o renomado escritor boliviano Néstor Taboada Terán, que graças à internet deram seu elegante aval a este atrevido tradutor de um poema só.
Para concluir, agradeço ao também querido Amigo e Irmão o Professor Doutor Júlio Galharte (do CPAN-UFMS), desde pelo menos três décadas, que gentil e generosamente me oportunizou participar da celebração do centenário de nascimento de Manoel de Barros, uma verdadeira “epifania da natureza”, com a devida licença do Poeta. Obrigado, querida Amiga Professora Mestra Marcelly Saboya Ravanelli, gestora de Cultura do SESC; Professora Doutora Regina Baruki Fonseca (CPAN-UFMS), e Professora Doutora Ângela Varella Brasil (CPAN-UFMS).
Ahmad Schabib Hany
Sugestão de links
http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet323.htm
http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=20&secao=206&mat=240
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,manoel-de-barros-o-poeta-que-veio-do-chao,523717
https://www.publico.pt/2014/11/13/culturaipsilon/noticia/morreu-o-poeta-brasileiro-manoel-de-barros-1676117
https://www.youtube.com/watch?v=QZLC8wNVtfs

http://fazmuitobem.com/vaso-de-colher-chuvas/

domingo, 27 de novembro de 2016

O DIA EM QUE A HUMANIDADE PERDEU O ÚLTIMO LÍDER REVOLUCIONÁRIO DO SÉCULO XX


O DIA EM QUE A HUMANIDADE PERDEU O ÚLTIMO LÍDER REVOLUCIONÁRIO DO SÉCULO XX

Que tempos estes em que vivemos! Fantoches, títeres, marionetes, em vez de líderes. Mentes rasas, seres obtusos, medíocres, canastrões, charlatães, mentirosos, pobres diabos, canalhas – simplesmente canalhas, como bem os definiu Tancredo de Almeida Neves nos idos de 1964.
Depois que Joseph Goebbels fez escola e a mentira passou a ser chamada de estratégia de marketing no ocidente, qualquer ameba, verme não pensante, calhorda, parasita ou assemelhado pode ser guindado, nas plutocracias em que se metamorfosearam as frágeis democracias do século XX, à condição de gestor, gerente ou presidente de araque destes áridos tempos globalizados.
Logo quando um apático e obscuro vice-presidente golpista ascende à condição de titular numa das maiores democracias do planeta, mediante arranjos maquinados desde as metrópoles financeiras.  Logo quando um bizarro nefelibata ianque com incontinência fecal por via oral sucederá o primeiro presidente negro que deixou simplesmente tudo a desejar no império em decadência. Logo quando fundamentalistas de todos os credos e matizes se transformam em salvadores da pátria a serviço do demo...
Justo nesse momento sai de cena o último dos líderes forjados literalmente na luta. Na luta contra a maior potência militar de todos os tempos. A menos de 100 milhas de seu território. A despeito da desproporção abismal entre os dois Estados: o imperial e o rebelde. Tal qual o Vietnã de Ho Chi Min, a Cuba de Fidel deu uma homérica banana ao sinistro e usurpador Tio Sam!
Gostem ou não os serviçais do império, Fidel Alejandro Castro Ruz – o grande Comandante rebelde – é o último líder da segunda metade do século XX, ao lado de Gamal Abdel Nasser, Broz Tito, Jawaharlal Nehru, Mao Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Nelson Mandela, Agostinho dos Santos e Salvador Allende. Gostem ou não de sua personalidade forte e de sua inteligência privilegiada, Fidel Castro enterrou todos os seus principais inimigos, depois de vencê-los de forma acachapante. Inclusive as mais de 500 tentativas de assassinato, patrocinada por agentes da CIA e seus lacaios.
Companheiro de outros três igualmente valorosos líderes – Camilo Cienfuegos, Ernesto Che Guevara e Raúl Castro Ruz –, o incansável líder cubano soube superar a si mesmo para fazer frente às inesgotáveis tentativas de atentados, golpes e invasões dos nefastos vizinhos, que por quase um século impingiram à sua nação a triste condição de bordel a céu aberto dos ianques. Porque Cuba antes de Fidel não passava de – com o perdão da palavra! – reles prostíbulo impune e barato dos endinheirados estadunidenses canhestros, cuja maldita tara ejaculavam nos cortiços e casarões fétidos da horda “civilizada”.
A propósito, socialistas arrependidos como Roberto Freire, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aloysio Nunes (vulgo “Nicomedes”, motorista de Carlos Marighela, incrível e suspeitamente sobrevivente à balaceira de sua execução numa lúgubre rua do centro de São Paulo), nem às dúzias, chegam aos pés calejados desse determinado e leal dirigente de seu povo em luta (até porque é difícil ser líder de um povo em plena rebeldia, em cujo front não há ninguém menos que o mais bem armado exército do mundo).
Pois o 25 de novembro de 2016 entra para a história como o dia em que a humanidade perdeu o último – o derradeiro – líder revolucionário da segunda metade do século XX: Fidel Alejandro Castro Ruz. Aguerrido Comandante de um povo cuja dimensão é reconhecidamente superior ao vasto território de seu canhestro inimigo, o império do caos. A História já te entronizou no panteão dos galhardos, dos autênticos, dos corajosos. Até sempre, Fidel! Sempre na memória, Comandante!

Ahmad Schabib Hany