domingo, 6 de março de 2016

O VIGÉSIMO QUARTO ASSALTO

O VIGÉSIMO QUARTO ASSALTO
Pouco mais de quatro décadas atrás, o incansável Jornalista Mohamad Heikal – o egípcio que, como assessor do estadista Gamal Abdel Nasser registrou momentos únicos da história contemporânea do Oriente Médio sob a liderança laica e lúcida de um socialista moreno (no dizer do não menos lúcido Leonel Brizola) – batizava de “Terceiro Assalto” sua obra-testemunho sobre a maior derrota sofrida pelos árabes desde que os sionistas do mundo inteiro, na esteira do holocausto cometido na Europa por europeus que usavam o discurso da “superioridade racial” como pretexto para promover a barbárie, se instalaram avassaladora e impunemente na pátria milenar do também milenar Povo Palestino.
Valemo-nos, pois, deste termo contundente para denunciar o ódio, o acinte, o ranço, a soberba cínica, de funcionários públicos sobejamente remunerados pelo erário para, apenas e tão-somente, cumprir a lei – e jamais se sobrepor a ela –, como temos visto reiteradamente nos últimos anos, depois que Luiz Inácio Lula da Silva, um retirante de alma peregrina que a história guindou ao papel de estadista da maior democracia do planeta, se tornou referência no hemisfério, melhor, na Terra e na alma do(a)s cidadão(ã)s e amantes da emancipação do proletariado, e dos povos oprimidos em todos os quadrantes do mundo.
E, pior, em conluio com uma imprensa preconceituosa e ardilosamente mentirosa, sonegadora de impostos e explicitamente corrupta, vem a público repudiar a animosidade que provocou deliberada e irresponsavelmente com sua iniciativa, e ainda querer advertir quem discordar de seu proceder fascistoide como quem conspirasse contra valores democráticos que o próprio desconhece por ação ou omissão, ou talvez por conta da ideologia que cultiva certa predileção pelos camisas-negras de algum fürer ou duce extemporâneo.
Não esqueceremos. Nunca nos intimidaremos. Jamais recuaremos. Sexta-feira, 4 de março de 2016. Impunemente, não mais que impune e acintosamente, nossa jovem democracia foi humilhada, aviltada, amealhada, estuprada. A arrogância e o ódio de classe de uma geração de ex-concurseiros envaidecidos pela (sic) meritocracia que sequer conheceu a (mal)ditadura e o(a)s que corajosa e generosamente ousaram construir o Estado Democrático de Direito puseram, arrogantemente, a perder o patrimônio maior de todo(a)s o(a)s brasileiro(a)s, e não apenas de funcionários públicos bem pagos para desempenhar suas atribuições a rigor, sem abusos nem excessos.
Feriram, sim, de morte – apunhalaram, ou melhor, defenestraram, bem ao estilo inquisitorial, de triste memória – o digno legado de homens e mulheres altivos e corajosos como Rubem Paiva, Ulysses Guimarães, Bertha Lutz, Heloneida Stuart e Cristina Tavares, cujas vidas em nada se assemelham às dos ridículos camisas-negras de vozes ensaiadas e terninhos justinhos, dadores de epítetos bisonhos, a fim de demonstrar uma erudição que qualquer computador já sepultou por conta da cultura da web.
Qual é a sua grandeza, seres infelizes, mal-amados, arremedo de atores canastrões do tempo do macarthismo delirante! Peçam desculpas por existir! Farsantes, obtusos, cínicos! A alma democrática da cidadania nada lhes deve, além da indiferença e o desprezo, como o que a vida cobrou de seus originais, Filinto Müller e amos, do outro lado do hemisfério. Devolvam-nos o direito à emancipação, à esperança e ao protagonismo que a história nos legou. E recolham-se à sua desprezível insignificância, retornem ao seu peçonhento ninho sibilino, do qual jamais deveriam ter saído!

Ahmad Schabib Hany