segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Estimado(a)s Amigo(a)s,
Ao agradecer, em nome de toda a Família, pelos votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo, retribuo a todo(a)s o(a)s Amigo(a)s com esta mensagem da Peregrina Sarah Nawajah, uma beduína palestina de 70 anos que passou a Vida praticando a esperança por um mundo menos desigual e mais justo, a despeito da opressão e constantes ataques em que se encontra desde 1948 no lugar em que nasceu e cujos ancestrais estabeleceram sua cultura milenar.
No ano em que perdemos um dos maiores líderes da espécie humana, o imortal Nelson Mandela, e desassossegados como Hugo Chávez saíram de cena (mas deixaram seu legado de luta incansável por uma vida mais digna para a humanidade), não é demais trazer à lembrança dois africanos imortais que há mais de quatro décadas eram silenciados por atos assassinos (comprovados ou não) -- Martin Luther King e Gamal Abdel Nasser -- e dois brasileiros igualmente imortais -- Marçal de Souza e Chico Mendes --, que tombaram pelas coisas boas pelas quais lutavam, sempre a favor da Vida e da Liberdade verdadeira (aquela que não se encontra no mercado e está cada vez mais rara, embora desvalorizada, como tudo que é original e inimitável).
Que as pegadas deixadas pelas pessoas anônimas como a Peregrina Sarah Nawajah, com a mesma dignidade de Mahatma Gandhi, Oscar Niemeyer, Yasser Arafat, George Habash e Túpac Katari, sejam as sendas libertárias para um novo tempo que desde há muito clama por raiar, a despeito das ações repressivas dos que se creem "donos da história" e há séculos saqueiam, humilham e oprimem a humanidade toda.
Fraternalmente,
Schabib
PS: A matéria abaixo foi indicada pelo Companheiro Cláudio Daniel e socializada pela Companheira Caia Fittipaldi, Amigo(a)s do Grupo "Palestina Já", feita pelo Jornalista Diogo Bercito, enviado especial de um jornal paulistano que num passado recente nos fazia acreditar que era confiável, do ponto de vista do leitor, mas que o inexorável devir dos dias nos provou que nunca deixou de merecer seu passado de serviçal dos piores grupos paramilitares que infestaram a ditadura em ações criminosas como a Operação Bandeirantes (OBAN).


Mulher das cavernas
Muçulmana que mora há 45 anos como beduína relata ataques de autoridades israelenses contra sua família
RESUMO Sarah Nawajah é conhecida no acampamento de Susya, na Cisjordânia, como "a peregrina", por ter ido a Meca, cidade sagrada para o islamismo, na Arábia Saudita. "Mas esta terra também é sagrada", diz, sobre a caverna em que vive --apesar da animosidade dos vizinhos, colonos israelenses de Qyriat Arba.
(...) Depoimento a
DIOGO BERCITOENVIADO ESPECIAL A SUSYA (CISJORDÂNIA)
Venho de um vilarejo ocupado, perto de Beer Sheva, tomado em 1948. Meus filhos nasceram aqui, na caverna. É um modo de vida beduíno. Nós vivemos com as ovelhas.
Mudei para cá com meu marido em 1968. Os colonos israelenses tentam nos expulsar. Sofremos muito. Um dia, há cinco anos, eles vieram com seus jipes e destruíram tudo o que nós temos. Eu perdi meu azeite, eles levaram a comida das ovelhas.
No ano passado, estávamos plantando quando nos atacaram. Queimaram nossas videiras, mataram 50 de nossas ovelhas com seus rifles. Eu corria e gritava todo o tempo quando vi aquilo.
Fui reclamar no vilarejo vizinho de Qyriat Arba. Quiseram que eu assinasse um papel dizendo que sou uma causadora de distúrbios. Meus filhos foram presos. Tive de pagar [o equivalente a] R$ 3.500 para tirá-los da prisão.
Há uma torre de vigia aqui perto. Só posso ficar no vale. Se os colonos veem que eu saí, vêm tomar minha casa.
Toda vez que eles me veem, dizem que sou uma puta. Querem tomar a terra.
Tudo o que você vê aqui tem uma ordem de demolição. Não querem que a gente fique aqui. Mas eles, sim, podem ficar. Podem sair. Podem construir. Eu não. Pedi várias vezes ao governo para ter permissão, nunca me deram nada. Querem demolir até o nosso poço de água.
PECADO
Temos dificuldade para trazer ambulâncias. Um dia, meu marido, que já morreu, teve ataque de asma, e o Exército não deixou a ambulância vir. Nós o pusemos em um burro para ir ao hospital.
Dois anos atrás, os israelenses vieram e atiraram um... como se diz? Coquetel molotov. Eles não sabem o que é "haram" [pecado].
Esta é a minha terra. Não quero que tomem de mim. Posso fazer azeite dessas oliveiras e viver disso. Tenho 70 anos. Por quanto tempo consigo lidar com essa situação?
Antes de eles destruírem a caverna, era muito bonito aqui. Nos sentávamos aqui no verão, era lindo. É muito fresco no verão e quente no inverno. Mas eles não querem que a gente viva aqui.
Eu moro na tenda, agora, durante o verão. No inverno, fica frio, então arrumo um canto e venho à caverna.
O governo palestino não pode fazer nada. Nem podem vir até aqui.
SAGRADO
Eu acordo de manhã, rezo, sirvo o café da manhã para as ovelhas e começo o meu dia com os animais. Depois, levo eles para os campos, limpo minha casa e cozinho.
Na temporada, faço manteiga e iogurte do leite das ovelhas. Também planto trigo. Então temos as colheitas.
Na primavera, às vezes a colheita não é boa, então tenho de alimentar os burros com as azeitonas colhidas.
Nossa terra é valiosa. Não vamos entregar aos judeus. Só saio daqui quando morrer. Estou feliz, e só consigo dormir quando estou aqui.
Vou ficar feliz, também, quando todos os colonos forem embora. São monstros.
Uma vez, bati em um soldado. Ele veio nos dizer para sair. Eu atirei um sapato de plástico na cabeça dele. Eles estavam me empurrando!
Fui para a cidade sagrada de Meca duas vezes, por isso me chamam de "hajja [peregrina] Sarah". Mas aqui, esta terra, também é sagrada.